sábado, 15 de janeiro de 2011

Governo tenta equilibrar preços para produtores

O Estado de S. Paulo

Célia Froufe
Ministério interfere no mercado para garantir preço mínimo para arroz e trigo, mas também quer impedir alta excessiva do milho.
Com a gangorra dos preços dos alimentos e o temor da volta da inflação, o governo tem agido nas duas pontas para buscar o equilíbrio. De um lado, anunciou ontem que vai interferir no mercado no fim deste mês para aumentar o preço pago ao produtor pelo arroz e pelo trigo.
Com isso, espera não desestimular a produção em 2011 e agravar a alta dos preços com uma possível escassez de grãos no futuro. De outro, tem vendido estoques de milho e dado subsídios para evitar que os pecuaristas e fabricantes de ração tenham seus custos elevados e pressionem ainda mais a inflação em itens que já estão disparando, como a carne, por exemplo.
No começo do segundo semestre do ano passado, o Ministério da Agricultura ajudou a sustentar os preços do milho que estavam em trajetória de queda por causa da safra robusta do meio do ano. Passado esse período de normalização do abastecimento, os preços voltaram a subir. Mesmo não tendo faltado produto no mercado, quem tinha milho não se desfazia do grão prevendo elevação dos preços.
Foi exatamente isso o que ocorreu. A partir daí, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), estatal comandada pela Agricultura, começou a se desfazer dos estoques e a oferecer subsídios. O processo ainda continua, com ênfase nas Regiões Norte e Nordeste, mais distantes do principal polo produtor do grão, o Centro-Oeste.
"Esses leilões são para conter a alta. Estamos buscando o equilíbrio, como sempre", disse o ministro da Agricultura, Wagner Rossi. Ontem, Rossi acertou com os representantes dos produtores de arroz que fará leilões para garantir o pagamento mínimo estipulado aos rizicultores, já que, no mercado, a cotação está inferior a R$ 25,80 por saca de 50 quilos.
Afetados pelas chuvas há exatamente um ano, os produtores do Rio Grande do Sul sofrem agora com a falta de interesse das indústrias pelo cereal. "Com isso, esperamos que o mercado se regularize e atinja um preço de equilíbrio", disse Rossi. De acordo com o ministro, o resultado da operação será monitorado pelo ministério e, se houver necessidade, outras medidas serão tomadas em "ocasião oportuna".
Enxugar gelo. Para o economista da Tendências Consultoria Integrada especialista em inflação, Thiago Curado, é compreensível a tentativa de equilíbrio dos preços pelo governo, principalmente após o papel preponderante dos alimentos na inflação do ano passado. "Houve um choque interno de oferta e entendo que o governo tende a querer interferir para buscar algum resultado", comentou, lembrando que os preços agrícolas superaram os 20% de aumento em 2010.
A questão, segundo ele, é que grande parte dessa alta é fruto de uma mudança estrutural mundial, que elevou o preço das commodities no mercado internacional. "Pode ser que o governo consiga algum impacto, mas os preços vão continuar pressionados, com aumento das compras por vários países, como a China", considerou. "Esse mercado é muito integrado. Não adianta o governo ficar na marra, pois é enxugar gelo com essa pressão externa muito forte", acrescentou.

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