sexta-feira, 24 de junho de 2011

RESPEITANDO AS MULHERES - PARASHÁ KORACH 5771 (24 de junho de 2011)

"Um professor de francês estava explicando para a classe algumas diferenças entre o francês e o inglês. Citou como exemplo que em francês os substantivos têm gêneros, masculino ou feminino, diferentemente do inglês, onde substantivos não têm nenhum gênero. Um estudante, intrigado, perguntou:
- Professor, "computador" em francês é masculino ou feminino?
O professor não sabia e a palavra não constava em seu dicionário de francês. Assim, para divertir a turma, dividiu os alunos em grupos e pediu-lhes para decidissem se "computador" era um substantivo masculino ou feminino. Cada grupo deveria dar quatro razões para a sua escolha. A melhor resposta foi de um dos grupos que decidiu que os computadores devem definitivamente ser do gênero feminino. Eles apresentaram os seguintes motivos para a sua escolha:
1) Ninguém, com exceção de seu criador, entende sua lógica interna;
2) A língua nativa que eles usam para se comunicar com outros computadores é incompreensível para todos os outros;
3) Mesmo os menores erros são armazenadas em memória para possível recuperação posterior;
4) Assim que você assume o compromisso com um, acaba gastando todo o seu dinheiro em acessórios para ele."
Apesar desta ser apenas uma piada, infelizmente as mulheres sofreram, e ainda sofrem, muitos tipos de preconceitos. Mas a Torá, que nos foi entregue por D'us, nos ensina o verdadeiro valor das mulheres e o quanto devemos respeitá-las.
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A Parashá desta semana, Korach, nos ensina as terríveis consequências da inveja e da luta pelo poder. Assim começa a Parashá: "Korach ben Itzhar ben Levi se separou, junto com Datan e Aviram, filhos de Eliav, e On ben Pelet, descendente de Reuven. Eles estavam de pé diante de Moshé, com 250 homens... Eles se juntaram contra Moshé e contra Aharon" (Bamidbar 16:1-3). A Torá nos conta que eles se rebelaram contra a liderança de Moshé e Aharon, baseados na acusação de que seus cargos de liderança haviam sido escolhidos por eles mesmos. O ato foi visto com maus olhos por D'us, pois os cargos haviam sido Divinamente designados, e os rebeldes receberam uma punição tão milagrosa que a liderança de Moshé e Aharon foi reafirmada por D'us diante dos olhos de todo o povo judeu. Qual foi a punição? Moshé chamou os rebeldes para um desafio e, no horário marcado, a terra abriu uma boca e engoliu Korach, Datan e Aviram, junto com suas famílias e pertences, enquanto um fogo Divino consumiu os outros 250 homens que haviam se juntado à rebelião.
Prestando muita atenção nos detalhes de tudo o que ocorreu com os rebeldes, surge uma pergunta: quando a Torá enumerou os líderes da rebelião, On ben Pelet foi mencionado, mas quando a Torá falou sobre o final trágico dos rebeldes, seu nome não foi mais mencionado. Afinal, o que aconteceu com On ben Pelet?
O Talmud (Sanhedrin 109b) nos ensina que os caminhos de Korach e On ben Pelet começaram iguais, quando ambos se desviaram e se rebelaram contra Moshé, mas terminaram completamente diferentes. Enquanto Korach teve uma morte terrível e vergonhosa, On ben Pelet escapou do castigo. O Talmud nos ensina algo ainda mais curioso: exatamente a mesma coisa que causou a queda de Korach foi o que salvou a vida de On ben Pelet!
Atualmente um dos temas mais discutidos no mundo é o feminismo, a busca de diretos iguais para as mulheres. Por séculos as mulheres foram excluídas de muitos tipos de profissão, receberam salários menores e foram proibidas até mesmo de exercer sua cidadania. Muitas religiões também praticaram e praticam até hoje atos de violência e exclusão social contra as mulheres, tratando-as mais como objetos do que como seres humanos. Mas o judaísmo nunca teve problemas com os movimentos feministas, pois segundo o judaísmo, as mulheres sempre tiveram um papel de destaque dentro do povo judeu. Desde as matriarcas Sara, Rivka, Rachel e Léa, passando por profetizas como Miriam, juízas como Dvora e líderes como Ester, o povo judeu sempre deu uma importância elevada para suas mulheres. De todas as transgressões cometidas pela geração do deserto, tais como o bezerro de ouro, o choro por causa dos espiões e as reclamações por água e comida, as mulheres não participaram de nenhuma. E uma das maiores provas do grande valor espiritual das mulheres está justamente na Parashá desta semana.
O Talmud explica exatamente o que ocorreu com On ben Pelet. Quando ele chegou em casa, muito empolgado com a rebelião de Korach e contando sobre o confronto marcado por Moshé, sua esposa percebeu que aquilo estava tirando-o do racional, como um fogo que o consumia. Então ela o fez voltar à razão com uma simples pergunta: "Se Moshé for o líder do povo, você será apenas seu seguidor. Se Korach for o líder, você também será apenas seu seguidor. De qualquer maneira sua situação não mudará! Que diferença fará para você a rebelião?".
Mas os argumentos ainda não haviam sido suficientes para convencer On ben Pelet a não participar da rebelião. Apesar de ter caído na real após a chacoalhada de sua esposa, mesmo assim ele achava que era tarde demais para voltar atrás, pois já havia jurado lealdade a Korach e estava muito envolvido. Mas sua esposa não desistiu. Ela o embriagou com vinho para que ele dormisse e ficou de guarda na porta da tenda para que ninguém da rebelião entrasse para buscar seu marido. Quando os rebeldes viram que realmente não conseguiriam levá-lo, foram para o confronto com Moshé sem ele. Portanto, por causa de sua esposa, On ben Pelet foi salvo de uma morte trágica.
O mais interessante é que o que salvou On ben Pelet foi justamente o que derrubou Korach. O Talmud nos ensina que a esposa de Korach o incentivou a se rebelar e ficou o tempo inteiro incitando Korach e dando argumentos para que ele ficasse cada vez mais irritado com Moshé. E sabemos como a história infelizmente terminou.
O ponto em que o Talmud se concentra é a diferença que a esposa pode fazer na vida de um homem. E este conceito pode nos ajudar a entender o estranho versículo que descreve a criação da primeira mulher, Chavá: "E disse D'us: Não é bom que o homem esteja sozinho. Farei para ele uma ajudante correspondente a ele" (Bereshit 2:18). A palavra "Kenegdo", que significa "correspondente a ele", também pode ser traduzida como "contra ele". Como a esposa pode ser uma ajudante se ela for contra seu marido? Explica o Rabino Naftali Tzvi Yehudah Berlin, mais conhecido como Netziv, que algumas vezes a esposa pode ajudar seu marido realmente ajudando-o no que ele necessita, mas outras vezes ela será uma ajuda para seu marido apenas quando ela o corrigir nos momentos em que ele cometer algum erro. Obviamente que a esposa deve fazer isso de uma maneira respeitosa, sem agredir nem diminuir seu marido. Uma esposa que atiça seu marido e não o corrige, apenas passa a mão em sua cabeça mesmo quando ele comete erros, não é uma ajuda, é um tropeço.
Este conceito também nos ajuda a explicar uma das maiores dificuldades para pessoas que começam a se aproximar mais do judaísmo. Há uma Brachá (benção), que pronunciamos todos os dias de manhã no "Birkót Hashachar" (Bençãos da manhã), que é diferente para os homens e para as mulheres. Enquanto o homem reza "Bendito seja D'us que não me fez mulher", a mulher reza "Bendito seja D'us que me fez conforme a Sua vontade". Isso não é machismo? Isso não é desprezar as mulheres?
Explicam os nossos sábios que é exatamente o contrário, é uma exaltação do grande valor espiritual das mulheres. Dizem os nossos sábios que o rei de Israel precisava ter dois Sifrei Torá (Rolos da Torá). Mas para que o rei precisava de dois Sifrei Torá? Um ele deveria sempre levar consigo quando saía para as guerras, enquanto o outro permanecia em casa. Por que? Pois o Sefer Torá que ia para a guerra poderia sofrer pequenos estragos, como borrar letras, ou até mesmo estragos maiores. Então o rei precisava do Sefer Torá que estava em casa para servir como modelo e consertar o Sefer Torá estragado.
O mesmo conceito se aplica no casamento. O homem tem um trabalho mais externo, ele se expõe mais ao mundo exterior e, por isso, corre mais riscos de se desviar atrás de seus desejos e de idéias estranhas ao judaísmo. Foi o que aconteceu com Korach e On ben Pelet. Já o papel da esposa, mais interno, é manter a santidade da casa e ser um modelo de retidão para o marido, identificando quando ele se desvia e ajudando-o a consertar seus erros, como fez sabiamente a esposa de On ben Pelet, salvando com isso a vida e a eternidade de seu marido.
É por isso que os homens rezam "Bendito seja D'us que não me fez mulher", isto é, eles agradecem que D'us não deu a eles uma responsabilidade espiritual tão grande quanto a das mulheres. Já as mulheres rezam "Bendito seja D'us que me fez conforme a Sua vontade", pois aceitam com alegria a grande responsabilidade espiritual que recai sobre elas.
Portanto, de machista o judaísmo não tem nada. Muito dos preconceitos são fruto do nosso desconhecimento sobre o nível de cuidado que, segundo o judaísmo, o homem deve ter com a honra da mulher. Pois assim nos ensina o Talmud: "O homem deve amar sua esposa como ama a si mesmo, e respeitá-la mais do que respeita a si mesmo". E é justamente por este cuidado que temos com nossas esposas que o povo judeu continua caminhando, firme e forte, por mais de três mil anos.
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm
http://ravefraim.blogspot.com/
Nm. 16:1-18:32, 1 Sm. 11:14-12:22, At 5:1-11

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