sexta-feira, 22 de abril de 2011

O VERDADEIRO DONO DA FORÇA - PESSACH II 5771

"Certa vez um importante rei saiu para caçar com seus ministros e servos. Quando chegaram às margens de um rio, encontraram um simples pastor de ovelhas que tocava sua flauta, sentado em uma pedra. O rei pensou que se tratava de um pastor tolo e ingênuo, mas ao conversar com ele, descobriu que o pastor era extremamente inteligente. Quanto mais o rei testava a inteligência do pastor, mais ele demonstrava ser uma pessoa talentosa. O rei simpatizou tanto com aquele rapaz que decidiu levá-lo para o palácio. Deu-lhe roupas novas, educou-o com os melhores professores e, quando ele estava pronto, elevou-o a um dos cargos mais altos do reinado: ministro do tesouro.
O ministro teve muito sucesso e era querido por todos os súditos, pois tinha um bom coração e buscava o bem de todos. Porém, isto despertou muita inveja nos outros ministros, que começaram a falar mal dele para o rei. Em um primeiro momento o rei não deu atenção, pois gostava muito do ministro do tesouro. Mas os outros ministros insistiam tanto que o rei começou a desconfiar que houvesse algo errado com aquele rapaz. Finalmente os incansáveis ministros começaram a dizer que o ministro do tesouro estava desviando dinheiro do rei. Sugeriram ao rei fazer uma visita surpresa à casa do ministro, para comprovar que ele escondia em casa as riquezas desviadas do tesouro real. O rei, após tanta pressão, acabou cedendo e aceitou a sugestão dos ministros.
Chegaram de noite, sem nenhum aviso, pegando de surpresa o ministro do tesouro. Entraram na casa e viram que era uma casa muito recatada, com móveis simples e sem nenhuma ostentação. Vasculharam toda a casa e não encontraram nenhum sinal da suposta fortuna roubada pelo ministro. Os outros ministros ficaram envergonhados diante do olhar furioso do rei. Foi então que eles viram uma porta trancada, que dava para algum aposento da casa que eles não haviam vistoriado. Pediram para o ministro abrir, mas ele se recusou, dizendo que não permitia nem mesmo que sua esposa e seus filhos entrassem naquele aposento. Chorando, pediu ao rei que não abrisse aquela porta, pois para ele seria uma grande vergonha e humilhação. Mas o rei, intrigado, ordenou que a porta fosse imediatamente aberta.
Muito envergonhado, o ministro começou a abrir lentamente a porta. Foi então que todos viram, surpresos, que naquele aposento havia apenas roupas muito velhas, um bastão de pastor e uma flauta. O rei, confuso, pediu uma explicação. O ministro, sem alternativa, contou:
- Meu senhor, grande rei, quando você me conheceu, eu era uma pessoa muito simples, um humilde pastor de ovelhas. Você me deu roupas, uma casa, me educou e me elevou a ministro do rei. Então eu tive muito medo que o sucesso repentino me subisse à cabeça e me tornasse uma pessoa orgulhosa. Por isso eu deixei neste quarto as minhas roupas simples de pastor, o meu bastão e a minha flauta. Todas as vezes que eu sentia que o orgulho começava a me dominar, eu me trancava neste quarto, vestia minhas roupas de pastor e tocava minha flauta. Assim, eu me lembrava do meu passado humilde e me recordava que tudo o que eu tenho hoje é apenas pela bondade e misericórdia de D'us"
Assim como o pastor, temos que tomar muito cuidado quando chegamos ao sucesso, para nunca esquecer que tudo o que nós temos não é por nossa inteligência ou esforço, e sim por bondade e misericórdia de D'us.
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Nesta semana o Shabat cai no meio da festa de Pessach, também conhecida como "Zman Cheruteinu" (o tempo da nossa liberdade). Nestes dias temos influências espirituais positivas, que nos ajudam a nos libertarmos das nossas limitações e vícios. Se D'us não nos tivesse tirado do Egito, fisicamente e espiritualmente, até hoje seríamos escravos dos nossos desejos e vontades. Mas apesar de chamarmos a festa de "Pessach", este não é o nome dado pela Torá, pois nos versículos ela é mencionada como "Chag HaMatzót" (Festa das Matzót).
Mas este nome é um pouco estranho para se referir à nossa festa da liberdade. A Matsá é conhecida como o "pão da pobreza", como dizemos no começo da Hagadá de Pessach, quando levantamos as Matsót e recitamos "HaLachmá Aniá" (Este é o pão da pobreza que comeram os nossos antepassados na terra do Egito). Se a Matsá é o "pão da pobreza", por que a Torá, ao invés de dar um nome "orgulhoso" para a festa da liberdade, resolveu chamá-la justamente de "Chag HaMatsót"?
D'us criou o mundo material para nos testar e nos dar méritos. E justamente um dos testes mais difíceis é saber enxergar a mão Dele em todas as bondades que ocorrem em nossas vidas. Somos testados constantemente, em todas as áreas da vida. Quando tomamos um remédio e nos recuperamos de uma doença, quando ganhamos nosso salário no fim do mês, quando vencemos uma competição esportiva. O teste é se temos a certeza de que não foi o remédio que nos curou, nem nossa inteligência que trouxe o dinheiro no fim do mês, nem a nossa força que nos fez ganhar a competição. Tudo é D'us, pois é Ele quem nos dá a saúde, a inteligência e a força. Nosso esforço é apenas para encobrir as Suas bondades, para que o milagre não seja aberto. Não podemos esquecer isto nunca, pois quando esquecemos, nosso orgulho nos leva à idolatria de "minha força e o esforço das minhas mãos me enriqueceram", e nos afasta cada vez mais de D'us, que é, na verdade, Quem nos dá absolutamente tudo o que temos na vida.
Explica o Rav Shimshon Refael Hirsh que durante todos os anos que os judeus passaram como escravos no Egito, eles eram alimentados com Matsá, o "pão da pobreza". Por que então D'us fez com que os judeus tivessem que sair rapidamente do Egito, sem dar tempo para que fermentasse a massa que eles haviam preparado como provisão para o deserto, fazendo com que eles novamente tivessem que comer Matsá? Pois D'us queria ressaltar que mesmo na saída do Egito os judeus ainda eram escravos, ainda comiam o "pão da pobreza". Ele não nos tirou do Egito como homens livres para que não se levantassem pessoas, nas gerações futuras, e dissessem que os judeus saíram do Egito por causa de sua força e do esforço de suas mãos, esquecendo-se que foi a mão de D'us que fez todos os milagres e libertou os judeus do Egito. Da mesma forma que um pobre não tem nada que é dele, assim foi a saída do Egito, quando fomos meros coadjuvantes. O responsável por toda a salvação foi unicamente D'us.
Mas D'us não quis que esta lição fosse apenas para a geração da saída do Egito, Ele quis que todas as gerações pudessem constantemente se recordar disso e se afastar da idolatria de atribuir forças aos seus próprios atos. Este é um dos lembretes da Matsá, que comemos durante toda a festa de Pessach e que colocamos diante de nós durante o Seder, quando recontamos toda a história da Saída do Egito: a humildade de saber que éramos escravos, humilhados, sem nenhuma força ou possibilidade de ser redimidos por nossa própria força. Com isso não esquecemos a nossa obrigação de agradecer a D'us por ter nos libertado.
Quando um povo recorda a sua independência e a libertação das mãos dos seus opressores, o faz com orgulho e sentimento de superioridade, ressaltando a força e a valentia dos seus combatentes e heróis. O povo judeu revive a sua libertação com a Matsá, o "pão da pobreza", pois não exaltamos os nossos combatentes, exaltamos o verdadeiro e único salvador: D'us. Até mesmo o nosso maior profeta, Moshé Rabeinu, que nos liderou na saída do Egito, não é mencionado nenhuma vez na Hagadá, para que não exaltemos os intermediários e terminemos esquecendo o verdadeiro "Herói".
Por isso também a Torá chamou a festa de Pessach de "Chag HaMatsót", ao invés de chamá-la de "Festa da Liberdade" ou "Festa da Redenção". Ao repetir tantas vezes a idéia do "pão da pobreza", podemos nos comportar de maneira humilde. Somente assim conseguiremos reconhecer e agradecer a D'us por todas as bondades que Ele nos fez e continua nos fazendo a cada instante.
SHABAT SHALOM e PESSACH KASHER VE SAMEACH
http://ravefraim.blogspot.com/

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