sexta-feira, 22 de novembro de 2013

SAINDO DA PRISÃO DO EGOÍSMO - PARASHÁ VAIESHEV 5774


Um jovem rapaz inglês começou a sentir fortes dores de cabeça. Os exames detectaram um tumor não maligno no cérebro e o jovem foi operado, mas infelizmente o tumor voltou em pouco tempo. Ele procurou muitos médicos, e o consenso foi de que não havia mais nada a fazer a não ser esperar a morte.

Porém, aquele rapaz não queria partir do mundo sem deixar a sua marca. Ele começou a pedir para que as pessoas mandassem para ele cartões de "melhoras", para entrar no livro de recordes do "Guiness Book" como a pessoa que mais recebeu cartões de "melhoras". A história chegou aos jornais e se espalhou pelo mundo inteiro, e muitas pessoas se sensibilizaram e mandaram para ele cartões. Em pouco tempo seu quarto estava completamente lotado de malotes do correio abarrotados de cartas e cartões postais.

Uma das pessoas que também escutou sobre o sofrimento daquele jovem rapaz foi John Kluge, um americano que era um dos homens mais ricos do mundo. Apesar de ser tão rico, ele era uma pessoa simples, com um coração misericordioso e se sensibilizava com o sofrimento dos outros. John Kluge pensou que se mandasse mais um cartão de "melhoras" deixaria o rapaz feliz, mas estaria fazendo muito pouco por ele. John Kluge decidiu que faria muito mais do que isso. Ele daria ao rapaz a chance de escutar uma nova opinião médica, mas desta vez de um grande especialista. Entrou em contato com um famoso médico, um conhecido seu que vivia na Virgínia, e fez todos os acertos necessários para que ele examinasse o rapaz doente.

O especialista também não trouxe boas notícias para o rapaz. Apesar de afirmar que havia uma maneira de operá-lo, ressaltou que o procedimento seria extremamente arriscado, com poucas chances de dar certo. John Kluge ligou para o médico e perguntou:

- Se fosse o seu próprio filho que estivesse com este tumor no cérebro, você o operaria?

O médico pensou um pouco e respondeu que sim. Então John Kluge pediu que ele operasse o rapaz como se estivesse operando seu próprio filho. O garoto e a mãe consentiram, e a operação foi feita. Após muitas horas, o médico saiu da sala de cirurgia com as boas notícias: a operação havia sido um enorme sucesso e o rapaz ficaria bem.

Quando John Kluge e o rapaz se encontraram pessoalmente, eles se abraçaram e choraram muito. Daquele dia em diante, sempre quando John Kluge era questionado em alguma entrevista sobre qual havia sido a maior conquista da sua vida, ele abria um sorriso e respondia: "Ter sido um instrumento de D'us para salvar a vida de um garoto". (História Real)

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A Parashá desta semana, Vaieshev, descreve um pouco da vida de Yossef, o filho preferido de Yaacov, que passou por muitos altos e baixos. Uma das grandes dificuldades de sua vida foi ter ficado muito tempo na prisão, acusado falsamente de ter atacado a mulher do Potifar, um dos ministros do Faraó. Quando Yossef já estava perdendo as esperanças de um dia ser libertado, iniciou-se um processo repentino de libertação e ascensão ao poder. Após tantos anos de completa estagnação, o que desencadeou este processo? A resposta está em uma passagem aparentemente sem muita importância, que descreve que certa manhã Yossef olhou para outros dois prisioneiros e percebeu que seus rostos estavam transtornados. Preocupado, Yossef perguntou: "Madua Pneichem Raim Haiom?" (Por que vocês estão tão abatidos hoje?) (Bereshit 40:7). Estas quatro simples palavras foram responsáveis pela salvação de Yossef. Como?

Aqueles prisioneiros eram o copeiro-chefe e o padeiro-chefe, dois importantes ministros do Faraó. Naquela noite ambos tiveram sonhos estranhos e estavam transtornados por não entenderem seu significado. Quando questionados sobre o motivo de estarem tão abatidos, cada um confidenciou o seu estranho sonho e Yossef soube interpretá-los corretamente. Os sonhos revelavam o que aconteceria com cada um dos ministros e as palavras de Yossef se cumpriram com exatidão. Esta interpretação dos sonhos dos ministros foi o que deu início ao processo de subida meteórica de Yossef, pois dois anos mais tarde ele foi indicado pelo copeiro-chefe para interpretar dois sonhos que haviam deixado o Faraó muito angustiado. O Faraó sabia que seus sonhos tinham um importante significado, mas nenhum dos magos egípcios conseguia decifrá-lo. Não apenas Yossef interpretou os sonhos do Faraó, que revelavam que muitos anos de fome assolariam o Egito, mas também sugeriu como resolver o problema. O Faraó percebeu a grandeza de Yossef e imediatamente nomeou-o vice-rei. Em um piscar de olhos Yossef passou de um prisioneiro sem esperança a vice-rei, o segundo maior cargo em todo o Egito.

Explicam os nossos sábios que cada um dos sofrimentos pelos quais Yossef passou na vida foram mandados por D'us "sob medida", para que expiassem os erros que ele, apesar de seu nível espiritual tão elevado, havia cometido. Os 10 primeiros anos em que ele estava na prisão foram para expiar a transgressão de ter falado mal de seus 10 irmãos, um ano por cada irmão, como está escrito: "E Yossef trazia maus relatos sobre eles (seus irmãos) ao seu pai" (Bereshit 37:2). Depois disso Yossef recebeu o decreto de ficar mais 2 anos preso por ter colocado suas esperanças de libertação no copeiro-chefe, ao invés de ter confiado em D'us. Isto quer dizer que Yossef foi libertado somente quando terminaram os decretos espirituais. Mas no mundo material, como começou a salvação de Yossef? Justamente quando ele se preocupou com os outros prisioneiros. Deste ensinamento aprendemos que, caso Yossef não tivesse se importado com os rostos preocupados dos outros prisioneiros, ele teria perdido sua preciosa chance de salvação, mesmo após o fim dos decretos espirituais. Por que D'us escolheu justamente esta maneira para iniciar o processo de salvação de Yossef? O que havia de tão especial em Yossef ter perguntado aos outros prisioneiros o motivo deles estarem tão angustiados?

Para entender a grandeza do ato de Yossef, temos que refletir sobre suas condições de vida naquele momento. Ele já estava há 10 anos vivendo na prisão, condenado injustamente por algo que nunca fez e sem nenhuma perspectiva de ser libertado. Ele tinha todo o direito de estar totalmente focado apenas nos seus próprios problemas, que não eram poucos, e a tendência natural seria nem perceber as dificuldades pelas quais outras pessoas em volta estavam passando. Além disso, enquanto os outros dois prisioneiros eram importantes ministros do faraó, Yossef era um simples escravo, acusado de ter cometido um ato abominável. Provavelmente Yossef era constantemente desprezado e ignorado pelos ministros do Faraó. Apesar de tudo isso, Yossef conseguiu superar seu egoísmo e, ao invés de se preocupar somente com seus próprios sofrimentos, percebeu que os ministros estavam angustiados e se preocupou com eles também. Esta preocupação com o próximo foi a chave para a sua liberdade.

Este ensinamento da Parashá é muito importante para nós. Vivemos em um mundo onde as pessoas estão imersas em seus próprios problemas e dificuldades, a ponto de não conseguirem perceber as necessidades dos outros. Portanto, uma das principais maneiras de se tornar uma pessoa verdadeira altruísta, que busca sempre o bem do próximo, é conseguir sair desta "prisão", se esforçando continuamente para perceber o próximo. Para fugir deste egoísmo, precisamos até mesmo nos acostumar a abrir mão das nossas próprias necessidades em prol dos outros. Além dos inúmeros modelos de bondade que temos na Torá, mesmo hoje em dia temos grandes sábios que se esforçaram para anular o egoísmo intrínseco ao ser humano. São inúmeras histórias de superação, de se preocupar mais com os outros do que consigo mesmo. O problema é que, quando lemos as biografias destes grandes sábios, pensamos que eles foram pessoas predestinadas à grandeza espiritual. Porém, isto não é verdade, pois cada um deles precisou de muito esforço até começar a colher os frutos. Nenhum deles nasceu já em níveis elevados de bondade, eles foram crescendo aos poucos, investindo no seu lado espiritual, e assim conseguiram atingir o sucesso. Ser uma boa pessoa não é algo que cai do céu, é uma conquista, que depende de muito suor e dedicação.

Às vezes imaginamos que se desenvolver nesta característica de pensar no próximo se aplica apenas às grandes situações de necessidade, como em épocas de terríveis tragédias coletivas. Mas no nosso dia a dia desperdiçamos infinitas oportunidades de ajudar ao próximo. Quando estamos simplesmente caminhando na rua, vale a pena prestar um pouco mais de atenção nas necessidades dos outros, ao invés de estar sempre absortos nas nossas próprias necessidades. Perceberemos que há pessoas idosas carregando pacotes pesados, que agradeceriam profundamente uma pequena mãozinha. Há pessoas perdidas, necessitando de uma dica para encontrar o caminho certo. Há pessoas com dificuldades para estacionar o carro, que precisam de uma simples orientação. E não apenas na rua, mas em qualquer ambiente onde estivermos, sempre há oportunidades de como pensar mais no próximo. Por exemplo, quando vamos a uma aula e percebemos que não há mais cadeiras na sala, ao invés de trazer apenas uma cadeira, devemos trazer duas, pensando já na próxima pessoa que vai chegar.

Para Yossef, a chave para sair da prisão foi se preocupar com o próximo, apesar de seus próprios problemas. Para nós, a chave para sair desta terrível "prisão" chamada egoísmo é lembrar que, da mesma maneira que nós temos problemas, o mundo está cheio de pessoas que também têm problemas e precisam da nossa ajuda. Não apenas nas grandes tragédias, mas principalmente nas pequenas situações do cotidiano. São nestes momentos que podemos descobrir se somos livres ou apenas prisioneiros.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm
http://ravefraim.blogspot.com.br/
Gn. 37:1-40:23, Am. 2:6-3:8, At. 7:9-16

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