domingo, 1 de maio de 2011

O Acordo do Pacífico

O Estado de S. Paulo

Editorial
Com mais um acordo de livre comércio, desta vez entre México, Chile, Colômbia e Peru, avança a integração econômica das Américas numa direção rejeitada pelo Brasil a partir de 2003, quando a diplomacia nacional desenterrou o terceiro-mundismo. Três desses quatro países já têm acordos com os Estados Unidos. O quarto, a Colômbia, concluiu as negociações, mas falta a sanção do Congresso americano, emperrada por motivos políticos. Apesar disso, o intercâmbio colombiano com os Estados Unidos é bem maior do que o seu comércio com o Brasil.
O novo pacto, batizado como Acordo do Pacífico, formará um mercado maior que o brasileiro, disse o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos. O presidente mexicano, Felipe Calderón, foi um pouco mais audacioso: começou a ser formada, segundo ele, a maior zona comercial da América Latina. Por enquanto, essas avaliações são meramente retóricas, até porque o comércio entre os quatro sócios do novo clube é menor do que seu intercâmbio com o Brasil. Segundo informação do governo peruano, as trocas entre os quatro movimentaram no ano passado US$ 6 bilhões. O valor chegará a US$ 9 bilhões, estimou Calderón.
No ano passado, a corrente de comércio do Brasil com esses países totalizou US$ 22,15 bilhões, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). O Brasil exportou US$ 12,19 bilhões e teve um pequeno superávit comercial, US$ 2,19 bilhões. A nova zona de livre comércio ainda terá de crescer muito, portanto, para gerar entre seus sócios um comércio tão grande quanto o mantido com o Brasil.
Mas seria um erro avaliar esse acordo apenas com base nesses números. Por ser membro do Mercosul, formalmente uma união aduaneira, o Brasil não pode negociar com o México um acordo de livre comércio. Os governos brasileiro e mexicano têm assinado acordos mais limitados. Na retórica, os dois lados têm definido objetivos mais ambiciosos, com a inclusão de maior número de produtos na pauta de intercâmbio. Mas as conversações têm avançado lentamente. Enquanto não se avança, outros países vão ocupando espaços no mercado mexicano, um dos maiores das Américas. No sentido oposto, a multiplicação de acordos entre sul-americanos e as potências da América do Norte tende a anular as vantagens concedidas até agora ao Brasil pelos países da vizinhança.
O Acordo do Pacífico, no entanto, tende a produzir consequências mais amplas em termos de integração hemisférica. Os Estados Unidos são um parceiro comercial muito mais importante do que o Brasil para todos esses países. No ano passado, os produtores americanos exportaram US$ 12 bilhões para a Colômbia, US$ 10,87 bilhões para o Chile, US$ 6,75 bilhões para o Peru e US$ 163 bilhões para o México. Os Estados Unidos importaram de cada um desses países US$ 15,65 bilhões, US$ 7 bilhões, US$ 5,09 bilhões e US$ 229,65 bilhões, respectivamente. Em todos os casos, acordos comerciais foram importantíssimos para a formação desse enorme volume de trocas.
Os Estados Unidos têm acordos de livre comércio com 17 países. Nove são latino-americanos e o presidente Barack Obama continua trabalhando pela aprovação dos tratados com a Colômbia e com o Panamá. O acerto com a Coreia continua na dependência do Congresso. Enquanto isso, a Casa Branca discute a liberalização do intercâmbio com vários países do Pacífico.
Nas Américas, portanto, acordos entre países já vinculados aos Estados Unidos por meio de pactos de livre comércio fazem avançar a integração. A diplomacia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva trabalhou para liquidar o projeto da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), mas seu terceiro-mundismo - ou antiamericanismo - não contaminou os governos mais pragmáticos da região. Além disso, o governo americano discute acertos comerciais também fora das Américas. Alguns dos acordos negociados ou em discussão envolvem economias altamente competitivas, como a Coreia. Cada acordo oferece a países concorrentes do Brasil facilidades de acesso ao mercado mais importante do mundo. E ainda há quem considere uma grande façanha a liquidação da Alca.

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