sexta-feira, 1 de junho de 2012

DÊ O EXEMPLO - PARASHÁ NASSÓ 5772

Certo dia, há alguns anos, repórteres e funcionários da estação de trem se aglomeravam em uma estação de Chicago, esperando a chegada de um famoso Prêmio Nobel. Ele desceu do trem - um homem muito alto, com os cabelos revoltos e um grande bigode. O brilho do flash das câmeras iluminou o saguão, enquanto os repórteres e funcionários da estação de trem corriam, com as mãos estendidas, para recepcionar o famoso viajante e dizer-lhe como era uma grande honra conhecê-lo pessoalmente.
O homem agradeceu pela maravilhosa recepção. Quando ia começar a dar entrevistas, parou por alguns instante e, olhando por cima da cabeça dos repórteres, pediu desculpas e avisou que iria se ausentar por alguns instantes. Imediatamente caminhou por entre a multidão, com passos rápidos, até que chegou a uma senhora idosa que estava tendo problemas ao tentar carregar duas malas grandes. Ele pegou as malas e, sorrindo, ajudou a senhora a subir no ônibus. Com ela já à bordo e as malas devidamente ajeitada no compartimento de bagagem, desejou-lhe uma boa viagem.
Enquanto isso, uma multidão o seguia. Ele se virou e disse:
- Perdão por tê-los feito esperar. Podemos agora começar as perguntas.
O homem era o Dr. Albert Schweitzer, o famoso médico-missionário que dedicou sua vida a ajudar os pobres e famintos da África e recebeu, no ano de 1952, o Prêmio Nobel da Paz. Ao presenciar o ato de bondade do Dr. Schweitzer, que deixou os jornalistas por alguns instantes para auxiliar uma senhora que precisava de ajuda, um membro do comitê de recepção declarou para um dos repórteres:
- Viemos conhecer este grande vencedor do Prêmio Nobel. Eu esperava aprender com suas palavras, mas ele me surpreendeu, pois é um verdadeiro "sermão ambulante". Ele ensina sem precisar abrir a boca.
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Nesta semana lemos a Parashá Nassó que, entre outros assuntos, nos ensina sobre o Nazirato, um tipo de "voto" que as pessoas podiam voluntariamente fazer, recebendo sobre si, por um período mínimo de 30 dias, as seguintes restrições: o Nazir estava proibido de consumir uvas ou qualquer derivado, não podia cortar seu cabelo e não podia se impurificar através do contato com mortos, nem mesmo se fosse um parente próximo. Mas o Nazirato não era apenas receber sobre si uma série de proibições. O Nazirato era uma maneira de alcançar níveis maiores de santidade abstendo-se, temporariamente, de prazeres do mundo material.
Um dos Nazirim mais famosos da história foi Shimshon (Sansão), um dos juízes do povo judeu. Infelizmente, influenciados por filmes do cinema e da televisão, temos uma ideia completamente equivocada de quem foi ele. Por exemplo, diferente da imagem mostrada nos filmes, Shimshon não era uma pessoa grande e musculosa, nem a fonte de sua força eram seus cabelos. Ele era uma pessoa normal, sem nenhuma força física sobre-humana. Mas como ele era um Nazir desde seu nascimento, estava em um elevado nível de santidade. Por isso, quando era necessário, a Presença Divina entrava nele e lhe dava a força de centenas de homens. Quando Shimshon cortou seu cabelo, quebrou seu voto de Nazirato, perdendo imediatamente sua enorme santidade e, portanto, a Presença Divina que o acompanhava.
Na Haftará desta semana (trecho dos Profetas e Escrituras lido após a leitura da Torá) é descrito o nascimento de Shimshon. Um anjo de D'us se revelou para a mãe dele, que até então não tinha filhos, e revelou que ela engravidaria e teria um filho em breve, mas advertiu que ele não deveria ser tratado como uma criança normal, pois estava destinado a ser um grande salvador do povo judeu. Shimshon deveria ser um Nazir desde o nascimento e nunca uma navalha deveria ser passada em seu cabelo. O anjo comunicou que mesmo sua mãe deveria se abster de comer uva e seus derivados e deveria se cuidar de comer qualquer coisa com impurezas espirituais. Quando a mãe de Shimshon contou a Manoach, seu marido, sobre a visão do anjo e tudo o que ele havia revelado, ele rezou para D'us e pediu para que o anjo voltasse novamente. O anjo apareceu e confirmou exatamente tudo o que a esposa de Manoach havia dito.
Mas deste trecho lido na Haftará ficam algumas perguntas. Em primeiro lugar, a mãe de Shimshon era uma Tzadeket (mulher justa). Por que seu marido Manoach pediu para que o anjo aparecesse novamente, ele não confiava no que ela havia dito? Além disso, por que D'us concordou com o pedido de Manoach e mandou novamente o anjo, se tudo o que necessitava ser informado já havia sido dito para sua esposa? E finalmente, o que o anjo acrescentou quando apareceu novamente para Manoach, se aparentemente nenhuma nova informação foi adicionada?
Explica o Rav Meir Tzvi Bergman que certamente Manoach acreditou no relato de sua esposa, conforme o próprio versículo comprova: "E Manoach se levantou e foi atrás de sua esposa" (Shoftim 13:11). Explica o Talmud (Brachót 61a) que o versículo não se refere apenas à acompanhar a esposa no sentido físico, mas também que Manoach confiava muito em sua esposa e sempre buscava seus conselhos e opiniões. Então o que Manoach queria do anjo? Ele queria instruções a mais de como criar seu filho, que segundo o próprio anjo, seria alguém especial, com um nível muito elevado de santidade desde o nascimento.
O anjo revelou que Shimshon seria o salvador do povo judeu do jugo dos Plishtim (Filisteus), que na época causavam muito sofrimento. Portanto, Shimshon deveria ser alguém que não teria temor de nenhum ser humano, mas ao mesmo tempo, como o juiz do povo judeu, deveria ser totalmente guiado, em todos os seus atos, pelo temor a D'us. A própria linguagem usada pelo anjo demonstra a necessidade de educar a criança com temor a D'us. Quando a Parashá descreve a proibição de passar uma navalha no cabelo de um Nazir, utiliza a linguagem "Taar", mas na Haftará, quando o anjo falou com os pais de Shimshon, foi utilizada a linguagem "Morá", que além de "navalha" também significa "Temor". Portanto, Manoach havia entendido tudo o que sua esposa contou, mas ele não sabia como fazer para educar seu filho para que ele tivesse todos estes atributos, e era isto o que ele queria perguntar ao anjo.
Mas se esta era a dúvida de Manoach, onde vemos que o anjo respondeu ao seu questionamento, se da segunda vez ele falou menos do que da primeira vez? Explica o Rav Meir Simcha de Dvinsk, mais conhecido como Meshech Chochma, que a resposta está na linguagem ambígua utilizada pelo anjo. Assim diz o versículo: "O anjo de D'us disse para Manoach: Tudo o que eu disse para a mulher, ela deve se guardar. De tudo o que venha de um vinhedo ela não deve comer. Vinho ou bebidas intoxicantes ela não deve beber. Tudo o que eu comandei a ela, ela deve guardar" (Shoftim 13:13,14). A palavra "Tishmor", que significa "guardar", pode ser utilizada na 3ª pessoa do feminino, mas também pode ser utilizada na 2ª pessoa do masculino. Portanto, o mesmo versículo pode ser lido da seguinte maneira: "Tudo o que eu comandei a ela, você deve guardar (também)".
De acordo com este entendimento, daquele dia em diante, não apenas a mãe deveria se abster dos derivados de uva e de impurezas espirituais, mas também o pai deveria participar desta santificação. Mas por que? É fácil entender por que a mãe deveria se abster, pois ela alimenta diretamente o filho, tudo o que ela consome também é, indiretamente, consumido pelo feto. Porém, por que o pai também deveria se abster? E o que isto acrescentaria na boa educação da criança?
O que o anjo estava ensinando a Manoach e sua esposa é um dos grandes fundamentos de educação: da forma que eles gostariam que o filho se comportasse, assim eles deveriam se comportar. A casa deveria ser um modelo para o filho. Somente quando o pai e a mãe trabalhassem juntos em busca de um objetivo, este também se tornaria o objetivo do filho. Somente quando os pais tivessem um alto nível de temor a D'us é que o filho também iria adquiri-lo. Somente se os pais tivessem sucesso espiritual é que o filho teria sucesso em se tornar o salvador do povo judeu das mãos dos Plishtim.
Esta é uma grande regra que se aplica, não apenas na educação dos filhos, mas na nossa tentativa de fazer deste mundo um lugar melhor. Quanto mais conseguirmos ser modelos de boa conduta, de honestidade e de bom caráter, mais pessoas poderão aprender com nossos exemplos. Quanto mais andarmos no caminho correto, mais poderemos influenciar outras pessoas a também não se desviar. Quando D'us nos entregou a Torá e nos colocou o papel de "Luz para as nações do mundo", Ele não esperava que organizássemos palestras lotando estádios. Ele esperava que pudéssemos ensinar ao mundo através dos nossos exemplos, nos pequenos atos cotidianos.
Portanto, para mudar o mundo não é necessário fazer atos heroicos, se embrenhar nas selvas africanas para salvar vidas ou virar presidente de uma ONG. Basta, nos pequenos atos do cotidiano, ser um bom exemplo para os outros.

SHABAT SHALOM
R' Efraim Birbojm

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