sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

O QUE ESTÁ POR TRÁS DE UM NOME? - PARASHÁ SHEMOT 5773

"Ronaldo foi contratado para trabalhar no censo demográfico de sua cidade. Quando chegou a uma das últimas casas que teria que visitar naquele dia cansativo, percebeu que os moradores eram judeus, por causa da mezuzá na porta. Tocou a campainha e foi recebido por uma mulher que estava rodeada por várias crianças. Ele se apresentou como funcionário do censo e perguntou se a mulher estava disposta a colaborar, respondendo algumas perguntas simples. Como ela concordou, ele começou a perguntar:
- Minha senhora, quantos filhos você tem?
- Bom, deixe-me ver. Tem a Miriam, o David, o Jonathan...
O funcionário do censo interrompeu-a, visivelmente irritado, e disse:
- Minha senhora, eu não estou interessado em seus nomes. Eu quero apenas saber os números!
A mulher olhou-o nos olhos e respondeu, com indignação:
- Senhor, meus filhos não são objetos. Eles não são números, eles têm nomes..."
Quando um judeu era mandado a um Campo de Concentração, em seu braço era tatuado um número. O que os nazistas queriam não era manter o controle do número de prisioneiros. Eles queriam desumanizar os judeus, atribuindo a eles um número e transformando-os em objetos. Pois o nome não é apenas uma forma de sermos reconhecidos, ele carrega muito do nosso potencial espiritual.

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Nesta semana começamos o segundo livro da Torá, Shemot, também conhecido como "Sefer HaGalut Ve HaGueulá" (O livro do Exílio e da Redenção), pois descreve todas as dificuldades e sofrimentos do povo judeu no exílio egípcio e a posterior salvação, culminando com o recebimento da Torá no Monte Sinai e a transmissão das primeiras Mitzvót ao povo judeu. Mas há algo um pouco estranho no nome deste livro, pois a palavra "Shemot" significa "Nomes". Por que o segundo livro da Torá se chama "Nomes"? E qual a conexão com o exílio e a redenção do povo judeu?

Quando nasce uma criança e os pais escolhem para ela um nome, achamos que este nome é fruto da criatividade dos pais. Mas, na realidade, o nome vem através de inspiração Divina, pois o nome não é algo "decorativo" na vida de uma pessoa, ele traz profundas implicações espirituais. Por exemplo, o Talmud (parte da Torá Oral) afirma que o Mazal (influência dos mundos espirituais) pode ser modificado através da mudança no nome da pessoa. Por que isto acontece?

No mundo material, quando combinamos diferentes elementos químicos, formamos um composto. Por exemplo, combinando dois átomos de hidrogênio e um átomo de oxigênio forma-se a água. Se os elementos forem alterados, a composição final também muda. Explica o Rav Simcha Barnett que cada letra em hebraico representa um "elemento" espiritual. A combinação destes "elementos" forma um componente espiritual único. Portanto, o nome de uma pessoa revela suas características espirituais e seu potencial espiritual único.

Mais do que isso, a palavra "Shem", que em hebraico significa "nome", vem da mesma raiz da palavra "Sham", que significa "lá". Mesmo que não conseguimos enxergar os átomos de oxigênio e hidrogênio do composto H2O, sabemos que a água que bebemos contém estes dois elementos químicos. Da mesma maneira, a realidade espiritual de uma pessoa está lá, em sua alma. A sua essência está escondida dentro dela, por trás de seu exterior físico. Todos os seres humanos são impulsionados para transcender suas limitações físicas, emocionais e espirituais. O destino está lá, no espiritual, em algo mais real e duradouro do que o mundo material. O nome de uma pessoa representa esta busca do seu potencial.

Cada um de nós é enviado para este mundo para buscar algo. Buscamos em muitos lugares, durante muitos anos, sob uma grande variedade de condições. Mas nem sempre encontramos o que estamos buscando, pois a missão de nossas vidas é encontrar o verdadeiro "eu", não apenas quem somos, mas quem deveríamos ser. A viagem da vida nos leva a lugares e situações estranhas e difíceis, mas o itinerário é apenas um meio para o crescimento e o autoconhecimento. Somente aquele que segue a viagem com sucesso, sem desistir ou parar nas paradas intermediárias do caminho, encontrará seu verdadeiro nome, isto é, o seu verdadeiro "eu".

A jornada de cada um é uma viagem solitária. Por mais que as pessoas à nossa volta possam nos ajudar, ninguém pode fazer a busca por nós. Algumas vezes sentimos dor, frustração e dificuldades. É como entrar em um túnel escuro carregando apenas uma pequena lanterna. Esta viagem é muito instável, nunca nos sentimos em casa. Por que? Pois esta é a sensação da nossa alma enquanto está no mundo material, dentro de um corpo, longe de sua morada espiritual. Isto é comparado a um exílio.

É por isso que o segundo livro da Torá, que descreve o exílio e a redenção do povo judeu, chama-se "Shemot" (Nomes), pois D'us está nos lembrando da nossa própria jornada pessoal no mundo material, que se inicia em uma situação de exílio, o exílio espiritual de nossas almas, mas que terminará com a nossa redenção, quando nossa alma voltará para casa após atingir o potencial contido em seu nome.

Este conceito pode ser observado na luta entre Yaacov e o anjo da guarda de Essav. Após ver que não conseguiria derrotar Yaacov, o anjo perguntou a ele seu nome. Mas se os anjos são seres espirituais, conectados diretamente com D'us, como pode ser que este anjo não sabia o nome de Yaacov? A resposta é que o anjo sim sabia, mas a pergunta tinha outro contexto. O anjo queria saber se, depois de tanta luta e dificuldades, Yaacov ainda lembrava-se de sua missão, que estava "embutida" em seu próprio nome. Então o anjo anunciou que o nome de Yaacov mudaria para Israel. Por que? Pois ao vencer o anjo, Yaacov terminou sua missão neste mundo. Ao receber um novo nome, ele estava recebendo uma nova missão.

Mas a grande pergunta é: como chegar "lá", ao nosso objetivo, mesmo imersos em tanta escuridão? Como não esquecer o nosso "nome" depois de tanta luta e dificuldade aqui no mundo material? A resposta está na nossa Parashá. D'us tem vários Nomes, pois cada um deles descreve alguma característica de Sua essência. Quando D'us escolheu Moshé como líder, pediu para que ele avisasse ao povo judeu que havia chegado o momento da salvação. Moshé então questionou: como o povo saberia que ele estava dizendo a verdade, isto é, que D'us realmente havia se revelado para ele? E se o povo perguntasse qual era o nome deste D'us que havia se revelado, o que ele deveria responder? D'us então ensinou que Seu nome era "Eu serei o que Eu serei", revelando para Moshé que Ele é a única realidade verdadeira, todo o resto é enganação. Mesmo o nome mais conhecido de D'us, de 4 letras, carrega esta mensagem. As letras que compõe este nome (Iud, Hei, Vav e a letra Hei), quando combinadas entre si, formam as conjugações do verbo "ser" no passado, no presente e no futuro, isto é, "Haia" (Eu fui), "Hovê" (Eu sou) e "Ihie" (Eu serei), nos ensinando que D'us é a única realidade, a única verdade, eterno e acima do tempo e do espaço.

A luta para se conectar com a realidade é a única maneira de alcançar a verdadeira felicidade. Mecânicos precisam entender a realidade sobre motores para poder consertar os carros. Médicos precisam saber a realidade do corpo humano para tratar os doentes. Precisamos saber a realidade da vida para podermos alcançar a felicidade. Será que é com nosso dinheiro, atrás do qual gastamos tanto tempo e esforços, que chegaremos à felicidade verdadeira? A experiência nos ensina que não. Pois no fundo, nossa busca pela realidade e pela felicidade é uma busca por D'us, e não será preenchida por nenhum prazer deste mundo.

"Geralmente, a quem me pergunta a razão das minhas viagens, respondo que sei muito bem do que estou fugindo, mas não o que estou procurando" Michel de Montaigne, filósofo francês.

SHABAT SHALOM

R' Efraim Birbojm
http://ravefraim.blogspot.com.br/
Ex. l:1-6:1, Is. 27:6-28:13, 29:22-23, Jr. 1:1-2:3, I Co.14:13-25

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