segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Autossuficiência é inatingível, reconhece setor

DCI

Bruno Cirillo  

O principal candidato a celeiro do mundo depende de outros

países para fertilizar as próprias terras, e não há sinal de

que o Brasil poderá superar, a curto ou longo prazo, sua

insuficiência na produção de adubos.

Pelo contrário, a importação dos principais macronutrientes (nitrogênio, fósforo e potássio) -
matérias-primas indispensáveis à fabricação de fertilizantes - cresce conforme a demanda
nacional, sendo responsável pelos maiores déficits encontrados na balança comercial da indústria
química do País.
No ano passado, o saldo negativo foi de US$ 8,7 bilhões, quase o dobro do que os US$ 4,8
bilhões de 2010, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). Entre
todos os produtos listados pela entidade - que vão de farmacêuticos a tintas -, os três itens de maior
importação estão ligados justamente ao segmento de adubos: (1º) o cloreto de potássio, pelo qual
se pagou US$ 3,4 bilhões; (2º) o fosfato de amônio, US$ 1,4 bilhão; e (3º) a ureia, US$ 1,3 bilhão.
As importações desses componentes cresceram, em 2011, respectivamente, 57%, 140% e 85%.
"Exceto pelo potássio, o Brasil tem esses recursos disponíveis, e condições de investimento. Mas
não tem condições de preço e garantia de fornecimento, por isso há importações dessa grandeza",
disse a diretora de Economia e Estatística da Abiquim, Fátima Ferreira. Ela citou o caso da ureia
como exemplo da disparidade de preços existente entre o mercado nacional e o externo.
A ureia, bem como a amônia, advém da fração de metano do gás natural. No País, o combustível
custa quatro vezes mais do que nos Estados Unidos: US$ 12 contra US$ 3 por milhão de BTUs
(unidade térmica britânica, na sigla em inglês), segundo Fátima. Portanto, o Brasil importa 25% da
amônia e 67% da ureia que consome. Os elementos fazem parte do grupo de nitrogenados, essenciais
na produção de adubos.

Inalcançável

O novo presidente da Abisolo, associação que reúne 70 empresas voltadas à produção de
fertilizantes alternativos, Clorialdo Roberto Levrero, não acredita que a indústria brasileira
vá alcançar, um dia, a autossuficiência no segmento de adubos. O máximo que pode acontecer,
segundo o representante, é o País "não ser tão dependente quanto hoje".
A Abisolo propõe o aproveitamento de subprodutos da agropecuária, ou seja, restos de animais e
de colheitas, por meio da transformação das sobras em compostos especiais, para a nutrição da
terra. "Com isso, potencializa-se a eficiência do nitrogênio, do fósforo e do potássio. Pode-se reduzir
em até 30% a dependência na compra desses insumos", afirmou Levrero.
De acordo com ele, ao importar cerca de 25 milhões de toneladas por ano de produtos relacionados
à fertilização, o Brasil mantém um nível de dependência de 70% em relação ao mercado externo.
"Os preços acabam sendo caros e a concorrência, desigual."
Por outro lado, um dos diretores da Yara Brasil Fertilizantes - braço de uma multinacional norueguesa
- enxerga os adubos como uma espécie de commodity. "E como todas as commodities, a produção
nacional não significa redução de custos", disse Paulo Ricardo Schuch. Para ele, "o agricultor não
está disposto a pagar mais por uma produção local".
A Yara Brasil importa macronutrientes de regiões distintas do mundo, como Marrocos, Bielorússia
e Canadá. "A maioria dos fertilizantes já vem próxima da forma de uso. Fazemos alguns ajustes
para o agricultor brasileiro", disse o executivo.
Schuch é da opinião de que o Brasil pode diminuir sua dependência externa, mas que continuará a
importar porque a demanda é crescente. "A China, que consome cinco vezes mais adubos do que nós,
é um grande produtor, mas também um grande importador. O Brasil, no futuro, será o mesmo", afirmou.
"A autossuficiência, se um dia for alcançada, será no longuíssimo prazo", previu Schuch.
Gargalos

Outro empresário do ramo, o vice-presidente da Mbac Fertilizer, Roberto Belger, frisou que "o
produto importado não paga ICMS [Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços], o
nacional sim. Isso aumenta a falta de competitividade no setor". A questão tributária é um dos
principais entraves, segundo as fontes consultadas pela reportagem.
Outro ponto refere-se a problemas com logística: em muitos casos, as reservas de macronutrientes
já mapeadas se encontram em locais de difícil acesso. As minas de fósforo, por exemplo, concentram-se
em torno de Uberaba (MG), e o custo do transporte faz com que as importações sejam mais vantajosas.
E também há limitações naturais, como acontece com o potássio, cuja produção nacional é a menor
dentre as três matérias-primas usadas na fabricação de adubos: vindos principalmente do Sergipe,
apenas 10% do potássio consumido no País são extraídos do mesmo.
No ano passado, a presidente Dilma Rousseff havia declarado que "é um absurdo importar 60% [do
consumo interno de fertilizantes]". Dois anos antes, em 2009, o então ministro da Agricultura,
Reinhold Stephanes, tinha esboçado uma meta (2020) para o País atingir a autossuficiência.
Houve até a criação de um Plano Nacional de Fertilizantes.

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