sexta-feira, 26 de outubro de 2012

DEFEITOS E QUALIDADES - PARASHÁ LECH LECHÁ 5773

Certo dia Carlinhos chegou da escola irritado. Dudu, um colega de classe, havia "pisado na bola" com ele. Ao perceber que o filho estava incomodado, o pai de Carlinhos chamou-o para conversar e perguntou se estava tudo bem. Carlinhos desabafou, dizendo que não aguentava mais Dudu, pois ele tinha muitos defeitos. O pai de Carlinhos explicou que todos têm defeitos e por isso precisamos focar nas qualidades dos outros, mas Carlinhos não queria aceitar, pois achava que não tinha defeitos assim tão grandes como os de Dudu. Então o pai ensinou, com um exemplo, uma importante lição para Carlinhos:

- Sabe, filho, as pessoas nem sempre conseguem enxergar seus próprios defeitos, mas em relação aos outros sempre enxergamos com claridade os pontos fracos. Sabe com o que nos assemelhamos? Com pessoas caminhando em fila indiana, cada um carregando uma sacola na frente e outra atrás. Na sacola da frente nós colocamos as nossas qualidades, enquanto na sacola de trás guardamos os nossos defeitos. Durante a jornada pela vida, mantemos os olhos fixos nas virtudes que possuímos, pois estão presas em nosso peito. Ao mesmo tempo, reparamos impiedosamente em todos os defeitos do companheiro que está na nossa frente, pois estão pendurados nas suas costas, diante dos nossos olhos. Por isso nos julgamos melhores que os outros, pois não conseguimos enxergar a sacola de virtudes do próximo e nem perceber a gigantesca sacola de defeitos que carregamos nas nossas próprias costas.

Neste dia Carlinhos conseguiu aprender que quando estamos ocupados demais procurando os defeitos dos outros, deixamos de perceber e consertar os nossos próprios defeitos.
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Ensina o Pirkei Avót (Ética dos Patriarcas): "Dez vezes Avraham Avinu foi testado, e passou por todos eles" (Avót 5:4). E a Parashá desta semana, Lech Lechá, descreve alguns dos testes pelos quais Avraham passou durante sua vida, começando com o teste de "Lech Lechá" (Vá para você), no qual D'us pediu para que Avraham saísse da comodidade e segurança de sua casa, abandonasse seus amigos e parentes e fosse para uma terra estranha. E segundo nossos sábios, os testes pelos quais Avraham Avinu foi submetido foram gradativamente se tornando mais difíceis, iniciando com situações mais "cotidianas", como a fome que assolou a terra de Knaan e obrigou Avraham a ir para o Egito, e culminando com o teste de sacrificar o seu próprio filho, Yitzchak.

O Rav Yerucham Leibovitz, baseado neste ensinamento dos nossos sábios, faz uma pergunta muito interessante: se D'us queria testar Avraham, e os testes foram gradativamente ficando mais difíceis, por que Ele não mandou diretamente o teste do sacrifício de Yitzchak, que era o mais difícil de todos? Ao vencê-lo, Avraham provaria de uma só vez ser capaz de passar todos os desafios e não precisaria passar pelo sofrimento dos testes anteriores. Então por que mesmo assim D'us mandou 10 testes?

Uma das explicações é que cada teste foi dando para Avraham a força necessária para vencer o próximo teste. Se Avraham tivesse sido submetido diretamente ao teste do sacrifício de Yitzchak, talvez ele não tivesse conseguido juntar as forças para vencê-lo. Mas como os testes vieram de forma gradual, Avraham foi crescendo aos poucos, até conseguir vencer um dos testes mais difíceis que um ser humano já conseguiu superar.

Isto nos ensina um importante fundamento, que nos ajuda a vencer nossas dificuldades cotidianas: D'us não manda um teste para o qual não estamos preparados. Não existe nenhuma situação na qual D'us nos coloca e que não temos as ferramentas necessárias para superá-la. Portanto, se estamos passando por uma dificuldade, certamente é porque temos capacidade de vencer este teste. Avraham nos ensinou que podemos encontrar dentro de nós a força para vencer todos os testes da vida. Basta termos tranquilidade e a Emuná (fé) de que D'us nos ajudará a vencer todos os desafios.

Também aprendemos o quanto é uma grande tolice reclamar das dificuldades que surgem em nossa vida, pois são testes que D'us está nos mandando para que possamos desenvolver novas ferramentas, para um dia alcançarmos a perfeição. Cada teste nos dá mais força, nos dá mais habilidades, nos prepara melhor para vencer na vida. Em lugares onde não há dificuldades, também não há crescimento. É interessante perceber que em locais como a Suíça, onde não há analfabetismo, roubo ou pobreza, também praticamente não há pessoas que se destacam, nem na área dos esportes nem nas áreas intelectuais.

Mas por que é tão difícil chegar à perfeição? Por que tentamos tanto e não conseguimos? Pois o ser humano é uma criatura extremamente complexa, composta por diversas tendências, algumas delas contraditórias. Por exemplo, uma pessoa por ser muito tranquila, mas ao mesmo tempo extremamente sovina. Outra pode ser muito caridosa, mas explosiva e sem paciência. E para dificultar ainda mais, em geral focamos nos nossos pontos fortes e esquecemos os nossos defeitos. Por isso, mesmo quando pensamos que estamos crescendo, na verdade estamos apenas refinando nossos pontos fortes, mas nossos pontos fracos, nos quais deveríamos nos dedicar mais, acabam ficando para trás. Por isso a maioria das pessoas acaba ficando longe da perfeição.

Baseado neste conceito, o Rav Yerucham Leibovitz responde que não seria suficiente D'us mandar para Avraham apenas o último teste. Ele mandou os 10 testes para Avraham para testar todas as tendências que havia dentro dele. Mesmo que Avraham passasse pelo teste do sacrifício de Yitzchak, apesar de ser o teste mais difícil, não necessariamente ele passaria pelo teste de abandonar a sua casa ou de não reclamar no momento em que houve fome na terra de Knaan, pois são áreas completamente diferentes. Somente quando Avraham foi testado em 10 diferentes áreas de sua vida, e passou em todos os testes, é que ele demonstrou realmente seu nível elevado. Se passasse apenas no teste do sacrifício de seu filho, teria apenas demonstrado domínio sobre certo aspecto de suas características, mas não o domínio sobre todas elas, como mostrou nos 10 testes que venceu.

Esta segunda resposta também nos ensina uma importante lição para a vida. Uma das características mais desprezíveis do ser humano é o orgulho. O livro "Orchót Tzadikim" diz que D'us considera o orgulhoso uma pessoa abominável. De onde vem o orgulho? Do sentimento que somos melhores que os outros por causa de alguma característica em que nos destacamos. Alguns se acham superiores por terem mais sabedoria, outros se acham mais merecedores de honra por terem conseguido acumular mais dinheiro e bens materiais. Mas este sentimento de superioridade é uma grande tolice, pois como somos compostos de diversas características, podemos ser melhores que os outros em algumas delas, mas certamente somos muito piores em outras. Cada pessoa tem suas qualidades e defeitos, todos têm seus pontos fortes e fracos. O orgulhoso esquece que tem defeitos e que precisa trabalhar muito na vida para consertar seus próprios erros. A verdade é que, se o tempo que o orgulhoso gasta procurando os defeitos dos outros fosse utilizado para que ele procurasse e consertasse seus próprios defeitos, certamente já teria chegado à perfeição.

Somente quando aprendermos a enxergar os nossos próprios defeitos e a buscarmos apenas as qualidades nos outros, nos tornaremos aptos, como Avraham Avinu, a vencer todos os testes da vida.

SHABAT SHALOM

R' Efraim Birbojm
Gn.12:1-17:27, Is. 40:27-41:16, Rm. 4:1-25

domingo, 21 de outubro de 2012

MILAGRES

"Havia um alpinista que sempre buscava superar seus limites e vencer novos desafios. Depois de muitos anos de preparação, ele decidiu que havia chegado o momento de escalar o monte mais alto do mundo. Como não encontrou pessoas dispostas a encarar tamanho perigo, ele resolveu escalar sozinho, apesar de isso aumentar ainda mais a dificuldade da escalada.
Ele começou a subida, e estava tão obstinado que não sentiu o tempo passar. Foi ficando cada vez mais escuro, mas ele decidiu não parar para acampar. Queria seguir escalando, pois estava decidido a atingir o topo o mais rápido possível.
Como o céu estava completamente encoberto, quando escureceu de vez, a noite caiu como um breu nas alturas da montanha, e não era possível enxergar nem mais um centímetro diante dos olhos, não se via absolutamente nada. Tudo era uma grande escuridão. Mas o alpinista decidiu que continuaria mesmo assim. Quando chegou a um trecho que era uma verdadeira "parede", sua mão escorregou e ele caiu. Caía a uma velocidade vertiginosa, e somente sentia a terrível sensação de ser sugado pela força da gravidade. Ele continuava caindo e, nesses angustiantes momentos, passaram por sua mente todos os momentos que ele já havia vivido em sua vida.
De repente, ele sentiu um puxão forte, que quase o partiu pela metade. Como todo alpinista experimentado, ele havia cravado estacas de segurança com grampos a uma corda comprida, e a corda estava fixa em sua cintura. Nesses momentos de silêncio, com seu corpo ferido suspenso pela corda, em uma completa escuridão, não restou para ele nada além de gritar para D'us e pedir Sua ajuda. De repente uma voz vinda do céu falou:
- Você realmente acredita que Eu posso te salvar?
- Eu tenho certeza, D'us – respondeu o alpinista.
- Então corte a corda que te mantém pendurado.
Houve um momento de silêncio e reflexão. O homem se agarrou mais ainda à corda e refletiu que, se a largasse, morreria. A queda seria fatal, não havia chance de sobreviver. Ele acreditava em D'us, mas não podia largar aquela corda.
Dois dias depois uma equipe de resgate encontrou um alpinista morto, congelado, agarrado com as duas mãos a uma corda, a dois metros do chão!!!"

Vivemos em um mundo onde parece que estamos sujeitos às forças da natureza, que elas têm o controle. Mesmos cientistas conceituados preferem acreditar em acasos, em probabilidades ínfimas. Este bloqueio são como cordas, que nos deixam amarrados, a poucos metros da verdade. Cortem as suas cordas.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

ESTE É O SEU DESTINO - PARASHÁ NOACH 5773

Ricardo era um rapaz esforçado, investia muito no seu crescimento espiritual. Fixava horas de estudo de Torá todos os dias e procurava sempre refletir sobre a vida e a importância do tempo, nosso bem mais precioso. Mas foi quase por acaso que ele recebeu uma das maiores lições sobre o valor da vida.

Certa vez havia falecido um parente distante de Ricardo e ele decidiu ir ao cemitério para cumprir a importante Mitzvá de "Levaiat Hamet" (acompanhar o morto até a sepultura). Como ele não conhecia o caminho até o cemitério, programou seu GPS e foi seguindo as instruções.

Durante todo o caminho, o GPS foi dando as coordenadas: "Vire à direita", "Vire à esquerda", "Siga em frente". Quando o carro entrou no cemitério, Ricardo ficou arrepiado. O GPS, em alto e bom som, anunciou: "VOCÊ CHEGOU AO SEU DESTINO"...

Quando lembramos que estamos aqui neste mundo apenas por um tempo limitado, aproveitamos mais a nossa vida, damos valor para cada segundo. A única certeza que temos na vida é que um dia a vida acaba. Então vale a pena aproveitar cada segundo do nosso tempo.
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Nesta semana lemos a Parashá Noach, que nos ensina sobre o dilúvio que destruiu toda a humanidade. Mas apesar de toda a corrupção e imoralidade que haviam se institucionalizado no mundo, Noach e sua família se mantiveram íntegros e encontraram graça aos olhos de D'us, sendo salvos, junto com um par de cada animal da Terra, em uma gigantesca arca. Durante 40 dias e 40 noites D'us mandou uma forte chuva sobre a Terra, acabando com toda a vida que havia ficado para fora da arca.

Quando D'us anunciou que mandaria um dilúvio, avisou para Noach: "Eu estabelecerei Meu pacto com você, e você deve vir até a arca – você, seus filhos, sua esposa e as esposas dos seus filhos com você" (Bereshit 6:18). Por que D'us, ao comandar Noach, separou os homens das mulheres? Explica o comentarista Kli Yakar que D'us estava proibindo os seres humanos de terem relacionamentos íntimos durante os dias em que estivessem dentro da arca, pois eles não poderiam se ocupar dos seus próprios prazeres enquanto o resto da humanidade estava passando por terríveis sofrimentos.

Após um ano fechados na arca, D'us comandou que eles saíssem: "Saia da arca, você e sua esposa, seus filhos e as esposas de seus filhos junto com você" (Bereshit 8:16). Desta vez D'us comandou Noach a sair com sua esposa, e os filhos com suas esposas, para comunicar que a proibição das relações maritais não mais se aplicava. Ao contrário, agora eles precisavam repovoar o mundo, que estava completamente desolado e vazio.

Porém, alguns versículos depois a Torá descreve a saída de Noach da arca: "E saiu Noach, e seus filhos, e sua esposa e as esposas dos seus filhos com ele" (Bereshit 8:18). Se D'us já havia novamente permitido as relações maritais, por que a Torá descreve que os casais saíram da arca separados, como se a proibição das relações íntimas ainda existia?

Explica o Kli Yakar que Noach não queria mais ter filhos. O ser humano precisa encontrar um sentido no que faz na vida. Uma pessoa não passaria o dia empilhando lixo, mesmo de maneira remunerada, se soubesse que de noite alguém pegaria a pilha e espalharia tudo de novo, fazendo com que o trabalho recomeçasse do zero no dia seguinte, pois ninguém consegue fazer um trabalho que é vão e sem sentido. Foi isso o que Noach sentiu naquele momento, ele pensou que mesmo se trouxesse descendentes ao mundo, logo alguma geração não muito distante se corromperia e um novo dilúvio destruiria novamente o mundo inteiro. Então por que se esforçar se logo tudo seria destruído? Noach ficou firme em sua decisão até que D'us confortou-o, jurando que nunca mais traria um dilúvio ao mundo, como está escrito: "Nunca novamente toda a carne será destruída pelas águas do dilúvio, e nunca novamente haverá um dilúvio para destruir o mundo" (Bereshit 9:11).

Mas surge uma grande pergunta filosófica. Sabemos que tudo o que D'us faz é por bondade, mesmo quando Ele precisa nos castigar de maneira severa. É como um pai que, ao ver seu filho colocando a própria vida em risco, lhe dá um castigo duro para convencê-lo a não fazer mais o mesmo erro. Segundo este fundamento, por que D'us mandou o dilúvio? Pois o mundo havia se corrompido tanto que Ele achou necessário, pelo bem da humanidade e das futuras gerações, reconstruir o mundo. Então como D'us poderia jurar que nunca mais mandaria um dilúvio para o mundo? E se a humanidade novamente se corrompesse e se desviasse do caminho correto, D'us não mandaria mais o "conserto" necessário?

Explicam nossos sábios que o mundo "pós-dilúvio" não foi reconstruído da mesma maneira como era antes. D'us fez mudanças para que a humanidade nunca mais se corrompesse naquele nível. Em certo nível, D'us tirou um pouco do nosso livre arbítrio, para nos impedir de cair tanto quanto caiu a geração de Noach. Mas que mudanças foram estas e como nos ajudam a não cair?

A primeira mudança foi na diminuição da expectativa de vida dos seres humanos, como está escrito: "E disse D'us: Meu espírito não continuará a julgar o homem para sempre, uma vez que ele não é mais do que carne. Seus dias serão 120 anos" (Bereshit 6:3). Até a geração de Noach as pessoas viviam mais de 700 anos, mas D'us decretou que a expectativa de vida do ser humano iria gradativamente diminuir, até chegar ao limite de 120 anos. Por um lado, um tempo de vida longo pode ser utilizado para acumular sabedoria e espiritualidade, mas se for mal utilizado, resulta em tempo suficiente para cometer muitas bobagens na vida. Com a diminuição do tempo de vida, as pessoas ficaram menos propensas a desenvolver um nível muito grande de maldade. Além disso, o medo da morte, um fenômeno que passou a ser algo mais próximo do ser humano, ajudou as pessoas a se concentrarem no que é principal e deixar de lado o que é secundário.

A segunda mudança foram alterações climáticas na Terra, como está escrito: "Enquanto a Terra existir, a época do plantio e da colheita, frio e calor, verão e inverno, dia e noite, não cessarão" (Bereshit 8:22). Antes do dilúvio, todos os dias eram dias de primavera, com um clima ameno e agradável. Não havia estações do ano nem temperaturas extremas. Neste clima agradável e constante, o tempo parecia não passar. As mudanças de estação nos ajudam a perceber, de uma maneira mais clara, que o tempo está correndo. Nos ajuda a refletir que a vida é curta, que precisamos aproveitar as oportunidades ou elas passam e nós as perdemos, talvez para sempre. Além disso, quando tudo está tranquilo, a tendência é as pessoas se acomodarem. As dificuldades de viver em uma constante luta contra o frio e o calor nos despertam, nos dão força, nos ajudam a atingir o nosso objetivo.

Estas mudanças que D'us fez para diminuir nosso Yetzer Hará (má inclinação) nos ensinam uma importante lição para a vida: a melhor maneira de evitar cometer transgressões, e a receita para fugir de uma vida de vanidades, é lembrar constantemente que estamos neste mundo apenas por um tempo limitado e que todos os nossos atos neste mundo são levados em consideração para definir o nível espiritual que teremos por toda a eternidade. A vida passa em um piscar de olhos, o tempo não espera, ele não para nunca. Quem não aproveita sai deste mundo de mão vazias.

Por que não aproveitamos as oportunidades de crescimento espiritual? Pois vivemos como se nunca fossemos morrer. As oportunidades aparecem, mas sempre deixamos as coisas importantes para depois. Sempre dizemos: "Amanhã eu faço" ou "Depois eu cuido disso". Quando o ser humano vivia mais de 700 anos, havia tempo de sobra para se preocupar com o Mundo Vindouro. Mas já não vivemos tanto, como diz David Hamelech: "Os dias da nossa vida chegam a 70 anos, e para alguns mais fortes chegam a 80 anos" (Tehilim - Salmos 90:10). Algumas vezes vamos ao cemitério e o choque momentâneo de perceber que um dia a vida acaba nos acorda, mas com o tempo voltamos ao comodismo de antes. Precisamos despertar do nosso sono espiritual, precisamos aproveitar cada instante de nossa vida para construir méritos para a nossa Vida Eterna. Temos que nos esforçar ao máximo para que, nos dia em que chegarmos realmente ao nosso destino final, possamos sair deste mundo com a nossa mala espiritual completamente cheia.

SHABAT SHALOM

R' Efraim Birbojm
http://ravefraim.blogspot.com.br/
Gn.6:9-11:32, Is 66:1-24, 23; 1Pe 2:4-10 (Shabat/Rosh Chodesh)

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

CUIDE, POIS NÃO É SEU - PARASHÁ BERESHIT 5773

"Nos primeiros dias do ano de 1905, o Rav Aryeh Levin viajou para Israel e foi para a cidade de Yafo. A primeira coisa que fez foi visitar um grande sábio que vivia lá. Conversaram por um longo tempo sobre vários assuntos de Torá e, depois de Minchá (reza da tarde), saíram para dar uma volta. Era costume daquele sábio passear diariamente pelos campos para refletir e organizar seus pensamentos. No caminho, o Rav Arieh Levin viu uma flor bonita e arrancou-a. O sábio foi pego de surpresa e disse, gentilmente:

- Acredite em mim, todos os dias da minha vida eu me cuidei para nunca arrancar sequer uma folha de grama ou flor desnecessariamente enquanto ela tinha capacidade de crescer ou florescer. Nossos sábios ensinam que não há uma única folha de grama aqui na Terra que não tem uma força celestial dizendo "cresça, cresça". Cada folha de grama diz algo, transmite algum significado. Cada pedra sussurra, em silêncio, alguma mensagem oculta. Toda criação profere sua canção.

Aquelas palavras, saídas de um coração tão puro, gravaram-se profundamente no coração do Rav Aryeh Levin. A partir daquele momento, ele passou a nutrir um sentimento de compaixão por todas as criaturas"

Muitos conceitos que parecem ser modernos já foram ensinados ao povo judeu há mais de 3.300 anos. Um deles é o cuidado com os recursos naturais, que foram criados por D'us para o nosso benefício, mas que não podem ser utilizados de forma destrutiva e impensada.
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Nesta semana recomeçamos a leitura da Torá com o primeiro livro, Bereshit. E a Parashá da semana, Bereshit, começa descrevendo a criação do mundo, desde os objetos inanimados, os vegetais, os animais e o primeiro ser humano, Adam Harishon. Após D'us terminar a criação, Ele ensinou a Adam o que ele poderia fazer e o que não poderia. Por exemplo, D'us ensinou a Adam o que ele poderia comer, como está escrito: "E eis que Eu dei para vocês toda planta que produz semente na face da terra, e toda árvore que tem fruta com sementes" (Bereshit 1:29).

Porém, desta ordem de D'us para Adam Harishon surge uma grande pergunta. No terceiro dia da Criação, D'us já havia garantido que todas as espécies vegetais produziriam sementes, com a capacidade de se autoperpetuarem, como está escrito: "E disse Deus: produza a terra vegetação, plantas que produzem sementes... e árvores frutíferas que, segundo as suas espécies, deem frutos que tenham em si a sua semente, sobre a terra" (Bereshit 1:11,12). Então por que D'us precisou repetir para Adam esta característica das plantas e árvores de se autoperpetuarem? Além disso, no versículo seguinte, quando D'us comandou aos animais o que seria permitido comer, esta característica não é mais mencionada, como está escrito "Para todo animal da terra, todo pássaro do céu e a todo ser vivente que rasteja sobre a terra, toda vegetação de planta será alimento" (Bereshit 1:30). Portanto, qual é o ensinamento que está contido nas palavras de D'us para Adam Harishon?

Esta pergunta se conecta com outra pergunta interessante: quando a Torá Oral precisou ser escrita, para que seus conhecimentos não se perdessem durante o exílio do povo judeu, seu conteúdo foi dividida em 6 ordens: Zeraim (Sementes), Moed (Festividades), Nashim (Mulheres), Nezikim (Danos), Kodashim (Coisas Sagradas) e Taharót (Purezas), sendo que em cada uma destas ordens estão contidos diversos Tratados. Esta divisão foi feita por um dos maiores sábios da história do povo judeu, Rabi Yehuda Hanassi, o líder de sua geração. O nome que o Rabi Yehuda Hanassi deu para cada ordem representa o conteúdo dos Tratados contidos nela. Por exemplo, Nezikim (Danos) contém os Tratados que discutem as leis de danos e compensações, enquanto Moed (Festividades) contém os Tratados que explicam as leis do Shabat e das diversas Festas judaicas. Mas há umas das ordens cujo nome aparentemente não condiz com o conteúdo dos seus Tratados: Zeraim (Sementes). O primeiro Tratado da ordem de Zeraim é Brachót (Bençãos), que ensina, entre outras coisas, sobre as Brachót feitas para cada tipo de alimento. Os outros Tratados desta ordem, apesar de ensinarem leis agrícolas, focam principalmente na produção e nas comidas em sua forma já terminada. Com exceção do tratado de Kilaim, que ensina sobre a proibição de misturar alguns tipos de sementes, nenhum dos outros Tratados fala sobre os alimentos enquanto ainda estão em estágio de semente. Então por que Rabi Yehuda Hanassi deu para esta ordem o nome "Sementes", se não é sobre isso que os Tratados discutem?

Estamos em uma geração movida pela ganância, onde a única coisa que importa são os lucros. Não se pensa mais no futuro, o importante é apenas o presente, ganhar e lucrar o máximo agora. Um dos grandes efeitos colaterais é o impacto negativo sobre a natureza e a utilização irracional dos recursos naturais. Um exemplo disso é o Rio Tietê, que há 50 anos era um rio limpo, utilizado para natação e lazer, mas atualmente é um rio morto e podre. Nos incomoda ver nos documentários o extermínio dos elefantes africanos para a extração do marfim. O descaso com a natureza e com os animais é tão grande que em muitos países é permitido a caça apenas por esporte, e a tourada, um espetáculo de covardia e crueldade com os animais, ainda atrai milhares de espectadores.

Contra estes atos de descaso surgiram, nos últimos anos, vários grupos de proteção à natureza, como o Greenpeace, cujo objetivo principal é conscientizar a população dos danos causados pelo mau uso dos recursos naturais. Muitos pensam que este cuidado com a natureza é algo moderno, mas a Torá nos ensina que este conceito foi transmitido para Adam Harishon logo depois dele ter sido criado.

Por que Adam foi criado por último, depois dos minerais, plantas e animais? Para que ele soubesse que todos os recursos naturais estavam à sua disposição para que ele conseguisse cumprir seu objetivo no mundo. Mas explica o Rav Yochanan Zweig que quando D'us deu permissão ao ser humano para usufruir dos recursos naturais criados por Ele, avisou que esta permissão vinha junto com uma responsabilidade: cuidar dos recursos naturais para que eles não se esgotassem. Quando D'us repetiu o conceito de que as plantas e frutas tinham sementes, isto é, podiam se autoperpetuar, Adam estava sendo avisado que, apesar de ter acesso aos benefícios do mundo material, ele não tinha direitos indiscriminados. O direito de uso não dava a Adam o direito de destruir o mundo que D'us havia construído. Ele poderia utilizar os recursos, mas deveria se esforçar para garantir que eles continuariam existindo para as próximas gerações.

E assim dizem nossos sábios: "No momento em que D'us criou Adam Harishon, Ele pegou-o, o fez passar por todas as árvores do Gan Éden (Paraíso) e disse para ele: Veja as Minhas criações, como são belas e louváveis. E tudo o que Eu criei, para você Eu criei. Tome cuidado para não estragar e destruir o Meu mundo" (Kohelet Rabá 7:13). Portanto, o Greenpeace não inovou o conceito da ecologia e da proteção à natureza. Há mais de 3.300 anos a Torá já havia nos ensinado a importância de cuidar do nosso planeta. Esta mensagem foi transmitida somente ao ser humano, que através do seu intelecto pode cuidar para que o uso dos recursos naturais seja feito de uma forma consciente. Já aos animais, que não têm intelecto e discernimento entre o certo e o errado, D'us não comandou nada em relação ao uso dos recursos naturais. Por isso no versículo que se refere à alimentação do ser humano está escrito "plantas e frutas com semente", mas no versículo que se refere à alimentação dos animais está escrito apenas "plantas e frutas", ocultando a característica de autoperpetuação delas através das sementes.

E foi exatamente esta a mensagem que o Rabi Yehuda Hanassi quis nos transmitir ao dar o nome da primeira ordem da Torá Oral de "Sementes". Os Tratados desta ordem contêm as regras das Brachót que fazemos sobre a comida pronta e outras regras agrícolas que são pré-requisitos para o consumo das comidas. Mas mesmo quando todos os pré-requisitos foram preenchidos, não podemos esquecer a lição das "sementes", isto é, que também um importante pré-requisito para utilizar os recursos naturais é garantir a continuidade destes recursos, evitando um mau uso que leve ao seu esgotamento.

Ensina o Sefer HaChinuch que existe uma Mitzvá, chamada "Baal Tashchit", que nos proíbe de desperdiçar qualquer coisa. A raiz desta Mitzvá é educar nossas almas a evitar destruir coisas de maneira desnecessária, nos conectando com o bem e nos afastando do mal e de qualquer tipo de destruição. Isto nos leva a praticar atos bons, desejar a paz e buscar o bem dos outros. A destruição dos recursos naturais, ao contrário, é um ato completamente egoísta, de não pensar nas futuras gerações, de não se importar com os impactos negativos que virão ao mundo daqui a 50 ou 100 anos pela nossa má utilização dos recursos naturais. Quando D'us comandou o povo judeu a construir o Mishkan (Templo Móvel), ordenou que fosse utilizada madeira de Acácia. Por que justamente esta árvore foi escolhida? O Midrash (Shemot Rabá 35:2) diz que a escolha foi pelo fato da Acácia não ser uma árvore frutífera. Assim D'us está nos ensinando que Ele se importa em não causar uma destruição desnecessária e, portanto, devemos nos comportar como Ele.

Por outro lado, é preciso tomar cuidado para não perder o equilíbrio e o bom senso. A palavra "Midót", que significa "características de comportamento", também significa "medidas". Por que? Pois as nossas Midót são como o sal, somente é bom quando está na medida certa, mas se colocamos sal demais ou pouco sal, estragamos a comida. É isto o que vemos acontecendo com alguns integrantes de grupos de proteção à natureza, que chegam ao ponto de agredir e machucar pessoas por considera-las "inimigos da natureza". Por mais que devemos nos preocupar com a natureza e com os recursos naturais, não podemos esquecer que nada é mais sagrado e importante do que uma vida humana. Tudo deve ser feito dentro de limites, sem os exageros que muitas vezes acompanham as ações dos grupos de defesa da natureza.

Cuidar da natureza não é uma ideia recente, é algo tão antigo quanto a própria humanidade. Portanto, devemos fazer a nossa parte e dar a nossa contribuição para que as próximas gerações também possam usufruir deste mundo maravilhoso e todos os recursos naturais que D'us nos deu.

SHABAT SHALOM

R' Efraim Birbojm
http://ravefraim.blogspot.com.br/
Gn.1:1-6:8, Is.42:5-43:10, Ap.22:6-21

sábado, 6 de outubro de 2012

FORÇA NA SUBIDA - SHEMINI ATSÉRET E SIMCHÁ TORÁ 5773

O Rav Elazar Man Shach zt"l, que foi o Rosh Yeshivá de Ponovitch e um dos maiores sábios da geração passada, tragicamente perdeu sua filha mais velha, Miriam Raizel, que faleceu de pneumonia com a tenra idade de 14 anos. Pouco tempo após esta irreparável perda, o Rav Shach foi visitar o Rav Chaim Ozer Grodzinski e, como consolo, o Rav Chaim citou um versículo de Tehilim: "Se não fosse a Sua Torá para mim um deleite, eu teria morrido em minhas aflições" (Salmos 119:92). Então o Rav Chaim falou para o Rav Shach: "Sem a Torá, minha vida não teria nenhum sentido" (o próprio Rav Chaim perdeu sua única filha com a idade de 20 anos). E durante muito tempo, todas as vezes em que o Rav Chaim encontrava o Rav Shach, ele repetia o mesmo versículo de Tehilim.

Mas foi só muitos anos mais tarde que o Rav Shach entendeu com profundidade as palavras do Rav Chaim. Ele as explicou com a analogia de dois prisioneiros na cadeia, completamente humilhados, ambos com as cabeças raspadas e usando uniformes da penitenciária. Mas apesar de sua aparência idêntica, havia uma enorme diferença entre eles. Um constantemente sorria e dizia palavras amigáveis, enquanto o outro estava sempre sombrio e silencioso. A diferença entre os dois é que um deles sabia que sua pena era temporária, e logo ele seria solto e poderia voltar para casa, enquanto o outro havia recebido uma condenação de prisão perpétua e não tinha mais nenhuma esperança para sua vida.

O Rav Shach entendeu que o Rav Chaim estava ensinando-lhe que duas pessoas podem passar pela mesma situação trágica e mesmo assim reagir de maneira completamente diferente. Uma pessoa pode entender que as dificuldades são passageiras, e encontram consolo na Torá; enquanto outra pessoa pode entender que os sofrimentos não terão fim. Uma pessoa que não conhece a Torá e nunca experimentou o prazer de estudá-la, quando passa por uma tragédia pessoal, não tem no que se segurar, não encontra nenhum consolo e dificilmente se recuperará. Mas ao contrário, aquele que está conectado com o estudo da Torá pode continuar a crescer em seus estudos e sua conexão com D'us, conseguindo manter sua sanidade mesmo após passar por dores e sofrimentos terríveis.

Portanto, a alegria encontrada no estudo da Torá é uma ferramenta que pode trazer efeitos benéficos vitais, que dá força para a pessoa vencer grandes dificuldades e sofrimentos de cabeça erguida.


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Nesta semana o Shabat coincide com um dos últimos dias da festa de Sucót. E no Domingo de noite (07 de outubro) comemoramos a festa de Shemini Atséret. Apesar de ela vir imediatamente após Sucót, Shmini Atséret é uma festa independente e traz uma mensagem muito profunda e especial para o povo judeu. E justamente em Shemini Atséret nossos sábios fixaram a Festa de Simchá Torá, o dia em que completamos o ciclo anual de leitura da Torá. Em Israel, onde há apenas um dia de Yom Tov, Shemini Atséret e Simchá Torá são comemorados no mesmo dia. Fora de Israel, onde há dois dias de Yom Tov, Simchá Torá é comemorada apenas no segundo dia. Em Simchá Torá todos os Sifrei Torá (Rolos de Torá) de cada sinagoga são retirados do Aron Hakodesh (Arca Sagrada) e, tanto de noite quanto de manhã, cantamos e dançamos com alegria, carregando a nossa querida Torá nos braços.

As Festas de Shmini Atseret e Simchá Torá despertam alguns questionamentos. De todos os Chaguim (Festas judaicas) que temos durante o ano, por que nossos sábios escolheram justamente Shmini Atséret para fixar o fim do ciclo de leitura da Torá? Além disso, se todo o propósito de Simchá Torá é mostrar o nosso amor pela Torá, por que apenas dançamos com a Torá, e não passamos a noite inteira estudando-a, como fazemos em Shavuót? E finalmente, a tradução literal do nome da Festa de Shmini Atséret é "O Oitavo, o dia da parada". Por que este nome? Pois nos sete dias de Sucót nós oferecíamos 70 Korbanót (sacrifícios) no Beit Hamikdash (Templo Sagrado), um para cada um dos 70 povos do mundo. Mas em Shmini Atséret era oferecido um único Korban, em nome do povo judeu. Com o que isto se compara? A um rei que oferece vários dias de festa para todos os seus súditos. Mas quando os dias de festa acabam, o rei convida seus amigos mais próximos para uma pequena festa íntima adicional. Shmini Atséret é um dia adicional, dedicado totalmente ao relacionamento entre o povo judeu e D'us, como se Ele estivesse nos dizendo: "A partida de vocês é muito dolorosa para Mim, fiquem mais um dia". Mas se D'us criou Shmini Atséret como um dia adicional por ser difícil para Ele se separar de nós, como mais um dia de festa alivia a dor da despedida? Não seria apenas um adiamento da inevitável tristeza?

Para responder estas perguntas, precisamos antes entender a profundidade espiritual que está por trás da Festa de Shmini Atséret. Explica o Rav Chaim Fridlander que a Festa de Sucót ocorre em uma época naturalmente alegre, pois coincide com o momento em que os frutos dos campos, pomares e vinhedos eram colhidos e trazidos para dentro de casa. Para canalizar esta alegria material para o espiritual, D'us nos comandou algumas Mitzvót, como habitar por 7 dias em uma Sucá (cabana) e segurar os Arba Minim (4 espécies). Quando nos ocupamos com atos materiais dedicados a D'us, conseguimos direcionar nossa alegria física para algo espiritual.

Porém, quando chega Shmini Atséret, percebemos algo interessante: não temos mais as Mitzvót de Sucá e Arba Minim. Por que? Explica o Sefer HaChinuch (Mitzvá 324) que em Shmini Atséret não precisamos destas "ferramentas" para nos aproximar de D'us, pois a conexão é intrínseca. Depois dos dias sagrados de Rosh Hashaná e Yom Kipur, e dos sete dias festivos de Sucót, a pessoa adquiriu a capacidade de se aproximar tanto de D'us que não é mais necessário nenhuma ferramenta externa para desenvolver esta conexão. Por isso não é necessária mais nenhuma Mitzvá adicional em Shmini Atséret.

Explica o Rav Chaim Fridlander que este dia adicional, sem a necessidades de ferramentas externas que nos conectem a D'us, nos ensina que na verdade não ocorre nenhuma separação entre D'us e nós. Passando um dia adicional com o povo judeu, D'us nos ensina que não precisamos das Mitzvót da Sucá e dos Arba Minim de uma maneira permanente para que possamos manter um relacionamento com Ele, pois D'us está constantemente envolvido com nossas vidas e quer a nossa proximidade.

Mas há uma ferramenta que sim é necessária para manter nossa conexão constante com D'us: a Torá. Sem a Torá é impossível construir um relacionamento com D'us, pois a Torá é o meio de comunicação Dele conosco. Sem a Torá não saberíamos o que D'us quer de nós, nem como Ele enxerga o mundo. Nossos sábios fixaram o fim do ciclo anual de leitura da Torá em Shmini Atséret justamente por Shmini Atséret nos ensinar que não há uma separação de D'us, nós podemos estar constantemente conectados com Ele através do estudo da Torá. E por isso nós demonstramos toda a nossa alegria com a Torá neste dia, para nos lembrar que, enquanto nós estivermos estudando a Torá, conseguiremos manter nossas conexão com D'us mesmo nos momentos mais difíceis. O estudo da Torá é o combustível que nos impulsiona mesmo nas subidas mais íngremes da vida.

Mas então por que, ao invés de cantar e dançar, não passamos o dia estudando a Torá? Pois nossos sábios estão nos ensinando uma preciosa lição sobre o nosso relacionamento com a Torá. É verdade que é essencial que cada pessoa dedique o máximo de tempo possível para o estudo da Torá. Porém, também é essencial desenvolver uma alegria no estudo da Torá. Uma pessoa que estuda mas não sente gosto pelo seu estudo está muito mais propícia a se desconectar da espiritualidade e se conectar com os prazeres materiais imediatos. Além disso, aquele que ama o que estuda consegue estudar e praticar o que estudou de maneira mais eficiente e produtiva.

A alegria que demonstramos pela Torá no dia de Simchá Torá deve ser uma alegria intensa. Ela deve deixar uma marca para todo o ano, deve criar a vontade de estudar e conhecer cada vez mais a sabedoria de D'us contida dentro do nosso "Manual de Instruções" chamado Torá. A Torá, um presente de D'us, tem a capacidade de nos alegrar nos momentos bons da vida e serve de porto seguro nos momentos de tempestade e turbulência, para nos ajudar a viver a vida de uma maneira mais harmônica e a superar todas as nossas dificuldades.

SHABAT SHALOM e CHAG SAMEACH

R' Efraim Birbojm
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