terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Cristãos perseguidos. O Natal nem sempre é como o homem quer

Escrito por Marta F. Reis


Notícias Faltantes - Perseguição Anticristã
Nos países que este ano viveram a “primavera árabe” muitos temem agora o "inverno cristão". Desde março, 100 mil cristãos fugiram do Egito com receio da Sharia, após a eleição de grupos islâmicos fundamentalistas. No Paquistão, um dos países onde a fé cristã tem menos expressão, as missas de Natal vão ser vigiadas por snipers. No Iraque, depois da retirada das tropas norte-americanas, as lojas de famílias cristãs foram saqueadas. No Cazaquistão há uma nova lei que prevê censurar todos os livros sobre religião que entrem no país e pode-se ir preso por rezar em sítios não autorizados. Em ano de revoluções, a liberdade religiosa ainda não é um direito universal.

Nigéria
80 milhões (50% da pop.)
Alerta
Apesar do diálogo entre líderes islâmicos e cristãos (já existe um conselho nacional inter-religiões), continuam as ameaças. Depois do presidente do Conselho Supremo Islâmico desejar aos cristãos um feliz Natal, a Associação Cristã alertou para o risco de atentados em igrejas, ameaça dos Boko Haram, que exigem a imposição nacional da Sharia. Desde 1999, quando a lei islâmica foi adotada em Zamfara (Norte), os confrontos já fizeram milhares de mortos. A Nigéria é hoje o país com mais cristãos da África subsaariana, com a quebra de cultos tradicionais e o crescimento da igreja protestante/pentecostal.

China
67 milhões (5% da pop.)
Emigrar?
Com apenas duas igrejas cristãs oficiais no país, cada vez há mais famílias chinesas a inscrever os filhos em escolas religiosas dos EUA – seis vezes mais em cinco anos, segundo o New York Times. Mas começa a haver sinais de mudança. Há um universo florescente de igrejas protestantes em casas particulares, ilegais. Esta semana a polícia invadiu uma festa da Igreja de Xintan, autoproclamada Vila do Natal, com uma produção de 78 mil milhões de dólares em artigos natalícios. Argumento: são proibidas manifestações religiosas ao ar livre e os budistas queixaram-se. O caso foi denunciado no YouTube.

Índia
31,8 milhões (2,6% da pop.)
Uma questão social
Segundo o estudo recente do think tank Pew sobre o cristianismo, é difícil apurar o número de cristãos na Índia porque os fiéis de extratos sociais mais baixos optam por dizer que são hindus, siques ou budistas para ter acesso a apoios sociais. A perseguição ainda é uma realidade em algumas zonas. Este mês, um tribunal popular em Orissa (Leste) apresentou um relatório que atesta que o governo foi negligente e recusou apoio às vítimas durante os ataques de Kandhamal, em 2008, contra cristãos que recusaram converter-se à fé hindu. Os ataques fizeram 100 mortos e destruíram 295 igrejas.

Indonésia
21,1 milhões (8,8% da pop.)
Frágil numa altura em que a “primavera árabe” começa a ser chamada de "inverno cristão", com a emergência política dos fundamentalistas islâmicos. Com 21 milhões de cristãos, a Indonésia tem mais fiéis que os 20 países da região Médio Oriente-Norte de África. Porém, representam apenas 8% da população e 90% professam o islamismo. Segundo o Fórum de Jacarta para o Cristianismo, até setembro houve 31 incidentes em igrejas, mais que em 2010. Na quarta-feira, uma imagem da Virgem Maria foi decapitada numa capela em Java Central.

Coreia do norte
480 mil (2% da pop.)
Terror
Os dados do Pew indicam 480 mil cristãos no país, mas não é fácil conceber onde. Num trabalho de 2005 de David Hawk para a comissão de liberdade religiosa dos EUA, vários refugiados testemunham que no país se defende que “ter fé em Deus é um ato de espionagem. Apenas Kim-II Sung é deus”. A morte de Kim Jong-il – filho do dito deus –, renovou os apelos à liberdade religiosa. O número de cristãos em campos de trabalho pode chegar a 70 mil. O site da organização North Korean Christians pede a denúncia de perseguição e execuções por crimes como “posse de Bíblia”, como ocorreu em 2009.

Afeganistão
30 mil (0,1% da pop)
Caça às bruxas
São a minoria mais reduzida nesta lista de dez países. No Afeganistão, apenas 0,1% da população professa o cristianismo. Nos sites de organizações contra a perseguição religiosa são denunciados vários casos de exilados afegãos na Noruega ou na Índia ameaçados mesmo no estrangeiro por terem se convertido à fé cristã. No ano passado, um grupo de 150 exilados na Índia denunciou uma ordem de execução de um ministro de Hamid Karzai a novos cristãos denunciados num programa de televisão. A constituição afegã pune com pena de morte o abandono da fé islâmica, a religião do Estado.

Paquistão
2,7 milhões (1,6% da pop.)
Snipers nas igrejas
2.500 polícias paquistaneses foram destacados para proteger a comunidade cristã nas celebrações dos próximos dias. A polícia afirmou que 433 igrejas, sobretudo em torno da cidade de Lahore, vão ter proteção de snipers e entradas controladas num ano em que a tensão religiosa aumentou e pelo menos duas pessoas foram condenadas à morte à luz da Sharia, por blasfêmia. Este mês, o presidente do partido cristão PCC, Nazir Bhatti, pediu à ONU que investigue atentados contra 20 milhões de cristãos afegãos: violações, raptos, execuções de padres e conversões forçadas. (N. do E.: A jornalista se confundiu. A denúncia de Nazir Bhatti diz respeito à perseguição sofrida pelos cristãos paquistaneses. O número dado por Bhatti é bem mais alto que os dados oficiais e os de outras agências, como, por exemplo, a Portas Abertas, que dá um percentual de 2,5% para a população cristã do país).

Cazaquistão
4,1 milhões (26,2% da pop.)
Lei aperta
Apesar de a fé cristã ser a segunda no país (26% para 70% de muçulmanos), a Lei da Religião, adotada em Outubro, restringiu a liberdade religiosa. Para “combater o extremismo”, há agora quotas para missionários e registro de locais de culto. A importação de literatura religiosa será sujeita a censura. A iniciativa nasceu de um relatório do partido no poder, que criticou a importação de cultos não tradicionais (igrejas protestantes, por exemplo) e disse que as pessoas precisavam de ajuda. Este mês, três batistas foram multados por participarem de encontros de oração. Um deles ficou detido por 48 horas.

Egito
4,2 milhões (5,3% da pop.)
Em fuga
Pelo menos 100 mil cristãos deixaram o país desde março, segundo dados da União Egípcia de Organizações de Direitos Humanos. Depois da queda de Mubarak, a eleição da Irmandade Muçulmana e de radicais salafistas alarmou a minoria cristã. Os partidos eleitos querem repor a Sharia como lei nacional. Cynthia Farahat, ativista política no Cairo, diz que, embora a perseguição fosse real e os cristãos considerados “cidadãos de segunda”, os atentados estão mais explícitos. A igreja ortodoxa do Egipto (coptas) fala de 17 milhões de cristãos no país. Oficialmente são 4 milhões.

Iraque
270 mil (0,9% da pop.)
Em extinção
A retirada do Iraque está a acentuar as tensões religiosas, não só entre sunitas e xiitas, mas, num último golpe, também em relação à debilitada minoria cristã. Há lojas saqueadas no norte e estima-se que os cristãos tenham sido reduzidos a um quinto desde 2003. Em Dora (arredores de Bagdá), as mulheres foram obrigadas a cobrir-se. Mais de 40 mil fugiram de bastiões da Al-Qaeda como Mossul. Michael Youash, do Projeto para a Sustentabilidade Democrática do Iraque, alertou já que daqui a 20 anos pode já não haver cristãos no país. No fim do ano passado, um atentado contra uma igreja de Bagdá fez 60 mortos.

Publicado no IOnline.PT no dia 25 de dezembro.
http://www.midiasemmascara.org/mediawatch/noticiasfaltantes/perseguicao-anticrista/12695-cristaos-perseguidos-o-natal-nem-sempre-e-como-o-homem-quer.html

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