quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Brasil é o 5º maior em energias renováveis

O Estado de S. Paulo

Jamil Chade
Estudo da ONU mostra o avanço global das energias alternativas
O Brasil é o quinto maior investidor em energias renováveis do mundo, somando em 2010 cerca de US$ 7 bilhões. Os dados foram publicados pela ONU ontem e mostram que, pela primeira vez na história, investimentos mundiais em inovação tecnológica em energias alternativas superaram os investimentos em tecnologia para a energia fóssil. O levantamento mostra ainda que parte substancial da expansão dessas fontes de energia está ocorrendo justamente em mercados emergentes.
No total, os investimentos em energias limpas chegaram a US$ 211 bilhões, um salto importante em relação aos últimos anos. Em 2004, por exemplo, o mundo investia apenas US$ 33 bilhões. Em média, a expansão tem sido de quase 40%, enquanto a crise mundial tem freado investimentos em todas as demais áreas.
Segundo a ONU, o investimento em fontes alternativas de energia será a única solução para responder ao desafio de abastecer uma população cada vez maior, com demandas cada vez maiores por energia e, ao mesmo tempo, reduzir as emissões de CO2. "Hoje, 1,4 bilhão de pessoas ainda não têm acesso à eletricidade e os cálculos mostram que o mundo terá de dobrar a produção de energia até 2030", alertou Supachai Panitchpakdi, secretário-geral da Conferência da ONU para o Comércio e Desenvolvimento. "Ao mesmo tempo, 89% da energia consumida no mundo ainda vem de fontes fósseis, com altas emissões de CO2."
Por anos, investimentos em energias renováveis foram feitos especialmente por países ricos. Em 2003, por exemplo, de cada quatro dólares aplicados em energia limpa, apenas um vinha de um país em desenvolvimento. Hoje, o mapa mudou.
Na liderança dos investimentos não estão os países ricos. Em 2010, foi a China o país que mais apostou em energias renováveis, justamente para tentar superar sua dependência de petróleo, reduzir a taxa de emissão de CO2 e garantir o abastecimento para seu crescimento nas próximas duas décadas. No ano passado, os chineses somaram investimentos de US$ 49 bilhões.
A taxa superou o volume de investimentos da Alemanha, com US$ 41,1 bilhões. Berlim havia sido o líder nessa área por anos. "Agora, o que estamos vendo é a migração de empresas alemãs de tecnologia para a China, onde o governo investe pesado na nova geração de fontes de energia", disse Panitchpakdi ao Estado. Os EUA aparecem na terceira posição, seguido pelos italianos.
A quinta posição é do Brasil, que somou altos investimentos por causa da aposta em biocombustíveis. Mas a ONU destaca que os US$ 7 bilhões não foram atingidos apenas em um setor. Segundo o levantamento, o País tem feito "importantes investimentos" em parques eólicos e energia solar. No total, o mundo viu investimentos em etanol no valor de US$ 6 bilhões em 2010, incluindo projetos nos EUA, Brasil, Índia e vários outros países.
Liderança. Hoje, o Brasil investe duas vezes mais em energias renováveis do que todos os 53 países africanos juntos. Entre 2005 e 2010, a capacidade instalada de geração de energia renovável no Brasil aumentou em 42%, uma das mais altas do mundo. Hoje, a energia eólica no País produz 950 MW. Apesar de o número ser apenas uma fração dos 86 mil MW gerados na Europa, o estudo mostra que a aposta do Brasil tem sido acertada.
Desde 2007, a energia eólica foi a que mais recebeu a atenção de investidores. Só em 2010, US$ 95 bilhões no mundo foram para essa fonte de energia. A segunda maior aposta é a energia solar, com US$ 26 bilhões. "O sol gera para o mundo volume de energia dez vezes superior a cada dia ao consumo do planeta", disse ao Estado o Prêmio Nobel de Física, Carlo Rubbia. "Não há como ignorar essa fonte de energia no futuro."

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Nos meus tempos de escola

Muito por acaso, desses que acontecem na nossa vida, me vi professora.
Comecei lecionando para crianças e logo me apaixonei por elas. Foi realmente fácil para mim.
Nesta semana me vi novamente vítima do acaso. Comecei a lecionar na escola onde estudei o ensino médio e logo para uma classe com 38 adolescentes! (Aff, sobrevivi!)
Mas o que mexeu comigo mesmo foi como a escola mudou. Não faz tanto tempo assim, era eu quem estava lá e, é claro, tempos de escola são muito bons. Nos divertimos, achamos que seremos amigos eternamente, tantos sonhos e ilusões. Na minha época  não haviam aqueles muros enormes, grades nas janelas, cadeados e mais cadeados.
Você hoje se sente meio "aprisionado" onde deveria se sentir livre.
Livre para aprender, sonhar e começar a ter objetivos. Que faculdade fazer, qual cidade morar, casar, ter filhos...
Viajei, me formei, vivi em diversas cidades, casei e voltei. Foi interessante entrar na sala dos professores, porque, de certa forma, me senti ainda aquela aluna de anos atrás.
Sim, ainda tenho muito a aprender e continuo sendo aluna. Mas também hoje tenho algo para ensinar.
Espero que os muros que cercam a escola de hoje não cerquem a mentalidade de quem está ali dentro; espero que se sintam livres para sonhar e tentar crescer aproveitando ao máximo tempos maravilhosos, que em cada época, são parte de nosso crescimento e evolução.

'Desculpe, é engano...'

Arnaldo Jabor
O Estado de S.Paulo

Há dez anos, eu estava em um hospital para ser operado, e, à espera da faca, talvez por medo, escrevi um texto sobre minha mãe, no secreto desejo de ela me proteger. Voltei esses dias ao hospital para exames (nada grave, espero) e me lembrei de minha lembrança, da memória de uma memória. E, em minha viagem de recordações, repito trechos desse artigo sobre ela que foi, afinal, a personagem central de tudo que me aconteceu.
Ando com vontade de telefonar para ela. Mas minha mãe já morreu. Mesmo assim, quis ligar pois, talvez, no telefone, houvesse um milagre e ela atendesse: 'Alô? 284858? Mamãe?'
Na época desse número remoto do Méier, sua voz era jovem e feliz. Depois, foi enfraquecendo por outros números, até o tempo em que, já velhinha, atendia triste e doente ao 478378: "E aí, meu filho... tudo bem?" Como seria bom o telefone me salvar e alguém me chamar de "meu filho". Seria bom ser teletransportado ao passado e fugir das dores do país, do mundo e de mim mesmo. Confesso que, em alguns momentos de desespero, eu já liguei escondido para números antigos de casas em que morei. Ouvia a voz anônima e falava: "Desculpe, é engano...", com a sensação de, por instantes, ter visitado minha velha casa. Minha mãe era linda. Parecia a Greta Garbo. Um dia, meu avô bateu nuns vagabundos que mexeram com ela, ainda mocinha, na base do "Tem garbo, mas não tem greta" e outras sacanagens de época... Meu avô, malandro e macho, pegou a bengala e cobriu-os de porrada. A vida de minha mãe foi a tentativa de uma alegria. Sorria muito, trêmula, insegura e, nela, eu vi a história de tantas mulheres de seu tempo buscando uma felicidade sufocada pelas leis do casamento, pela loucura repressiva dos maridos. Meu pai era um árabe alto, de bigode, pilotando aviões de guerra; era um homem bom e amava-a, mas nunca conseguiu sair do espírito autoritário da época e, inconscientemente, se enrolou numa infelicidade que oprimia os dois. Na classe média carioca dos anos 50, cercados de preconceitos, medos e ciúmes nas casas sombrias, os casais estavam programados para tristezas indecifráveis. Eram cenários estreitos para o amor: a casa do subúrbio, o apartamento micha de Copacabana, onde vi minha mãe enlouquecer pouco a pouco, tentando manter um sonho de família, tentando manter a cortina de veludo, a poltrona coberta de plástico para não gastar, os quadros de rosas e marinhas e a eterna desculpa para os raros visitantes: "Não reparem que a casa não está pronta ainda..." (isso, com 50 anos de casada). A casa nunca ficou pronta, como ela, Greta Garbo do subúrbio, sonhou - a casa feliz, com bolos decorativos nas festas, seu orgulho, a única coisa que ela sabia fazer: bolos em forma de avião, para homenagear meu pai piloto, em forma de livro, para me fazer estudar, ou em forma de piano para minha irmã tocar, naqueles aniversários em que os sofás de cetim marrom e branco eram descobertos com vaidade. Na juventude, minha mãe era infeliz e não sabia, pois todas as suas forças eram convocadas para esquecer isso. Cantava foxes, para desgosto de meu pai, e ria com medo - se bem que ninguém era muito feliz naquele tempo. Não havia essa infelicidade esquizofrênica de hoje, mas era uma infelicidade tristinha, com lâmpada fraca, uma infelicidade de novela de rádio, de lágrimas furtivas, de incompreensões, de conceitos pobres para a liberdade. Eu via as famílias; sempre havia uma ponta de silêncio, olhos sem luz, depois dos casamentos esperançosos com buquês arrojados para o futuro que ia morrendo aos poucos. Não era a tristeza da pobreza; dava para viver, com o Ford 48 sendo consertado permanentemente por meu pai sujo de graxa, aos domingos, com o rádio narrando o futebol; dava para viver com uma empregadinha mal paga; dava, mas a tristeza era quase uma "virtude" que as famílias cultivavam, sem horizontes. Toda minha vida consistiu em fugir daquela depressão e em tentar salvá-los. Eu queria dizer: "Saiam dessa, há outras vidas, outras coisas!" - logo eu, que achava que ia descobrir mundos luminosos feitos de revoluções e de prazeres, eu que achava que viveria na vertigem do sexo que se libertava, na bossa nova, na arte, ilusões que foram logo apagadas pelo golpe de 64 que, com apoio do meu pai, restaurou a luz mortiça das famílias, das esposas conformadas em seus cativeiros. Minha geração se achava o "sal da terra", tocada pela luz da modernidade. Mal sabíamos do outro desamparo que viria; não a melancolia do rádio aceso no escuro, não a televisão Tupi ainda trêmula em preto e branco, não as esquinas cheias de mistério, não o apito do guarda noturno, mas a nossa impotência diante do excesso de acontecimentos. Hoje, vivemos essa liberdade desagregadora, vivemos o medo das ruas, das balas perdidas, que não havia quando mamãe ia visitar a médium de "linha branca" que lhe prometia felicidade com voz grossa de "caboclo". Antes, minha mãe e meu pai tinham a ilusão de uma "normalidade". Hoje, todos nos sentimos sem pai e sem mãe, perdidos no espaço virtual, dos e-mails, dos contatos breves, da vida rasa sem calma. O que vai nos acontecer neste mundo, neste país de crimes e de riscos-Brasil, onde nada se soluciona, onde tudo é impasse e encrenca? Será que nunca mais teremos sossego? Sinto imensa saudade da linearidade, do princípio, do meio e do fim das vidas, e tenho medo de ter morrido e de não perceber. Por isso, me dá essa vontade profunda de pegar o telefone e discar, não num celular volúvel, mas num aparelho preto, velho, de ebonite, discar, ouvir a voz de minha mãe e voltar para a salinha de móveis "chippendale" e vê-la sempre querendo ser feliz, mas com vergonha das visitas: "Não reparem que a casa não está pronta..." Na verdade, tenho vontade de discar, mas é para saber quem sou eu. E quando disserem: "Quem fala?" - pensarei: "É o que me pergunto sempre..." Mas, sei que vou desligar, dizendo: "Desculpe, é engano..."
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,desculpe-e-engano,804316,0.htm


domingo, 27 de novembro de 2011

Argentina reescreverá sua história - sob a ótica de Cristina

Manobra para deturpar os fatos, dando mais voz e importância apenas a alguns personagens-chave, é antiga e muito usada pelo amigo populista Hugo Chávez


No romance 1984, o visionário escritor inglês George Orwell cita quatro instituições que formariam o governo da sua ficcional Oceania: o Ministério do Amor, o Ministério da Fartura, o Ministério da Paz e, por fim, o Ministério da Verdade. E, ao contrário do que o nome indica, este último não teria qualquer compromisso com a verdade: ele seria responsável pela falsificação de alguns fatos do passado, que ganhariam uma nova versão revisada pelo estado. Para além da ficção, deturpar acontecimentos e reescrever a história foi (e ainda é) realidade em muitos países. Entre os infindáveis exemplos que se pode citar, estão os vários tipos de censura praticados pela Alemanha nazista, pela Itália fascista e pelo regime de Pol Pot no Camboja. Na ex-União Soviética, durante o regime de Josef Stalin, livros escolares foram reescritos, jornais velhos foram reeditados, e os desafetos do ditador chegaram a ser apagados de fotos históricas, como o revolucionário comunista Leon Trotsky. Hoje, essas manobras ganharam um novo viés - igualmente preocupante. Na América Latina dos populistas, a nova mania dos chefes de estado é maquiar a trajetória de seus ídolos pessoais tranformando-os em heróis do país.

A última que aderiu ao grupo delirante foi a presidente argentina Cristina Kirchner, que esta semana determinou por decreto que o país terá a sua história revisada. Mas não tudo, claro, apenas alguns personagens. Os de sua preferência serão exaltados, como o marido Néstor Kirchner, morto há um ano, e Evita Perón, com quem compara sua "história de amor". Por outro lado, quem não lhe desperta nenhuma admiração terá a importância minimizada (confira uma lista com os vilões e heróis de Cristina no fim desta reportagem). A tentativa da chefe de estado de impor sua própria ótica ao mundo - diretamente ligada ao ego e ao apego ao poder - lembra iniciativas ainda mais autoritárias de seus colegas bolivarianos. Quem lançou a proposta de "refundar o país" foi o venezuelano Hugo Chávez, ao anunciar um plano de doutrinação embasado na reforma do currículo escolar de instituições primárias e secundárias do país, em 2007. A ideia - inspirada no autoritarismo de Fidel Castro em Cuba - foi imitada por seu pupilo Evo Morales, que inventou um "Estado Plurinacional" a fim de destacar os índios de forma excepcional na Bolívia.
Não é de hoje que o governo argentino tem se mostrado bastante preocupado com a imagem pública de sua gestão. E como para Cristina a imprensa local "distorce a realidade", ela decidiu agir por conta própria para dar a sua versão dos fatos, moldando o passado para que o presente pareça mais coerente. Financiado com recursos públicos, o novo instituto terá na linha de frente o historiador Mario "Pacho" O'Donnell, que coordenará uma equipe de 33 pessoas, entre historiadores, ministros, dirigentes e jornalistas - todos aliados da presidente. O objetivo da organização é "estudar, investigar e difundir a vida e a obra de personalidades e circunstâncias que não tenham recebido o reconhecimento adequado no âmbito institucional e de caráter acadêmico", diz o decreto 1880 - sem especificar o que Cristina entende por estudar e investigar. "O revisionismo histórico de figuras e episódios importantes para o governo atual buscar olhar para o passado com os olhos do presente, ignorando qualquer rigor científico da busca por uma verdade histórica", afirma o professor de Relações Internacionais da Universidade Católica Argentina (UCA), Jorge Liotti.
Manipulação - Além da falta de conexão com a realidade, reorganizar as referências históricas de um país a seu bel-prazer é também uma forma de manipular a opinião pública, ressalta o professor Alberto Pfeifer, especialista em América Latina e membro do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional da Universidade de São Paulo (Gacint - USP). "Por mais que as pessoas tenham a possibilidade de decidir no que acreditar, a manobra altera de certa forma os pesos e as proporções da história." E seguindo o (mau) exemplo de Chávez, Fidel e Morales, Cristina também tenta "refundar" o seu país, sem levar em conta sequer o contexto de cada época. Completa Pfeifer: "Essas técnicas populistas, herdadas também de seu marido Néstor, estão cada vez mais difundidas na América Latina."
O problema não está na simples revisão de fatos, mas sim na alteração desordenada do curso da história pelo presidente de plantão. "Não houve nenhum novo documento que prove essa mudança de visão", afirma Pfeifer. "Cristina busca, através da reformulação da narrativa histórica, legitimar a sua própria narrativa e o seu papel na história da Argentina. Nas entrelinhas, o que ela quer dizer com 'essas pessoas são importantes' é: 'como elas, eu também sou importante, e os que seguirem minha opinião também serão'".
Assim, Cristina transforma a história de seu país em um campo de batalha política, nas palavras do analista político e historiador argentino Rosendo Fraga, diretor do centro de estudos Unión para la Nueva Mayoría. "Isso não é algo novo no país, mas está adquirindo - nesta etapa kirchnerista - uma intenção político-ideológica mais marcada", explica, acrescentando que "o novo instituto não tem por objetivo buscar a verdade histórica, mas impor uma determinada interpretação que forme parte da história do oficialismo". Na prática, isso significa que quem exaltar, por exemplo, o ex-presidente Domingo Faustino Sarmiento (1868-1874) - considerado na história "o difusor da educação pública", mas que para Cristina foi um líder "europeizante" e que desprezava a cultural local - se colocará contra o governo. Por outro lado, quem admirar a figura de Juan Manuel de Rosas - um tirano para a opinião pública e o "primeiro grande nacionalista argentino" para a presidente - estará apoiando os Kirchner. E essa distorção pode até levar a um embate mais sério, ressalva Fraga. "Uma visão equilibrada da história contribui para a tolerância política, enquanto uma interpretação que a mostra como branco e preto - ou bons e maus - só provoca intolerância".
http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/argentina-reescrevera-sua-historia-sob-a-otica-de-cristina
Comento:
A esquerda brasileira deve estar se corroendo de inveja. Para quem já leu o excelente livro de George Orwell, 1984, entende perfeitamente o que está acontecendo e o rumo para onde irão os que comandam a maioria das nações sulamericanas. Cristina só conseguiu, de forma impressionantemente rápida, o que Lula e Dilma tem em seus planejamentos de comando para o Brasil. Foi isto que Obama quis dizer quando disse que tinha muito a aprender com ela, pois ser reeleita com maioria de votos depois de perseguir imprensa, produtores rurais e tudo o poderia ficar no seu caminho foi realmente algo invejável para líderes esquerdopatas que não aceitam a democracia e outras formas de pensamento senão a deles. Para quem acha que "Big Brother" é só um péssimo programa de televisão, ainda tem muito a aprender...

sábado, 26 de novembro de 2011

Uma lição tardia - IV: O reino do ódio

Olavo de Carvalho

No artigo anterior falei do zelo devoto com que a matilha do “Roda Viva” defende a honra e o prestígio do movimento comunista, atacando seus inimigos a dentadas e habituando o público a dar por pressuposto, sem a mais mínima discussão, que ninguém pode ser anticomunista por motivo moralmente respeitável ou intelectualmente relevante. Nenhuma apologia do comunismo é mais eficaz e penetrante do que essa. Discursar em favor da estatização da economia, argumentar pela teoria da luta de classes, enaltecer o futuro brilhante da humanidade no jardim das delícias do socialismo – nada disso tem a força persuasiva da prática reiterada, tanto mais sedutora quanto mais implícita, de atribuir aos comunistas e seus parceiros o monopólio do bem e da virtude, reduzindo seus adversários e criticos à condição de delinqüentes pérfidos movidos por interesses egoístas. A propaganda comunista ostensiva colocaria o seu praticante na difícil contingência de ter de defender o indefensável: o genocídio, a tirania, o trabalho escravo, a miséria. Muito mais prático é contornar o assunto, evitar até mesmo a palavra “comunismo”, omitir cuidadosamente as comparações e em vez disso concentrar as baterias no “trabalho do negativo”: a demonização constante e sistemática dos inimigos, donde resulta, por irrefreável automatismo mental, a canonização dos amigos, reforçada aqui e ali por alguma louvação discreta e comedida o bastante para não dar impressão de sectarismo. Toda argumentação explícita em favor de alguma idéia ou partido desperta irresistivelmente o impulso da contestação. A devoção tácita e indireta, consagrada em hábito inconsciente, inibe e paralisa a discussão, dando ao objeto de culto aquele poder mágico cuja conquista Antonio Gramsci considerava o objetivo supremo da propaganda comunista: “a autoridade onipresente e invisível de um imperativo categórico, de um mandamento divino”.

Tal tem sido o objetivo estratégico e a única razão de ser da TV Cultura desde há muitos anos, e especialmente o de um programa cujo nome já é, por si, um dos emblemas consagrados da autobeatificação mitológica da esquerda como vitima santa e inocente da maldade direitista.
Chamarei a essa devoção “fanática”? O termo é inexato. O fanatismo supõe uma crença formal, positiva, declarada. Os homens do “Roda Viva”, como em geral os esquerdistas brasileiros, não necessitam de nada disso. O esquerdismo que os unifica, que lhes garante o esprit de corps, não consiste em nenhuma fé, em nenhuma doutrina, em nenhum projeto de sociedade explícito o bastante para poder ser discutido e, eventualmente, impugnado. Consiste unicamente no ódio ao inimigo, um inimigo que ao mesmo tempo não querem conhecer nem compreender, do qual só querem saber, com seletividade obstinada e fiel, o que podem dizer contra ele. No Brasil, a deformidade congênita da “imaginação esquerdista” descrita por Lionel Trilling tornou-se obrigação legal, critério de veracidade na mídia, mandamento número um da moral e princípio fundador da educação.
No fundo, todo esquerdismo, hoje em dia, é isso e nada mais que isso. Há muito tempo os comandantes do processo já desistiram de impor ao movimento revolucionário a unidade da vulgata marxista-leninista que dava aos militantes de outrora uns ares de “intelectuais populares” não desprovidos de certa nobreza. Hoje preferem dirigir as massas na base de slogans e palavras-de-ordem puramente emocionais, sem um arremedo sequer de conteúdo sociológico ou filosófico. Um marxista às antigas chamaria a isso “irracionalismo”, mas racionalismo e irracionalismo só existem no plano da discussão teórica. Esta foi substituída pelo engenharia comportamental, e, nessa clave, nada pode ser mais racional que a manipulação científica da irracionalidade alheia. Os arruaceiros de Nova York acreditam combater a alta finança internacional, mas seguem ordens de George Soros, que é a própria alta finança encarnada, apóiam o governo Obama, que é um pseudópodo de Wall Street, clamam por uma moeda mundial, que é a menina-dos-olhos da elite bancária globalista, e bradam de ódio a Rupert Murdoch, um homem de indústria totalmente alheio a especulações financeiras. Se não têm a menor idéia de contra quê estão lutando, tanto melhor: sua fúria pode ser canalizada contra qualquer alvo que o comando revolucionário escolha no momento.
A unidade da esquerda militante hoje em dia é simplesmente a do ódio – um ódio que se torna tanto mais radical e intolerante quanto mais vagos e indefinidos os objetos contra os quais se volta e as metas que nominalmente o inspiram. Como explicar, fora dessa perspectiva, o fato de que a esquerda internacional lute, ao mesmo tempo, pelo império do gayzismo e pelo triunfo do mais estrito moralismo islâmico, sem que surja, no seu seio, a mais mínima discussão a respeito, o mais leve sentimento de desconforto ante uma contradição intolerável?
É aí que se deve buscar também a raiz da facilidade com que uma militância inflada de retórica autobeatificante se acomoda, sem o mais mínimo escrúpulo de consciência, aos interesses do narcotráfico e do banditismo organizado em geral. Quando os sentimentos morais prescindem de qualquer deferência para com os dados da realidade e se condensam no puro ódio a um objeto indefinido, é inevitável que já não haja mais distância entre a presunção de santidade e o mergulho na treva mais funda do crime e da maldade.
Isso é a esquerda, hoje em dia: a síntese militante das ambições mais altas com os sentimentos mais baixos. A tensão insolúvel entre os dois pólos traz como conseqüência incontornável a redução da vida psíquica aos seus mecanismos mais toscos e elementares, o enrijecimento numa atitude de permanente autodefesa paranóica, a produção obsessiva de novos pretextos de ódio e, portanto, a supressão de toda compreensão humana, trocada por uma autopiedade cada vez mais exigente e rancorosa.
Em muitos países esse fenômeno está limitado às massas militantes, mas, no Brasil, onde a hegemonia esquerdista reina sem contraste, ele se tornou o padrão e norma da cultura nacional.
Eis o motivo pelo qual a lição de Lionel Trilling já não pode ser aprendida nesta parte do mundo. Uma esquerda civilizada, capaz de apreender os sentimentos morais de seus adversários (condição sine qua non da alternância democrática no poder), não tem razão de existir, nem possibilidade de vir a existir, num ambiente onde esses adversários se tornaram tão pequenos e inofensivos que a esquerda não precisa mais compreendê-los: pode inventá-los como bem lhe interesse.


Publicado em: Diário do Comércio, 10 de novembro de 2011 http://www.olavodecarvalho.org/semana/111110dc.html

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

VIVER PARA TRABALHAR? - PARASHÁ TOLDOT 5772

"Um pequeno grupo de "Yiddishe Mames" se encontrou em um restaurante da cidade. A conversa seguia animada, cada uma se apresentando e contando sobre sua vida. Em certo momento elas resolveram falar sobre suas famílias. Então cada uma tirou de sua bolsa a foto do maior orgulho de suas vidas: seus filhos. A primeira apontou na foto um rapaz e disse:
- Esse é o meu Moishele. É o meu orgulho. Ele é o médico-chefe do maior hospital da cidade.
Outra mãe apontou uma moça em uma foto e disse, com os olhos brilhando:
- Esta é minha Sarale. Ela é a arquiteta-chefe do maior escritório de arquitetura da cidade.
E assim foram apresentados vários engenheiros, advogados e economistas, até que uma das mães apontou o filho em uma foto e disse:
- Esse é o meu Yossele. Veja que cara de bom menino. Ele é rabino.
Então todas as mulheres olharam horrorizadas para ela. Uma delas, tomando coragem, disse:
- Rabino? Isso lá é profissão decente para um bom rapaz judeu?"
Atualmente as profissões não são apenas uma forma de conseguir o sustento, elas se transformaram na essência da pessoa. Você pode ser respeitado se for um bom advogado, médico ou engenheiro, mesmo que seja um ser humano medíocre. Será que este é o nosso verdadeiro valor?
********************************************
A Parashá desta semana, Toldot, começa descrevendo o nascimento dos dois filhos gêmeos de Itzchak: Yaacov e Essav. Apesar de terem sido criados na mesma casa, desenvolveram características e aptidões completamente diferentes. Enquanto Yaacov dedicou seu tempo para trabalhar seu caráter e tornar-se, a cada dia, uma pessoa melhor, Essav deixou-se levar por seus instintos e desejos, comportando-se como um animal que buscava desesperadamente prazeres. Essav se entregou de corpo e alma ao trabalho, enquanto Yaacov decidiu dedicar-se à espiritualidade, como está escrito "E cresceram os jovens, e tornou-se Essav um homem que sabia caçar, um homem do campo, e Yaacov era um homem íntegro, que se sentava nas tendas" (Bereshit 25:27).
De todos os maus atos e erros de Essav, talvez o que mais representa seu desvio e sua perda de espiritualidade foi o famoso episódio da venda da primogenitura. Por ter nascido antes, Essav tinha direito de receber de seu pai uma Brachá (benção) de primogenitura. Mas Essav, voltando um dia do campo, completamente exausto por ter se dedicado no limite de suas forças ao seu trabalho, viu seu irmão Yaacov cozinhando e trocou sua primogenitura por um prato de lentilhas.
Este episódio, ao ser analisado de uma maneira mais profunda, desperta muitos questionamentos. Como Essav concordou em vender sua primogenitura por um simples prato de comida? Poderíamos pensar que Essav não se importava com sua espiritualidade, mas isto não é verdade, pois nossos sábios ensinam que Essav se esforçava para cumprir com perfeição a Mitzvá de Kibud Av ve Em (Honrar os pais). Se ele não acreditava em espiritualidade, por que se esforçava tanto para cumprir esta Mitzvá? Além disso, quando Essav soube que seu irmão Yaacov já havia recebido a Brachá, ele se desesperou, como está escrito: "E Essav levantou sua voz e chorou" (Bereshit 27:38). Se ele não se importava com sua espiritualidade, então por que chorou de forma tão amarga por ter perdido uma Brachá?
Também a conduta de Yaacov desperta questionamentos. Por que ele não tentou oferecer algo mais tentador, para garantir que Essav aceitaria vender sua primogenitura? Como ele sabia que Essav aceitaria vendê-la por um simples prato de comida?
Quando Adam Harishon (Adão) pecou ao comer do fruto que D'us havia proibido, ele foi amaldiçoado, como está escrito: "Amaldiçoada é a terra por sua causa. Com sofrimento você comerá todos os dias da sua vida... com o suor do seu rosto você comerá pão" (Bereshit 3:17,19). O que isto significa? Que antes do seu grave erro, Adam estava em um nível muito elevado e conseguiria seu sustento sem dificuldades, podendo concentrar todas as suas energias no crescimento espiritual. Mas a partir do momento que Adam caiu espiritualmente, e junto com ele toda a humanidade, a busca pelo sustento transformou-se em um grande teste. O trabalho, algo que deveria ser secundário em relação à espiritualidade, tornou-se o centro da vida das pessoas.
É este o fundamento que está sendo ensinado na nossa Parashá. Por que a Torá ressalta que a venda da primogenitura ocorreu quando Essav estava voltando do campo? Para ensinar que Essav estava tão "viciado" em seu trabalho que havia transformado-o em seu único objetivo de vida. Ele colocava tanta energia nisto que não tinha mais forças nem mesmo para distinguir que tipo de comida estava na panela. E assim ele pediu para Yaacov: "Derrame sobre mim, agora, um pouco desta coisa vermelha, pois eu estou exausto" (Bereshit 25:30). Por ter investido tanto no material, com tanta energia, ele acabou se afastando completamente do espiritual.
Explica o Rav Eliahu Lopian, baseado em ensinamentos do Sforno, um famoso comentarista da Torá, que Essav se especializou em enganar as pessoas, em especial seu pai, fingindo ser um Tzadik. Ele demonstrava se importar com os detalhes das Mitzvót, enquanto na verdade sua única preocupação era com o mundo material. Mas a verdade é que Essav, o grande enganador, não enganou apenas ao seu pai. A sua maior "proeza" foi a forma como ele conseguiu enganar a si mesmo. Ele tinha um potencial espiritual gigantesco, no mesmo nível dos outros patriarcas. Mas ele conseguiu convencer a si mesmo de que não havia nenhuma contradição entre dedicar sua vida à busca de prazeres e ao mesmo tempo tentar ser uma pessoa com espiritualidade. Na sua cabeça havia realmente pensamentos de claridade e retidão, mas não em seu coração.
Todas vezes em que havia uma luta entre o intelectual e o emocional, Essav deixava que seu coração fosse vitorioso, como diz o Midrash (parte da Torá Oral): "Os Reshaim (malvados) são controlados por seus corações". E assim também confirma o versículo: "E disse Essav em seu coração: se aproximam os dias de luto pelo meu pai, e então eu matarei meu irmão Yaacov" (Bereshit 27:41). Em sua cabeça ele tinha claro qual era a gravidade de cometer um assassinato, mas em seu coração queimava o desejo de vingança. Por isso, apesar de dar valor ao espiritual, Essav escutou seu coração até chegar ao fundo do poço, quando vendeu a primogenitura por um prato de comida.
Yaacov conseguiu perceber que Essav havia despencado espiritualmente. Ao ver que Essav não se importava nem mesmo com o que havia de comida na panela, entendeu que ele estava em um nível tão baixo que faria um péssimo uso da Brachá de primogenitura, e por isso decidiu comprá-la. E vendo o estado decadente de Essav, percebeu que não seria necessário oferecer mais do que um prato de comida.
Ensina o mais sábio de todos os homens, Shlomo Hamelech (Rei Salomão): "Não há nada de novo sob o sol" (Kohelet 1:9). Em nossas vidas somos diariamente submetidos ao mesmo teste ao qual Essav foi submetido e derrotado: o teste da luta pelo sustento. Será que nós conseguimos vencer este teste?
Atualmente, ao invés de olhar nossa profissão apenas como uma necessidade, ao invés de entender que ela "compete" com nosso crescimento espiritual, optamos por investir nela todos os nossos esforços. Querendo garantir um bom sustento, querendo alcançar nossos prazeres desejados, deixamos que nosso trabalho se torne nossa vida. É interessante perceber que, sempre quando alguém se apresenta, menciona também sua profissão, pois é como se fosse parte da sua essência. E por causa de todo e esforço e pressão do trabalho no dia a dia, não sobra tempo para refletir sobre o propósito verdadeiro da vida. Mesmo quando alguém tenta despertar as pessoas que estão imersas no trabalho, a resposta é sempre a mesma: "Não tenho outra escolha". Será que realmente não temos escolha? Não poderíamos abrir mão de um pouquinho do nosso conforto por um pouco mais de espiritualidade em nossas casas? Não poderíamos nos esforçar um pouquinho mais para inserir mais conteúdo em nossas vidas?
Para garantir o sustento de nossas famílias, não precisamos estudar e trabalhar 24 horas por dia, sem sobrar nenhum segundo para investir em espiritualidade. Uma das bases da Emuná (fé) é que D'us pode nos mandar o sustento mesmo se tivermos uma vida equilibrada entre o material e o espiritual. Portanto, toda vez que dizemos "não tenho outra escolha", estamos apenas procurando desculpas. Temos que tomar muito cuidado para não cair no mesmo erro de Essav, que se tornou, acima de tudo, um especialista em enganar a si mesmo.

"Você trabalha para viver ou vive para trabalhar?"

SHABAT SHALOM
R' Efraim Birbojm
http://ravefraim.blogspot.com/

Gn. 25:19-28:9, 1Sm 20:18-42, Rm.9:1-13 (Machar Chodesh)

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Comissão de Meio Ambiente do Senado aprova relatório do novo Código Florestal

A Comissão De Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA) do Senado aprovou, nesta quarta-feira (23/11), o substitutivo do senador Jorge Viana (PT-AC) ao Projeto de Lei da Câmara 30/11, que cria o novo Código Florestal, com apenas um voto contrário, do senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP). O texto passou pela análise dos senadores com o acolhimento de 42 emendas e traz mudanças em relação à versão apresentada originalmente, na última segunda-feira. A CMA volta a se reunir amanhã (24/11), às 8h30, para analisar os destaques apresentados à matéria por alguns senadores que integram o colegiado.
Uma das emendas acolhidas pelo relator, de autoria coletiva de vários senadores, foi a 196, fruto de acordo no colegiado. O texto muda alguns pontos que estavam preocupando o setor agropecuário. Um dos dispositivos, comemorado por produtores rurais, muda os critérios para a conversão de multas em serviços de preservação e melhoria do meio ambiente nas propriedades. Com a emenda, esta conversão passa a contemplar todos os produtores que tenham áreas abertas até 22 de julho de 2008, dando-lhes a oportunidade de recompor florestas e vegetação nativa em suas propriedades a partir das diretrizes estabelecidas nos Programas de Regularização Ambiental (PRA).
“Foi um ganho, que dará aos produtores a oportunidade de se regularizarem em um ambiente mais propício e tranquilo”, disse o presidente da Comissão Nacional de Meio Ambiente e vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Assuero Veronez. Outro ponto positivo da emenda, na sua avaliação, diz respeito à garantia da manutenção da produção em áreas com declividade entre 25 e 45 graus, o que garantirá a consolidação de importantes culturas nestes locais. Pelo texto apresentado há dois dias, os locais com 25 graus de declive seriam considerados topos de morro, classificados como Áreas de Preservação Permanente (APPs), o que poderia inviabilizar a atividade rural nestes locais, caso fosse mantido este tópico. “Com isso poderemos manter todas as atividades instaladas nestas regiões”, destacou Veronez.
Para o vice-presidente da CNA, o relatório aprovado hoje trouxe ganhos expressivos, mas há pontos que ainda precisam de mais discussões, como a consolidação da produção em margens de rios, também consideradas APPs. A versão do relator assegura a permanência de infraestrutura nestes locais, mas obriga a recomposição de mata ciliar em pelo menos 15 metros para rios com até 10 metros de largura. “Ainda não está da forma adequada, que é a consolidação de toda a atividade, mas vamos negociar este um ponto. Aos poucos, vamos obtendo novas conquistas, mas já contabilizamos ganhos importantes até agora”, afirmou. Depois da votação dos destaques, o texto segue para o plenário do Senado. Após aprovação, retorna à Câmara, para análise dos deputados.
Assessoria de Comunicação CNA

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Para Nestlé, país mostra mudança no perfil de consumo de café

- Conquistar os consumidores brasileiros para um novo conceito de se tomar café é uma tarefa difícil, mas já se percebe uma mudança, contou a diretora da unidade de Café da Nestlé, Lilian Miranda. A empresa lançou a linha Nescafé Dolce Gusto no Brasil em março de 2009 e hoje a linha representa 15% do faturamento da unidade de café da Nestlé, que conta com o café instantâneo Nescafé.
"Levar uma experiência diferente ao consumidor brasileiro de café é um processo lento, mas está mais rápido do que esperávamos. O aumento de renda da população tem uma influência grande nesse movimento, mas a aceitação aos nossos produtos está sendo muito boa. Desde setembro, o Brasil é o principal país em vendas de Dolce Gusto, superando México e Estados Unidos", disse a executiva, em coletiva de imprensa hoje para apresentação dos itens para o período natalino, sem citar números da unidade e vendas da linha. A empresa lançou a linha Dolce Gusto primeiramente em São Paulo e nas capitais do Sul, com o objetivo de expandir sua atuação em dois anos, mas teve de atingir outros Estados em um ano.
Hoje, a matéria-prima para as bebidas da linha é comprada no Brasil, mas as cápsulas são produzidas na Espanha e Inglaterra. "Para começar a ser produzida no País teríamos que ter um volume vendido que valesse a pena os investimentos que seriam feitos nas nossas unidades no País", explicou, "O que já vendemos de cápsulas desde o lançamento até agora dá para preencher o caminho de São Paulo até Manaus", disse a executiva, sem citar o volume de vendas da linha.
Segundo ela, as máquinas também são produzidas no exterior, por fabricantes alemães e chineses, mas a Nestlé possui parceria com a Arno para distribuição e assistência técnica. "Dez meses depois do lançamento da linha Nescafé Dolce Gusto, a Nestlé virou líder de vendas em máquinas de café expresso", disse Miranda.
(Com Agência Estado)
http://veja.abril.com.br/noticia/economia/nestle-pais-mostra-mudanca-no-perfil-de-consumo-de-cafe


segunda-feira, 21 de novembro de 2011

"O erro de Foucault”. Ou: A FFLCH não é um quintal de delírios

Nem sempre concordo com o professor Luiz Felipe Pondé. Com certeza, nem sempre ele concorda comigo. O bom de você não pertencer a uma igreja de pensamento, a um partido, a uma seita é poder pensar com a sua própria cabeça, não é? Agora, com o magnífico artigo publicado hoje na Folha, intitulado “O erro de Foucault”, ah, com este, eu concordo da primeira à ultima palavra.
*
O erro de Foucault
Você sabia que o pensador da nova esquerda Michel Foucault foi um forte simpatizante da revolução fanática iraniana de 1979? Sim, foi sim, apesar de seu séquito na academia gostar de esconder esse “erro de Foucault” a sete chaves.
Fico impressionado quando intelectuais defendem o Irã dizendo que o Estado xiita não é um horror.
O guru Foucault ainda teve a desculpa de que, quando teve seu “orgasmo xiita”, após suas visitas ao Irã por duas vezes em 1978, e ao aiatolá Khomeini exilado em Paris também em 1978, ainda não dava tempo para ver no que ia dar aquilo.
Desculpa esfarrapada de qualquer jeito. Como o “gênio” contra os “aparelhos da repressão” não sentiu o cheiro de carne queimada no Irã de então? Acho que ele errou porque no fundo amava o “Eros xiita”.
Mas como bem disse meu colega J. P. Coutinho em sua coluna alguns dias atrás nesta Folha, citando por sua vez um colunista de língua inglesa, às vezes é melhor dar o destino de um país na mão do primeiro nome que acharmos na lista telefônica do que nas mãos do corpo docente de algum departamento de ciências humanas. E por quê?
Porque muitos dos nossos colegas acadêmicos são uns irresponsáveis que ficam fazendo a cabeça de seus alunos no sentido de acreditarem cegamente nas bobagens que autores (como Foucault) escrevem em suas alcovas.
No recente caso da USP, como em tantos outros, o fenômeno se repete. O modo como muito desses “estudantes” (muitos deles nem são estudantes de fato, são profissionais de bagunçar o cotidiano da universidade e mais nada) agem, nos faz pensar no tipo de fé “foucaultiana” numa “espiritualidade política contra as tecnologias da repressão”.
E onde Foucault encontrou sua inspiração para esse nome chique para fanatismo chamado “espiritualidade política”?
Leiam o excelente volume “Foucault e a Revolução Iraniana”, de Janet Afary e Kevin B. Anderson, publicado pela É Realizações, e vocês verão como a revolução xiita do Irã e seu fascínio pelo martírio e pela irracionalidade foram importantes no “último Foucault”.
As ciências humanas (das quais faço parte) se caracterizam por sua quase inutilidade prática e, portanto, quase impossibilidade de verificação de resultados.
Esse vazio de critérios de aplicação garante outro tipo de vazio: o vazio de responsabilidade pelo que é passado aos alunos.
Muitos docentes simplesmente “lavam o cérebro” dos alunos usando os “dois caras” que leram no doutorado e que assumem ter descoberto o que é o homem, o mundo, e como reformá-los. Duvide de todo professor que quer reformar o mundo a partir de seu doutorado.
Não é por acaso que alunos e docentes de ciências humanas aderem tão facilmente a manifestações vazias, como a recente da USP, ou a quaisquer outras, como a dos desocupados de Wall Street ou de São Paulo.
Essa crítica ao vazio prático das ciências humanas já foi feita mesmo por sociólogos peso pesado, em momentos distintos, como Edmund Burke, Robert Nisbet e Norbert Elias.
Essa crítica não quer dizer que devemos acabar com as ciências humanas, mas sim que devemos ficar atentos a equívocos causados por essa sua peculiar carência: sua inutilidade prática e, por isso mesmo, como decorrência dessa, um tipo específico de cegueira teórica. Nesse caso, refiro-me ao seu constante equívoco quanto à realidade.
Trocando em miúdos: as ciências humanas e seus “atores sociais” viajam na maionese em meio a seus delírios em sala de aula, tecendo julgamentos (que julgam científicos e racionais) sem nenhuma responsabilidade.
Proponho que da próxima vez que “os indignados sem causa” ocuparem a faculdade de filosofia da USP (ou “FeFeLeCHe”, nome horrível!) que sejam trancados lá até que descubram que não são donos do mundo e que a USP (sou um egresso da faculdade de filosofia da USP) não é o quintal de seus delírios.
Agem com a USP não muito diferente da falsa aristocracia política de Brasília: “sequestram” o público a serviço de seus pequenos interesses.
No caso desses “xiitas das ciências humanas”, seus pequenos delírios de grande “espiritualidade política”.

Por Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/

domingo, 20 de novembro de 2011

Say Hey (I Love You)


Michael Franti & Spearhead

This one goes out to you and yours worldwide
I say hey I be gone today
But I be back around the way
Seems like everywhere I go
The more I see
the less I know
But I know one thing
That I love you
I love you (3x)

I've been a lot of places all around the way
I've seen a lot joy and I've seen a lot of pain
but I don't want to write a love song for the world,
I just want to write a song about a boy and a girl
Junkies on the corner always calling my name
And the kids on the corner playing ghetto games
When I saw you getting down well I hoped it was you
And when I looked into your eyes I knew it was true
I say Hey I be gone today
But I be back around the way
Seems like everywhere I go
The more I see
the less I know
But I know one thing
That I love you
I love you (3x)

Now I'm not a highly metaphysical man
But I know when the stars are aligned
you can bump into person in the middle of the road
look into their eyes and you suddenly know
Rocking in the dance hall moving with you
Dancing in the night in the middle of June
My momma told me don't lose you
'cause the best luck I had was you
I said Hey I be gone today
But I be back around the way
Seems like everywhere I go
The more I see the less I know
But I know one thing
That I love you
I love you (3x)

And I said rocking in the dance hall moving with you
I said Hey momma hey momma close to you
Rocking in the dance hall moving with you
I said hey trippa trippa close to you
Rocking in the dance hall moving with you
I said Hey Momma close to you
Rocking in the dance hall I said
hey momma hey momma hey momma hey momma
My momma told me don't lose you
Cause the best luck I had was you
And I know one thing that I love you
I said I be gone today but I'll be back around the way
It seems like everywhere I go
The more I see the less I know
But I know one thing for sure
I love you (3x)

sábado, 19 de novembro de 2011

Tormenta à Vista

Revista ISTOÉ

Ricardo Amorim

O país mudou, mas nossa mentalidade de não nos prepararmos para o amanhã continua a mesma

Duas décadas de instabilidade econômica e crescimento pífio roubaram a crença de que o país adormecido tivesse qualquer futuro e também a capacidade de pensar além do hoje e planejar para construir o amanhã.
Na década de 80, num Brasil imprevisível, qualquer previsão econômica parecia impossível. Sem prever, para que planejar? Já que não conseguíamos vislumbrar o que viria, acostumamos a viver como se não houvesse amanhã. A preocupação era com a sobrevivência, não com o crescimento. Surpreso por não investirmos em infraestrutura e educação?
Até o planejamento mais banal ainda é ignorado. Todo ano chove o suficiente para alagar várias cidades brasileiras. Não é necessário ser um gênio para prever que, se nada for feito, teremos novos alagamentos. Ainda assim, ano após ano, as inundações e os desmoronamentos se repetem e a culpa, claro, é de São Pedro.
O país mudou – o crescimento acelerou, a economia se tornou mais estável –, mas nossa mentalidade de não nos prepararmos para o amanhã continua a mesma.
A crise econômica europeia chegou à Itália e à Espanha, onde as batalhas finais serão travadas. Os recursos para financiar esses países e capitalizar os bancos ­europeus – cerca de 1,5 trilhão de euros apenas para os próximos três anos – vão muito além da capacidade da Europa e do FMI de supri-los. Há três formas de lidar com a situação.
A primeira envolveria uma megacapitalização do FMI pelos novos donos do dinheiro, os países emergentes, incluindo o Brasil. Esta é a alternativa menos provável, pois os países “ricos” já deixaram claro que não aceitam a perda de poder geopolítico que a mudança de controle do FMI ensejaria.
As duas alternativas restantes envolvem uma reces­são global em 2012. Ambas, provavelmente, levarão a Europa a uma década perdida, como a da América Latina nos anos 1980.
Uma delas é girar a maquininha de fazer dinheiro. Já que ninguém quer financiar países europeus com problemas, o Banco Central Europeu emite moeda para comprar títulos da dívida desses países. Mais de 300 bilhões de euros já foram emitidos; cinco ou seis vezes mais seriam necessários. Como todo brasileiro com mais de 30 anos sabe, isso acaba em megadesvalorização da moeda e aceleração inflacionária.
A outra é um calote, como o recém-praticado pela Grécia. Nesse caso, devido ao tamanho das dívidas de Itália e Espanha, perdas bancárias brutais provocariam uma forte contração da oferta de crédito e uma nova crise financeira global.
Uma recessão mundial é muito provável em 2012. Seus primeiros sintomas já se sentem no Brasil, com a indústria e o comércio se retraindo, a inflação começando a cair e o Banco Central cortando os juros. O cenário econômico será bastante adverso no início de 2012 e o crescimento será baixíssimo, como em 2009. Por outro lado, a economia brasileira se recuperou no segundo semestre de 2009. Em 2010, o país teve seu maior crescimento em mais de 25 anos. É provável que a história se repita e nosso crescimento bata recordes em 2013 e mantenha-se elevado em 2014, ano de Copa do Mundo e eleições.
A previsão está feita. Para aproveitar a bonança que virá mais à frente, você e sua empresa precisarão passar pela tormenta, que está próxima. Planeje já, ou depois não reclame da inundação.
Ricardo Amorim é economista, apresentador do programa Manhattan Connection, da Globonews, e presidente da Ricam Consultoria

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

HUMILDADE VERDADEIRA - PARASHÁ CHAIEI SARA 5772

"A sinagoga estava completamente lotada. As pessoas estavam concentradas, aguardando o início das rezas de Yom Kipur, o Dia do perdão. Os homens se cobriam com seus Talitót e uma aura de santidade rodeava o ambiente. Do rosto de alguns homens e mulheres rolavam lágrimas de arrependimento.
De repente, querendo dar uma enorme demonstração de humildade diante de todos os presentes, o rabino da sinagoga se jogou no chão e começou a gritar: "Eu sou um nada, eu sou um nada!".
O presidente da sinagoga, ao ver aquela cena, imediatamente também se jogou no chão e gritou "Eu sou um nada, eu sou um nada!".
Entre os frequentadores havia um homem muito simples, que ia pouco à sinagoga, em geral apenas nas Grandes Festas. Impressionado com a demonstração de humildade do rabino e do presidente da sinagoga, ele também se jogou no chão e gritou "Eu sou um nada, eu sou um nada!".
O presidente da sinagoga ficou profundamente irritado com a cena. Cutucou o rabino e, apontando para o frequentador, disse:
- Como pode uma coisa destas? Este "zé ninguém", que mal freqüenta a sinagoga, está achando que já pode ser um nada..."
Uma das características mais importantes para o crescimento espiritual do ser humano é a humildade. Mas precisamos tomar o cuidado de constantemente verificar se nossa humildade é verdadeira ou é apenas algo externo e superficial.
********************************************
A Parashá desta semana, Chaiei Sara, começa contando sobre a morte de nossa matriarca Sara. Avraham, que na época vivia em Chevron, local habitado pelos Chititas, precisava de um local para enterrá-la. Após uma negociação, Avraham comprou de um Chitita chamado Efron um terreno no qual havia uma caverna, a Mearat Hamachpelá. Avraham fez os discursos de louvor, chorou e enterrou sua esposa.
Explica o Rav Eliahu Dessler, em seu livro "Michtav M'Eliahu", que a morte de Sara foi o teste mais difícil enfrentado por Avraham Avinu. Não apenas por toda a dor da perda de sua amada esposa, mas por todas as conseqüentes dificuldades que Avraham teve que vencer.
Uma das características que ajudou Avraham a vencer todos os seus testes foi a sua enorme humildade, como está escrito "Avraham respondeu e disse: E eis que eu quis falar com D'us, embora eu seja apenas pó e cinzas" (Bereshit 18:27). Mas a própria pessoa anunciar que é humilde é muito fácil, muitos orgulhosos também dizem, em sua falsa modéstia, que são muito humildes. Como sabemos que Avraham era realmente humilde? Como diferenciar a humildade verdadeira da falsa humildade?
Explica o livro Orchót Tzadikim que existem alguns sinais nos atos de uma pessoa que nos permitem identificar se ela é orgulhosa ou se possui uma humildade verdadeira. Um dos sinais é como a pessoa reage quando perde um ente querido ou uma quantidade muito grande de dinheiro, pois o orgulhoso reclama de D'us e se sente um injustiçado, enquanto o humilde aceita a vontade Divina sem questionamentos. Outro sinal é a forma como a pessoa lida com ofensas e agressões, pois o orgulhoso guarda rancor e espera o momento de se vingar, enquanto o humilde, mesmo tendo a possibilidade de se vingar, sabe perdoar e passar por cima das ofensas. Também é um sinal de humildade a forma da pessoa falar com os outros em momentos de tensão, pois o orgulhoso constantemente perde a cabeça quando está sob pressão, agredindo verbalmente e até fisicamente quando se sente acuado, enquanto o humilde fala sempre de maneira educada e comedida, sem se exaltar, mesmo quando há tensão. E finalmente a humildade pode ser verificada através da maneira como a pessoa se comporta após fazer bons atos, pois o orgulhoso se engrandece pelas suas virtudes e bons atos, se sente melhor do que os outros, enquanto o humilde não sente nenhum orgulho nem superioridade, pois sabe que poderia ter feito muito mais do que fez.
Quando observamos o comportamento de Avraham durante os testes que vieram em consequência da morte de Sara, é possível enxergar todos estes sinais de humildade. Por que a Torá juntou os assuntos do sacrifício de Yitzchak, no fim da Parashá passada, e a morte de Sara, no começo desta Parashá? Rashi, comentarista da Torá, explica que quando Avraham voltou para casa e encontrou Sara morta, entendeu que a causa da morte havia sido a forte emoção da notícia de que seu único filho estava prestes a ser sacrificado. Avraham poderia ter questionado D'us, Quem havia lhe ordenado sacrificar o próprio filho. Pior ainda, Avraham poderia ter se arrependido da Mitzvá, com remorso de ter causado a morte de sua esposa. Mas Avraham não se alterou. A Torá diz que primeiro ele fez os discursos de louvor para sua esposa e somente depois chorou, para mostrar que, além de não ter se arrependido, aceitou a vontade de D'us com amor, sem questionamentos.
Com sua esposa morta à espera de um enterro digno, Avraham ainda teve que lidar com a zombaria dos Chititas. Ao saber que D'us havia prometido a terra de Israel a Avraham e seus descendentes, eles decidiram dificultar o enterro, proibindo a venda de qualquer propriedade para Avraham. Mesmo sofrendo, com sua esposa esperando para ser enterrada, Avraham foi educado e cordial, como está escrito "E levantou-se Avraham e curvou-se diante dos membros do conselho, do povo de Chet" (Bereshit 23:7). Avraham se curvou em uma demonstração de respeito, não como uma forma de bajulação.
Além disso, apesar de D'us ter prometido a Terra de Israel para Avraham, ele teve que pagar um preço absurdo pelo local do enterro, um total de 400 moedas de prata. Efron, o dono da terra, era um homem extremamente ganancioso, que se aproveitou do momento de dor de Avraham para cobrar um preço completamente injusto, o suficiente para comprar um estado inteiro. Efron ainda foi irônico, como está escrito "Entre eu e você, quanto isto significa?". E mesmo perdendo muito dinheiro, em nenhum momento Avraham questionou a bondade e a justiça de D'us.
Avraham, sob pressão, poderia ter perdido a cabeça. Poderia ter iniciado uma guerra contra os Chitim para pegar a terra à força, pois sabia que D'us estava do seu lado. Para salvar seu sobrinho Lót, Avraham havia conseguido, com um pequeno exército, destruir a coalizão dos 4 reis, a maior potência da época. Mas apesar da possibilidade de se vingar do povo que se esforçava para dificultar o enterro de Sara, ele foi muito educado, se portou com Derech Eretz (bons modos), não se exaltou em nenhum momento. Portanto, o comportamento de Avraham, em cada detalhe, demonstra que ele foi uma pessoa realmente humilde, não apenas da boca para fora. Este nível elevado foi resultado de muitos anos de trabalho, uma vida inteira de reflexão.
Será que nós também somos humildes? Aceitamos a vontade de D'us quando ocorrem coisas que não estavam nos nossos planos ou preferimos ficar reclamando e nos lamentando? Quando alguém faz algo que nos ofende ou vai contra nossa vontade, sabemos manter a cabeça no lugar ou explodimos? Falamos em voz baixa e num tom agradável mesmo quando estamos sob tensão ou somos ríspidos e agressivos? São perguntas que, se respondidas com sinceridade, podem nos ajudar a medir o quanto estamos longe da humildade verdadeira.
Qual a forma de chegar à humildade verdadeira? Refletindo. Em primeiro lugar, tentando entender e internalizar que tudo o que fazemos somente é possível com a ajuda de D'us. Desde nossa inteligência até o menor dos movimentos do nosso corpo, tudo depende da influência Divina. Portanto, não há nada para nos gabar em relação aos nossos bons atos e qualidades, pois tudo é um presente de D'us. Em segundo lugar, precisamos entender o quanto somos pequenos. Nossas bondades praticamente se anulam quando comparadas aos atos dos nossos patriarcas, que sabiam aproveitar seu potencial no limite. Mesmo quando fazemos algo bom, se compararmos com o que poderíamos ter feito, chegaremos à conclusão de que fizemos muito pouco. E em terceiro lugar, precisamos fugir da falsa modéstia, do sentimento enganoso de que somos humildes quando, na verdade, buscamos o tempo inteiro elogios e o reconhecimento das pessoas. Apenas quando tivermos a consciência de que não somos humildes de verdade é que poderemos começar a realmente construir nossa humildade.
SHABAT SHALOM
R' Efraim Birbojm
http://ravefraim.blogspot.com/
Gn.23:1-25:18, 1Rs.1:1-31, Mt.1:1-17

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Divulgado IGC/MEC 2010: UFLA é a 1ª de Minas e a 2ª do país

A Universidade Federal de Lavras (UFLA) foi considerada a melhor universidade federal do país pelo Índice Geral de Cursos (IGC), divulgado nesta quinta-feira (17) pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), do Ministério da Educação (MEC). A UFLA foi classificada como a primeira de Minas e a segunda do Brasil.

A avaliação é baseada na análise das condições de ensino, em especial aquelas relativas ao corpo docente, às instalações físicas, ao projeto pedagógico e ao resultado dos alunos no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade). Ao todo foram avaliadas 2177 instituições de ensino, públicas e privadas.
De acordo com o pró-reitor de Graduação, professor João Chrysostomo de Resende Júnior, o índice geral da graduação da UFLA teve um desempenho 17% superior quando comparado ao IGC/MEC 2009. Ele ressalta que esse salto na qualidade é decorrente de uma série de fatores, em especial, a qualificação docente, a integração entre ensino e pesquisa e o forte investimento em infraestrutura.
O IGC é um indicador expresso em conceitos, com pontuação variável de um a cinco pontos. O índice de uma instituição é resultado da média ponderada do Conceito Preliminar de Curso (CPC), indicador de avaliação de cursos de graduação, e obedece a um ciclo de três anos, em combinação com o resultado do Enade, que mede o desempenho dos estudantes.
Entre as Universidades aparecem, pela ordem, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), seguida das universidades federais de Lavras (UFLA), Rio Grande do Sul (UFRGS), São Paulo (Unifesp), Minas Gerais (UFMG), Viçosa (UFV), Rio de Janeiro (UFRJ), Triângulo Mineiro (UFTM) e Itajubá (Unifei). Todas elas tiveram a faixa 5, considerada a máxima pela avaliação do MEC
http://www.ufla.br/ascom/index.php/2011/11/divulgado-igcmec-2010-ufla-e-1-de-minas-e-2-do-pais/

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O paraíso das frutas podres

Autor: Guilherme Fiuza

Rousseff tem um jeito peculiar de desafiar a corrupção: prestigiar os donatários de capitanias apodrecidas
Rousseff desafia a corrupção. Essa manchete foi publicada pelo jornal francês “Libération”, na passagem da presidente brasileira por Cannes, na reunião do G20. Orlando Silva acabara de cair, e o artigo concluía que, com a demissão do sexto ministro, Dilma se emancipava de Lula. Não interessaram ao jornal de esquerda as reuniões de emergência entre criador e criatura para tentar salvar a cabeça do ministro do Esporte. Nem a frase da presidente após a demissão: “Orlando Silva não perde meu respeito”. O que o Libération acha da relação de Dilma com Carlos Lupi?
Não interessa. O que essa imprensa europeia progressista e decadente publica não tem, de fato, a menor importância. Interessa é que boa parte da opinião pública brasileira, incluindo a que lê francês, acha que Rousseff desafia a corrupção.
Rousseff tem um jeito peculiar de desafiar a corrupção. É um desafio, por assim dizer, carinhoso. Por uma impressionante coincidência, as máquinas dos Transportes, da Agricultura, do Turismo, do Esporte e do Trabalho serviam a formas quase idênticas de sucção pelo PR, pelo PMDB, pelo PCdoB e pelo PDT – fiadores do PT e do Plano Dilma. É notável, ainda, que toda essa tecnologia dos convênios com ONGs e entidades companheiras provenha do tempo em que Rousseff mandava na Casa Civil. Segundo Lula, ela coordenava todos os projetos do governo.
Mais curioso ainda: mesmo depois de a imprensa mostrar que esses pedaços do Estado brasileiro tinham virado capitanias partidárias, com seus donatários já caindo de podres, Rousseff fez questão de prestigiá-los, um por um. Nunca sedesafiou a corrupção com tanta compaixão.
O chefe de gabinete do ministro do Trabalho e o tesoureiro do PDT eram a mesma pessoa. E atenção: isso não era segredo. Responsável pelas finanças do partido, Marcelo Panella ajudou a cozinhar mais de 500 relatórios de prestação de contas no ministério, que, segundo o Tribunal de Contas da União, sumiram nas gavetas da gestão Carlos Lupi. Nesse paraíso de convênios invisíveis, multiplicam-se histórias demanejo desinibido de dinheiro público – como no caso da ONG campeã de verbas em Minas Gerais. Essa ONG, com o imodesto nome de Instituto Mundial de Desenvolvimento da Cidadania, passou a ser investigada pela Polícia Federal depois de um evento desagradável. Um funcionário seu sacou numa agência bancária R$ 820 mil em espécie, às vésperas das eleições de 2010. Tudo normal, se o portador da ONG não tivesse tido o azar de ser assaltado. Perder dinheiro não é problema no Ministério do Trabalho, o chato é perder a discrição. Foi aberto um inquérito, em que consta que dirigentes da ONG pediram aos funcionários do banco para declarar à polícia que o saque fora só de R$ 80 mil. Um abatimento de 90%, em nome da modéstia.
O Ministério Público Federal suspeita de uso da ONG para caixa dois eleitoral. Mas deve estar enganado. O donatário do ministério e mandachuva do partido era Carlos Lupi, que tinha a total confiança de Rousseff. E Rousseff, como se sabe, desafia a corrupção.
Apareceu então uma denúncia de cobrança de propinas para liberar verbas do Ministério do Trabalho. Francamente, para que propina numa simbiose que te, para que propina numa simbiose que já funciona tão bem? Só se foi a força do hábito.
Em meio a tanto denuncismo, Rousseff, a chefe dos chefes, decidiu falar em cadeia nacional de rádio e TV. Para a surpresa geral, não se referiu ao único assunto que justificaria a urgência de um pronunciamento à nação. Anunciou a criação de dois programas de saúde pública, prometendo um choque de eficiência no setor. Não ficou claro que modelo de eficiência será adotado, mas possivelmente seja o do Ministério do Trabalho – e aí terá feito sentido a oportunidade do anúncio.
Há também o modelo do Ministério da Educação, testado e aprovado. Por três anos seguidos, o ministro fez política para valer e não cedeu ao denuncismo em torno do Enem. Foi premiado com a candidatura a prefeito de São Paulo.
Pelo histórico de seu primeiro ano de governo, Rousseff tem à disposição vários modelos de eficiência na gestão da coisa pública. O Brasil já conhece bem cinco deles, cada um mais criativo no desafio à corrupção do anterior. Se há algum outro, deve estar guardado a sete chaves.
Fonte: revista “Época”
http://www.imil.org.br/destaque/o-paraiso-das-frutas-podres/

domingo, 13 de novembro de 2011

Metade


Oswaldo Montenegro

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

SÓ FALTA TEMOR A D'US - PARASHÁ VAIERÁ 5772

O Rabino Shlomo Ordenstein (nome fictício) morou por alguns anos na Austrália, onde ensinava pessoas que estavam afastadas do judaísmo. Certa vez ele foi convidado para dar uma palestra a um pequeno grupo de médicos judeus, com o tema "Medicina e Judaísmo". No final da palestra, o dono da casa chamou o Rav Ordenstein de canto, apontou para um senhor de meia idade e disse:
- Rabino, este homem não consegue deitar a cabeça no travesseiro e dormir uma noite tranquila de sono há mais de 10 anos.
O dono da casa então seguiu contando o drama familiar daquele homem:
- Ele tinha um filho jovem que sofreu um grave acidente de carro e ficou mais de um ano em coma. Os médicos, após alguns exames, constataram que o coma parecia ser irreversível. Ele então decidiu lutar na justiça pelo direito de desligar os aparelhos que mantinham o filho vivo. Após uma longa batalha judicial, ele finalmente ganhou o direito de desligar os equipamentos.
Visivelmente emocionado, o dono da casa continuou:
- Ele então foi até o hospital levando a ordem judicial e entregou para uma das enfermeiras que cuidava do filho. Ao ler o conteúdo, ela devolveu o papel ao pai e disse: "Eu não sou assassina. Se você quer desligar os aparelhos do seu filho, faça com suas próprias mãos". Então, sem alternativa, o pai foi e pessoalmente desligou os aparelhos. Deste dia em diante ele nunca mais dormiu, se consumindo dia após dia com a pergunta "Será que eu fiz o que era realmente o mais correto?". (História Real)
Existem situações na vida nas quais é muito difícil tomar decisões. Por isso D'us nos deu a Torá, nosso "Manual de Instruções", para que, mesmo em situações nas quais nosso lado emocional fala mais alto, possamos ter a tranquilidade de fazer o que é realmente correto. E a Torá nos ensina a preciosidade da vida, que não cabe a nós decidir quando deve terminar.
********************************************
Na Parashá desta semana, Vaierá, a Torá continuou descrevendo alguns dos testes aos quais Avraham foi submetido. Um dos testes foi quando Avraham mudou-se para a terra de Guerar e novamente Sara chamou a atenção das pessoas por causa de sua beleza. Quando questionado pelos habitantes locais, Avraham informou que Sara era apenas sua irmã. O rei de Guerar, Avimelech, ficou encantado com a sua beleza e mandou trazê-la à força ao palácio. Para proteger Sara, D'us fez com que Avimelech adoecesse e não conseguisse nem mesmo encostar nela. De noite, D'us apareceu para Avimelech em um sonho, informou que Sara era esposa de Avraham e exigiu que ela fosse devolvida ao marido sem demora. Caso contrário, D'us avisou a Avimelech que ele morreria.
Avimelech, assustado, madrugou e imediatamente foi devolver Sara a Avraham. Ele então deu uma bronca em Avraham por não ter contado que Sara era sua esposa e perguntou o porquê dele ter se comportado daquela maneira. E assim foi a resposta: "E disse Avraham: pois eu disse: 'Somente temor a D'us não há neste lugar, e eles me matarão por causa de minha esposa'" (Bereshit 20:11). O que Avraham quis dizer com isto? Qual era exatamente o medo dele? E por que utilizou a palavra "somente", que parece desnecessária na frase?
Nos ensina o Rav Elchanan Wasserman, um dos maiores alunos do Chafetz Chaim, algo surpreendente. Quando Avraham chegou à terra de Guerar, viu que se tratava de um povo muito evoluído. Como eram pessoas intelectuais, ele percebeu que haviam criado uma sociedade saudável, na qual os habitantes, através de seu intelecto, buscavam melhorar suas características pessoais. Então o que ele viu para chegar à conclusão de que naquele lugar não havia temor a D'us? Explica Rashi, famoso comentarista da Torá, que as pessoas viram Avraham chegar acompanhado de Sara, uma mulher de beleza incomparável. Todos se aproximaram para perguntar quem era aquela mulher e se era casada. Mas ninguém se preocupou em perguntar se eles precisavam de comida, bebida ou um lugar para descansar. Avraham entendeu que eles tinham bons modos e uma boa índole, mas quando surgia algum desejo forte, estes bons modos eram completamente anulados. O que isto significava? Que eles não tinham temor a D'us.
Foi por isso que Avraham disse que "somente" não havia temor a D'us. Ele viu uma sociedade com pessoas intelectuais, educadas, cultas, que faziam caridade e buscavam justiça, mas sem nenhuma ferramenta para vencer os instintos e desejos. Portanto ele entendeu que, se dissesse que Sara era sua esposa, ninguém ousaria cometer adultério, pois era socialmente feio, mas provavelmente o matariam para poder casar com ela. Os bons modos e a cultura não serviriam para apagar o fogo do desejo despertado, pois Avraham sabia que a única força que existe capaz de frear os desejos do ser humano é o temor a D'us
O próprio Rav Elchanan Wasserman, quando esteve na Alemanha, alguns anos antes da ascensão do partido nazista ao poder, discursou para uma série de rabinos e estudantes de Torá. Ele trouxe este ensinamento do "somente não há temor a D'us" e aplicou à Alemanha, afirmando que tragédias poderiam acontecer lá. Os rabinos não quiseram acreditar em suas palavras, afinal, a Alemanha era a pátria-mãe do povo judeu. Os alemães eram um povo evoluído, amante das artes, composto por pessoas cultas, intelectuais e justas. Como acreditar que, daquelas pessoas tão dóceis e educadas, poderia sair algum tipo de maldade?
Infelizmente o mundo entendeu, poucos anos depois, que o Rav Elchanan Wasserman estava certo. Aqueles mesmos alemães finos, educados e intelectuais, parte da nação mais civilizada do mundo, começaram a perseguir os judeus, primeiro queimando livros, depois queimando pessoas. Os tribunais de justiça alemães, símbolo da busca por justiça, foram utilizados para acusar, prender e torturar injustamente milhares de judeus. A mídia alemã, criada para levar cultura a todos, foi utilizada para denegrir e espalhar mentiras sobre os judeus, justificando o extermínio de um povo inocente. Os dóceis e educados alemães começaram a assassinar, a sangue frio e de maneira sistemática, sem nenhum tipo de misericórdia, homens, mulheres e crianças. Mas eles não eram educados e cultos? Sim, somente não tinham temor a D'us.
O Rav Elchanan Wasserman não era um profeta. Então como ele sabia que tragédias aconteceriam na Alemanha? Diz Shlomo Hamelech (Rei Salomão), o mais sábio de todos os homens: "Não há novidade sob o sol". A história se repete, de maneira cíclica, e os acontecimentos de hoje são apenas repetições do que já aconteceu no passado. A Torá não é um livro de histórias, é um ensinamento de realidades espirituais que se repetem de geração em geração.
Se olharmos para nossa história, perceberemos algo impressionante. O povo judeu foi exilado e perseguido diversas vezes. Egípcios, Babilônios, Romanos, Espanha, Portugal e Alemanha, entre outros. O que estas nações têm em comum? Eram as maiores potencias de sua época. Eram os lugares onde se desenvolveram as tecnologias mais avançadas, a cultura e as artes. Por que o povo judeu nunca foi exilado nas selvas africanas? Por que os exílios e perseguições mais sangrentas do povo judeu sempre foram nas sociedades mais evoluídas de cada geração?
D'us, através dos exílios, estava nos ensinando uma lição muito importante, que insistimos em não aprender: não importa o quanto um povo é evoluído cientificamente, culturalmente ou até se destaca pelos bons modos. Se este povo não tem temor a D'us, quando os desejos contradizem as leis e os bons hábitos deste povo, os desejos vencem. E quando os desejos tomam conta do ser humano, não existe mais limite até onde ele está disposto a chegar para saciá-los. Os alemães desejaram formar uma raça superior. Mais de duzentas mil pessoas com algum defeito físico ou mental foram mortas pelo regime nazista entre 1939 e 1945. E somente pelo fato destas práticas terem tornado-se aceitáveis é que a idéia expandiu-se e começou a incluir mais e mais pessoas "indignas" de viver, entre elas os judeus.
Precisamos constantemente tomar cuidado com nossos passos para não fazer parte de uma geração sem temor a D'us. Assuntos delicados como aborto e eutanásia, que lidam com a vida e a morte de seres humanos, não podem ser tratadas como se fossem assuntos médicos ou judiciais. Os médicos e juízes não têm conhecimento nem direito para decidir quem merece viver. Não somos apenas um corpo, temos uma alma Divina. A vida e a morte não estão em nossas mãos. D'us nos dá a vida e apenas Ele pode decidir quando é o momento de retirá-la.
Uma sociedade que se acha no direito de decidir suas próprias leis, passando por cima de leis eternas entregues pelo Criador do mundo, é uma sociedade sem temor a D'us. É o primeiro passo para possibilitar o acontecimento de grandes tragédias na humanidade.
SHABAT SHALOM
R' Efraim Birbojm
http://ravefraim.blogspot.com/
Gn.18:1-22:24, 2Rs. 4:1-37, Lc.1:26-38, 24:36-53

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Uma lição tardia - IV: O reino do ódio

Olavo de Carvalho
No artigo anterior falei do zelo devoto com que a matilha do “Roda Viva” defende a honra e o prestígio do movimento comunista, atacando seus inimigos a dentadas e habituando o público a dar por pressuposto, sem a mais mínima discussão, que ninguém pode ser anticomunista por motivo moralmente respeitável ou intelectualmente relevante. Nenhuma apologia do comunismo é mais eficaz e penetrante do que essa. Discursar em favor da estatização da economia, argumentar pela teoria da luta de classes, enaltecer o futuro brilhante da humanidade no jardim das delícias do socialismo – nada disso tem a força persuasiva da prática reiterada, tanto mais sedutora quanto mais implícita, de atribuir aos comunistas e seus parceiros o monopólio do bem e da virtude, reduzindo seus adversários e criticos à condição de delinqüentes pérfidos movidos por interesses egoístas. A propaganda comunista ostensiva colocaria o seu praticante na difícil contingência de ter de defender o indefensável: o genocídio, a tirania, o trabalho escravo, a miséria. Muito mais prático é contornar o assunto, evitar até mesmo a palavra “comunismo”, omitir cuidadosamente as comparações e em vez disso concentrar as baterias no “trabalho do negativo”: a demonização constante e sistemática dos inimigos, donde resulta, por irrefreável automatismo mental, a canonização dos amigos, reforçada aqui e ali por alguma louvação discreta e comedida o bastante para não dar impressão de sectarismo. Toda argumentação explícita em favor de alguma idéia ou partido desperta irresistivelmente o impulso da contestação. A devoção tácita e indireta, consagrada em hábito inconsciente, inibe e paralisa a discussão, dando ao objeto de culto aquele poder mágico cuja conquista Antonio Gramsci considerava o objetivo supremo da propaganda comunista: “a autoridade onipresente e invisível de um imperativo categórico, de um mandamento divino”.

Tal tem sido o objetivo estratégico e a única razão de ser da TV Cultura desde há muitos anos, e especialmente o de um programa cujo nome já é, por si, um dos emblemas consagrados da autobeatificação mitológica da esquerda como vitima santa e inocente da maldade direitista.
Chamarei a essa devoção “fanática”? O termo é inexato. O fanatismo supõe uma crença formal, positiva, declarada. Os homens do “Roda Viva”, como em geral os esquerdistas brasileiros, não necessitam de nada disso. O esquerdismo que os unifica, que lhes garante o esprit de corps, não consiste em nenhuma fé, em nenhuma doutrina, em nenhum projeto de sociedade explícito o bastante para poder ser discutido e, eventualmente, impugnado. Consiste unicamente no ódio ao inimigo, um inimigo que ao mesmo tempo não querem conhecer nem compreender, do qual só querem saber, com seletividade obstinada e fiel, o que podem dizer contra ele. No Brasil, a deformidade congênita da “imaginação esquerdista” descrita por Lionel Trilling tornou-se obrigação legal, critério de veracidade na mídia, mandamento número um da moral e princípio fundador da educação.
No fundo, todo esquerdismo, hoje em dia, é isso e nada mais que isso. Há muito tempo os comandantes do processo já desistiram de impor ao movimento revolucionário a unidade da vulgata marxista-leninista que dava aos militantes de outrora uns ares de “intelectuais populares” não desprovidos de certa nobreza. Hoje preferem dirigir as massas na base de slogans e palavras-de-ordem puramente emocionais, sem um arremedo sequer de conteúdo sociológico ou filosófico. Um marxista às antigas chamaria a isso “irracionalismo”, mas racionalismo e irracionalismo só existem no plano da discussão teórica. Esta foi substituída pelo engenharia comportamental, e, nessa clave, nada pode ser mais racional que a manipulação científica da irracionalidade alheia. Os arruaceiros de Nova York acreditam combater a alta finança internacional, mas seguem ordens de George Soros, que é a própria alta finança encarnada, apóiam o governo Obama, que é um pseudópodo de Wall Street, clamam por uma moeda mundial, que é a menina-dos-olhos da elite bancária globalista, e bradam de ódio a Rupert Murdoch, um homem de indústria totalmente alheio a especulações financeiras. Se não têm a menor idéia de contra quê estão lutando, tanto melhor: sua fúria pode ser canalizada contra qualquer alvo que o comando revolucionário escolha no momento.
A unidade da esquerda militante hoje em dia é simplesmente a do ódio – um ódio que se torna tanto mais radical e intolerante quanto mais vagos e indefinidos os objetos contra os quais se volta e as metas que nominalmente o inspiram. Como explicar, fora dessa perspectiva, o fato de que a esquerda internacional lute, ao mesmo tempo, pelo império do gayzismo e pelo triunfo do mais estrito moralismo islâmico, sem que surja, no seu seio, a mais mínima discussão a respeito, o mais leve sentimento de desconforto ante uma contradição intolerável?
É aí que se deve buscar também a raiz da facilidade com que uma militância inflada de retórica autobeatificante se acomoda, sem o mais mínimo escrúpulo de consciência, aos interesses do narcotráfico e do banditismo organizado em geral. Quando os sentimentos morais prescindem de qualquer deferência para com os dados da realidade e se condensam no puro ódio a um objeto indefinido, é inevitável que já não haja mais distância entre a presunção de santidade e o mergulho na treva mais funda do crime e da maldade.
Isso é a esquerda, hoje em dia: a síntese militante das ambições mais altas com os sentimentos mais baixos. A tensão insolúvel entre os dois pólos traz como conseqüência incontornável a redução da vida psíquica aos seus mecanismos mais toscos e elementares, o enrijecimento numa atitude de permanente autodefesa paranóica, a produção obsessiva de novos pretextos de ódio e, portanto, a supressão de toda compreensão humana, trocada por uma autopiedade cada vez mais exigente e rancorosa.
Em muitos países esse fenômeno está limitado às massas militantes, mas, no Brasil, onde a hegemonia esquerdista reina sem contraste, ele se tornou o padrão e norma da cultura nacional.
Eis o motivo pelo qual a lição de Lionel Trilling já não pode ser aprendida nesta parte do mundo. Uma esquerda civilizada, capaz de apreender os sentimentos morais de seus adversários (condição sine qua non da alternância democrática no poder), não tem razão de existir, nem possibilidade de vir a existir, num ambiente onde esses adversários se tornaram tão pequenos e inofensivos que a esquerda não precisa mais compreendê-los: pode inventá-los como bem lhe interesse.
http://www.olavodecarvalho.org/semana/111110dc.html

AS BASES DE UM CONSERVADOR

O filósofo Olavo de Carvalho elaborou a lista ao lado para ajudar a diferenciar conservadores de revolucionários
TRADIÇÃO
O conservador preza a experiência passada como forma de pensar o presente, em contra-ponto ao revolucionário, que entende o presente com base num futuro hipotético
PROVIDÊNCIA
O povo não deve sofrer os efeitos das escolhas de gerações anteriores. Os políticos têm o direito de experimentar e aprender com a experiência, mas não o de testar práticas ­arriscadas de longo prazo
REFORMA
Governos não têm o direito de fazer algo que os seguintes não possam desfazer. Ne­nhuma ordem social do passado foi tão ruim a ponto de bloquear a mera possibilidade de uma nova ordem
DEMOCRACIA
A revogabilidade das medidas de governo é um princípio democrático essencial, mas propostas revolucionárias tendem a concentrar o poder e a excluir para sempre as propostas alternativas
EQUILÍBRIO
A mentalidade revolucionária não é um traço permanente da natureza humana e deve ser erradicada como condição essencial para a sobrevivência da liberdade no mundo

http://epocasaopaulo.globo.com/vida-urbana/quem-sao-e-o-que-pensam-os-jovens-militantes-de-direita-que-fazem-usp/

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

“Que eles cortem toda assistência”: países africanos se revoltam contra ameaça da Inglaterra de cortar assistência por causa da homossexualidade


Peter Baklinski

África, 8 de novembro de 2011 (Notícias Pró-Família) — O presidente de Gana está liderando a investida enquanto vários países africanos estão assumindo posturas contra a ameaça da Inglaterra para que eles legalizem os atos homossexuais ou sejam excluídos de receber assistência financeira.
“Eu, como presidente desta nação, nunca iniciarei nem apoiarei tentativa alguma de legalizar a homossexualidade em Gana”, disse o presidente John Evans Atta Mills numa declaração oficial para o governo da Inglaterra sob o primeiro-ministro David Cameron na quarta-feira passada.
Na Reunião de Chefes de Governo da Comunidade Britânica de Nações em Perth, Austrália no final de outubro, na qual o primeiro-ministro Cameron esteve presente, a questão da homossexualidade nos países em desenvolvimento foi levantada num relatório interno que recomendava que todos os países da Comunidade eliminassem as leis que proibiam a atividade homossexual, conforme disse uma reportagem da BBC.
Cameron, falando no programa de televisão The Andrew Marr Show em Perth durante sua estada na Austrália, disse: “A assistência britânica deveria ter mais obrigações específicas”.
“A Inglaterra é agora uma das nações que mais dão assistência no mundo. Queremos ver os países que recebem nossa assistência respeitando direitos humanos específicos, e isso inclui o modo como as pessoas tratam os indivíduos gays e lésbicos”, continuou Cameron.
“Estamos dizendo que esta é uma das coisas que determinarão nossa política de assistência”, disse ele, acrescentando que “esses países [africanos] estão todos num percurso [para superar a discriminação] e cabe a nós ajudá-los ao longo desse percurso”.
Entretanto, o presidente Mills respondeu rapidamente que a Inglaterra não tem o direito de decretar ou anular os valores culturais e morais de Gana.
“Ninguém pode negar ao primeiro-ministro Cameron seu direito de fazer políticas, adotar iniciativas ou fazer declarações que reflitam as normas e ideais de sua sociedade. Mas, ele não tem o direito de dirigir outras nações soberanas quanto ao que devem fazer, principalmente em áreas em que as normas e ideais de suas sociedades são diferentes das normas e ideais que existem na sociedade do primeiro-ministro Cameron”.
“Embora agradeçamos toda a assistência financeira e toda a ajuda que nos foi dada por nossos parceiros de desenvolvimento, não aceitaremos nenhuma assistência que venha acompanhada de ‘imposição de condições’ se essa ajuda não beneficiar nossos interesses, ou se a implementação — ou a utilização — dessa ajuda com condições impostas particularmente piorasse nossa difícil situação como nação, ou destruísse a própria sociedade onde queremos usar o dinheiro para trazer melhorias”.
Malaui
Antes das declarações de Mills, Patricia Kaliati, porta-voz do governo de Malaui, disse que era “deplorável” que a Inglaterra estivesse considerando “condições pró-homossexualismo” para dar assistência, acrescentando que os atos homossexuais são ilegais em Malaui. Ela comentou que tais leis são um legado do governo britânico, conforme disse reportagem do jornal Nyasa Times.
Uganda
Igualmente em 31 de outubro, John Nagenda, conselheiro presidencial de Uganda, fez uma declaração forte para a BBC, dizendo que os ugandenses estavam “cansados desses sermões” e não deveriam ser tratados “como crianças”, acrescentando que a “mentalidade de truculência” de Cameron é “muito errada”.
“Uganda, se você recorda, é um Estado soberano e estamos cansados de pessoas que nos passam esses sermões”.
“Se eles querem levar seu dinheiro, que assim seja”, concluiu ele.
Tanzânia
Depois das declarações de Mill, a Tanzânia se adicionou à crescente lista de países africanos que estão dizendo que não farão concessões com seus valores culturais e morais, ainda que isso signifique perder o apoio financeiro da Inglaterra.
“A Tanzânia jamais aceitará a proposta de Cameron porque temos nossos próprios valores morais. A homossexualidade não é parte da nossa cultura e jamais a legalizaremos”, disse Bernard Membe, ministro das relações exteriores, de acordo com o jornal Guardian da Tanzânia.
“A Tanzânia está pronta para terminar suas relações diplomáticas com a Inglaterra se o governo inglês impuser condições na assistência que dá para pressionar em favor da aceitação de leis que reconhecem a homossexualidade”.
“Somos guiados por nossa tradição. Temos famílias compostas por uma mãe, um pai e filhos. O que Cameron está fazendo pode levar ao colapso da Comunidade Britânica de Nações”.
Zanzibar
Zanzibar, o arquipélago semiautônomo da Tanzânia, também se manifestou publicamente contra a assistência britânica acompanhada de condições impostas.
“Temos uma forte cultura zanzibar e islâmica que detesta as atividades gays e lésbicas, e para qualquer um que nos disser que a assistência de desenvolvimento está ligada à aceitação da homossexualidade, vamos dizer ‘não”, disse Ali Mohamed Shein, presidente do Zanzibar, para jornalistas na última sexta-feira.
“Não podemos fazer concessões desonrosas com relação à nossa cultura profundamente enraizada nem permitir algo que é completamente contra nossa religião. Que eles cortem sua assistência [para nós]”.
Os atos homossexuais são ilegais, em maior ou menor grau, em 40 dos 53 países africanos, de acordo com um levantamento feito pela Associação Internacional de Gays e Lésbicas.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

APROVADO novo Código Florestal nas comissões de Agricultura e Ciência

O relatório do senador Luiz Henrique da Silveira do novo Código Florestal brasileiro acaba de ser aprovado nas comissões de Ciência e Tecnologia e Agricultura e Reforma Agrária.

A votação nas duas comissões foi nominal. Na de Ciência e Tecnologia, foram 10 votos a favor e apenas 1 contra, o da senadora Marinor Brito. Já na comissão de Agricultura e Reforma Agrária, a aprovação foi unânime.
Veja os votos:
COMISSÃO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA:
ANGELA PORTELA – SIM
ANIBAL DINIZ – SIM
VALTER PINHEIRO – SIM
ANTONIO CARLOS VALLADARES – SIM
RODRIGO ROLLEMBERG – SIM
CIRO NOGUEIRA – SIM
EUNICIO OLIVEIRA – SIM
CIRO MIRANDA – SIM
FLECHA RIBEIRO – SIM
ALUISIO NUNES FERREIRA – SIM
MARINOR BRITO – NÃO

COMISSÃO DE AGRICULTURA E REFORMA AGRÁRIA
ANTONIO RUSSO – SIM
RODRIGO ROLLEMEBERG – SIM
VALTER PINHEIRO – SIM
VALDEMIR MOKA – SIM
REDITARIO CASOL – SIM
VALDI RALPI – SIM
FLECHA RIBEIRO – SIM
CIRO MIRANDA – SIM
JAYME CAMPOS – SIM
SÉRGIO SOUZA – SIM

Os destaques e as emendas serão votados somente amanhã (9) em uma nova reunião que terá início às 8h30.

>> Na Agência Senado: Os destaques de votação em separado, referentes a emendas rejeitadas pelo relator, serão examinados em reunião marcada para esta quarta-feira (9), às 8h30. Entre esses destaques, estão propostas dos senadores Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) e Antonio Carlos Valadares (PSB-DF) referentes à recomposição das matas ciliares.

Depois de concluída a votação na CRA e na CCT, o Código Florestal será analisado pela Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA), onde é relatado por Jorge Viana (PT-AC). Depois disso, irá ao Plenário. Se aprovado pelo Senado, o projeto deverá retornar à Câmara, em razão de ter sido modificado.

>> Valadares propõe três alterações no relatório do novo Código Florestal
O senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE) apresentou três destaques (propostas de alteração) ao relatório do novo Código Florestal (PLC 30/2011). No primeiro, ele sugere que a delimitação de mata ciliar seja a partir do leito maior dos rios (no período de cheias) e não da calha regular, como consta do texto.
Em outro destaque, Valadares propõe que seja detalhada a regra para situações excepcionais para supressão da vegetação nativa em Área de Preservação Permanente (APP).
No terceiro, ele propõe que o prazo para adesão a programa de regularização ambiental seja prorrogado por uma única vez. Conforme argumenta, a possibilidade de prorrogações indefinidas, como consta do texto em exame, configura em "anistia eterna" para aqueles que desmataram irregularmente áreas protegidas.
Ao comentar os destaques, o relator do projeto, Luiz Henrique da Silveira (PMDB-SC), disse ser consenso que a APP em margens dos rios seja delimitada a partir da calha regular.
Quanto aos outros destaques, Luiz Henrique disse considerar possível que sejam acatados, mas apenas quando da tramitação na Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA), para onde o texto seguirá após votação nas comissões de Agricultura (CRA) e de Ciência e Tecnologia (CCT).

>> Rollemberg apresenta três destaques ao projeto de Código Florestal
O senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) quer incluir três dispositivos no projeto do novo Código Florestal. Uma de suas propostas é incluir norma para a recuperação de Áreas de Preservação Permanente (APPs) em rios com mais de dez metros de largura.
O relatório do senador Luiz Henrique (PMDB-SC) já prevê que, para rios com até essa largura, seja obrigatória a recomposição de apenas 15 metros de mata ciliar, e não 30 metros, que é a norma para APPs ripárias em rios com até dez metros de largura. Mas o texto é omisso quanto às regras de recomposição de matas nas margens de rios mais largos. Rollemberg propõe 30 metros de APP para rios de 10 a 100 metros; 50 metros de APP para rios de 100 a 200 metros de largura; e 100 metros de APP para rios com largura acima de 200 metros.
Outra alteração proposta por Rollemberg é deixar explícito que a desobrigação de recomposição de reserva legal, nos casos de propriedades de até quatro módulos fiscais, só é válida para as propriedades que tinham quatro módulos em 22 de julho de 2008. Ele afirmou que essa exigência não está clara no texto de Luiz Henrique.
Por fim, Rollemberg quer incluir dispositivo para prever que uma das formas de recuperação de espécies nativas seja a regeneração natural, "já que em muitos casos o mero isolamento de uma APP, por muitos anos seguidos, é capaz de promover a sua regeneração".
O relator Luiz Henrique disse que é possível chegar a uma convergência sobre esses pontos.

http://www.noticiasagricolas.com.br/noticias/codigo-florestal/98784-ao-vivo-codigo-florestal-sera-votado-hoje-pelas-comissoes-de-agricultura-e-tecnologia.html

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

VENCENDO O COMODISMO - PARASHÁ LECH LECHÁ 5772

"Certa vez foi realizada uma expedição de cientistas com a missão de capturar uma espécie rara de macacos nas selvas africanas, para que estes macacos pudessem contribuir em um importante estudo biológico. Seria uma missão difícil, pois os macacos deveriam ser capturados vivos e ilesos, sem nenhum tipo de ferimento. Por isso a utilização de dardos tranquilizantes foi completamente descartada.
Para liderar a missão foi contratado um grupo de cientistas que conheciam todos os hábitos desta espécie de macaco. Após algum tempo de estudos e testes eles conseguiram desenvolver uma armadilha muito engenhosa e, ao mesmo tempo, extremamente simples. Foram fabricados frascos de vidro com um gargalo longo e estreito, suficiente apenas para que passasse a mão aberta de um macaco. Dentro do frasco foram colocadas nozes, a comida preferida desta espécie. Vários destes frascos foram fixados na terra, enquanto uma pequena quantidade de nozes também foi espalhada em volta dos frascos como forma de atrair os macacos para a armadilha. Depois disso os cientistas continuaram acompanhando, à distância, o comportamento dos macacos.
Como a armadilha funcionava? Quando o macaco sentia o cheiro das nozes dentro do frasco, ele enfiava a mão através da estreita abertura e pegava um punhado de nozes. Mas quando tentava tirar a braço com a mão fechada, ficava preso, pois a mão aberta passava pelo gargalo estreito, mas a mão fechada não.
Mas por que os macacos ficavam presos? Era só abrir a mão e eles estariam livres! O mais incrível foi perceber que os macacos desejavam tanto as nozes que, mesmo vendo os cientistas se aproximando para capturá-los, não conseguiam abrir a mão e deixar as sonhadas nozes para trás. Assim os macacos foram facilmente capturados, sem a necessidade de causar nenhum tipo de ferimento neles"
Podemos rir dos macacos, pensando que são muito tolos. Mas em alguns aspectos nos comportamos como eles. Nos apegamos tanto a algumas coisas materiais que, mesmo sabendo que elas nos prendem e não nos deixam crescer espiritualmente, não conseguimos nos soltar.
********************************************
Na Parashá que lemos nesta semana, Lech Lechá, a Torá nos descreve alguns dos grandes testes aos quais Avraham foi submetido durante sua vida. No total foram 10 testes, e Avraham conseguiu passar com sucesso por todos. Ele demonstrou ao mundo sua gigantesca força espiritual e seus méritos nos ajudam, até hoje, a vencer nossos testes cotidianos.
A Parashá começa justamente com um dos testes, conforme está escrito: "E D'us disse para Avram: saia para você da sua terra, dos seus parentes, da casa do teu pai, e vá para a terra que Eu te mostrarei" (Bereshit 12:1). Aparentemente abandonar a casa e ir para outro lugar parece um teste fácil, já que muitos fazem isso. Muitas pessoas mudam de cidade ou até mesmo de país em busca de oportunidades de trabalho e melhores condições de vida. Mas refletindo um pouco, percebemos que para Avraham foi um grande teste de Emuná (fé). Ele não saiu de sua casa e da sua terra para buscar melhores condições. Ele já tinha seu sustento garantido e estava próximo da família. Ele saiu apenas porque D'us pediu para que ele abandonasse tudo.
Além disso, uma pessoa que sai por vontade de sua terra sabe aonde quer chegar, mas D'us não revelou para Avraham nem mesmo para onde ele iria. D'us o levaria para perto ou para longe? Quem seriam os habitantes deste novo lugar? De onde ele conseguiria seu sustento? Seria recebido de forma amigável ou teria problemas com os moradores? Eram muitas perguntas sem resposta. E apesar das dificuldades, Avraham venceu o teste e seguiu o comando de D'us sem questionamentos, como está escrito "E Avram pegou sua esposa Sarai e Lót, filho de seu irmão... e saíram para ir à terra de Knaan, e chegaram à terra de Knaan" (Bereshit 12:5).
Observando atentamente este último versículo, surge uma grande pergunta: a Torá foi escrita de uma maneira muito concisa, de forma que mesmo uma letra "sobrando" carrega consigo ensinamentos profundos. Mas este versículo parece fugir da regra, pois se Avraham saiu de Charan para ir a Knaan, por que a Torá precisou escrever que ele chegou a Knaan? Não é óbvio?
A resposta está no final da Parashá da semana passada, Noach. A Parashá terminou falando sobre o pai de Avraham, Terach, que era um grande idólatra. Terach, por algum motivo não revelado pela Torá, também quis sair de sua casa para ir à terra de Knaan, mas nunca chegou ao seu objetivo, como está escrito: "E pegou Terach seu filho Avram, e Lót, filho de Haran, filho do seu filho, e sua nora Sarai, esposa de seu filho Avram, e saiu com eles de Ur Kasdim para ir até a terra de Knaan. E chegaram até Charan e se estabeleceram lá" (Bereshit 11:31). Se Terach queria ir para a terra de Knaan, por que ele parou no meio do caminho, em Charan, e ficou? Além disso, este detalhe sobre a vida de Terach é aparentemente desnecessário. Que mensagem a Torá está nos transmitindo?
Fomos criados com um potencial espiritual. Nosso trabalho neste mundo, durante o tempo limitado que nos foi dado, é preencher este potencial e meritar a vida eterna no Mundo Vindouro. D'us criou o mundo material para nos dar, através do livre arbítrio, méritos por cada escolha correta. E para nos dar um livre arbítrio verdadeiro, D'us criou o ser humano composto por duas partes: uma alma, que busca a espiritualidade, e um corpo, que se conecta com o material. Nosso trabalho é fazer com que a alma tenha controle sobre o corpo, para que os dois juntos cheguem ao objetivo final: utilizar o mundo material como um meio para atingir o espiritual. A maneira de fazer isto é através das Mitsvót, que conectam o mundo material com o mundo espiritual. A maioria das Mitsvót envolve objetos físicos que, quando utilizados da maneira correta, criam espiritualidade.
Mas o que acontece quando deixamos o corpo comandar as escolhas? O corpo se desvia do caminho e começa a se afundar na busca incessante pelos desejos materiais, como um cavalo que sai da estrada em busca de comida e sombra quando percebe que seu condutor adormeceu. A pessoa se acomoda com os prazeres materiais e perde a vontade de realizar seu trabalho espiritual. Ela perde o foco de qual é o seu trabalho neste mundo temporário.
A Terra de Knaan, que futuramente foi chamada de Terra de Israel, representa o nosso máximo potencial espiritual, a nossa meta. Tanto Terach quanto Avraham saíram de suas casas, isto é, iniciaram sua jornada espiritual em direção ao seu objetivo. Mas a diferença entre Avraham e Terach estava na perseverança. Terach queria ir até o final, mas chegou a Charan e se acomodou. Avraham manteve o foco, ele saiu em direção à terra de Knaan e não parou até chegar lá.
Todos nós também passamos por este teste na vida, o teste de vencer o comodismo, de procurar a verdade, de cumprir nosso papel espiritual no mundo. Mas por que vemos tantos que não conseguem chegar? Por que vemos tantas pessoas vivendo vidas completamente sem sentido? Pois muitos pensam que para atingir o propósito é necessário abrir mão de todo o conforto e prazer. Imaginam que viver uma vida espiritual é algo pesado e, por isso, desistem antes de começar. Mas isto é um grande erro. As palavras com as quais D'us ordenou a Avraham sair de sua casa nos ensinam que nós temos apenas a ganhar seguindo os caminhos espirituais. D'us não falou para Avraham apenas "Lech" (saia), Ele disse "Lech Lechá" (saia para você), isto é, para o seu benefício, para que você cresça, para que você descubra seu potencial e aumente seus méritos. Tudo o que D'us nos pede é para o nosso próprio bem.
Terach, que parou no meio do caminho, morreu como mais um idólatra, equivocado nas suas crenças infundadas, enquanto Avraham foi até o final e se transformou em um dos pilares do mundo. Se hoje em dia mais de 75% do mundo é monoteísta, isto é consequência da perseverança de Avraham, que não se acomodou, não viveu em busca de conforto nem se enfraqueceu com as dificuldades que surgiram. E se o teste se repete, as escolhas também. Podemos nos esforçar e, como Avraham, dar nossa contribuição para o mundo, ou nos comportar como os macacos que, presos pelos seus desejos, já não conseguem mais ser livres de verdade.
SHABAT SHALOM
R' Efraim Birbojm
http://ravefraim.blogspot.com/
Gn.12:1-17:27, Is. 40:27-41:16, Rm. 4:1-25