sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

A FORÇA QUE VEM DO SHABAT – PARASHÁ BESHALACH 5773

 
"A Rebbetzin Esther Jungreis nasceu na Hungria. Ela viveu, desde sua infância, tempos difíceis para os judeus. Muitos anos antes dos nazistas dominarem a Europa, o antissemitismo já mostrava sua face mais cruel na Hungria. Os húngaros costumavam alistar jovens judeus para trabalhar em campos de trabalho escravo. As carroças que transportavam os jovens judeus passavam pela cidade de Szeged, onde vivia Esther. Seu pai, o rabino chefe da cidade, conseguia trazer para sua casa, toda semana, de 10 a 15 jovens para que passassem o Shabat com ele. Apesar do mundo lá fora ser cada vez mais horrível, quando o rabino entrava em casa e dizia "Shabat Shalom, crianças", a casa se iluminava de uma maneira especial. O dia de Shabat era um dia de muita alegria. Enquanto o mundo inteiro mergulhava em escuridão, o Shabat na casa dos Jungreis elevava todos os presente às alturas espirituais, e eles se sentiam, mesmo que por apenas um único dia, imunes à devastação que ocorria no mundo lá fora.

Quando os nazistas invadiram a Hungria, toda a família Jungreis foi enviada para o Campo de Concentração de Bergen-Belsen. Todos os dias eles recebiam de alimento apenas uma fatia de pão com um pouco de serragem. Mas o pai de Esther nunca comia todo o seu pão. Ele sempre tirava um pequeno pedaço do pão e guardava em um local escondido. Ele ensinava seus filhos a contar: "Faltam quatro dias para o Shabat... Faltam três dias para o Shabat...". Quando o Shabat finalmente chegava, no meio da noite a família se sentava no chão do barraco, que estava cheio de ratos, e o pai de Esther dizia: "Fechem os olhos, crianças. Agora nós estamos em casa. Vamos comer um pouco de Chalá". Então ele retirava do esconderijo as migalhas e pequenos pedaços de pão que havia cuidadosamente guardado durante a semana, dividia entre todos os familiares e cantavam "Shalom Aleichem", dando as boas vindas aos anjos que nos acompanham até em casa na noite de Shabat. Certa vez, após cantar "Shalom Aleichem", o irmão menor de Esther falou para seu pai:

- Pai, nós damos as boas vindas para os anjos, mas eu não consigo ver nenhum anjo! Onde eles estão?

O pai então começou a chorar e, enquanto lágrimas corriam pelo seu rosto, ele falou:

- Meus filhos, vocês são os verdadeiros anjos do Shabat.

Foi com a força do Shabat que toda a família Jungreis conseguiu sobreviver ao inferno de Bergen-Belsen e, após o Holocausto, ajudar a construir o judaísmo da América" (História Real)

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Na Parashá desta semana, Beshalach, o Faraó, arrasado pelas pragas que destruíram o Egito, deixou o povo judeu ir embora, mas logo se arrependeu e saiu em perseguição aos judeus com um grande exército. D'us então fez o grande desfecho, abrindo o Mar Vermelho para que o povo judeu pudesse atravessar em terra firme e fechando-o sobre os egípcios, matando todos afogados.

Mas logo após este grande milagre, a Torá descreve um pequeno incidente. Os judeus caminharam três dias no deserto de Shur e não encontraram água. Então eles chegaram a um local chamado Mará, onde havia água, mas as águas eram muito amargas e, portanto, não eram potáveis. O povo então reclamou de forma agressiva com Moshé, que rezou para D'us. D'us escutou os pedidos de Moshé, mostrou a ele uma árvore e ordenou que ele a atirasse nas águas amargas. Milagrosamente as águas se tornaram doces, possibilitando o povo beber e saciar sua sede.

Mas como o povo judeu pôde reclamar de forma tão agressiva, quase gerando uma rebelião contra Moshé, três dias após o incrível milagre da abertura do Mar Vermelho? O Talmud (Baba Kama 82a) explica que a falta de água é apenas uma analogia à falta de Torá, pois a Torá é, em várias características, comparada com a água. Por exemplo, da mesma forma que a água se acumula apenas nos lugares mais baixos, assim também a Torá se acumula apenas entre os humildes, que vencem o seu orgulho e a sua busca pela honra. Além disso, da mesma forma que é impossível viver sem água, também é impossível viver sem a Torá, pois ela é o nosso "Manual de Instruções" de como a vida, a interação entre o material e o espiritual, funciona.

Quando Moshé Rabeinu percebeu que apenas três dias após um gigantesco milagre o povo começou a reclamar, ele entendeu que o povo judeu não poderia ficar mais de três dias consecutivos sem o estudo da Torá, pois isto causava uma enorme deterioração de sua espiritualidade. Então ele estabeleceu que a Torá deveria ser lida publicamente na 2ª feira e na 5ª feira, além da leitura feita no Shabat, para que o povo judeu não passasse mais de três dias sem Torá.

Porém, daqui surge uma pergunta interessante: se o objetivo era não deixar que passassem três dias sem Torá, isto poderia ser conseguido através de várias possibilidades. Por exemplo, a leitura poderia ser na 3ª e na 5ª, ou na 2ª e na 4ª. Por que Moshé fixou a leitura da Torá justamente na 2ª e na 5ª?

Há um Midrash (parte da Torá Oral) que nos ajuda a responder a pergunta. O Midrash (Bereshit Rabá 11:9) diz que, após a criação do mundo, o Shabat reclamou com D'us, pois todos os dias da semana tinham um "par", menos o Shabat. D'us então consolou o Shabat dizendo que seu "par" seria o povo judeu. O que significa este conceito de que cada dia tem um par? E o que este Midrash nos ensina?

O Rambam (Maimônides) nos ensina que todas as criações de D'us têm como base quatro elementos fundamentais: a terra, a água, o fogo e o vento. Quando analisamos a criação do mundo, podemos perceber que em cada dia um dos elementos foi predominante. No primeiro dia D'us criou a luz, que é predominantemente composta pelo fogo. No segundo dia D'us criou o céu, que é resultado da divisão das águas e, portanto, o elemento predominante foi a água. No terceiro dia D'us criou a terra firme e a vegetação, sendo o elemento predominante a terra. O ciclo então se repete, pois no quarto dia D'us criou o sol, a lua e as estrelas, cujo elemento predominante é o fogo. No 5º dia D'us criou os peixes e animais aquáticos que, segundo o Talmud, foram formados a partir da própria água, sendo o elemento predominante a água. No 6º dia D'us criou os animais terrestres e o primeiro ser humano, que recebeu o nome de Adam, pois foi feito da "Adamá" (terra), sendo o elemento predominante neste dia a terra.

Segundo o Midrash, da mesma forma que praticamente tudo no mundo material é produzido através da combinação de "macho-fêmea", os elementos que D'us utilizou para criar o mundo também têm propriedades de "macho e fêmea" que, combinados, formam certa criação que apresenta este elemento de maneira predominante. Portanto, o Domingo e a 4ª feira se unem para produzir as criações baseadas no elemento fogo; a 2ª e a 5ª se unem para formar as criações baseadas no elemento água; e finalmente a 3ª e a 6ª se unem para produzir as criações baseadas no elemento terra. Estes são os "pares" a que se refere o Midrash. Pelo fato de Moshé ter fixado as leituras adicionais da Torá baseado na comparação entre a Torá e a água, os dias mais indicados para que a Torá fosse lida publicamente eram a 2ª e a 5ª, cuja combinação gera criações cujo elemento predominante é a água.

Explica o Rav Yohanan Zweig que o único elemento não utilizado nos seis primeiros dias da criação é o vento (Ruach), que é o mais espiritual de todos os elementos. Portanto, o Shabat, o dia mais espiritual da semana, é a criação em que o elemento predominante é o vento. Por isso o Shabat tem um caráter maior de espiritualidade e santidade do que os outros dias da semana. Mas como ensinou o Midrash, para conseguir alcançar uma criação é necessário um "par". Por isso, é somente a união entre o povo judeu e o Shabat que gera a santidade deste dia tão especial, santidade que permeia todos os outros dias da semana e dá para eles existência e sentido.

Muitas pessoas veem o Shabat como algo monótono e antiquado. Isto é porque muitas vezes não entendemos o caráter tão especial deste dia, que influência nossa semana de forma tão impactante. O Shabat é a fonte de energia de toda nossa semana. Os três primeiros dias da semana recebem energia do Shabat que passou, enquanto os três últimos dias da semana recebem influência do Shabat que está por vir. Principalmente nos dias atuais, em que a pressão do trabalho e do cotidiano nos afeta tanto, o Shabat é um verdadeiro oásis no meio do deserto, uma possibilidade de semanalmente recarregar as baterias.

Sem o Shabat nos tornamos escravos do mundo material. O Shabat é uma chance de nos desligarmos, durante um dia inteiro, de tudo o que nos escraviza. Podemos viver um dia por semana sem nossos computadores e celulares. Podemos viver um dia por semana sem pensar nos lucros da empresa, nos fornecedores e nos clientes. Podemos dedicar pelo menos um dia de nossa semana para nossa família, sentando juntos para as refeições de Shabat. Podemos dedicar pelo menos um dia de nossa semana para ler e conhecer um pouco mais da infinita sabedoria contida na nossa Torá. É um dia de descanso para o corpo e para a alma, no qual podemos nos conectar a D'us de uma maneira muito mais intensa.

Quando nos "unimos" ao Shabat, estamos contribuindo para trazer mais santidade ao mundo. Assim, além de aproveitar um dia especial, no qual nossas energias podem ser recarregadas, estaremos contribuindo para a construção de um mundo com mais paz e harmonia.

SHABAT SHALOM

R' Efraim Birbojm
http://ravefraim.blogspot.com.br/
Ex. 13:17-17:16, Jz. 4:4-5:31, Jo. 6: 22-40 (Shabat Shirá / Tu Bish’vat)

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