sexta-feira, 29 de novembro de 2013

ILUMINANDO A ESCURIDÃO - CHÁNUKA 5774

"No dia do Yortzait (aniversário de falecimento) do pai de Aharon, ele estava especialmente emocionado e queria fazer o máximo para elevar a alma do seu falecido pai. Ele acendeu a vela de Yortzait, que deveria ficar acesa até a próxima noite, e começou a estudar Mishnaiót (parte da Torá Oral). A palavra "Mishná" contém as mesmas letras da palavra "Neshamá", que significa "alma", e por isso se costuma estudar no dia do Yortzait algumas Mishnaiót para elevar a alma da pessoa falecida.

Depois de horas de estudo, Aharon estava cansado e fechou o livro de Mishnaiót para descansar. Seu filho pequeno, que havia visto tudo o que o pai havia feito, estranhou e perguntou:

- Pai, se você fechou o livro, por que você também não apagou a vela?

- Filhão – falou Aharon com carinho – sua pergunta é excelente. E a resposta é um importante ensinamento que você deve levar para toda a sua vida. Mesmo que é permitido momentaneamente fechar o livro de Torá, você nunca deve deixar a chama apagar"

Esta é a essência de Chánuka: fortalecer o estudo e o cumprimento da Torá, que é o que nos dá vida e ilumina o mundo. Nossa responsabilidade, e atualmente nosso desafio, é nunca deixar esta luz se apagar.


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Nesta semana o Shabat coincide com a festa de Chánuka, na qual relembramos grandes milagres que aconteceram ao povo judeu na época do exílio grego. O Império Grego, em seu avanço militar esmagador, havia dominado muitas nações do mundo, entre elas o povo judeu. Mas por que a dominação grega também foi considerada um dos nossos exílios, se durante este período não fomos expulsos de Israel, como ocorreu em outros exílios? Pois os gregos, que inicialmente vieram em paz, com o tempo tentaram nos helenizar à força, proibindo o estudo da Torá e o cumprimento das Mitzvót. O Beit Hamikdash (Templo Sagrado), nosso centro de espiritualidade, foi transformado em um local de idolatrias. Mesmo vivendo em nossa terra, não podíamos cumprir as Mitzvót, e muitos se viram tentados a seguir as ideias gregas, que pregavam a adoração ao corpo e aos prazeres materiais.

E quais são os milagres que nós relembramos? O primeiro é o milagre da guerra. Após a proibição de fazer os serviços do Beit Hamikdash, um pequeno grupo de Cohanim (sacerdotes) iniciou uma rebelião contra os gregos. Era uma luta de muitos contra poucos, do maior exército do mundo, com as melhores técnicas militares e os melhores armamentos, contra um grupo desorganizado, mal armado e sem nenhum treinamento militar. Com a ajuda de D'us, este pequeno grupo conseguiu acumular vitória atrás de vitória, até que os gregos desistiram e abandonaram Israel. E o segundo é o milagre do azeite. Após expulsar os gregos e limpar o Beit Hamikdash de todas as idolatrias, os Cohanim se prepararam para retomar todos os serviços, entre eles o acendimento da Menorá. Porém, os gregos haviam impurificado todos os potes de azeite, e seriam necessários mais 8 dias até que um novo azeite fosse produzido. Apenas um pote de azeite foi encontrado com o lacre do Cohen Gadol, e era suficiente para manter a Menorá acesa por apenas um dia. Um grande milagre aconteceu e aquela pequena quantidade de azeite durou oito dias.

Durante os oito dias de Chánuka, além do acendimento diário da Chanukiá, que nos faz lembrar dos milagres ocorridos, nós agregamos um pequeno trecho nas três Tefilót (rezas) do dia, chamado "Al Hanissim" (sobre os milagres), que é uma declaração de agradecimento a D'us, em especial pela vitória milagrosa na batalha contra os nossos inimigos gregos, como está escrito: "E Você, em Sua grande misericórdia, esteve ao lado deles em sua aflição... Você entregou os fortes nas mãos dos fracos, os numerosos nas mãos de poucos, os impuros nas mãos dos puros, os maus nas mãos dos justos, os frívolos nas mãos dos que cumprem a Sua Torá". Porém, se analisarmos o texto do "Al Hanissim" com cuidado, perceberemos que há uma grande dificuldade no seu entendimento. É fácil enxergar o milagre que há em entregar os fortes nas mãos dos fracos e os numerosos nas mãos de poucos, mas que milagre há em entregar os impuros nas mãos dos puros e os maus nas mãos dos justos? Havia alguma desvantagem na luta pelo fato dos judeus serem justos e puros, enquanto os gregos eram impuros e maus?

Explica o Rav Yohanan Zweig que a resposta está nas palavras de David Hamelech (Rei David): "Você faz a escuridão e é noite, na qual se movem todos os animais da floresta" (Salmos 104:20). Explica o Talmud (Baba Metzia 83b) que este versículo é figurativo, e a linguagem "animais da floresta" é uma alusão às forças do mal que atuam no mundo. Para manter o equilíbrio entre o bem e o mal, D'us permite que as forças do mal prevaleçam durante o período de escuridão, que no versículo é representado pela noite. Durante este período, o equilíbrio entre o bem e o mal pende esmagadoramente para o lado do mal.

Quando a Torá descreve a criação do mundo, assim está escrito: "E a Terra estava sem forma e vazia, e a escuridão pairava sobre a face do abismo" (Bereshit 1:2). Diz o Midrash (parte da Torá Oral) que estas palavras do versículo são uma alusão aos quatro exílios pelos quais o povo judeu passaria durante sua história. "Sem forma" se refere ao exílio da Babilônia, "Vazio" se refere ao exílio da Pérsia-Média, "Escuridão" se refere ao exílio grego e "Abismo" se refere ao exílio de Edom. Mas por que os gregos representam a escuridão? Eles não trouxeram ao mundo muito conhecimento, como nas áreas das ciências e filosofia? Eles não ajudaram a iluminar o mundo? Eles deveriam representar a luz, não a escuridão!

O conceito de escuridão ao qual a Torá se refere é um conceito espiritual, não físico. Segundo o judaísmo, não existe nenhum uso do mundo material que não tenha influência sobre o mundo espiritual. Em cada ato que fazemos, podemos estar acendendo uma luz espiritual ou apagando-a. Através da utilização correta do mundo material podemos criar uma grande luz espiritual, como quando utilizamos objetos físicos para cumprir as Mitzvót. Com madeiras e pedras foi construído o Beit Hamikdash, o lugar onde repousava a "Shechiná" (Presença Divina). Porém, a pessoa que utiliza os objetos do mundo material de maneira negativa, como para agredir outra pessoa ou para se tornar orgulhoso, está apagando a espiritualidade que existe em cada objeto que utiliza.

É verdade que os gregos trouxeram ao mundo muitos avanços, em várias áreas, mas seu único propósito era acabar com a espiritualidade que há no mundo material. Por exemplo, eles propagaram a filosofia do "Carpe Diem", na qual a principal meta da vida deveria ser aproveitar os prazeres sem limites. Eles criaram as olimpíadas, com o objetivo de demonstrar a perfeição e o culto ao corpo material, ofuscando a ideia de que a nossa essência verdadeira é a nossa alma, não o nosso corpo. Após influenciar muitos povos, os gregos encontraram um grande obstáculo para atingir seu objetivo: o povo judeu, que representa a espiritualidade no mundo material. Mas eles tinham um plano para nos derrotar, como está escrito em outro trecho do "Al Hanissim": "Quando se levantou o malévolo Império Grego contra Seu povo Israel, para fazê-lo esquecer Sua Torá". A palavra "Choshech" (escuridão) contém exatamente as mesmas letras da palavra "Shachach", que significa "esquecer". A forma de apagar a espiritualidade do povo judeu, e assim do mundo todo, seria fazê-los esquecer do estudo o do cumprimento da Torá.

A época em que os gregos dominaram o mundo era um momento de escuridão espiritual e, por isso, as forças do mal, e todos aqueles que as representam, estavam em vantagem. A luta era desigual, não apenas fisicamente, mas também espiritualmente. É por este motivo que agradecemos a vitória dos puros sobre os impuros e dos justos sobre os maus, pois foi um grande milagre naquele momento as forças do bem vencerem as forças do mal. Somente com a ajuda de D'us conseguimos nos levantar e derrotar os gregos, reestabelecendo a Luz da Torá no mundo.

A verdade é que vencemos apenas uma batalha contra os gregos, mas o mal e a escuridão que eles representam ainda precisam ser vencidos em cada geração. Para nos afastar da espiritualidade, os gregos fizeram decretos severos que impediam o estudo e o cumprimento dos ensinamentos da Torá. Nossa luta atual é contra a assimilação e o desinteresse do povo judeu pela sabedoria da Torá. Infelizmente a Torá está sendo esquecida sem nenhuma guerra nem decretos dos nossos inimigos. Portanto, cada um que acende sua Chanukiá está acrescentando um pouco mais de luz para o mundo. Cada um que estuda um pouco mais de Torá, que se conecta com seu lado espiritual, que se esforça para cumprir as Mitzvót, está participando ativamente da batalha contra os gregos, a guerra da luz contra a escuridão.

Os Cohanim não sabiam lutar, mas mesmo assim receberam sobre si a responsabilidade de defender a Torá. Assim também cada um de nós deve receber sobre si a responsabilidade de ser parte desta luta do bem contra o mal. Somente assim conseguiremos vencer, não apenas mais uma batalha, mas a guerra definitiva.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm
http://ravefraim.blogspot.com.br/


Festa da Dedicação Nm. 7:1-11, Zc 2:14-4:7, 1Re 7:40-50, Jo. 9:1-7, 10:22-29


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