sábado, 28 de setembro de 2013

SHMINI ATSERET, SIMCHÁ TORÁ E PARASHÁ BERESHIT 5774


 

“Antônio era um homem muito simples, e vivia em uma pequena cidade do interior cujo único acesso era uma estradinha de terra. Por isso, os habitantes daquela cidade muito raramente saiam de lá. Antônio nunca tinha ido para a cidade grande, nunca havia visto um edifício, não conhecia energia elétrica e nem ruas asfaltadas. Certa vez seu primo José, que morava na capital, o convidou para passar as férias em sua casa. Antônio ficou deslumbrado com toda aquela tecnologia, não sabia nem para onde olhar.

Mas Antônio ficou realmente sem palavras quando José o levou para um supermercado. Acostumado com a pequena mercearia da cidade onde morava, que não tinha mais do que 20 itens, ele percorria deslumbrado os corredores, observando a enorme quantidade diferentes de produtos e comidas. Até que ele viu uma lata onde estava escrito “café instantâneo”. José explicou que era só derramar um pouco do conteúdo daquela lata na água quente e imediatamente um delicioso café ficava pronto. Antônio ficou maravilhado. Para ele preparar um café significava colher os grãos, separar a sujeira, moer, jogar água fervendo e coar. Agora era só abrir uma lata e pronto! Também descobriu que existia leite em pó e até mesmo purê de batatas em pó. Bastava jogar um pouco de água quente e estava tudo pronto. Mas o auge do espanto de Antônio foi quando ele pegou na mão um pote de plástico e deu um grito. Quando José correu para ver qual era o problema, percebeu que Antônio segurava nas mãos um pote onde estava escrito: ‘talco em pó para bebês’. Balançando a cabeça, ele repetia:

- Não pode ser, não pode ser! Olha só o que são os avanços tecnológicos! Ter um bebê era algo tão trabalhoso. Eram 9 meses de ansiedade, de enjoos, de dificuldades. E agora, é só jogar água quente e pronto...”

A tecnologia avançou muito nos últimos séculos, principalmente depois da Revolução Industrial. Com um pouco de água quente podemos te comidas e bebidas preparadas instantaneamente. Mas para fazer um homem de verdade é preciso muito mais do que água quente. É preciso muito esforço e dedicação para que possamos construir um verdadeiro Mentch (ser humano de valores).

********************************************

Nesta 4ª feira de noite (25/09) começa a festa de Shmini Atseret. Apesar de vir logo em seguida de Sucót, é uma festa independente, com um grande significado espiritual. Durante os sete dias de Sucót, um total de 70 Korbanót (sacrifícios) eram oferecidos no Beit Hamikdash (Templo), para cada um dos 70 povos do mundo. Então vem a festa de Shmini Atseret, que literalmente significa “O oitavo, o dia da parada”, como se D’us estivesse nos pedindo, depois de uma festa aberta a todos os povos, para ficarmos com Ele mais um dia, mas desta vez em particular.

E junto com Shmini Atseret (fora de Israel, no dia seguinte) nossos sábios fixaram a festa de Simchá Torá, o dia em que terminamos o ciclo anual da leitura da Torá, com a leitura da última Parashá, Vezót Habrachá, que traz as Brachót (Bençãos) que Moshé deu para cada uma das tribos de Israel. E neste dia de tanta alegria para o povo judeu imediatamente recomeçamos a leitura da Torá, lendo um pequeno trecho do primeiro livro, Bereshit, para mostrar nosso amor pela Torá e a nossa vontade de recomeçar o ciclo de leitura semanal.

No Shabat lemos a primeira Parashá da Torá, Bereshit, que começa com a criação do mundo e do primeiro ser humano, Adam Harishon (Adão). Adam teve dois filhos, Cain e Hevel (Abel), e os dois resolveram oferecer Korbanót para D’us. O Korban de Hevel foi aceito, mas o Korban de Cain não, pois Hevel ofereceu a D’us o melhor do que tinha, enquanto Cain ofereceu apenas restos. Dominado pela inveja, Cain cometeu um crime hediondo e assassinou seu próprio irmão. Como castigo, D’us decretou que Cain vagaria pela Terra por toda a vida e nunca teria uma moradia fixa.

Quando a Torá nos ensina que D’us castigou alguém por uma transgressão cometida, não é como uma pessoa que, em um acesso de fúria, castiga por vingança. Um dos princípios da Torá é que qualquer punição Divina é aplicada sob medida, para despertar a pessoa e também como uma forma de conserto do erro cometido. Se a pessoa aceita as condições do castigo, com o tempo ela consegue consertar seu erro. Foi por isso que D’us decretou que Cain deveria viver em um exílio constante, para que o assassinato de Hevel tivesse um conserto.

Porém, vemos através do comportamento de Cain que ele decidiu não aceitar o castigo imposto por D’us. Imediatamente após ter recebido o decreto de exílio constante, a Torá nos descreve a atitude de Cain: “E (Cain) construiu uma cidade” (Bereshit 4:17). Explica o Ramban (Nachmânides) que esta não foi a única cidade que Cain construiu. Ao contrário, ele constantemente tentava construir cidades, mas elas imediatamente colapsavam por causa da maldição que ele havia recebido de D’us. Porém, ao invés de aprender com o colapso de suas cidades e aceitar o decreto Divino, Cain continuou desafiando D’us e tentou, em vão, construir cidades durante toda sua vida.

Esta característica negativa de Cain, de se rebelar contra os decretos Divinos e fugir do conserto dos seus erros, se propagou também para os seus descendentes. Quando Adam Harishon transgrediu, ele recebeu a maldição de que com o suor do seu rosto ele conseguiria seu sustento. Através do árduo trabalho da terra Adam e seus descendentes conseguiriam consertar o erro cometido. Porém, a Torá nos descreve que os descendentes de Cain preferiram evitar o trabalho da terra e buscaram outras formas de conseguir o seu sustento, como está escrito: “E Adá deu à luz Yaval, e ele foi o primeiro dos que moram em tendas e criam gado. E o nome do seu irmão era Yuval, e ele foi o primeiro a tocar lira e harpa. E Tsilá também deu à luz Tuval-Cain, que afiou todos os instrumentos de cobre e ferro” (Bereshit 4:20-22).

Apesar destes versículos aparentemente não acrescentarem nenhuma informação importante, na verdade eles são a chave para entender o desenvolvimento das primeiras gerações da humanidade. Quando Yuval escolheu ser um pastor de ovelhas, ele estava fugindo da determinação de D’us de que o ser humano deveria trabalhar a terra. Yuval foi o primeiro que desenvolveu a arte da música, demonstrando o quanto a humanidade tentou escapar, através das distrações e entretenimento, do peso e da dor que era trabalhar a terra. E finalmente Tuval Cain foi o primeiro a desenvolver armas, o que possibilitou ao ser humano conseguir seu sustento dominando os outros, outra maneira de fugir da maldição de trabalhar a terra.

Portanto, percebemos claramente que o início do desenvolvimento da humanidade foi marcado pelo desejo de evitar cumprir a vontade Divina, fugindo do árduo trabalho da terra, atividade que consertaria o erro de Adam, e optando por estilos de vida mais fáceis. Os avanços, ao invés de ajudarem o ser humano a consertar seus erros, fizeram com que ele caísse ainda mais. A consequência de a humanidade ter se desenvolvido ignorando a vontade de D’us foi que em poucas gerações os valores morais estavam tão corrompidos que D’us precisou mandou sobre o mundo o Grande Dilúvio.

O único que não fugiu do decreto de D’us foi Noach (Noé), como está escrito no final da Parashá: “Ele (Lamech) teve um filho, e chamou seu nome de Noach, dizendo: ‘este nos trará descanso do nosso trabalho e do esforço das nossas mãos, da terra que D’us amaldiçoou’” (Bereshit 5:29). Rashi, comentarista da Torá, explica que Noach inventou diversas ferramentas agrícolas que facilitaram o trabalho da terra e aumentaram muito a produtividade. Noach foi o primeiro que não tentou fugir da maldição que D’us mandou para Adam, ao contrário, ele encarou as dificuldades e aceitou sobre si o trabalho da terra. Ao contrário do resto da humanidade, a vida de Noach foi dedicada a cumprir a vontade de D’us e, por isso, ele não foi atingido pela degradação moral da sociedade em que vivia. Isto explica por que Noach foi o único que encontrou graça aos olhos de D’us e sua vida foi poupada no Dilúvio.

Explica o Rav Yehonasan Guefen que há uma lição muito importante para nossas vidas que aprendemos deste ensinamento da Torá. Os primeiros passos do desenvolvimento da civilização humana foram baseados no desejo de evitar cumprir a vontade Divina. Podemos olhar para as primeiras gerações da humanidade e criticá-los por este grande erro, mas a verdade é que infelizmente isto também se aplica à nossa geração. Nossos dias são marcados pelos imensos avanços tecnológicos em várias áreas: saúde, comunicação, automação residencial, transporte, entre outras, que trazem muitos benefícios diretos e indiretos para nossas vidas. Porém, usamos estes avanços para nos aproximar de D’us ou para fugir das nossas responsabilidades? Por exemplo, o celular foi criado para que as pessoas pudessem se comunicar melhor, em qualquer lugar e a qualquer momento. Mas como utilizamos o celular? Deixamos ligado durante o cinema ou o teatro, irritando as outras pessoas. Falamos alto no meio da rua, revelando detalhes de nossas vidas para quem quiser escutar. Destruímos a nossa privacidade ao não desligar nossos “smartphones” nem mesmo para dormir. Nos conectamos ao Whatsapp e ao Skype enquanto nos desconectamos das nossas famílias. Se pararmos para refletir, os danos que o celular causa para nossas vidas, por causa do mau uso, certamente superam os benefícios que ele traz. Isto não quer dizer que não podemos utilizar os benefícios da tecnologia, mas precisamos estar sempre atentos para que a tecnologia novamente não nos afaste da vontade de D’us, como aconteceu com as primeiras gerações.

Portanto, a Parashá Bereshit é muito mais do que uma descrição da história da humanidade e sua evolução. A Parashá nos ajuda a entender como D’us se comunica conosco e como Ele ajuda, mesmo através de castigos, a humanidade a consertar os erros cometidos. Os ensinamentos, apesar de terem sido transmitidos há mais de 3.300 anos, continuam sendo muito atuais. Os avanços tecnológicos podem nos fornecer cafés instantâneos, “smartphones” e satélites. Mas a única coisa que pode fazer com que as pessoas se tornem seres humanos melhores é a vontade de fazer o que é certo, apesar das dificuldades que surgem no caminho.

CHAG SAMEACH e SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm
 
GÊNESIS 1:1-6:8, Is.42:5-43:l0, Jo. 1: 1-15

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

CORAGEM PARA ASSUMIR NOSSOS ERROS - YOM KIPUR 5774


“Yom Kipur estava chegando e Fernando, com um enorme remorso por seus terríveis erros cometidos durante o ano, entrou na sala do seu rabino para perguntar o que poderia fazer para se arrepender por suas transgressões de maneira sincera e verdadeira. Mas como tinha muita vergonha de assumir que ele mesmo era o transgressor daqueles erros terríveis, ele mentiu para o rabino e disse:

- Rabino, eu tenho um amigo que cometeu transgressões terríveis e quer consertar seus atos. Mas ele está tão constrangido e envergonhado que não teve coragem de vir pessoalmente falar com você. Por isso ele me pediu para que eu viesse em seu lugar e pedisse seus conselhos.

Então ele começou a descrever todas as terríveis transgressões que havia feito, com uma satisfação silenciosa de poder consertar seus erros sem precisar assumi-los. Mas o rabino, que era muito sábio e experiente, logo percebeu as intenções de Fernando e quis ensinar-lhe uma lição. Com um sorriso no rosto, ele disse:

- Fernando, antes de tudo, diga para o seu amigo que ele é um grande tolo. Ele não precisava ter mandado você no lugar dele. Ele poderia ter vindo pessoalmente e, para não se sentir envergonhado, bastaria ter dito que um amigo o havia enviado para falar comigo...”

“Podemos fugir das nossas responsabilidades. Mas não podemos fugir das consequências por termos fugido das nossas responsabilidades” (Lord Stamp)

********************************************
Neste ano o dia mais sagrado do calendário judaico, Yom Kipur, o “Dia do Perdão”, coincide com o Shabat. No dia de Yom Kipur nos desconectamos do nosso lado físico para podermos nos conectar com força total ao nosso lado espiritual. A partir do por do sol de sexta-feira até a saída das estrelas do sábado de noite não podemos comer nem beber, não nos banhamos nem passamos óleos ou cremes no corpo, não usamos sapatos de couro e estamos proibidos de ter relações maritais.

Porém, não apenas Yom Kipur é um dia especial de conexão espiritual. Os dias entre Rosh Hashaná e Yom Kipur são chamados de “Asseret Yemei Teshuvá” (os 10 dias de Teshuvá). A Teshuvá é o retorno aos caminhos corretos, a volta à nossa espiritualidade. Todo aquele que errou pode se arrepender e decidir não voltar mais a errar. Explica o Rambam (Maimônides), nas “Leis de Teshuvá” do seu livro “Mishnê Torá”, que apesar de podermos nos arrepender durante todo o ano por nossas transgressões, nestes dias a nossa Teshuvá é mais efetiva e recebe uma ajuda especial dos Céus.

Mas observando com cuidado estas “Leis de Teshuvá” do Rambam, há algo que nos chama a atenção. No quinto capítulo ele começa a descrever o livre arbítrio que foi dado ao ser humano, como está escrito: “A possibilidade foi dada nas mãos de cada ser humano. Se ele quiser se inclinar para o lado bom e ser um Tzadik (Justo), a possibilidade está em suas mãos. E se ele quiser se inclinar para o lado mal e ser um Rashá (malvado), a possibilidade está em suas mãos”. Isto desperta duas perguntas. Em primeiro lugar, qual a conexão entre o livre arbítrio e a Teshuvá? E em segundo lugar, o livre arbítrio é a base do nosso relacionamento com o Criador do mundo. Sem o livre arbítrio, isto é, a possibilidade de escolher o bem ao invés do mal, não poderia haver um sistema de castigo e recompensa. Então, se é um conceito tão importante e fundamental, por que o Rambam esperou até as “Leis de Teshuvá” para falar sobre o livre arbítrio, e não mencionou nada na primeira parte, chamada “Yesodei HaTorá” (Os Fundamentos da Torá)?

Há também algo nas “Leis de Teshuvá” que se choca com um dos conceitos mais aceitos pela psicologia moderna. Existe hoje uma forte crença de que a maioria dos nossos comportamentos negativos são apenas sintomas de problemas maiores que estão embutidos na nossa psique. Portanto, muitos psicólogos buscam nas experiências passadas dos pacientes as causas que geraram um mau comportamento ou atitudes inadequadas. Por exemplo, uma pessoa que está sempre caluniando e desprezando os outros pode ser um indicativo de baixa autoestima, enquanto uma personalidade abusiva pode se manifestar em uma pessoa que foi abusada no passado.

Porém, ao observarmos as “Leis de Teshuvá” do Rambam, parece que ele ignora completamente este conceito. O Rambam se alonga em 10 capítulos para descrever como deve ser a Teshuvá completa. Por exemplo, ele descreve que a pessoa que cometeu erros deve abandonar seus maus atos, sentir remorso e arrependimento, expressar verbalmente suas transgressões (Vidui) e se comprometer a não voltar a cometer os mesmos erros. Porém, as motivações e experiências passadas do transgressor, que podem ser os verdadeiros motivadores dos seus erros, não são mencionadas. Será que o Rambam discorda da psicologia moderna? Por que a raiz dos nossos erros não é levada em consideração nas “Leis de Teshuvá”?

Explica o Rav Yochanan Zweig que a resposta está em uma interessante passagem do Talmud (Torá Oral). O Talmud (Yoma 22b) questiona por que Shaul Hamelech (Rei Shaul), que cometeu apenas uma transgressão, foi punido com um decreto de Morte Celestial, além de a monarquia ter sido retirada para sempre de sua família, enquanto David HaMelech (Rei David), que cometeu duas transgressões, apesar de ter sido castigado por seus erros, permaneceu com a monarquia em sua família e não recebeu um decreto de Morte Celestial? A pergunta fica ainda mais difícil quando observamos quais foram os erros que cada um deles cometeu. David errou no caso de Bat Sheva e também errou ao ter contado o povo judeu de forma direta, algo que é explicitamente proibido e que causou a morte de 70 mil judeus. Estes dois erros parecem ser muito mais pesados do que o erro de Shaul HaMelech, que recebeu o comando de D’us de exterminar o povo de Amalek e destruir todos os seus pertences, mas teve misericórdia do rei Agag e poupou sua vida, além de deixar vivo o gado de Amalek, um ato aparentemente bem mais leve, uma simples omissão. Então por que David foi tratado de maneira preferencial, se seus erros parecem ter sido muito mais graves?

A resposta esta na diferença de comportamento entre Shaul HaMelech e David HaMelech depois dos erros cometidos. Quando o profeta Natan repreendeu David após o seu erro com Bat Sheva, ele respondeu: “Eu pequei contra D’us” (Shmuel II 12:13). Shaul também, quando repreendido pelo profeta Shmuel, confessou: “Eu pequei, pois transgredi as palavras de D’us” (Shmuel I 15:24). Aparentemente não há nenhuma diferença entre o arrependimento dos dois. O problema está na continuação das palavras de Shaul HaMelech: “Pois eu temi o povo e cedi às suas reivindicações”. Enquanto David simplesmente assumiu que pecou, Shaul tentou encontrar desculpas que justificassem seu erro, atribuindo-o à pressão feita pelo povo. Ao tentar buscar uma desculpa, Shaul estava tirando de si a responsabilidade pelo seu erro. Pelo fato do elemento mais importante da Teshuvá ser a aceitação da responsabilidade completa pelos nossos erros, ao invés de ficar buscando em quem colocar a culpa, o arrependimento de David HaMelech foi aceito como uma Teshuvá completa, enquanto o arrependimento de Shaul foi incompleto.

Este é o grande problema de tentar conectar nossos maus comportamentos atuais com experiências passadas, pois normalmente nos leva a tirar de nós a responsabilidade pelos nossos erros. Quando estamos fazendo Teshuvá pelas transgressões cometidas, a Torá quer que mantenhamos o nosso foco apenas nos nossos atos atuais, pois devemos aceitar a responsabilidade completa por nossas transgressões. Qualquer tentativa de identificar os nossos erros como meras manifestações de experiências passadas é, na realidade, uma tentativa de diminuir a nossa culpa.

É por isso que o Rambam deixou o assunto de livre arbítrio para ser tratado apenas nas “Leis de Teshuvá”, pois é a habilidade de escolher o certo ao invés do errado que nos torna completamente responsáveis pelos nossos atos. Traços de caráter e experiências passadas podem aumentar o nosso desafio, mas não afeta nossa habilidade de fazer as escolhas corretas. Podemos ter certas propensões e inclinações naturais, mas isto não tira nosso livre arbítrio. Por isso ninguém pode atribuir seus erros às suas dificuldades passadas e traumas, pois, em última instância, a pessoa tem a força e o discernimento de fazer a escolha correta.

Portanto, o judaísmo não discorda do conceito utilizado na psicologia. A análise psicológica da pessoa com problemas e dificuldades pode ajudar a definir os desafios enfrentados por ela e a melhor forma de encaminhá-la. Mas se for usada para tirar da pessoa a responsabilidade por seus atos, então se torna algo muito negativo e fará com que esta característica ruim se enraíze cada vez mais, pois ao invés de se esforçar para mudar, a pessoa buscará sempre desculpas para justificar seus maus atos.

Toda cura vem de D’us, tanto física quanto espiritual. Nos Asseret Iemei Teshuvá, e em especial no dia de Yom Kipur, D’us nos ajuda a retirarmos todos os obstáculos e barreiras que nos dificultam fazer o que é correto. Mas antes temos que fazer a nossa parte. Certamente o principal caminho para que Hashem retire todas as dificuldades é assumirmos, sem buscar desculpas, as nossas próprias culpas.

GMAR CHATIMÁ TOVÁ
SHABAT SHALOM e TSOM KAL

Rav Efraim Birbojm
Lv 16:1-34, (Maftír -Nm. 29:7-11), Is. 57:14-58:14, 2 Co. 5:10-21
Yom Kipur - Dia do Perdão