sábado, 21 de abril de 2012

A TIGELA DE MADEIRA – PARASHÁ SHEMINI 5769

"Um senhor de idade foi morar com o filho, a nora e o neto de quatro anos. Por causa da idade avançada, as mãos do velhinho eram trêmulas e a sua visão já estava embaçada, e isso o atrapalhava muito na hora de comer. A comida muitas vezes caía no chão e a bebida sempre acabava derramada na toalha. Além disso, muitas vezes ele deixava o prato de vidro cair no chão, espatifando-o. O filho e a nora começaram a ficar profundamente irritados com a sujeira, até que um dia a nora comentou com o marido:
- Precisamos tomar alguma providência a respeito do seu pai. Isto não pode continuar. Já tivemos suficiente bebida derramada, pratos quebrados e comida espalhada pelo chão!
O marido concordou, e decidiram então tomar uma providência: daquele dia em diante o velhinho comeria em um canto da cozinha, numa pequena mesa isolada, enquanto o restante da família continuaria fazendo as refeições na mesa principal. Além disso, sua comida passaria a ser servida numa tigela de madeira. E assim fizeram, isolaram o pobre velhinho, que comia sempre sozinho e humilhado. E por estarem tão distantes do velhinho na hora da comida, ninguém podia perceber as lágrimas em seus olhos. As únicas palavras que lhe diziam eram broncas e gritos quando ele deixava um talher ou a comida cair no chão. O menino de quatro anos de idade assistia a tudo em silêncio.
Certa noite, antes do jantar, o pai percebeu que o garoto estava no chão, manuseando um pedaço de madeira. O pai foi até ele e lhe perguntou o que estava fazendo com aquela madeira. O menino respondeu:
- Eu estou fazendo uma tigela para você e para a mamãe comerem quando vocês também ficarem velhos.
O garoto de quatro anos de idade sorriu e voltou ao trabalho. Aquelas palavras tiveram um impacto tão grande nos pais que eles ficaram mudos, e lágrimas começaram a escorrer de seus olhos. Naquela mesma noite o pai tomou o avô pelas mãos e gentilmente conduziu-o à mesa da família. Daquele dia em diante ele voltou a comer todas as refeições com a família. E o marido e a esposa já não se importavam mais quando um garfo caía, o leite derramava ou a toalha da mesa ficava suja"
Temos que tomar cuidado de como cuidamos dos nossos velhos, pois um dia também seremos velhos...
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A Parashá desta semana, Shemini, nos ensina sobre a inauguração do Mishkan (Templo Móvel). Por sete dias Moshé fez os serviços do Mishkan, mas no oitavo dia ele consagrou Aaron e seus filhos como Cohanim (sacerdotes), e a partir deste dia eles e seus descendentes foram para sempre os responsáveis pelo serviço do Templo. E assim começa a Parashá: "E foi no oitavo dia, Moshé convocou Aaron, seus filhos e os anciãos de Israel" (Vayikrá 9:1). Entendemos porque Aron e seus filhos foram chamados, já que seriam consagrados como Cohanim. Mas por que a Torá relata que os anciãos também foram chamados?
Vivemos em uma sociedade onde os mais velhos são desprezados e deixados de lado. As empresas costumam "aposentar" seus funcionários após os 60 anos pois querem "renovar" seu quadro de funcionários, e a pessoa praticamente perde seu valor na vida. Existe um problema que atualmente atinge o mundo inteiro, desde países pobres até os mais ricos: com as melhorias no campo da medicina e o baixo nível de natalidade, a população mundial tem envelhecido nos últimos anos, e com isso a população economicamente ativa vem diminuindo muito, causando problemas para a previdência social. Francis Crick, ganhador do prêmio Nobel de química pela descoberta do DNA, foi certa vez entrevistado pela revista "Nature" e questionado sobre como este problema poderia ser resolvido. Francis Crick sugeriu que pessoas com mais de 80 anos que ficassem doentes e não tivessem condições de pagar seu próprio tratamento médico não deveriam mais ser atendidas nos hospitais públicos, deveriam ser deixadas em uma maca, em um canto do hospital, para não atrapalharem os outros doentes. O que Francis Crick quis dizer é que a sociedade moderna rotula as pessoas de acordo com o quanto contribuem financeiramente. Em resumo, os velhos não servem para nada e devem ser ignorados. Será que esta é a visão judaica?
A palavra "ancião" em Lashon Hakodesh (língua sagrada na qual foi escrita a Torá) é "Zaken". Ensinam nossos sábios que a palavra "Zaken" vem das palavras "Zé she KaNá chochmá" (aquele que adquiriu sabedoria). Mas será que todo ancião tem sabedoria? A mesma pergunta surge quando observamos uma das 613 Mitzvót da Torá: "Na presença de uma pessoa idosa você deve levantar-se e você deve honrar a presença de um sábio" (Vayikrá 19:32). Por que a Torá traz junto a Mitzvá de honrar um idoso com a Mitzvá de honrar um sábio? Explicam os nossos sábios que existem diversos tipos de sabedoria. Por exemplo, "Chochma" é a capacidade de formação de idéias, "Biná" é a capacidade de análise dedutiva, "Daat" é a capacidade compreender as coisas de forma mais profunda. E além destes três tipos de sabedoria existe uma quarta, que é a "Zikná", a experiência de vida. As primeiras três sabedorias podem ser obtidas através do estudo e do esforço, mesmo por pessoas jovens. Mas a "Zikná" é a sabedoria que apenas os anciãos têm.
É por isso que a Torá ressalta que, na inauguração do Mishkan, Moshé também chamou os anciãos, para mostrar que segundo o judaísmo devemos honrar e respeitar os mais velhos por sua sabedoria de vida. E assim dizia o Rabi Akiva, um dos maiores rabinos de todas as gerações: "O povo judeu se assemelha a um pássaro. Da mesma forma que um pássaro não pode voar sem suas asas, o povo judeu também não poderia fazer nada se não fossem seus anciãos". Segundo o judaísmo, uma sociedade que não valoriza seus anciãos não sobrevive. Talvez isso ajude a explicar por que a sociedade moderna, com pouco mais de 200 anos, já está tão decadente, enquanto o judaísmo continua com seu brilho e vigor há mais de 3.000 anos.
A Torá nos ensina a recompensa de poucas Mitzvót. Uma das exceções é a Mitzvá de "Honrarás teu pai e tua mãe", na qual a Torá descreve que a pessoa recebe "Arichut Iamim" (alongamento dos seus dias). Mas a linguagem utilizada é estranha, pois ao invés de "alongamento dos dias" deveria estar escrito "multiplicação dos dias"! Uma das explicações é que os pais, por já terem passado por muitas experiências, já adquiriram muita sabedoria de vida. Portanto, aquele que honra seus pais e sabe escutar seus conselhos "alonga seu dia", isto é, aprende com a experiência de vida dos pais e perde menos tempo cometendo erros. Por isso sobra mais tempo para fazer o que realmente precisam fazer na vida.
É verdade que jovens recém saídos da universidade podem ter mais conhecimentos tecnológicos, mas para tomar decisões corretas na vida é necessário mais do que conhecimento técnico, é necessário experiência de vida, e isso nenhum jovem tem. Portanto, respeite e valorize os mais velhos.
"Não teremos tempo de cometer todos os erros. Que possamos então aprender com os erros e acertos dos outros"
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm
http://ravefraim.blogspot.com.br/search/label/Parash%C3%A1%20Shemini

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