sexta-feira, 24 de abril de 2015

CRESCENDO COM AS DIFICULDADES - PARASHIÓT TAZRIA E METZORÁ 5775

"Depois de um dia de caminhada pela floresta, um sábio retornava para sua casa, seguindo por uma longa estrada. De repente, escutou um fraco gemido vindo de trás de uma árvore. Foi verificar e descobriu um homem caído, pálido e com uma grande mancha de sangue ao seu lado. Ele tinha sido ferido e já estava quase inconsciente. Com muita dificuldade, o sábio carregou-o até sua casa e tratou do ferimento. Uma semana depois, já curado, o homem contou que havia sido assaltado e que, ao reagir, fora ferido por uma faca. Disse também que conhecia seu agressor, e que não descansaria enquanto não se vingasse dele. Quando estava pronto para partir, o homem disse ao sábio:

- Agradeço muito por você ter salvado a minha vida. Mas preciso partir, pois quero encontrar aquele que me atacou, e garanto que vou fazer com que ele sinta a mesma dor que eu senti.

- Vá e faça o que você deseja - respondeu o sábio, olhando fixamente para o homem - Entretanto, devo informar que você me deve três mil moedas de ouro, como pagamento pelo tratamento que eu lhe fiz.

O homem ficou assustado. Explicou que era um simples trabalhador, que não tinha como pagar aquele valor tão alto. Ao escutar aquelas palavras, o sábio olhou com serenidade para aquele homem e disse:

- Se você não pode pagar pelo bem que recebeu, com que direito quer cobrar o mal que lhe fizeram? Antes de cobrar alguma coisa, procure saber quanto você deve. Não faça cobrança pelas coisas ruins que acontecem em sua vida, pois a vida pode lhe cobrar tudo de bom que ela lhe ofereceu".

Quando passamos por sofrimentos, ao invés de gastar nossas energias reclamando ou procurando culpados, o principal é buscarmos formas de crescer e aprender com as dificuldades.
***************************************************
Nesta semana lemos duas Parashiót juntas, Tazria e Metzorá. O ponto em comum das duas Parashiót é que elas falam sobre as diversas formas de "Negaim", manchas que apareciam na pele, nas roupas e nas paredes das casas das pessoas, e eram manifestações físicas de uma doença espiritual chamada "Tzaráat". Explicam os nossos sábios que desde a destruição do Beit Hamikdash (Templo Sagrado) as leis que envolvem os "Negaim" não se aplicam mais. Então por que estas Parashiót são relevantes para nós? Quais lições podemos aprender de uma doença espiritual com manifestações físicas que já não se aplicam aos nossos dias?

Explica o Sefer HaChinuch (Mitzvá 169) que toda a impureza que atingia uma pessoa que estava com Tzaráat era consequência de algumas transgressões específicas que a pessoa havia cometido, entre elas o Lashon Hará (denegrir o próximo, causando sofrimento, danos físicos ou psicológicos). Portanto, o sofrimento da Tzaráat não era uma coincidência, vinha diretamente de D'us e era direcionado para aquele que havia transgredido. A pessoa contaminada com a Tzaráat precisava passar por um doloroso processo de isolamento, durante o qual ela poderia aproveitar a oportunidade para refletir sobre o seu comportamento e reconhecer seu erro. Em outras palavras, a conduta correta e ideal de alguém que era atingido pelos sofrimentos dos "Negaim" era refletir e consertar seu erro, que era a verdadeira causa dos sofrimentos.

Apesar de não termos mais o sofrimento dos "Negaim", esta lição da Parashá é sempre atual, pois somos afligidos com vários outros tipos de sofrimentos e dificuldades em nossas vidas. Podem ser doenças, problemas no trabalho, falta de dinheiro e falta de Shalom Bait (paz na família). Os "Negaim" nos transmitem a mensagem de que os sofrimentos não são uma coincidência, ao contrário, são uma forma de D'us se comunicar conosco.

Isto fica ainda mais claro quando a Parashá ensina sobre um tipo específico de "Negaim" chamado "Netek", que atacava a cabeça e a barba das pessoas, como está escrito: "Um homem ou uma mulher que tiverem neles uma "Nega" (mancha), em seu couro cabeludo ou em sua barba" (Vayikrá 13:29). A pessoa contaminada com o "Netek" passava por uma semana de isolamento e depois era novamente examinada pelo Cohen. Se a mancha não tivesse se espalhado, então a área em torno dela deveria ser raspada. A Torá acrescenta um detalhe muito interessante: havia uma proibição de raspar o local que estava contaminado com o "Netek".

O Sefer HaChinuch (Mitzvá 170) explica que esta proibição da Torá de raspar o local da contaminação do "Netek" traz uma mensagem profunda. A Torá está nos ensinando que devemos aceitar os sofrimentos e dificuldades que D'us nos manda. Não devemos "dar um coice" nos sofrimentos, nem pensar que temos a habilidade de simplesmente anulá-los e escondê-los das pessoas. Por que esta mensagem é tão importante para nós? Pois a tendência natural do ser humano é se comportar de maneira equivocada em relação aos sofrimentos. Há dois comportamentos equivocados, que são simbolizadas pela transgressão de raspar o local do "Netek". Em primeiro lugar, temos a tendência de "dar um coice" em D'us por causa dos sofrimentos que nos atingem, questionando a Justiça Divina. A famosa pergunta "Por que justamente comigo?" é uma demonstração de que não aceitamos a vontade de D'us e não confiamos na perfeição da Sua Justiça. E mesmo que a pessoa não culpe D'us, ela pode ainda escorregar em outro tipo de erro: a tentativa de remover os sofrimentos sem aprender a verdadeira lição que aquele sofrimento trouxe consigo. Muitas vezes a pessoa se preocupa com o que os outros vão pensar, e acaba focando mais em esconder dos outros seus sofrimentos do que na real oportunidade de crescimento. A proibição de raspar o lugar onde havia o "Netek" nos ensina que não devemos "enfiar a cabeça na terra" quando passamos por alguma dificuldade, ao contrário, devemos nos esforçar para crescer com esta dificuldade.

Mas qual a forma de encontrar, através dos sofrimentos, o erro que cometemos? Na época do Beit Hamikdash era mais fácil, pois quando a pessoa tinha Tzaráat, ela já sabia quais transgressões poderiam estar associadas. Mas como nós podemos, através dos nossos sofrimentos, descobrir o que é necessário consertar? Como saber que tipo de mensagem D'us está nos transmitindo através de cada sofrimento que passamos na vida?

Nas épocas em que havia profecia, os profetas podiam nos transmitir com segurança até mesmo quais eram os detalhes que necessitavam de algum tipo de conserto. Atualmente é impossível ter certeza absoluta de qual o erro necessita ser consertado através apenas da reflexão. Mas nossos sábios explicam que D'us nos dá sempre uma dica do que é necessário trabalhar. Os sofrimentos que D'us nos manda em geral são "Midá Kenegued Midá" (Medida por medida), isto é, a forma como somos castigados é um "lembrete" de D'us sobre o erro que cometemos. O Talmud (Sotá 9b) traz alguns exemplos desta regra espiritual. Shimshon (Sansão) transgrediu com seus olhos, e foi punido através da cegueira, causada pelos seus maiores inimigos, os Plishtim. Avshalom, filho de David HaMelech, sentia muito orgulho de seu cabelo, e justamente seu cabelo foi a causa de sua morte, pois ficou enroscado nos galhos de uma árvore e possibilitou que ele fosse alcançado e morto pelos seus perseguidores. Por isso é recomendado que as pessoas procurem sempre a causa que pode estar de alguma maneira conectada com o sofrimento que ela está passando. Por exemplo, alguém que está com dor de dente deve procurar que tipo de erro ela pode estar cometendo na área da fala, pois é muito provável que exista alguma conexão entre a dor de dente e algum mau uso da fala. Porém, mais importante do que adivinhar exatamente qual é a transgressão "correta" que devemos consertar é o fato de estarmos procurando o que consertar. Por exemplo, se naquele caso em que a pessoa estava com dor de dente por causa das mentiras que estava falando, mas equivocadamente começa a se cuidar mais para não falar Lashon Hará, ela alcançou o principal propósito dos sofrimentos, que é tentar crescer com eles.

Explica o Rav Yehonasan Gefen que nosso Yetzer Hará (má-inclinação) nos induz a errar até mesmo em áreas que parecem ser "kasher". Por exemplo, muitas pessoas acabam procurando "Segulót" (práticas que tentam trazer sucesso em certas áreas) para acabar com dores e sofrimentos. Mas será que isto não vai contra a lição transmitida pelo Sefer HaChinuch, de que não devemos nos esforçar meramente para anular nossos sofrimentos, sem nenhum reflexão e busca de nossos erros? Até a prática de pedir Brachót (Bençãos) a grandes rabinos da geração também deve ser utilizada com muito cuidado, sempre sem esquecer de que o principal objetivo de um sofrimento é nos fazer crescer. As "Segulót" e Brachót são condutas corretas sempre que vêm acompanhadas de reflexão e tentativas de corrigir eventuais erros associados ao sofrimento pelo qual estamos passando.

Esta é a lição dos "Negaim": os sofrimentos não são coincidência e D'us não erra Seus cálculos. Se estamos passando por alguma dificuldade, devemos olhar como uma oportunidade de crescimento e uma chance de consertar algo que estávamos errando. Pode não ser simples passar o obstáculo, mas é o momento de desenvolver um potencial que ainda não havíamos atingido.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm
Lv l2:1-13:59, 2 Rs. 4:42·5:19, Mt. 8: 1-4 Mechubarot
 
Lv14:1-15:33, 2 Rs. 7:3-20, Rm. 6: 8-23

sábado, 18 de abril de 2015

MEDIDA POR MEDIDA - PARASHÁ SHEMINI 5775

O enterro do Rav Pinchas Yossef Rabinovitz zt"l foi um dos mais marcantes da cidade de Petach Tikva. Não apenas por causa dos milhares de estudantes de Torá e grandes rabinos que saíram às ruas para dar o último adeus àquele grande Tzadik (Justo), mas também por um fato inusitado que aconteceu. Ao chegar no cemitério, muitos perceberam que naquele momento também estava acontecendo o enterro de uma senhora que havia falecido aos 103 anos. Mas diferente da multidão que acompanhava o enterro do Rav Rabinovitz, o grupo que vinha acompanhar o enterro daquela senhora era muito pequeno, pois ela tinha poucos familiares e a maioria das suas amigas já havia falecido. Porém, por algum motivo, aquela senhora meritou que milhares de pessoas, a grande maioria estudantes de Torá e grandes rabinos, acompanhassem seu enterro, pois os dois enterros aconteceram exatamente no mesmo horário e no mesmo local.

Mais do que isso, revelou-se que ela vivia na cidade de Haifa, e lá ela seria enterrada. Na última hora, quando os preparativos do enterro já tinham começado, alguém se lembrou que o marido daquela senhora havia falecido há dezenas de anos, mas ninguém sabia onde ele estava enterrado e se ela havia adquirido o jazigo ao lado dele. Foi iniciada uma verdadeira "operação de busca" em todos os cemitérios de Israel, com todos os funcionários da Chevra Kadisha se esforçando ao máximo, sem descanso, até que finalmente descobriram o túmulo dele no cemitério de Petach Tikva. A maior surpresa foi que, apesar de aquela senhora não ter adquirido o jazigo ao lado do marido, e já terem passado dezenas de anos, o lugar ao lado dele era um dos poucos jazigos do cemitério que ainda estavam vagos. Muitos dos que acompanharam o enterro começaram a se interessar em saber qual havia sido o mérito daquela mulher para receber tanta honra no momento do seu falecimento e ter seu lugar "guardado" ao lado de seu marido por tantos anos. Ao conversar com parentes daquela senhora, tudo foi se esclarecendo.

Há mais de 80 anos, quando aquela senhora tinha pouco mais de 20 anos, chegou aos ouvidos dela a triste notícia de que a Yeshivá "Torah Vadaat", que havia sido fundada naquela época nos Estados Unidos, estava passando por enormes dificuldades financeiras. Era uma época de crise, e juntar dinheiro para Yeshivót era uma tarefa muito difícil, que exigia uma dedicação sobre-humana. Mesmo assim, sem se intimidar com as dificuldades, aquela senhora decidiu começar a juntar dinheiro para a Yeshivá, batendo de porta em porta, até conseguir uma enorme quantia, suficiente para tirar a Yeshivá daquela situação difícil e dar aos jovens estudantes tudo o que eles necessitavam para manter seu estudo de Torá.
Quem ainda se lembrava daquele ato tão grande daquela senhora? Tanto tempo já havia se passado que talvez nem ela mesma se lembrava. Mas D'us, que nos faz tantas bondades, se lembrava, pois Ele nunca se esquece de nada. Como ela havia permitido, com o esforço de suas mãos, que centenas de jovens pudessem se dedicar ao estudo de Torá, ela teve o mérito de ter um grupo tão grande de estudantes de Torá acompanhando seu enterro para um último adeus. 
**************************************************** 
Nesta semana lemos a Parashá Shemini, que começa descrevendo a cerimônia de inauguração do Mishkan (Templo Móvel). Por sete dias consecutivos Moshé montou o Mishkan, fez todos os serviços e depois o desmontou. Somente no oitavo dia ("Shemini", em hebraico) o Mishkan foi permanentemente erguido e Moshé consagrou Aharon e seus filhos como os Cohanim (sacerdotes) do povo judeu. A partir daquele momento os serviços do Mishkan seriam feitos apenas pelos Cohanim. E assim o versículo descreve o primeiro Korban (sacrifício) oferecido por Aharon durante a inauguração do Mishkan: "E ele (Moshé) disse para Aharon: pegue um bezerro para o (Korban) Chatat" (Vayikrá 9:2).
O Korban Chatat era oferecido para expiar erros cometidos de forma não intencional. Por que Aharon foi comandado a oferecer justamente um bezerro? O Rav Shlomo Itzchaki zt"l (França, 1040 - 1105), mais conhecido como Rashi, explica que D'us estava mandando uma mensagem para Aharon, de que aquele Korban Chatat, um bezerro, vinha justamente para expiar a participação de Aharon no terrível pecado do bezerro de ouro. Apesar de Aharon ter participado da construção do bezerro de ouro com as intenções mais puras, tentando apenas ganhar tempo até que Moshé descesse do Monte Sinai, mesmo assim ele acabou causando, de forma não intencional, que o povo transgredisse com mais alegria. Por isso ele recebeu parte da culpa, e naquele momento D'us quis ressaltar que aquele bezerro oferecido vinha para consertar o erro cometido com o outro bezerro.

Mas por que D'us revelou para Aharon sobre sua expiação desta maneira, associando o bezerro do Korban com o bezerro de ouro? Para nos ensinar uma de Suas características mais predominantes: o "Midá Kenegued Midá" (Medida por Medida), através da qual D'us se comporta com os seres humanos exatamente da mesma maneira que eles se comportaram, tanto para o bem quanto para o mal.

Explica o Rav Ytzchak Zilberstain shlita que enxergar esta característica de D'us é muito importante para o nosso trabalho espiritual, pois permite ao ser humano entender porque ele está recebendo dos céus uma bondade ou um castigo. O ser humano se esquece de seus atos, mas D'us não se esquece de nada, como afirmam os nossos sábios: "Reflita sobre três coisas e você não chegará a pecar. Saiba o que existe acima de você: um Olho que vê, um Ouvido que escuta, e todos seus atos estão registrados em um Livro" (Pirkei Avot 2:1). D'us não se esquece de dar uma recompensa por cada Mitzvá feita e por cada bom ato, mesmo que a pessoa já nem se lembra mais deste ato. E, de maneira similar, Ele não se esquece de dar um castigo por cada transgressão feita e cada mau ato.
Este entendimento nos ajuda a fugir de um erro conceitual cometido por um grande número de pessoas. Muitas vezes não entendemos o conceito de que D'us é Misericordioso, e achamos que isto significa que D'us "fecha os olhos" e simplesmente ignora nossos erros e transgressões. Alguns chegam a acreditar que não existe castigo para as nossas transgressões pelo fato de D'us ser Misericordioso. Mas isto vem de uma falha de compreensão sobre o que significa a Misericórdia Divina. Se a Misericórdia simplesmente anulasse qualquer transgressão que cometemos, onde estaria a justiça? Seria correto que todas as Mitzvót fossem lembradas, mas as transgressões fossem simplesmente esquecidas por D'us? Isto seria "Emet" (Verdade)?

Então como funciona a Misericórdia Divina, sem contradizer a característica da Justiça? Explica o Rav Moshe Chaim Luzzato (Itália, 1707 - Israel, 1746) que quando uma pessoa faz um erro, ela deveria ser castigada imediatamente, em um momento de "fúria espiritual" de D'us e sem chances de seu erro ser consertado. Isto quer dizer que, de acordo com a justiça estrita, as consequências de uma transgressão seriam imediatas e trágicas. A Misericórdia faz com que o castigo da pessoa seja postergado para um momento em que a "fúria espiritual" de D'us tenha passado, dando a chance dela se arrepender e consertar seu erro, minimizando as consequências espirituais. Mas o conceito de que D'us se esquece de uma transgressão ou perdoa mesmo sem a pessoa se arrepender não é uma realidade espiritual. Quando alguém comete uma transgressão, ela fica guardada, mesmo que seja por muito tempo, para ser cobrada no momento certo.

Nossos sábios ensinam que a característica de bondade de D'us é muito maior do que a Sua característica de justiça. Isto quer dizer que, se D'us não esquece nenhuma transgressão, mesmo as menores e mais insignificantes, certamente Ele também não esquece nenhum bom ato que fazemos. Muitas vezes não recebemos nenhum tipo de retribuição pelos bons atos imediatamente, mas D'us deixa guardado para nos recompensar quando Ele decidir que é o momento ideal, de acordo com Seus cálculos perfeitos.

Precisamos internalizar este importante conceito da "Midá Keneged Midá" de D'us, pois isto nos ajuda em nosso crescimento espiritual. Quando entendemos que tudo está sendo "anotado", cada pequeno detalhe, e que D'us não se esquece de nada, então nos tornamos mais cuidadosos, tanto para não cometermos transgressões quanto para sermos mais ágeis e aproveitarmos cada oportunidade de fazer uma Mitzvá ou um bom ato.

Parte do nosso trabalho de Emuná (fé) é saber que todos os nossos bons atos serão recompensados, sem exceção. Mesmo quando não enxergamos imediatamente os bons frutos dos nossos atos, nada é esquecido nos mundos espirituais. Algumas vezes leva dias, outras vezes meses, pode ser que leve até anos. Mas no final a bondade de D'us será revelada, e veremos como cada pequeno bom ato valerá uma enorme recompensa.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm
Lv 9:1-11:47, 2 Sm. 6:1-7:17

sexta-feira, 10 de abril de 2015

AMOR RECÍPROCO - SHVII DE PESSACH 5775

"O Rav Yosef Chaim Shneur Kotler zt"l (Bielorússia, 1918 - EUA, 1982), filho de um dos gigantes de Torá dos Estados Unidos, o Rav Aharon Kotler zt"l (Bielorússia, 1891 - EUA 1962), ficou noivo de uma moça pouco antes de começar a 2ª Guerra Mundial. Por causa da guerra eles foram separados antes de conseguirem se casar, e ficaram muitos anos sem nenhum contato.

Quando a guerra terminou, a noiva do Rav Yossef Chaim, que havia ficado muito doente após tantos sofrimentos nas mãos dos nazistas, escreveu para seu noivo isentando-o do compromisso de se casar com ela. Ela argumentou em sua carta que estava muito doente e não conseguiria ser uma boa esposa. O Rav Yossef Chaim respondeu para ela:

- Você já perdeu seu pai, perdeu todo o seu dinheiro e perdeu sua saúde. Você acha realmente que eu vou deixar você perder também o seu noivo?"

Este é o nível de comprometimento exigido pela Torá entre um marido e sua esposa: chegar ao ponto de um estar mais preocupado com o outro do que consigo mesmo. E este é um modelo do nível que também devemos almejar na nossa conexão com D'us. 
****************************************************

Nesta 5ª feira de noite (09/04) começa o "Shvii de Pessach", um novo Yom Tov. Diferente do que ocorre em Sucót, quando apenas o primeiro dia é Yom Tov, em Pessach também o sétimo dia é Yom Tov. Por que? Pois neste dia aconteceu mais um grande milagre: a abertura do Mar Vermelho, que permitiu aos judeus atravessarem o mar como se fosse terra seca e escaparem dos egípcios que os perseguiam no deserto. O impacto de mais este milagre foi tão grande que os judeus fizeram um cântico de agradecimento a D'us, chamado "Shirat HaYam" (Cântico do Mar).

Mas também há outro Cântico que está conectado com Pessach: o Shir Hashirim (Cântico dos Cânticos), escrito por Shlomo Hamelech (Rei Salomão). Algumas pessoas leem o Shir Hashirim depois do Seder de Pessach, e também é costume ler o Shir Hashirim em público na sinagoga durante o Shabat de Pessach. Entendemos que o Shirat HaYam está conectado com Pessach, pois é parte central da nossa libertação do Egito, mas qual é a conexão entre o Shir Hashirim e a Festa de Pessach? E por que sua leitura foi estabelecida justamente no Shabat?

A chave para começarmos a entender está em uma leitura mais atenta dos versículos do Shir Hashirim, que revelam que a narrativa não é escrita a partir de uma perspectiva clara. Os versículos continuamente se alternam entre a narração na perspectiva de D'us e na perspectiva do povo judeu. O Midrash (parte da Torá Oral) traz uma explicação para esta "irregularidade", afirmando que há três casos na Torá onde o relacionamento entre o povo judeu e D'us foi expresso através de um "Shir" (Cântico). O primeiro é o "Shirat HaYam", entoado por Moshé e pelo povo judeu quando eles emergiram sãos e salvos do Mar Vermelho, e que mostra a perspectiva do povo judeu em seu relacionamento com D'us. O segundo é o "Haazinu", que retrata o relacionamento do povo judeu com D'us através da história e é escrito sob a perspectiva de D'us. E o terceiro é o Shir Hashirim, que de acordo com o Midrash é uma combinação de três Cânticos, pois "shir" significa "um cântico" e "shirim" significa "dois Cânticos", o que resulta em três Cânticos. Quais são os três Cânticos dentro do Shir HaShirim? Um cântico é quando D'us expressa Seus "sentimentos" em relação ao povo judeu, um segundo cântico é quando o povo judeu expressa seus sentimentos em relação à D'us, e um terceiro cântico é quando são expressados os sentimentos combinados do povo judeu e de D'us. O Midrash também afirma que o Shir Hashirim supera todos os Cânticos dedicados a D'us. Mas afinal, o que há de tão especial no Shir Hashirim?

Também se prestarmos atenção nas Tefilót de Shabat, notaremos algo interessante. Enquanto a Amidá (reza silenciosa) dos Yamim Tovim é a mesma para Shacharit, Minchá e Arvit, no Shabat cada Tefilá tem um formato diferente. Por exemplo, no Arvit dizemos "Ata Kidashta" (Você nos santificou) e "Veyanuchu ba" (descansarmos nela), no feminino. No Shacharit dizemos "Ysmach Moshé" (Moshé se alegrou) e "Veyanuchu bo" (descansarmos nele), no masculino. Já em Minchá dizemos "Atá Echad" (Você é um) e "Veyanuchu bam" (descansarmos neles), no plural. Por que estas diferenças? E o que cada uma das Tefilót do Shabat nos ensina?

Explica o Rav Yohanan Zweig que D'us se relaciona com o povo judeu de diversas maneiras. Algumas vezes é um relacionamento de Pai e filho, outras vezes é de Rei e súdito, e algumas vezes é de Senhor e escravo. Mas o Shir HaShirim, mais do que qualquer outro livro da Torá, foca em um relacionamento adicional: o relacionamento íntimo de um Marido com sua esposa.

De acordo com a Halachá (Lei Judaica), o casamento é composto de três estágios. O primeiro estágio é o "Kidushin" (noivado), quando o noivo dá para a noiva um objeto de valor e, caso aceite, ela fica proibida a partir daquele momento de se relacionar com qualquer outro homem do mundo. O segundo estágio é o "Nissuin" (casamento), a partir do qual o noivo assume a responsabilidade financeira do bem estar de sua noiva. Neste estágio é feita uma grande festa, e no final da festa os convidados acompanham os noivos, cantando e dançando, até a sua nova casa. O terceiro estágio é o "Yichud" (isolamento), no qual o noivo e a noiva ficam sozinhos em uma área isolada, guardados por duas testemunhas que garantem a privacidade completa deles. Atualmente estes três estágios são feitos em uma única cerimônia.

O Shir HaShirim é o Cântico que expressa a intimidade do relacionamento entre D'us e o povo judeu, enquanto a espiritualidade do Shabat é o cenário que favorece este relacionamento. As três Seudót (refeições) e as três Tefilót do Shabat correspondem aos três estágios do casamento. No Arvit dizemos "Atá Kidashta" (Você nos santificou) e de noite temos a Mitzvá da Torá de fazer Kidush, refletindo o estágio de Kidushin. Em Shacharit dizemos "Ysmach Moshé" (Moshé se alegrou), que reflete a natureza festiva do Nissuin, e é marcado pela refeição festiva do dia. Em Minchá dizemos "Atá Echad VeShimchá Echad, Umi Keamchá Israel Goi Echad Baaretz" (Você é Um, e Seu nome é Um, e quem é como Israel, um povo único no mundo), que descreve a Unicidade de D'us e Seu relacionamento único e especial com o povo judeu, uma conexão eterna, que reflete o estágio do Yichud. Até mesmo as Zemirot (canções) de Shabat refletem estes três estágios do casamento. As músicas cantadas durante o dia têm um ritmo muito mais animado do que as músicas cantadas durante a noite, refletindo o caráter mais festivo do Nissuin. Já as músicas cantadas na Seudá Shlishi, após a reza de Minchá, têm um tom mais voltado à música ambiente, algo mais sublime. E a própria Tefilá de Minchá também é feita em um tom menor, refletindo o caráter de intimidade.

E por que a diferença de gêneros nas Tefilót de Shabat? Explica o Rav Yohanan Zweig que o Kidushin causa um efeito muito maior sobre a noiva, pois ela fica proibida de se casar com outros homens, e por isso a Tefilá de Arvit está escrita em uma linguagem feminina. Já o Nissuin causa um impacto muito maior sobre o noivo, pois ele passa a estar financeiramente responsável pela noiva, e por isso a Tefilá de Shacharit está escrita em uma linguagem masculina. O Yichud representa a união do noivo e da noiva, e por isso a Tefilá de Minchá está escrita em uma linguagem no plural, pois o relacionamento entrou no estágio em que ambas as partes são igualmente afetadas, já que elas se tornaram uma só.

Os três Cânticos também refletem os três estágios do casamento. O "Shirat HaYam" é o Kidushin, pois foi composto no momento da abertura do Mar Vermelho, o início da nossa jornada através do deserto, descrita pelo Profeta Yirmiahu como o início do casamento do povo judeu com D'us, como está escrito: "Eu lembro da bondade da sua juventude, do amor dos seus dias de noiva; você Me seguiu no deserto, em uma terra não semeada" (Yirmiahu 2:2). O "Haazinu" foi recitado antes da iminente entrada do povo judeu na Terra de Israel, e o Midrash compara a lamentação de Moshé, que não poderia entrar junto com o povo judeu, com o sofrimento de um pai que não consegue ver sua filha entrando na Chupá (que é parte do "Nissuin"). Já "Shiur HaShirim" contém ambos os aspectos anteriores, isto é, o Kidushin e o Nissuin, mas também contém o Cântico entoado por ambas as partes, o povo judeu e D'us, em uníssono. É este terceiro aspecto do Shir HaShirim, que descreve o nível de intimidade do relacionamento entre o povo judeu e D'us, que levou nossos sábios a afirmarem que, enquanto os outros Cânticos são "Kodesh" (Sagrados), o Shir HaShirim é "Kodesh Kodashim".

Este amor recíproco entre o povo judeu e D'us pode ser percebido nos diferentes nomes da Festa de Pessach. Enquanto o povo judeu chama esta festa de "Pessach", a Torá chama esta festa de "Chag HaMazót". Por que esta diferença? Enquanto nós louvamos a D'us por Ele ter nos salvado do Egito, e em especial por ter poupado a vida dos nossos primogênitos ao saltar nossas casas durante a Praga da Morte dos Primogênitos (Pessach vem do hebraico "Passach", que significa "saltar"), D'us nos louva por termos confiado Nele ao ponto de irmos ao deserto, um lugar inóspito e sem alimentos nem água, levando apenas algumas Matzót que não tiveram tempo de fermentar. Este é o amor verdadeiro entre D'us e o povo judeu, quando cada um se preocupa antes com o bem estar do outro. Por isso o Shir Hashirim é tão adequadamente lido durante o Shabat de Pessach, a Festa na qual revivemos a criação deste vínculo eterno de amor recíproco entre D'us e o povo judeu.

Pessach Kasher Ve Sameach e Shabat Shalom

Rav Efraim Birbojm
Lv 9:1-11:47, 2 Sm. 6:1-7:17

sexta-feira, 3 de abril de 2015

ROTULANDO AS PESSOAS - PESSACH 5775

 
Assim a história de Pessach teria sido relatada pela CNN ou pelo New York Times:

"O ciclo de violência entre os judeus e os egípcios continua no Egito, sem nenhuma perspectiva de que seja alcançada em breve a paz na região. Depois de oito pragas lançadas pelos judeus, que acabaram com a infraestrutura egípcia e destruíram a vida de civis egípcios inocentes, os judeus lançaram uma nova ofensiva esta semana, sob o nome de "Praga da Escuridão". Os jornalistas ocidentais ficaram especialmente enfurecidos com este ataque. "É simplesmente impossível conseguir informar quando você não pode ver um centímetro à sua frente", reclamou um frustrado repórter da CNN. "Escutei de uma fonte egípcia confiável ​​que, aproveitando a intensa escuridão, os judeus estão matando milhares de egípcios, homens, mulheres e crianças inocentes. A palavra desta fonte é uma evidência sólida o suficiente para mim".

Enquanto os judeus afirmam que as pragas se justificam e são uma resposta à dura escravidão imposta pelos egípcios, o Faraó, líder egípcio, refuta esta alegação: "Se apenas as pragas parassem, não haveria mais escravidão. Nós só queremos viver livre das pragas. É o direito de toda sociedade". O porta-voz da ONU argumenta que a escravidão é justificável, tendo em vista a superioridade dos armamentos dos judeus, que lhes foram fornecidos pela superpotência D'us. "O uso da força pelos judeus é algo completamente desproporcional", afirma ele.

Os europeus estão particularmente enfurecidos com a mais recente ofensiva judaica. "A agressão judaica deve ser interrompida para que seja alcançada a paz na região. Os judeus deveriam voltar para a escravidão, para o bem do resto do mundo", afirmou, irritado, o presidente francês. Até mesmo vários judeus concordam. Adam Shapiro, um judeu, afirma que, embora a escravidão não seja necessariamente uma coisa boa, ela é consequência das pragas, e quando as pragas acabarem, assim também a escravidão terminará. "Os judeus foram longe demais com as pragas, como gafanhotos e epidemia, que praticamente destruíram a economia egípcia", lamenta o Sr. Shapiro. "Os egípcios são realmente pessoas muito agradáveis, e o Faraó é um tipo de pessoa adorável uma vez que você começa a conhecê-lo de verdade", descreve Shapiro.

Os Estados Unidos estão exigindo que Moshé e Aharon, os líderes judeus, continuem a negociar com o Faraó. Moshé argumenta que o Faraó fez diversas promessas de libertar o povo judeu, mas logo em seguida as quebrou, impondo uma escravidão ainda mais dura. Porém, o Secretário do Departamento de Estado dos EUA condena a última ofensiva dos judeus. "O Faraó não pode ser responsabilizado, pois ele não tem controle completo sobre os capatazes egípcios", afirma ele. "Os judeus devem voltar à mesa de negociações, e não vão conseguir nada através do uso da força das pragas".

A última rodada de violência vem junto com uma nova proposta de paz saudita. "Se apenas os judeus desistirem de sua língua, mudarem seus nomes para nomes egípcios, trocarem suas roupas e deixarem de ter filhos do sexo masculino, as nações árabes se inclinarão para uma paz duradoura com eles", declarou o príncipe herdeiro saudita".

Qualquer semelhança infelizmente não é mera coincidência... (Adaptado do Site do Aish HaTorá) 

******************************************

Nesta semana o Shabat coincide com a Festa de Pessach, também conhecida como "Zman Cheruteinu" (Época da nossa Liberdade). Pessach é a festa na qual revivemos a saída do Egito, quando D'us revelou Sua força através de incríveis milagres e sinais. Um dos pontos centrais da Festa de Pessach é o Seder, no qual reunimos nossas famílias em volta da mesa e, durante toda a noite, nos sentimos parte da saída do Egito. Recontamos com alegria a história do povo judeu, desde a idolatria que havia na época dos patriarcas, passando pelos terríveis momentos da escravidão egípcia e culminando com a milagrosa salvação de D'us.

Mas como os egípcios puderam escravizar os judeus poucos anos após Yossef, um dos filhos de Yaacov, ter se tornado o vice-rei do Egito e, através de seus sábios conselhos, ter salvado todos os egípcios da fome? Como os egípcios, que deviam tanto reconhecimento ao povo judeu, tiveram coragem de nos escravizar? A resposta está nos versículos: "E ele (Faraó) disse ao seu povo: E eis que este povo, os Filhos de Israel, é mais numeroso e mais forte do que nós. Venham, vamos agir com ele com sabedoria, para que ele não se torne mais numeroso do que nós e, caso ocorra uma guerra, ele se junte aos nossos inimigos e guerreie contra nós, e nos expulsem da terra" (Shemot 1:9,10). De acordo com estes versículos, o Faraó teve medo que os judeus se tornariam uma perigosa ameaça à soberania do Egito, e por isso decidiu fazer algo para proteger seu povo.

O Faraó escravizou o povo judeu agindo com sabedoria. Ele bolou um plano para fazer a escravidão acontecer aos poucos. Primeiro ele convidou o povo judeu para fazer parte da construção do Egito, em um clima de união nacional. Os judeus quiseram aproveitar a oportunidade de fazer parte da sociedade egípcia e trabalharam com muita empolgação. Nesta primeira fase até mesmo o Faraó participou, para dar o exemplo de cidadania. Mas lentamente os egípcios foram abandonando o trabalho, restando apenas os judeus. O serviço começou a deixar de ser pago, até que aos poucos se transformou em uma brutal escravidão.

Este episódio é relembrado na Hagadá, que lemos durante o Seder de Pessach. E assim está escrito: "Vayareiu HaMitzrim (Os egípcios nos fizeram mal), como está escrito: 'Venham, vamos agir com eles com sabedoria' ". Mas esta passagem levanta um grande questionamento: por que, para retratar que os egípcios nos fizeram mal, a Hagadá cita justamente o versículo que descreve a estratégia do Faraó para iniciar a escravidão com sabedoria, se aparentemente a única intenção dele foi combater a iminente ameaça contra a segurança de seu povo? Por que especificamente isto foi visto como um ato maldoso contra o povo judeu, se houveram outros atos muito mais cruéis, como jogar os bebês recém-nascidos no Rio Nilo?

O Rav Yohanan Zweig responde através de um conceito interessante da psicologia humana. Ele explica que o ser humano está sempre à procura de métodos para classificar diferentes condições e comportamentos. Por que fazemos isto? Pois quando identificamos e rotulamos um problema, ganhamos mais confiança de que este problema será efetivamente resolvido. Mas infelizmente acabamos utilizando este conceito de maneira equivocada, trazendo consequências negativas. Muitas vezes, em nossa pressa de identificar uma situação na qual estamos tendo alguma dificuldade para controlar, acabamos rotulando esta situação de maneira equivocada e criamos em nossas cabeças um problema que não existe.

Foi exatamente isto o que aconteceu no Egito. O Faraó se preocupou com o crescimento do povo judeu e uma possível traição, que colocaria o Egito em perigo. Porém, isto certamente era algo completamente infundado, como foi demonstrado através da intensa participação dos judeus quando foram convocados para construir o Egito. Ao invés de lidar com um potencial problema e buscar alternativas para evitá-lo, o Faraó preferiu rotular os próprios judeus como sendo o "problema egípcio". Como os egípcios tinham uma grande admiração pelos judeus, por toda a contribuição de Yossef, parte da tática do Faraó foi iniciar uma virulenta campanha antissemita, que pregava que os judeus eram maus e queriam destruir o país. A propaganda antissemita foi muito eficiente, a ponto dos egípcios se alegrarem ao perseguir e causar sofrimentos aos judeus.

O termo "Vayareiu", que significa "nos fizeram mal", também pode ser lido como "nos transformaram em maus". Não apenas os egípcios nos fizeram mal ao nos escravizar, mas eles fizeram pior do que isso, eles nos rotularam como um "povo problema". Os sofrimentos físicos aos quais os judeus foram submetidos durante a escravidão duraram apenas o tempo em que eles estiveram no Egito, e atingiram apenas os que estavam presentes naquele momento. Mas o rótulo que o Faraó nos colocou, de que somos um "povo problema", nos assombra até os dias de hoje. Esta foi certamente a maior maldade do Faraó contra o povo judeu. Novamente sofremos duramente durante o Holocausto, quando a propaganda nazista bombardeou na cabeça dos educados alemães a mentira de que os judeus eram os vilões que causavam todos os problemas da Alemanha. E infelizmente a história se repete atualmente, com a "demonização" de Israel e dos judeus, que são vistos como "o problema do mundo" mesmo quando são vítimas da violência daqueles que, em nome da "paz", na verdade querem nos varrer do mapa.

Esta constante repetição das perseguições contra o povo judeu em diversas épocas históricas também está profetizada nas palavras da Hagadá: "Pois não apenas um se levantou para nos exterminar, mas em cada geração e geração se levantam para nos exterminar". Porém, esta profecia termina com um consolo, uma garantia de que não devemos temer: "E D'us nos salva das mãos deles". Todo momento em que estamos conectados com D'us e com Suas Mitzvót, temos a garantia de que Ele nos protegerá de nossos inimigos e daqueles que querem nos caluniar e nos tornar maus aos olhos do mundo. Este é um dos principais propósitos de Pessach, lembrar que, apesar de não faltarem inimigos e dificuldades em nossas vidas, podemos nos apoiar em D'us para nos proteger e garantir que mais uma geração estará celebrando o Seder de Pessach. Quem sabe, ainda neste ano, em Jerusalém espiritualmente reconstruída.

SHABAT SHALOM e PESSACH KASHER VESAMEACH

Rav Efraim Birbojm
Ex. 12:21-51 (Maftír – Nm. 28:16-25)