sexta-feira, 29 de junho de 2012

SOFRIMENTOS PARA O BEM - PARASHÁ CHUKAT 5772

"Havia um fazendeiro judeu muito rico. Certa vez passou pelas suas terras um grande rabino cabalista, conhecedor dos profundos mistérios da Torá. O fazendeiro não desperdiçou a oportunidade de receber alguém tão especial. Convidou-o a se hospedar em sua casa e recebeu-o com todas as honras, oferecendo do bom e do melhor. Conversaram muito durante alguns dias e, em uma das conversas, o rabino cabalista comentou que conhecia a língua dos pássaros. O fazendeiro ficou obstinado com a ideia de entender os pássaros e insistiu muito com o rabino para que lhe ensinasse. Quanto mais o rabino negava, mais o fazendeiro insistia. O rabino, percebendo que não conseguiria dissuadi-lo, concordou em ensiná-lo, mas antes fez uma dura advertência. Avisou que utilizar aquele conhecimento sem o devido cuidado era extremamente perigoso, pois os pássaros podiam prever o futuro, e escutar o que eles diziam poderia ter consequências trágicas.
As advertências tiveram um efeito contrário, pois quando o fazendeiro escutou que seria capaz de prever o futuro, se animou ainda mais. Durante dias aprendeu, com dedicação, a língua dos pássaros. Após algumas semanas o rabino foi embora e o fazendeiro resolveu dar uma volta para testar suas novas habilidades. Escutou então dois pássaros falando que no dia seguinte haveria um grande roubo naquela região. Um bando armado roubaria o gado dos fazendeiros, causando um grande prejuízo. Quando o fazendeiro escutou aquilo, logo correu para tomar as devidas providências. Contratou vários seguranças armados, deixou todo o seu gado trancado no curral e conseguiu, assim, evitar o roubo dos seus animais.
Na manhã seguinte, contente por ter evitado aquele grande prejuízo, ele foi novamente passear e escutou outra conversa entre os pássaros. Eles diziam que no dia seguinte um grande incêndio destruiria parte da fazenda e traria uma terrível perda para o fazendeiro. Novamente o fazendeiro não perdeu tempo. Preparou centenas de baldes d'água, treinou seus funcionários para combater qualquer princípio de incêndio e pediu para que ninguém na fazenda utilizasse fogo naquele dia. Quando um pequeno fogo começou, vindo da fazenda vizinha, os homens bem preparados conseguiram facilmente apagá-lo antes que se transformasse em um incêndio. Novamente ele se alegrou com sua capacidade de mudar o futuro.
Acordou no dia seguinte e, feliz com seu sucesso, foi dar uma volta. Viu alguns pássaros conversando e escutou-os dizendo que ele iria morrer no dia seguinte. O homem ficou desesperado. O que poderia fazer contra a morte? Seria atacado por um ladrão, sofreria um ataque cardíaco fulminante ou seria atingido por um raio? Entendeu que desta vez não conseguiria mudar seu destino e evitar a morte iminente. Lembrou-se então do rabino cabalista e correu para contar-lhe tudo o que havia acontecido, na esperança que ele poderia ajudá-lo. O rabino balançou tristemente a cabeça e disse ao fazendeiro:
- A culpa é toda minha. Nunca deveria ter-lhe ensinado a língua dos pássaros. Eu avisei que era muito perigoso saber o futuro sem estar preparado. Provavelmente você já tinha um decreto de morte celestial, mas por você ter feito a Mitzvá de "Achnassat Orchim" (receber hóspedes) de uma maneira tão completa, D'us quis revogar seu decreto. Mas Ele não podia simplesmente cancelar o decreto, então o transformou em um decreto de sofrimento, através do roubo do seu gado, mas você fez de tudo para cancelar este decreto. Então D'us transformou seu decreto de morte em uma enorme perda financeira que viria através de um incêndio na sua casa, mas você também cancelou este decreto. Agora D'us realmente cumprirá o decreto de morte original, e não nos resta mais nada a fazer..."

Temos que saber olhar todas as dificuldades e sofrimentos como uma grande bondade de D'us, pois somente Ele conhece o futuro e sabe realmente o que é melhor para nossas vidas.

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Na Parashá desta semana, Chukat, os judeus já haviam permanecido no deserto os 40 anos que D'us tinha decretado e estavam em Kadesh, prestes a entrar em Israel. A forma mais curta e rápida seria cortando pelo território de Edom, os descendentes de Essav. D'us ordenou a Moshé que evitasse qualquer tipo de confronto, e então Moshé enviou emissários para falar com o rei de Edom e pedir autorização para atravessar suas terras, garantindo que não seria causado nenhum prejuízo e nada seria tocado. Moshé instruiu seus emissários a começar a conversa contando sobre todo o sofrimento que eles haviam passado durante a dura escravidão no Egito. Por que os mensageiros não foram direto ao assunto?
Explica o Rav Yohanan Zweig que tanto Yaacov quanto Essav teriam direito à terra de Israel, como herdeiros de Avraham Avinu. Mas quando D'us prometeu a Avraham que daria a terra aos seus descendentes, avisou que o pré-requisito seria que eles passassem por um período de sofrimentos e escravidão, como está escrito: "Saiba com certeza que seus descendentes serão estranhos em uma terra que não será deles. E eles os servirão, e eles serão oprimidos por 400 anos" (Bereshit 15:13). Enquanto Yaacov e seus filhos foram para o Egito, para passar pelas dificuldades da escravidão e meritar a terra de Israel, Essav preferiu uma vida tranquila, abdicando do mérito de herdar a terra de Israel, e se estabeleceu na terra de Sehir, fora de Israel. Foi por isso que Moshé mencionou a escravidão, para relembrar aos descendentes de Essav que agora o povo judeu tinha conquistado o direito de ir para a terra de Israel e, portanto, não tinham nenhum interesse no território de Edom. Mesmo assim os argumentos de Moshé não foram suficientes e o rei de Edom proibiu o povo judeu de atravessar suas terras, ameaçando iniciar uma guerra caso eles tentassem passar à força. Moshé poderia facilmente ter esmagado o povo de Edom, como fez posteriormente com os reis Og e Sihon, mas seguiu o comando de D'us e deu a volta, evitando qualquer atrito com eles.
Entre os argumentos utilizados pelos emissários de Moshé, há um que nos chama a atenção, como está escrito: "E gritamos para D'us, e Ele escutou nossa voz, e nos mandou um emissário e nos tirou do Egito" (Bamidbar 20:16). A expressão utilizada para "emissário" é "Malach", que também significa "anjo". Rashi, comentarista da Torá, explica que o versículo se refere a Moshé, e daqui aprendemos que D'us chama Seus profetas de anjos. A geração do deserto teve o grande mérito de ter entre eles um emissário de D'us do nível de Moshé, um verdadeiro anjo, que não apenas ensinava as leis da Torá para o povo, mas o advertia quando se afastava do caminho correto. Porém, por que nós não temos nenhum profeta que reze por nós e implore por misericórdia quando passamos por sofrimentos e dificuldades, como fazia Moshé em sua geração?
O Rav Isroel Meir HaCohen, mais conhecido como Chafetz Chaim, nos ensina que se prestarmos atenção em todo o processo de salvação do povo judeu no Egito, conseguiremos entender como D'us controla o mundo de maneira que sempre o melhor acontece para nós, mesmo quando não conseguimos enxergar isto no momento em que as coisas ocorrem. O peso da escravidão no Egito era terrível, e quando Moshé via o sofrimento dos seus irmãos, tentava ajudar com todas as suas forças. Quando ele via um judeu que já não aguentava o grande peso dos tijolos que carregava nas costas, corria para ajudá-lo a se reerguer e continuar o trabalho. Quando viu um egípcio golpeando um judeu e tentando matá-lo, levantou-se contra o egípcio e salvou o judeu, mesmo colocando sua própria vida em risco. Mas acima de tudo, ele sentia a dor do povo judeu e, com todo o seu coração, rezava e implorava pela salvação do povo. Apesar de Moshé estar pronto para se tornar o líder e salvador do povo judeu, ainda não havia chegado o momento da redenção, pois o povo ainda não estava pronto.
Mas havia um problema no fato de Moshé rezar pela salvação do povo. O exílio era como uma panela no fogo, mas cuja comida ainda não estava completamente cozida. O fogo serve para lentamente cozinhar e deixar a comida no ponto certo. Se uma pessoa retirar a panela antes da hora, causa com que a comida nunca mais fique pronta. As dificuldades no Egito eram como o fogo e o povo judeu era como a comida que ainda não estava pronta. As rezas de Moshé tinham tanta força que poderiam diminuir a escravidão e os sofrimentos do povo judeu. Porém, D'us sabia que todas aquelas dificuldades e sofrimentos eram para o bem do povo, eram parte da preparação para o recebimento da Torá, e não seria bom para todo o futuro do povo judeu acelerar o momento da redenção enquanto eles não estivessem totalmente preparados. Por isso D'us criou uma situação para "tirar Moshé de cena". Após matar um egípcio para proteger um judeu que apanhava, Moshé precisou fugir para Midian para salvar sua vida. Durante todo o tempo em que ele ficou em Midian, a escravidão do povo judeu ficou ainda mais pesada e os sofrimentos aumentaram muito, tudo de acordo com os planos de D'us. A saída de Moshé "aumentou o fogo da panela", acelerando o cozimento e antecipando o momento em que a comida ficaria pronta. Com estes sofrimentos adicionais, D'us conseguiu antecipar o momento da redenção do povo judeu. Dos 400 anos em que os judeus deveriam ter ficado como escravos, eles ficaram apenas 210. Tudo graças aos sofrimentos adicionais pelos quais eles passaram.
O mesmo ocorre em nossa geração. Estamos em uma época onde são imensas as dificuldades e sofrimentos, tanto em nível pessoal quanto em relação ao povo judeu como um todo. Israel não tem paz com seus vizinhos, o antissemitismo ressurge de forma ameaçadora em todo o mundo, sem contar no aumento da violência, das dificuldades financeiras e da banalização dos desvios morais. Mas tudo isso é uma preparação para a redenção final, para a vinda do Mashiach. Se nós tivéssemos também um profeta, que rezasse e implorasse por nós, provavelmente os sofrimentos diminuiriam ou até mesmo terminariam antes do momento certo. D'us quer que o povo judeu volte em arrependimento antes da vinda do Mashiach, pois Ele quer nos dar ainda mais méritos. As dificuldades e sofrimentos, sem nenhum profeta que reze por nós, são justamente o "aumento do fogo" que pode antecipar o fim do grande exílio no qual estamos imersos há mais de 2.000 anos, desde a destruição do nosso Beit Hamikdash (Templo Sagrado).
Desta explicação do Chafetz Chaim fica um dos ensinamentos mais importantes para nossas vidas. D'us vê tudo e controla tudo, Ele sente todo o sofrimento pelo qual passamos e se entristece com todas as nossas tristezas e sofrimentos. Mas Ele sabe que os sofrimentos são a forma de nos despertar e de limpar nossos erros e transgressões. Ele sabe que é a maneira de trazer nossos corações de volta ao caminho correto. Infelizmente, quando a pessoa está tranquila e com abundância, Ela se esquece de D'us e de sua espiritualidade. Somente quando recebemos uma "cutucada" é que nos despertamos. Tudo é para o nosso bem, tudo é feito de maneira que nosso futuro será o melhor possível, mesmo que agora, durante o sofrimento, não conseguimos enxergar.
Precisamos trabalhar a nossa Emuná (fé). Nossos profetas e sábios já haviam previsto que os testes pelos quais as pessoas passariam no final dos tempos seriam muito difíceis, justamente para nos dar muitos méritos. Como ensina a última Mishná do Pirkei Avót (Ética dos Patriarcas): "De acordo com a dificuldade, assim será a recompensa". Aqueles que conseguirem passar os testes do fim dos tempos receberão a devida recompensa. Olhando a história, podemos ter o consolo de que, da mesma forma que as dificuldades no Egito trouxeram muita luz para o povo judeu, assim também todos os sofrimentos pelos quais estamos passando servirão apenas para trazer muitos bons frutos, em breve.
SHABAT SHALOM

R' Efraim Birbojm
http://ravefraim.blogspot.com.br/
Nm. 19:1-22:1, Jz. 11:1-33, Jo. 3:10-21

sábado, 23 de junho de 2012

QUANDO O DESEJO FALA MAIS ALTO - PARASHÁ KORACH 5772

"Certo dia, na densa floresta, a raposa estava passeando tranquilamente quando se deparou com um enorme leão, que já estava com a boca aberta, pronto para engoli-la em uma só mordida. Sabendo que tentar fugir seria em vão, pois o leão era muito mais rápido e ágil do que ela, decidiu utilizar a astúcia. Olhou firme nos olhos do leão e disse: - Espere um momento, Sr. leão. É um grande desperdício você me devorar, pois olhe meu tamanho, não vai te saciar. Mas se você poupar minha vida, não se arrependerá. Eu te levarei até um ser humano, que é muito maior e mais suculento, e você poderá devorá-lo e se sentir saciado.
Qual era o plano da raposa? Ela sabia que o homem a que se referia era um caçador, e que ele havia preparado uma armadilha para pegar feras selvagens. Ele havia cavado um profundo poço e, com folhas e galhos, havia coberto o buraco, sem que nenhum animal conseguisse perceber o perigo. Então ele ficava ao lado do poço, à espera que algum animal caísse na armadilha.
Quando o leão começou a se aproximar do homem, viu que realmente seria um delicioso banquete. Mas um medo começou a lhe incomodar. E se o homem rezasse para que o seu plano de atacá-lo desse errado? E se recaísse sobre ele alguma maldição? Ele sabia da força da reza do homem e o quanto poderia prejudicá-lo. Então a raposa o tranquilizou:
- Não se preocupe, meu amigo. As rezas do homem não recairão nem sobre você nem sobre seus filhos. Talvez, se funcionarem, recairão só sobre os seus netos. Você pode ir tranquilo, pois ficará saciado agora e, até que seus netos nasçam, ainda há muito tempo. Confie em mim.
A fome já estava apertando e, por isso, o leão facilmente foi convencido de que valia a pena. Começou a caminhar lentamente em direção ao homem, confiante, preparando o bote certeiro. Quando estava muito próximo, sentiu o chão desaparecendo e desabou para dentro do poço fundo. Ele havia caído na armadilha do homem. A raposa então foi até a boca do poço e ficou olhando para o leão que, sem entender nada, perguntou para ela:
- Ei, você falou que as desgraças recairiam apenas sobre os meus netos. O que está acontecendo?
- Provavelmente o seu avô atacou algum homem - respondeu tranquilamente a raposa - e a reza daquele homem recaiu sobre você, o neto.
- Mas isto não é justo - gritou o leão - os avós comem doces e é o dente dos netos que fica com cáries?
- Você é muito engraçado, Sr. leão. Por que você não pensou assim desde o começo? Por que você não se importou de se saciar agora e deixar os seus netos pagarem a conta? Agora você não tem o direito de reclamar mais nada"
O grande sábio Hai Gaon contava esta parábola para nos ensinar como se comportam aqueles que são levados apenas pelos seus desejos. No momento em que a vontade fala mais alto, não medem as consequências. Apenas depois percebem o quanto foram tolos e descuidados.

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A Parashá desta semana, Korach, descreve a rebelião na qual parte do povo judeu participou, e cujo intuito era derrubar Moshé e Aaron de seus postos de liderança. A rebelião era encabeçada por Korach, primo de Moshé, e tinha como principal motivador a inveja. Junto com Datan e Aviran, dois conhecidos causadores de tumulto, Korach conseguiu juntar 250 homens para tentar, através de uma campanha difamatória contra Moshé e Aaron, assumir o poder. Mas seus planos foram anulados por D'us e os líderes e suas famílias tiveram um final trágico, sendo engolidos vivos pela terra. Os 250 homens que se deixaram convencer por Korach também tiveram um final trágico, sendo consumidos vivos por um fogo Divino no momento em que ofereciam um incenso para D'us.
Quando lemos o relato do que ocorreu com Korach e seus seguidores, a primeira impressão é que estamos tratando de pessoas espiritualmente muito baixas. Mas explicam nossos sábios que, ao contrário do que parece, Korach era um dos maiores da geração, realmente estava capacitado a ser um dos líderes do povo judeu. Também os 250 homens que o seguiram eram pessoas elevadas, que poderiam ter se tornado gigantes espirituais. Então como pessoas tão elevadas caíram em um erro tão tolo?
Para aumentar a pergunta, ao analisarmos o argumento que eles utilizaram para justificar a rebelião, percebemos que trata-se de algo completamente irracional. Assim eles falaram para Moshé: "Não é suficiente que você nos tirou da terra do leite e mel para nos matar no deserto?" (Bamidbar 16:13). Estamos falando da geração que sentiu na pele as dores da terrível escravidão no Egito. Depois de tudo o que passaram, como estas pessoas, em seu nível tão elevado, puderam utilizar argumentos tão infundados? Será que eles realmente acreditavam em suas próprias palavras?
Explica o livro "Lekach Tov" que a história de Korach é uma grande advertência para todas as pessoas que acham que são sábias e, por isso, estão protegidas contra o Yetzer Hará, a nossa má inclinação. Na verdade, quando o desejo fala mais alto, não apenas a sabedoria não serve para proteger a pessoa, mas o Yetzer Hará a utiliza para justificar os maus atos, transformando, aos olhos do transgressor, os erros em bons atos. Foi o que aconteceu com Korach, que até o fim pensou estar certo, mesmo utilizando argumentos que até mesmo uma criança saberia que são completamente infundados. Ele estava cego pelo desejo de poder, não conseguiu enxergar o óbvio, e pagou caro por sua obstinação.
É isto o que vemos na parábola trazida pelo grande sábio Hai Gaon. O leão, o rei dos animais, apenas caiu na armadilha da raposa por causa do seu desejo incontrolável por um pouco mais de carne. O que ele entendeu com facilidade depois que seu desejo havia desaparecido, algo que era lógico e óbvio, ele não havia conseguido enxergar no princípio, quando ainda estava completamente dominado pelas suas vontades.
Este conceito pode ser visto até mesmo nos nomes dos nossos órgãos, cada um representando uma das nossas forças que utilizamos para tomar decisões. O cérebro, centro da razão, é חמ‎ (Moach). O coração, centro das emoções, é ‎בל (Lev). O fígado, centro dos desejos, é ‎בדכ (Caved). Utilizando as iniciais do nome dos órgãos, aprendemos o que ocorre quando tomamos as decisões de maneira correta ou de maneira incorreta. Se uma pessoa toma decisões com a cabeça, utilizando os sentimentos e os desejos apenas de maneira secundária, ele se torna um "Melech" לךמ (rei), pois governa sobre si mesmo, adquire o autocontrole. Se a pessoa decide primeiro com seus sentimentos e somente depois com a razão, ele se torna um "Lemech" למך‎ (bobo), pois faz bobagens ao tomar decisões sentimentais, muitas vezes irracionais. Mas o pior de tudo é quando a pessoa decide com seus desejos em primeiro lugar, e não com a razão, e se torna um "Clum" ‎כלם (nada), pois perde o que o diferencia dos animais: o uso do intelecto para ter domínio sobre suas vontades.
É interessante perceber que a Parashá da semana passada, Shelach, terminou justamente com este ensinamento. A Parashá terminou com a Mitzvá de Tziztit, onde está escrito o seguinte versículo: "E não sigam atrás dos seus corações e atrás dos seus olhos, atrás dos quais vocês se desviam" (Bamidbar 15:39). O Tzitzit que vestimos, com seus fios aparentes, é justamente um lembrete constante de que devemos controlar os nossos desejos e sentimentos, pois se tomarmos nossas decisões baseadas apenas nos olhos que veem e no coração que deseja, as consequências serão devastadoras.
É o que infelizmente vemos atualmente na nossa sociedade, onde as pessoas correm atrás dos seus desejos e se afastam cada vez mais da espiritualidade. Uma sociedade onde são criados sites que incentivam a traição. Uma sociedade onde os jovens bebem e voltam dirigindo para casa, sem se importar com as consequências. Uma sociedade onde o mais importante é a comida ter sabor, não importa o quanto é prejudicial à saúde. Resumindo, uma sociedade onde quem domina e toma as decisões são os desejos e não o racional.
A solução é nos conectarmos aos valores espirituais. As Mitzvót, por exemplo, nos ajudam a desenvolver o autocontrole, nos ajudam a ajustar as prioridades, nos ajudam a saber, mesmo nos pequenos detalhes do cotidiano, qual o caminho correto a ser seguido.
Uma dica prática para evitar seguir cegamente os desejos é escutar o conselho do Pirkei Avót (Ética dos Patriarcas): "Leve em consideração o que você ganha com uma transgressão e o que você perde" (Cap. 2 Mishná 1). Os prazeres proibidos duram poucos instantes, enquanto suas consequências, tanto no mundo material quanto no mundo espiritual, podem durar para sempre. Vale a pena pensar nisso e se controlar.
SHABAT SHALOM
R' Efraim Birbojm
http://ravefraim.blogspot.com.br/search/label/Parash%C3%A1%20Korach
Nm. 16:1-18:32, 1 Sm. 11:14-12:22, At 5:1-11

sexta-feira, 15 de junho de 2012

CADA PALAVRA CUSTA - PARASHÁ SHELACH 5772

"O Rabino Isroel Meir HaCohen, mais conhecido como Chafetz Chaim, se esforçou muito para ensinar as leis de uma das mais terríveis transgressões da Torá: o Lashon Hará, a maledicência, que pode causar danos físicos, econômicos e até mesmo psicológicos irreversíveis. O Chafetz Chaim aproveitava cada oportunidade para ressaltar o cuidado que precisamos ter com a nossa fala.
Certa vez o Chafetz Chaim estava viajando com seu genro, o Rav Tzvi Levinson, para levantar fundos para a sua Yeshivá, que ficava em Radin, na Polônia, cidade onde morava. Durante a viagem, se encontraram com um homem muito rico de Moscou, um judeu muito generoso que sustentava diversas instituições de Torá e fazia muitos atos de caridade. Eles foram recebidos com muito respeito e honra. O Chafetz Chaim começou a contar sobre o andamento da Yeshivá e suas principais necessidades, enquanto o milionário escutava atentamente.
Após alguns minutos, no meio da conversa, o Rav Tzvi pediu licença e foi para a sala ao lado, para enviar um telegrama urgente. O Chafetz Chaim então comentou com o doador:
- Você vê, aqui nesta sala ao lado há agora dezenas de pessoas sentadas, elaborando o texto de seus telegramas antes de enviá-los, pensando em cada palavra que será incluída. Você sabe por quê? Pois após o telegrama ser enviado, a pessoa terá que pagar por cada palavra escrita.
- Esta é a maneira de evitar o Lashon Hará - continuou o Chafetz Chaim - lembrando-se do cuidado que devemos ter com as palavras que dizemos. Pois quando sairmos deste mundo, as palavras utilizadas de maneira equivocada serão cobradas, cada uma delas. Portanto, o conselho é sempre pensar bastante antes de falar qualquer coisa.
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Quando estudamos a Torá, há muito ensinamentos que não estão apenas no entendimento literal dos versículos. Por exemplo, existe um conceito interessante chamado "Smichut Parashiot" (proximidade entre 2 assuntos) que nos revela muitos ensinamentos profundos. O que significa este conceito? D'us poderia ter escrito a Torá da maneira e na ordem que quisesse. Muitas Parashiót estão inclusive fora da ordem cronológica. Portanto, quando encontramos na Torá dois assuntos, aparentemente desconectados, escritos em sequência, é para nos ensinar que estes assuntos estão, de alguma maneira, conectados entre si. É o que ocorre com o assunto do fim da Parashá da semana passada, Bahalotechá, e o assunto do início Parashá desta semana, Shelach.
A Parashá da semana passada terminou com o Lashon Hará (maledicência) que Miriam fez de seu irmão Moshé. Apesar de ter sido com boas intenções, com o intuito de ajudar, e apesar de Miriam amar seu irmão, ela foi castigada com a Tzaraat, doença espiritual que causava manchas por todo o corpo. Nos locais onde a Tzaraat atingia o transgressor, a pele adquiria o aspecto de uma lepra, como se aquela parte do corpo estivesse morta. Já a Parashá desta semana, Shelach, começa descrevendo um dos erros mais graves cometidos pelo povo judeu durante a sua permanência no deserto. Quando o povo estava prestes a entrar em Israel, decidiu enviar 12 espiões em uma missão de reconhecimento da terra. Eles deveriam voltar com boas notícias, pois era uma terra muito boa, a terra onde flui o leite e o mel, a terra que D'us havia prometido para Avraham, Yitzchak e Yaacov. Mas dos 12 espiões enviados, 10 voltaram falando mal da terra, desanimando todo o povo. Qual a conexão entre estes dois assuntos.
Explica Rashi, comentarista da Torá, que os espiões viram as terríveis consequências que aconteceram com Miriam por causa do Lashon Hará, mas não aprenderam nada com isso, pois logo depois repetiram o mesmo erro, fazendo Lashon Hará da Terra de Israel e trazendo graves consequências para si mesmos e para o resto do povo. Os espiões que fizeram Lashon Hará morreram imediatamente em uma praga, enquanto toda aquela geração, que chorou por causa do relato dos espiões, foi proibida de entrar em Israel. O povo judeu ficou por 40 anos vagando pelo deserto, até que todos daquela geração tivessem morrido.
A proibição de Lashon Hará é uma das mais graves da Torá, e aquele que se acostuma a não controlar sua fala pode chegar a transgredir até 31 Mitzvót diferentes. Em Yom Kipur, se prestarmos atenção no Vidui (confissão das nossas transgressões), perceberemos que 25% do nosso arrependimento é em relação ao mau uso da nossa fala. O Beit Hamikdash (Templo Sagrado), que trazia Luz espiritual para todo o mundo, foi destruído por causa do Lashon Hará, há mais de 2 mil anos, e até hoje não tivemos o mérito de reconstruí-lo, pois continuamos caindo nesta grave transgressão.
Mas deste erro do povo judeu ficam algumas perguntas. Em vários lugares da Torá e do Talmud (Torá Oral) estão explícitas as leis e a gravidade do Lashon Hará. Então por que Rashi diz que os espiões deveriam ter aprendido com o erro de Miriam? Eles eram grandes Tzadikim, pessoas em um nível espiritual elevado, com certeza cumpriam as Mitzvót. Por que justamente o Lashon Hará deveria ter sido aprendido através de um "exemplo", se é algo que está explícito na Torá? Além disso, entendemos o castigo de Miriam, que falou mal de um ser humano, mas o que há de tão terrível em falar mal da terra de Israel, um objeto sem vida, que não se ofende?
Explica o Rav Yohanan Zweig que para responder estas perguntas precisamos voltar ao final da Parashá passada. Imediatamente após Miriam ter feito Lashon Hará de Moshé, a Torá escreve um versículo aparentemente fora de contexto: "E o homem Moshé era extremamente humilde" (Bamidbar 12:3). Qual a conexão entre esta característica de Moshé e o Lashon Hará feito por Miriam?
Em geral, o Lashon Hará só é visto como uma transgressão "Bein Adam Lehaveiró" (entre o homem e seu semelhante), isto é, achamos que a consequência mais destrutiva do Lashon Hará é o seu efeito social nocivo. Embora este efeito social negativo seja realmente terrível, afastando pessoas e causando muitas mágoas e desentendimento, na realidade esta não é a maior consequência negativa do Lashon Hará. Há algo ainda pior, uma consequência ainda mais marcante, que são as forças desencadeadas pelo Lashon Hará e que atingem a própria pessoa que falou.
Por que a Torá escreveu, logo após o Lashon Hará de Miriam, que Moshé era uma pessoa tão humilde? Para ressaltar que ele era tão simples, tão desconectado de qualquer sentimento de rancor, que não foi atingido, de nenhuma maneira, pelas palavras negativas que Miriam pronunciou. Portanto, o único dano causado pelo Lashon Hará de Miriam foi o dano causado a ela mesma. Mas que dano foi este?
Quando D'us criou o mundo, criou-o com palavras. E quando D'us criou o ser humano, criou primeiro seu corpo e depois colocou dentro dele uma alma, como está escrito: "E D'us formou o homem do pó da terra, e Ele soprou em seu nariz uma alma de vida. E o homem se tornou uma alma viva" (Bereshit 2:7). Unkelos, que traduziu toda a Torá para o aramaico, traduziu "alma viva" como "alma falante", deixando claro que a fala e a vida estão diretamente conectadas. Se a pessoa utiliza a fala para o bem, se comporta como D'us e traz vida para o mundo. Mas se utiliza a fala para o mal, se afasta de D'us e causa morte e destruição. O Lashon Hará é o oposto da vida e, por isso, causa com que parte do transgressor morra. Isto se reflete na doença espiritual da Tzaraat, que atingia aquele que falava Lashon Hará causando manchas, parecidas com lepra, dando a impressão de que partes do seu corpo haviam morrido, uma alusão à morte causada ao próprio transgressor. Foi por isso que Aharon, ao implorar para que Moshé rezasse por Miriam após ela ter sido atingida pela Tzaraat, disse: "Não deixe que ela esteja como uma morta" (Bamidbar 12:12).
Apesar de a Torá estar repleta de menções explícitas à grave transgressão do Lashon Hará, até o acontecimento com Miriam a mensagem de que o Lashon Hará destrói a vida daquele que fala, mesmo quando aquele sobre quem está sendo falado não é afetado, não estava tão clara. Os espiões perderam a oportunidade de aprender esta lição. Se esta mensagem tivesse sido absorvida pelos espiões, eles entenderiam a gravidade de falar Lashon Hará sobre a terra de Israel, apesar de ser algo inanimado. Pois pior do que o dano que o Lashon Hará causa para o outro é o dano causado ao próprio transgressor.
Diferente de outras transgressões, em que todo o ato conta apenas como uma transgressão, quando a pessoa faz Lashon Hará, cada palavra proferida é uma transgressão por si só. Além de toda a destruição e tristeza que podemos causar aos outros, o pior efeito do Lashon Hará é a destruição que causamos para nossa própria alma. Apesar de não termos mais a Tzaraat, nossa alma continua sendo prejudicada por cada palavra mal utilizada. Por isso, como alguém que vai enviar um telegrama caro, pense bem no que você vai falar, antes de abrir a boca, pois depois de pronunciadas, somente nos restará pagar a conta de cada palavra mal utilizada.

 SHABAT SHALOM
R' Efraim Birbojm
http://ravefraim.blogspot.com.br/
Nm. 13:1-15:41, Js 2:1-24, Hb. 3:7-4:11

terça-feira, 12 de junho de 2012

Quem ama, pelo visto, mata! Desde que a vítima seja homem e rico, e a assassina, uma prostituta redimida! Eis um mundo bárbaro, boçal! Ou: O feminismo de faca na mão!;

Vou tratar de um tema que, na aparência, nada tem a ver com política. Na essência, no entanto, não poderia ser mais político. Não o evento em si, mas o tratamento a que vem sendo submetido. Vejam como os tempos politicamente corretos podem ser estúpidos e condescender até mesmo com um crime bárbaro. Se acharem procedente, passem adiante e façam o debate.

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Caras e caros, confesso que estou surpreso, e um tanto estupefato, com rumo que vai tomando o noticiário sobre o assassinato e esquartejamento do empresário Marcos Matsunaga. A razão, o decoro, a civilidade e o bom senso estão sendo devorados — lá vem barulho, eu sei, mas não posso fazer nada — pelo feminismo de botina e faca na mão que, tudo indica, tomou conta da imprensa. E pouco me importa se quem o pratica é homem ou mulher. Desde que Elize confessou ter matado o marido, começou o trabalho de construção da vítima e do vilão! A vítima, no caso, é quem matou. E o vilão é o morto!!!
Ontem, vi uma reportagem que sugeria que ela só deu um tiro na cabeça dele por legítima defesa. E por que decidiu fazê-lo em pedaços? É que tinha conhecimentos de enfermagem… Ah, bom! Quando operei o cocuruto, lembro de duas cenas com clareza: eu tentando ser engraçado instantes antes de levar Propofol na veia, que precede a anestesia pra valer, como se aquilo me acontecesse todo dia e não tivesse importância — todo mundo é meio idiota à beira do abismo, acho —, e o sorriso benevolente das duas enfermeiras que me acordaram, muitas horas depois, na UTI. Não eram esquartejadoras. Não eram, não! Depois eu levei flores e chocolates para elas. Pensei até em fazer uma poesia. Mas achei que a continuidade da rotina da vida não valia tanta solenidade. Melhor celebrar com as coisas que perecem: flores e chocolate! Volto ao ponto.
A história mexe com alguns clichês que foram sendo progressivamente abandonados até pelas novelas, dado o desgaste do enredo. A puta pobre conquistada pelo milionário já não rende fantasias, a menos que salte da telinha ou da telona para a vida real. É o caso. Elize era garota de programa, e Marcos, um cliente. Pelo visto, eles se apaixonaram, o que rendeu um casamento e uma filha — ele pai de uma criança de uma união anterior. Mas, oh desdita!, parece que o rapaz se sentia especialmente atraído pelo amor que ousa dizer seu preço. Já numa união estável com Elize — que sabia bem como o conheceu e tinha, portanto, pavimentado o caminho da desconfiança —, tornou-se amante de outra garota de programa, outra morena original (Elize havia se tornado uma falsa loura). Imagens gravadas por um detetive particular foram parar na televisão! À amante da vez, ele havia dado de presente um carro avaliado em R$ 100 mil! Era pródigo, pelo visto, nos amores que comprava.
O advogado de defesa de Elize deve estar rindo de orelha a orelha. A imprensa trabalha pra ele, de graça. A esta altura, Marcos, o assassinado e esquartejado, já está caracterizado como o marido infiel, colecionador de armas, viciado em sexo pago, que não soube — e este é seu maior pecado para o feminismo de faca na mão — reconhecer o valor da puta que se redimiu e se tornou a amante extremosa. O mais escandaloso nisso tudo é que a imprensa não está se dando conta de que as informações de bastidores saem só de um lado do conflito porque o outro já não pode se manifestar, não é mesmo? Essa imprensa que perde os limites não precisa de controle social, não! Basta um pouco de vergonha!
Atenção! Fosse Elize a dona de casa dedicada desde sempre, oriunda da mesma classe social de Marcos, que tivesse estudado em colégios caros, essa asquerosa simpatia que vem granjeando na imprensa não seria tão saliente, ainda que o comportamento do marido fosse o mesmo. O fato de ter sido garota de programa e de ter se tornado mãe de família e mulher ciumenta, ciosa do casamento (!), excita a estúpida imaginação politicamente correta de parte do jornalismo. “Coitada! Ela bem que tentou uma vida regenerada, mas ele não deixou, ele não permitiu; queria humilhá-la!” Há aí algumas fantasias cretinas que vão se combinando.
A primeira delas é a de que alguém se torna prostituta por alguma imposição do destino. Falso! Ainda que, excepcionalmente, possa ser assim, só continua no ramo quem quer — e o preço da remissão, obviamente, não há de ser um marido milionário. A segunda fantasia é a de que, na alma de toda puta, reside adormecida uma santa, esperando para acordar e passar lições de vida e moral. Não! Trata-se apenas de jeito nada digno de ganhar a vida. Ser mulher de empresário milionário certamente é mais fácil, e Elize, por óbvio, escolheu a lei do menor esforço, já que ele topou a parada. A terceira fantasia, dadas as origens dela e dele, é o confronto de classes. Se uma pobre — ou ex-pobre — mata um rico, supõe-se que, em alguma instância, isso representa uma forma de justiça e compensação. A quarta fantasia é mais difícil de detectar, mas compõe o substrato do noticiário e dá conta do espírito do tempo: de alguma maneira, Elize é a expressão, e não se espantem porque vou explicar direitinho, de um movimento de libertação da mulher — ainda que uma expressão trágica.

Ângela Diniz e Doca Street
Eu tinha 15 anos quando Doca Street matou Ângela Diniz, a “Pantera de Minas”, em 30 de dezembro de 1976, numa praia de Búzios, com quatro tiros. Ambos faziam parte da fina flor da elite brasileira. Ele foi julgado em 1979 e saiu livre do tribunal, condenado apenas por homicídio culposo. Beneficiado por sursis, foi solto imediatamente. Do lado de fora, foi saudado como herói. O advogado de defesa era o lendário criminalista Evandro Lins e Silva (o que Márcio Thomaz Bastos gostaria de ser quando crescer), que havia sido ministro do Supremo Tribunal Federal entre 1963 e 1969, aposentado compulsoriamente pelo AI-6. Lins e Silva era um monumento do pensamento progressista brasileiro e assim continuou, até a morte, em 2002. Em 1992, foi ele o advogado de Barbosa Lima Sobrinho, presidente da ABI ( Associação Brasileira de Imprensa), e de Marcelo Lavenère, presidente da OAB, autores da ação popular que solicitou à Câmara dos Deputados a abertura do processo de impeachment de Fernando Collor.
Por que lembro essas credenciais do ilustre criminalista? Porque, no julgamento de Ângela, ele defendeu a tese mais reacionária que estava a seu alcance: Doca matara Ângela para defender a sua honra. Hábil, Lins e Silva levou o júri a julgar a morta, não o assassino. Ela foi caracterizada como bissexual (era verdade), viciada em drogas (provavelmente verdade), promíscua (havia indícios de que sim), chegada a orgias (idem) etc. E ele? O homem apaixonado, que deixara um casamento estável com a milionária Adelita Scarpa, seduzido pelos ardis maléficos da “pantera”. Ainda me lembro de uma frase pronunciada por Lins e Silva: Ângela seria aquela que passava “mais tempo na horizontal do que na vertical”…
A promotoria recorreu, e um novo julgamento foi realizado dois anos depois. Aí a coisa toda já havia se invertido. Bastou esse tempo para que ficasse claro que “quem ama não mata”, nome de um movimento iniciado no país, especialmente por mulheres, que virou programa de televisão. No novo julgamento, Doca foi condenado a 15 anos de cadeia. Afinal, na história daquele “homicídio culposo”, havia um fato que a retórica inflamada de Evandro conseguiu minimizar: ele dera um primeiro tiro com a Beretta. A arma travou. Ele a destravou e desfechou mais três.

Volto aos dias de hoje
A imprensa faz com Matsunaga hoje o que Evandro Lins e Silva fez com Ângela no julgamento de 1979 — com a ajuda de certa imprensa sensacionalista. O jornalismo sério já se escandalizava, como prova reportagem de VEJA, de 24 de outubro de 1979, que julgada, naquele caso, fosse a morta, não o assassino. A exposição que se fez da vida dissoluta de Ângela Diniz parecia — e, no fim das contas, era mesmo — uma espécie de justificativa da pena de morte que o amante decidira lhe aplicar. Ora, não é o que se está fazendo agora com Marcos Matsunaga?
Acho absolutamente indecoroso, asqueroso mesmo, que o filme gravado por detetives particulares contratados pela assassina, que mostram o empresário em companhia de uma garota de programa num restaurante, sejam exibidos na televisão. Digam-me: em que isso esclarece as circunstâncias da morte? ORA, ENTÃO ESTAMOS DE VOLTA AO ASSASSINATO “EM LEGÍTIMA DEFESA DA HONRA”? Há 31 anos, em 1981, no segundo julgamento de Doca Street, o país emitiu sinais claros de que não aceitava mais essa tese. Por que ela volta, agora, com essa força? Honra se lava com sangue?
Então agora volto ao ponto inicial. O pensamento politicamente correto — qualquer um — é uma evidente expressão do mais detestável reacionarismo, só que com sinal trocado. Não duvidem: um marido que tivesse feito picadinho de uma adúltera estaria sendo execrado pela imprensa — e, se querem saber, com razão. Ou de que sociedade, afinal de contas, estamos falando? Este é um país que tem uma lei chamada “Maria da Penha” para coibir e punir o espancamento de mulheres. Quando os casos chegam à imprensa, ninguém se ocupa — com acerto — de saber detalhes do desentendimento conjugal que acabou resultando na agressão. E nem seria mesmo o caso. Não é para agredir e pronto!
Mas é próprio do politicamente correto ignorar o fato e as personagens em si para se fixar num enredo protagonizado por categorias. Elize está sendo tratada, no fim das contas, como a mulher que conquistou “o direito” ao crime passional, atingida pela mesma honra ferida que levava, ou leva ainda, os homens a matar. Não me lembro de ter visto nada parecido! O caso Ângela Diniz trouxe um bom ensinamento ao país no segundo julgamento: o assassinato para lavar a honra é inaceitável, não importa se a vítima é puta ou santa.
Marcos Matsunaga, o esquartejado, está tendo agora a honra feita aos pedaços pelos supostos bons preconceitos do politicamente correto. Se, em vez de uma amante, ele tivesse 10, faria alguma diferença?
Encerro com um apelo: parem de levar ao ar filmes e detalhes da vida desse homem que podem servir a qualquer coisa, menos para explicar por que aquela senhora deu um tiro em sua cabeça e esperou a rigidez cadavérica para fazê-lo em pedaços, enquanto a filha brincava no quarto ao lado. Esquartejamento passional??? Depois pegou o cartão de crédito dele e foi comprar malas Louis Vuitton.

Texto publicado originalmente às 5h43

Por Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/

domingo, 10 de junho de 2012

Contar os refugiados palestinos?

A solução do conflito árabe-israelense requer o fim da farsa absurda e danosa da proliferação de refugiados palestinos fantasmas.

O âmago fétido e tenebroso da guerra árabe contra Israel, como já venho afirmando há muito tempo, não consiste nos conflitos sobre Jerusalém, postos de controle ou "assentamentos". Melhor dizendo, consiste nos assim chamados, refugiados palestinos.

Assim chamados pelo fato dos cerca de 5 milhões de refugiados legalmente reconhecidos, assistidos pela UNRWA ("Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina"), apenas 1 porcento serem realmente refugiados que se enquadram na definição da agência como "pessoas cujo local normal de residência era a Palestina entre junho de 1946 e maio de 1948, que perderam tanto seus lares como seus meios de sobrevivência em consequência do conflito árabe-israelense de 1948". Os outros 99% são descendentes daqueles refugiados ou o que eu chamo de refugiados fantasmas.
Pior: aqueles que estavam vivos em 1948 estão gradualmente morrendo e em cerca de cinquenta anos nenhum refugiado verdadeiro estará vivo, enquanto (extrapolando a partir de uma estimativa confiável do Refugee Survey Quarterly por Mike Dumper) os descendentes, refugiados fantasmas, já estarão na casa dos 20 milhões. Sem controle, sua população irá inchar como um balão até o final dos tempos.
Consequentemente esta questão é muito importante pelo fato do status de refugiado ter efeitos negativos: destrói a vida dos milhões de não refugiados, marginalizando-os e ao mesmo tempo incutindo um sonho irredentista, ilusório e vergonhoso, pior que isso, o status de refugiado eterniza-os como uma lança permanentemente apontada para o coração de Israel, ameaçando o estado judeu e desestruturando o Oriente Médio.
Em suma, a solução do conflito árabe-israelense requer o fim da farsa absurda e danosa da proliferação de refugiados palestinos fantasmas e assentá-los de forma permanente. 1948 já passou, está na hora de cair na real.
Tenho a satisfação de informar que, baseado em parte no trabalho realizado por Steven J. Rosen e por mim, do Middle East Forum no último ano, em 24 de maio o U.S. Senate Appropriations Committee aprovou por unanimidade uma emenda, potencialmente decisiva, embora limitada, no que tange os US$52,1 bilhões do orçamento fiscal de 2013 do Departamento de Estado e operações externas.
A emenda proposta por Mark Kirk (Republicano de Illinois) determina que o Departamento de Estado informe o Congresso sobre o uso dos fundos anuais do contribuinte americano no valor de US$240 milhões doados aos refugiados palestinos via UNRWA. Kirk questiona, quantos dos recebedores fazem jus à definição da UNRWA citada acima, para que sejam considerados verdadeiros refugiados? E quantos não fazem jus, sendo na realidade descendentes dos refugiados?
A emenda de Kirk não exige a eliminação, nem mesmo a redução dos benefícios fornecidos aos refugiados fantasmas. Apesar de sua natureza limitada, Kirk chama o requisito de informe um "divisor de águas". De fato, ele provocou o que um alto assistente do Partido Republicano no Senado classificou de "enorme oposição" do governo jordaniano e da própria UNRWA, causando o que Josh Rogin da revista Foreign Policy chamou de incontrolável batalha.
Por que a fúria? Porque se o Departamento de Estado fosse obrigado a diferenciar entre os verdadeiros refugiados palestinos e os refugiados palestinos fantasmas, os Estados Unidos e outros governos ocidentais (que juntos cobrem mais de 80 porcento do orçamento da UNRWA), poderiam acabar por decidir pelo corte dos fantasmas e com isso solapar a reivindicação deles ao "direito de retorno" a Israel.
Lamentavelmente, a administração Obama meteu os pés pelas mãos nessa questão. A carta do Subsecretário de Estado Thomas R. Nides se opondo a uma versão anterior da emenda de Kirk mostra total incoerência. De um lado, Nides declara que Kirk iria, ao obrigar o governo dos Estados Unidos "a apresentar um parecer público sobre o número e status dos refugiados palestinos … prejulgar e determinar o resultado desta delicada questão". Do outro, o próprio Nides atribui "algo em torno de cinco milhões de refugiados [palestinos]", juntando assim refugiados verdadeiros e refugiados fantasmas – prejudicando precisamente a questão que ele insiste em manter aberta. A declaração dos 5 milhões de refugiados não foi mero acaso, ao ser indagado, o porta-voz do Departamento de Estado Patrick Ventrell, confirmou que "o governo dos E.U.A. apóia" o princípio que nos norteia a "reconhecer os descendentes de refugiados como refugiados".
Além disso, prevendo uma "reação muito negativa [à emenda] dos palestinos e dos aliados na região, especialmente da Jordânia", Nides solicitou aos árabes que pressionem o Senado dos Estados Unidos, uma manobra barata, indigna do Departamento de Estado.
Através dos 64 anos da existência de Israel, um presidente americano após o outro resolveram solucionar o conflito árabe-israelense, no entanto, todos ignoraram o aspecto mais desagradável desse confronto – a propositada exploração da questão dos refugiados a fim de minar a própria existência do estado judeu. Bravo ao Senador Kirk e a sua equipe pela sabedoria e coragem de iniciar o esforço em abordar realidades desagradáveis, começando uma mudança que finalmente vai direto ao âmago do conflito.

Publicado na National Review Online.

Original em inglês: Count Palestine Refugees?

Tradução: Joseph Skilnik

http://www.midiasemmascara.org/artigos/internacional/oriente-medio/13138-contar-os-refugiados-palestinos.html

sexta-feira, 8 de junho de 2012

ESCRITO NAS ENTRELINHAS - PARASHÁ BEHALOTECHÁ 5772

"Certa vez o Rabino Yossef Dov Soloveitchik, mais conhecido como Beit Halevi, estava em casa, na véspera de Pessach, cuidando dos últimos preparativos para o Seder. Foi quando escutou alguém batendo na porta. Era um homem muito pobre, que queria tirar uma dúvida em relação a uma das Mitzvót do Seder de Pessach. Convidaram-no a entrar, e ele fez a seguinte pergunta:- Rabino, eu não tenho dinheiro para comprar vinho. Será que eu posso cumprir a Mitzvá dos 4 copos de vinho do Seder com 4 copos de leite?
O Beit Halevi balançou negativamente a cabeça e ensinou ao pobre que, de acordo com a Halachá (lei judaica), não era possível cumprir a Mitzvá dos 4 copos daquela maneira. Mas pediu ao pobre que aguardasse um pouco e voltou, alguns instantes depois, com um soma considerável de dinheiro. Entregou o dinheiro ao pobre e pediu que ele comprasse com aquele dinheiro vinho e comida para o Seder de Pessach. O pobre não cabia em si de contentamento, não sabia nem como agradecer. Abraçou e Beit Halevi e saiu apressado para comprar a comida e o vinho para o Seder.
Algum tempo depois do pobre ter ido embora, a esposa do Beit Halevi, não aguentando a curiosidade, perguntou:
- Você poderia ter dado apenas o dinheiro suficiente para que aquele homem pudesse comprar uma garrafa de vinho para cumprir a Mitzvá dos 4 copos. Ele não pediu dinheiro para mais nada. Então por que você deu tanto dinheiro para ele?
- Provavelmente você não percebeu o que estava nas entrelinhas da pergunta daquele homem – respondeu, com um sorriso, o Beit Halevi - Cada um dos 4 copos deve ser tomado em um momento específico do Seder, sendo que dois deles são tomados apenas depois do término da refeição. Se de acordo com a Halachá não podemos beber leite imediatamente depois de ter comido carne e é necessário esperar algumas horas, então como aquele homem pretendia cumprir a Mitvzvá dos 4 copos com leite? Então eu entendi que ele também não tinha dinheiro nem mesmo para comprar carne para o jantar. Foi por isso que eu dei tanto dinheiro para ele, mais do que o necessário para apenas uma garrafa de vinho"
Nossos grandes sábios se esforçaram muito para adquirir a sensibilidade de entender não apenas as palavras ditas pelas pessoas, mas também o que está nas entrelinhas. Pois as entrelinhas muitas vezes carregam mensagens até mais importantes do que aquilo que é efetivamente falado.
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A partir da Parashá desta semana, Behaalotechá, a Torá começa a relatar uma série de reclamações e rebeliões do povo, pelos mais variados motivos como, por exemplo, a insatisfação com o Man (Maná) que caía do céu e o desejo de comer carne. E assim está escrito na Parashá: "E o povo era como aqueles que reclamam, e foi mal aos ouvidos de D'us. E D'us escutou, e Sua fúria se acendeu, e um fogo de D'us queimou contra eles..." (Bamidbar 11:1).
Observando a linguagem do versículo, surgem algumas perguntas. Em primeiro lugar, por que a Torá diz que o povo era "como aqueles que reclamam", se eles estavam efetivamente reclamando? Além disso, por que a Torá ressalta que D'us escutou, não é óbvio que D'us escuta tudo? E finalmente, o deserto é um lugar muito difícil, perigoso e estressante e, portanto, era normal que o povo tivesse queixas por causa das dificuldades. Então por que D'us ficou tão furioso por causa de simples reclamações do povo?
É interessante perceber que neste versículo não é mencionado nenhum motivo explícito para as reclamações. Rashi, comentarista da Torá, explica que os judeus na realidade não tinham nenhuma reclamação específica, eles estavam apenas procurando um pretexto para se afastar de D'us. Eles não tinham nenhuma razão válida para reclamar, então fizeram parecer que as reclamações vinham por causa das dificuldades da viagem no deserto. Isto explica por que o versículo diz "como aqueles que reclamam", pois na verdade eles não tinham nenhuma reclamação verdadeira, eram apenas desculpas para encobrir o que realmente os incomodava: a grande responsabilidade de viver de acordo com as leis Divinas.
Portanto, a Parashá está nos ensinando um fundamento muito importante para utilizarmos em nossas vidas: muitas vezes quando alguém reclama ou cria uma discussão, na verdade nem ele mesmo acredita em seus próprios argumentos. É apenas uma desculpa para encobrir e justificar alguma forma de comportamento indesejável.
 Um exemplo muito marcante disto pode ser visto na primeira discussão da história da humanidade, entre Cain e Hevel (Abel), que terminou em assassinato. Assim a Torá descreve a discussão: "E Cain falou com Hevel, seu irmão, e enquanto eles estavam no campo, Cain se levantou contra seu irmão Hevel e o matou" (Bereshit 4:9). Mas sobre o que eles conversaram, para que chegasse ao nível de um irmão assassinar o outro? Explicam os nossos sábios que Caim começou a negar D'us, dizendo para Hevel que não havia nem Supervisão Divina, nem castigo e recompensa. Hevel começou a discutir com Cain, argumentando que D'us sim existia, e certamente havia castigo e recompensa para cada ato que fazemos. A argumentação foi ficando cada vez mais forte até que, no calor da discussão, Cain se levantou e matou Hevel.
 Mas se a discussão entre Cain e Hevel foi um debate filosófico tão fundamental, por que a Torá não escreveu explicitamente o motivo da discussão, deixando para os nossos sábios o detalhamento? Explica o Rav Yssocher Frand que, na verdade, Cain não acreditava em nada do que falou para Hevel, ele estava apenas procurando uma desculpa para começar uma discussão com seu irmão. A Torá não descreveu o conteúdo da discussão pois, na verdade, ele era irrelevante, esta discussão filosófica nunca foi uma discussão real.
Diz o Rav Yonathan Guefen que é por isso que no versículo dos "reclamões" da nossa Parashá está escrito que "D'us escutou". O verbo "Lishmoa", utilizado no versículo, não significa apenas escutar, mas também entender, internalizar. D'us, que conhece o coração de cada pessoa, escutou as reclamações do povo, que pareciam reclamações por causa das condições difíceis da viagem, mas entendeu a verdadeira intenção delas. D'us viu que não havia nenhum motivo real para as reclamações, apenas a vontade de se distanciar Dele. Foi por isso D'us reagiu de maneira tão dura com o povo.
Por nossas limitações, não podemos, como D'us, ver o coração das pessoas. Mas podemos nos assemelhar a Ele e desenvolver a sensibilidade de entender, não apenas as palavras ditas, mas também o que o está por trás daquelas palavras. Por exemplo, muitas vezes quando alguém pergunta "por que boas pessoas sofrem", não necessariamente a pessoa está em busca de uma resposta filosófica. Pode ser que a pessoa está passando por um sofrimento ou dificuldade e, mais do que uma resposta, precisa de apoio e compreensão. Pode ser que a pessoa quer apenas atacar o judaísmo e, portanto, nenhuma resposta vai satisfazê-lo, pois ele não está perguntando, está atacando. Quando alguém vem discutir, nem sempre a pessoa acredita nos seus próprios argumentos, ela pode estar apenas demonstrando alguma dificuldade em aceitar a verdade. Uma criança que diz que não gosta de ir para a escola não é necessariamente uma criança preguiçosa que precisa de ajuda para gostar dos estudos. Pode ser um sinal de ela está passando por algum tipo de constrangimento ou humilhação, mas não se sente à vontade para se abrir e contar a verdade. Portanto, sempre que escutamos algo, precisamos ser ponderados, agir com paciência e prestar atenção nos detalhes.
Grandes líderes do povo judeu, como Yaacov, Moshé e David Hamelech (Rei David), foram pastores. Por que? Pois os animais não falam, e por isso eles conseguiram desenvolver a capacidade de entender além das palavras. Esta é uma importante qualidade que precisamos alcançar na vida: não entender apenas o que fala a boca dos outros, mas se esforçar principalmente para escutar o que diz o coração deles.
SHABAT SHALOM
R' Efraim Birbojm
http://ravefraim.blogspot.com.br/

Nm. 8:1-12:16, Zc 2:10 -4:7, Ap. 11:1-19

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Seria Colombo um judeu secreto?

Historiadores afirmam que a épica viagem do explorador teria sido para instituir uma nova pátria para seu povo, que fugia da Inquisição espanhola

Estudiosos acreditam que Colombo era um “marrano”, um cristão-novo que professava secretamente o judaísmo

Historiadores afirmam que cinco indícios da verdadeira fé do explorador podem ser encontrados em seu último testamento

Uma nova teoria sugere que Colombo estaria procurando um refúgio para os judeus perseguidos e exilados da Espanha

Colombo era descrito como um homem “profundamente religioso” e comprometido com a causa da libertação da Terra Santa de Israel

Kerry Mcqueeney
Ele era um explorador destemido, liderando heroicamente a sua tripulação ao desconhecido, zarpando para o Novo Mundo em uma viagem de descobertas.
Escondendo sua fé? Estudiosos apresentaram uma fascinante teoria sobre a verdadeira religião de Cristóvão Colombo
Sua lenda pode ter sido consolidada na história como o homem que descobriu a América, mas surgiu recentemente uma incrível teoria sobre Cristóvão Colombo e os motivos de ele ter embarcado nessa grandiosa viagem de 1492.
Em 20 de maio, dia que marca o 508ºaniversário da morte do explorador, estudiosos afirmaram que existem provas convincentes de que Cristóvão Colombo era um cristão-novo que escondia sua verdadeira fé judaica para sobreviver à Inquisição espanhola.
Em busca de refúgio? Uma ilustração de Cristóvão Colombo pisando em solo americano pela primeira vez... mas estaria ele em busca de uma pátria judaica?
Em uma revelação posterior, os historiadores acreditam que o real motivo por trás dessa expedição histórica era a de encontrar uma nova pátria para os judeus que estavam sendo perseguidos e expulsos da Espanha.
Além do seu lendário status de explorador, Colombo era descrito como um homem profundamente religioso e comprometido com a causa da libertação de Jerusalém dos muçulmanos.
Questão de fé: A Inquisição espanhola torturou dezenas de milhares de Marranos, que eram obrigados a denunciar outros nomes, incluindo amigos e parentes.
Os judeus eram vítimas de uma limpeza étnica brutal e sistemática durante a vida de Colombo.
Como parte de uma perseguição religiosa fanática, foi proclamado pela Rainha Isabel e pelo Rei Fernando em março de 1492 que todos os judeus fossem expulsos da Espanha.
A medida visava principalmente os 800.000 judeus que se recusaram a se converter ao catolicismo e receberam um prazo de apenas quatro meses para sair do país.
O restante dos judeus da Espanha se dividia em dois grupos: Os “conversos”, convertidos que abraçaram o catolicismo e renunciaram ao judaísmo, e os “marranos” (que significava “porcos”), que fingiram a conversão e continuavam com as suas antigas práticas religiosas.
Mapa mostrando as viagens de Cristóvão Colombo e seu companheiro de exploração Giovanni Caboto: Acredita-se que a expedição não teria sido financiada pela Rainha Isabel da Espanha, mas por três judeus influentes.
A Inquisição espanhola torturou dezenas de milhares de marranos, que eram obrigados a denunciar outros nomes, incluindo amigos e parentes.
Os marranos que tinham suas vidas secretas expostas eram exibidos ao público, amarrados em estacas e queimados vivos enquanto a Coroa e a Igreja Católica repartiam entre si suas terras e posses.
Acredita-se que Colombo era um marrano, e que manter em segredo a sua herança judaica era crucial para sua sobrevivência.
Os estudiosos acreditam que ele deixou indícios curiosos da sua real procedência religiosa ao morrer, de acordo com reportagem da CNN.
Cinco disposições descobertas no último testamento de Colombo, assinado pelo explorador em 19 de maio de 1506, de acordo com os estudiosos, apontam que ele era judeu.
A Terra Santa: Colombo foi descrito como um homem profundamente religioso e comprometido com a libertação de Jerusalém em Israel.
Primeiro, ele deixou um décimo da sua renda aos pobres e manifestou o desejo de fornecer dotes a meninas pobres em caráter anônimo, ambas as disposições sendo parte da tradição judaica.
Ele também deixou uma quantia não revelada para ajudar na cruzada para libertar a Terra Santa, além de deixar fundos para um judeu que morava à entrada do bairro judeu em Lisboa.
Talvez a pista mais fascinante esteja na própria assinatura de Colombo, afirmam os estudiosos.
O explorador utilizava uma série de letras e pontos que formavam um triângulo, que se parecia com inscrições encontradas nas lápides de cemitérios judaicos na Espanha, que ele ordenou que seus herdeiros utilizassem.
Cecil Roth, historiador inglês que escreveu o livro História dos Marranos, acredita que a assinatura reproduzia ocultamente uma oração judaica, o kadish (Oração dos Mortos), que costuma ser recitado em uma sinagoga por pessoas em luto pela morte de um membro próximo da família.
Acredita-se que isso teria permitido aos filhos de Colombo que recitassem o kadish para o pai após sua morte.
Outro historiador, Simon Weisenthat, afirma em seu livro Velas da Esperança que o motivo por trás da viagem de Colombo era encontrar uma pátria e um refúgio para os judeus após seu exílio forçado da Espanha.
Os estudiosos afirmam que, ao contrário da crença popular, a expedição não foi financiada pela Rainha Isabel, mas por três judeus influentes, que juntos lhe deram 17.000 ducados, de acordo com reportagem da CNN.
A teoria é apoiada, afirmam, pela descoberta das duas primeiras cartas escritas por Colombo, que foram enviadas aos seus “patrocinadores” em vez do casal real, revelando o que havia descoberto e agradecendo-lhes pelo apoio.

INDÍCIOS DE UM JUDAISMO SECRETO?

Historiadores afirmam que há pistas fascinantes que apontam que Colombo seria judeu.
Duas disposições feitas no seu testamento eram costumes judaicos: Deixar um décimo da sua renda aos pobres e fornecer um dote anônimo para jovens que não tinham condições de pagá-lo.
Ele deixou uma quantia não divulgada para financiar a Cruzada para libertar a Terra Santa.
Ele também enviou fundos a um judeu que vivia à entrada do bairro judeu de Lisboa.
Ele instruiu seus herdeiros a utilizarem uma assinatura de pontos e letras em formato triangular, que imitava uma oração judaica.
Sua famosa viagem foi financiada, não pela rainha da Espanha, mas por três judeus influentes, e foi a eles que Colombo enviou as primeiras notícias sobre o progresso da expedição.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

DÊ O EXEMPLO - PARASHÁ NASSÓ 5772

Certo dia, há alguns anos, repórteres e funcionários da estação de trem se aglomeravam em uma estação de Chicago, esperando a chegada de um famoso Prêmio Nobel. Ele desceu do trem - um homem muito alto, com os cabelos revoltos e um grande bigode. O brilho do flash das câmeras iluminou o saguão, enquanto os repórteres e funcionários da estação de trem corriam, com as mãos estendidas, para recepcionar o famoso viajante e dizer-lhe como era uma grande honra conhecê-lo pessoalmente.
O homem agradeceu pela maravilhosa recepção. Quando ia começar a dar entrevistas, parou por alguns instante e, olhando por cima da cabeça dos repórteres, pediu desculpas e avisou que iria se ausentar por alguns instantes. Imediatamente caminhou por entre a multidão, com passos rápidos, até que chegou a uma senhora idosa que estava tendo problemas ao tentar carregar duas malas grandes. Ele pegou as malas e, sorrindo, ajudou a senhora a subir no ônibus. Com ela já à bordo e as malas devidamente ajeitada no compartimento de bagagem, desejou-lhe uma boa viagem.
Enquanto isso, uma multidão o seguia. Ele se virou e disse:
- Perdão por tê-los feito esperar. Podemos agora começar as perguntas.
O homem era o Dr. Albert Schweitzer, o famoso médico-missionário que dedicou sua vida a ajudar os pobres e famintos da África e recebeu, no ano de 1952, o Prêmio Nobel da Paz. Ao presenciar o ato de bondade do Dr. Schweitzer, que deixou os jornalistas por alguns instantes para auxiliar uma senhora que precisava de ajuda, um membro do comitê de recepção declarou para um dos repórteres:
- Viemos conhecer este grande vencedor do Prêmio Nobel. Eu esperava aprender com suas palavras, mas ele me surpreendeu, pois é um verdadeiro "sermão ambulante". Ele ensina sem precisar abrir a boca.
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Nesta semana lemos a Parashá Nassó que, entre outros assuntos, nos ensina sobre o Nazirato, um tipo de "voto" que as pessoas podiam voluntariamente fazer, recebendo sobre si, por um período mínimo de 30 dias, as seguintes restrições: o Nazir estava proibido de consumir uvas ou qualquer derivado, não podia cortar seu cabelo e não podia se impurificar através do contato com mortos, nem mesmo se fosse um parente próximo. Mas o Nazirato não era apenas receber sobre si uma série de proibições. O Nazirato era uma maneira de alcançar níveis maiores de santidade abstendo-se, temporariamente, de prazeres do mundo material.
Um dos Nazirim mais famosos da história foi Shimshon (Sansão), um dos juízes do povo judeu. Infelizmente, influenciados por filmes do cinema e da televisão, temos uma ideia completamente equivocada de quem foi ele. Por exemplo, diferente da imagem mostrada nos filmes, Shimshon não era uma pessoa grande e musculosa, nem a fonte de sua força eram seus cabelos. Ele era uma pessoa normal, sem nenhuma força física sobre-humana. Mas como ele era um Nazir desde seu nascimento, estava em um elevado nível de santidade. Por isso, quando era necessário, a Presença Divina entrava nele e lhe dava a força de centenas de homens. Quando Shimshon cortou seu cabelo, quebrou seu voto de Nazirato, perdendo imediatamente sua enorme santidade e, portanto, a Presença Divina que o acompanhava.
Na Haftará desta semana (trecho dos Profetas e Escrituras lido após a leitura da Torá) é descrito o nascimento de Shimshon. Um anjo de D'us se revelou para a mãe dele, que até então não tinha filhos, e revelou que ela engravidaria e teria um filho em breve, mas advertiu que ele não deveria ser tratado como uma criança normal, pois estava destinado a ser um grande salvador do povo judeu. Shimshon deveria ser um Nazir desde o nascimento e nunca uma navalha deveria ser passada em seu cabelo. O anjo comunicou que mesmo sua mãe deveria se abster de comer uva e seus derivados e deveria se cuidar de comer qualquer coisa com impurezas espirituais. Quando a mãe de Shimshon contou a Manoach, seu marido, sobre a visão do anjo e tudo o que ele havia revelado, ele rezou para D'us e pediu para que o anjo voltasse novamente. O anjo apareceu e confirmou exatamente tudo o que a esposa de Manoach havia dito.
Mas deste trecho lido na Haftará ficam algumas perguntas. Em primeiro lugar, a mãe de Shimshon era uma Tzadeket (mulher justa). Por que seu marido Manoach pediu para que o anjo aparecesse novamente, ele não confiava no que ela havia dito? Além disso, por que D'us concordou com o pedido de Manoach e mandou novamente o anjo, se tudo o que necessitava ser informado já havia sido dito para sua esposa? E finalmente, o que o anjo acrescentou quando apareceu novamente para Manoach, se aparentemente nenhuma nova informação foi adicionada?
Explica o Rav Meir Tzvi Bergman que certamente Manoach acreditou no relato de sua esposa, conforme o próprio versículo comprova: "E Manoach se levantou e foi atrás de sua esposa" (Shoftim 13:11). Explica o Talmud (Brachót 61a) que o versículo não se refere apenas à acompanhar a esposa no sentido físico, mas também que Manoach confiava muito em sua esposa e sempre buscava seus conselhos e opiniões. Então o que Manoach queria do anjo? Ele queria instruções a mais de como criar seu filho, que segundo o próprio anjo, seria alguém especial, com um nível muito elevado de santidade desde o nascimento.
O anjo revelou que Shimshon seria o salvador do povo judeu do jugo dos Plishtim (Filisteus), que na época causavam muito sofrimento. Portanto, Shimshon deveria ser alguém que não teria temor de nenhum ser humano, mas ao mesmo tempo, como o juiz do povo judeu, deveria ser totalmente guiado, em todos os seus atos, pelo temor a D'us. A própria linguagem usada pelo anjo demonstra a necessidade de educar a criança com temor a D'us. Quando a Parashá descreve a proibição de passar uma navalha no cabelo de um Nazir, utiliza a linguagem "Taar", mas na Haftará, quando o anjo falou com os pais de Shimshon, foi utilizada a linguagem "Morá", que além de "navalha" também significa "Temor". Portanto, Manoach havia entendido tudo o que sua esposa contou, mas ele não sabia como fazer para educar seu filho para que ele tivesse todos estes atributos, e era isto o que ele queria perguntar ao anjo.
Mas se esta era a dúvida de Manoach, onde vemos que o anjo respondeu ao seu questionamento, se da segunda vez ele falou menos do que da primeira vez? Explica o Rav Meir Simcha de Dvinsk, mais conhecido como Meshech Chochma, que a resposta está na linguagem ambígua utilizada pelo anjo. Assim diz o versículo: "O anjo de D'us disse para Manoach: Tudo o que eu disse para a mulher, ela deve se guardar. De tudo o que venha de um vinhedo ela não deve comer. Vinho ou bebidas intoxicantes ela não deve beber. Tudo o que eu comandei a ela, ela deve guardar" (Shoftim 13:13,14). A palavra "Tishmor", que significa "guardar", pode ser utilizada na 3ª pessoa do feminino, mas também pode ser utilizada na 2ª pessoa do masculino. Portanto, o mesmo versículo pode ser lido da seguinte maneira: "Tudo o que eu comandei a ela, você deve guardar (também)".
De acordo com este entendimento, daquele dia em diante, não apenas a mãe deveria se abster dos derivados de uva e de impurezas espirituais, mas também o pai deveria participar desta santificação. Mas por que? É fácil entender por que a mãe deveria se abster, pois ela alimenta diretamente o filho, tudo o que ela consome também é, indiretamente, consumido pelo feto. Porém, por que o pai também deveria se abster? E o que isto acrescentaria na boa educação da criança?
O que o anjo estava ensinando a Manoach e sua esposa é um dos grandes fundamentos de educação: da forma que eles gostariam que o filho se comportasse, assim eles deveriam se comportar. A casa deveria ser um modelo para o filho. Somente quando o pai e a mãe trabalhassem juntos em busca de um objetivo, este também se tornaria o objetivo do filho. Somente quando os pais tivessem um alto nível de temor a D'us é que o filho também iria adquiri-lo. Somente se os pais tivessem sucesso espiritual é que o filho teria sucesso em se tornar o salvador do povo judeu das mãos dos Plishtim.
Esta é uma grande regra que se aplica, não apenas na educação dos filhos, mas na nossa tentativa de fazer deste mundo um lugar melhor. Quanto mais conseguirmos ser modelos de boa conduta, de honestidade e de bom caráter, mais pessoas poderão aprender com nossos exemplos. Quanto mais andarmos no caminho correto, mais poderemos influenciar outras pessoas a também não se desviar. Quando D'us nos entregou a Torá e nos colocou o papel de "Luz para as nações do mundo", Ele não esperava que organizássemos palestras lotando estádios. Ele esperava que pudéssemos ensinar ao mundo através dos nossos exemplos, nos pequenos atos cotidianos.
Portanto, para mudar o mundo não é necessário fazer atos heroicos, se embrenhar nas selvas africanas para salvar vidas ou virar presidente de uma ONG. Basta, nos pequenos atos do cotidiano, ser um bom exemplo para os outros.

SHABAT SHALOM
R' Efraim Birbojm

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