terça-feira, 21 de junho de 2011

O futuro da energia brasileira

DCI

Luiz Gonzaga Bertellié
A fim de que possa continuar crescendo, o Brasil vai necessitar de maior oferta de energia, inclusive mais barata. Ela é uma das mais caras do mundo e a soma de impostos e encargos setoriais totaliza 51% da conta de um consumidor médio brasileiro. - Trata-se de um grande desafio, que necessita de políticas públicas e investimentos consideráveis. Até o ano de 2015 estima-se que o Brasil terá mais de seis milhões de habitantes, com melhor condição de vida, o que redunda no maior uso de energia.
Algumas previsões mencionam inclusive que nas próximas duas décadas a geração de energia irá duplicar. E, desta forma, não haverá déficit na produção.
A notável característica é que a produção far-se-á, predominantemente, com energia limpa, ecológica e renovável da hidroeletricidade, da biomassa, do vento e das térmicas acionadas a gás natural. Há um potencial de 126 mil MW de energia hídrica e, de longe, a hidroeletricidade é mais barata.
Nos dias presentes, o mundo é abastecido em cerca de 45% com eletricidade mais poluente extraída do carvão mineral, com a liderança chinesa. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financiou, nos últimos sete anos (2003-2010), 355 projetos de geração elétrica, com o desembolso de R$ 131 bilhões.
Consoante a Empresa Pesquisa Energética (EPE), hoje 70% da energia de que o Brasil necessitará até 2020 já estaria contratada, incluindo Santo Antônio e Belo Monte. Desta forma, mesmo que a nação cresça mais de 7% ao ano, o fornecimento de eletricidade seria assegurado e regular, sem eventuais apagões.
Em que pese essa situação rósea, preocupa, ainda, a questão dos licenciamentos ambientais para a construção das novas usinas e térmicas, que já se transformaram em sérias dúvidas quanto ao cumprimento dos prazos estabelecidos nos projetos. O BNDES só libera o financiamento com a licença ambiental assegurada.
Ademais, se comprovadas as estimativas do pré-sal, nos vindouros anos o País passará de pequeno importador de petróleo e derivados a exportador, bem como dispensará o gás natural boliviano. Em consonância com o Plano Nacional de Energia, em breve produziremos cinco milhões de barris diários de petróleo para um consumo de perto de três milhões.
É incontestável, no entanto, que os desafios a serem equacionados do pré-sal são abissais, destacando a questão financeira e o domínio da tecnologia de extração em águas profundas, além da falta de recursos humanos capacitados para a execução das obras, hercúleas e gigantescas.
Alguns economistas conceituados preconizam a indispensabilidade da construção de um número maior de térmicas acionadas a gás natural, em complementação às usinas hidroelétricas. Tais instalações serviriam para assegurar a regularidade da produção elétrica quando os reservatórios das hidroelétricas estivessem vazios, por ocasião das secas. Apesar do seu enorme impacto ambiental, existem defensores da geração elétrica a carvão mineral. Perto de 90% das reservas identificadas encontram-se no Rio Grande do Sul, notadamente (40%) em Candiota.
Depois do acidente de Fukushima, no Japão, em março, os governos de diferentes países proclamaram o fim das usinas nucleares. Consta que embora nenhuma pessoa tenha morrido no local, o impacto psicológico do acidente foi desastroso.
Recentemente, mais de 250 mil alemães saíram às ruas, com pedidos do abandono, definitivamente, da produção de energia nuclear, extraída do urânio. Até 2022 serão desligadas dezessete usinas nucleares, conforme a deliberação da chanceler Ângela Merkel.
Outras nações, entre as quais a França e a Inglaterra, não desejam reduzir as usinas nucleares, que têm a seu favor também questões geopolíticas, pois as maiores reservas de petróleo e gás natural estão situadas em regiões cujos governos não inspiram confiança, como é o caso de Venezuela, Irã e Rússia.
Quanto à energia da cana de açúcar, haverá a forte expansão do consumo do etanol, com esmagamento de perto de 570 milhões de toneladas do vegetal na safra em curso de 2011/12, o que representará a elevação de mais de 2% sobre o período anterior, o que é um desenvolvimento modesto, quando comparado com as produções pretéritas. A demanda do combustível extraído da cana é estimada em 20 bilhões de litros neste ano, o que significará a economia de divisas da ordem de mais de 10 bilhões de dólares, com a substituição da gasolina pelo etanol, considerando o preço médio do barril da ordem de US$ 85.
A eletricidade produzida pelo aproveitamento do bagaço sobrante nas indústrias sucroalcooleiras tende a crescer, com a incorporação de novas tecnologias e diante do fim das queimadas da palha da cana e acesso à rede elétrica. Tão-só no estado paulista, há uma capacidade, ainda não explorada, de mais de 5 mil megawatts de energia do bagaço.
Os investimentos estrangeiros na indústria sucroalcooleira continuam intensos, já superando 22% de participação na atividade do setor. Com a necessidade da construção de 150 novas indústrias de açúcar e de álcool até 2020 -a fim de suprir o déficit previsto pela Unica de 400 milhões de toneladas de cana-, serão indispensáveis cerca de R$ 80 bilhões em dez anos. O Brasil é atualmente um relevante centro para investimentos rentáveis em energia limpa, com matriz diversificada e consumo interno crescente.

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