sexta-feira, 27 de abril de 2012

FAZENDO A DIFERENÇA - PARASHIÓT TAZRIA E METZORÁ 5772

"O Rav Shimon Schwab, quando ainda era muito jovem, certa vez visitou o Chafetz Chaim, que na época já era o maior rabino da geração. Este encontro marcou profundamente a vida do Rav Shimon Schwab. No encontro, o Chafetz Chaim, que era Cohen, perguntou ao Rav Schwab se ele era Cohen, Levi ou Israel. O Rav Schwab respondeu que ele era Israel. O Chafetz Chaim então falou:
- Você sabe qual a diferença entre mim e você? Logo o Beit Hamikdash (Templo Sagrado) será reconstruído e todos irão para lá pela primeira vez, lotando as portas que dão acesso ao pátio onde são feitos todos os serviços, entre eles os Korbanót (sacrifícios). Haverá um guarda na porta que perguntará a todos se eles são Cohanim, Leviim ou Israelim. Os Cohanim receberão acesso ao pátio interno e participarão ativamente de todos os serviços, e eu estarei entre eles. Já você, Rav Schwab, junto com todos os outros Israelim, vai ficar do lado de fora. Os Israelim vão querer participar dos serviços, mas a lei judaica não permite. A lei diz claramente que os Cohanim ficam dentro e os Israelim ficam fora. Então os Israelim ficarão bravos, chateados e com inveja.
O Chafetz Chaim, diante do olhar de questionamento do Rav Schwab, continuou:
- Você sabe por que, Rav Schwab, vai ser assim? Por causa de algo que aconteceu há cerca de 3 mil anos atrás, chamado "O pecado do bezerro de ouro". O povo judeu pecou ao construir este bezerro. Apesar de apenas 3 mil pessoas do povo realmente terem participaram ativamente deste hediondo ato de idolatria, quando Moshé Rabeinu convocou o resto do povo para vir apagar o fogo, com as famosas palavras "Quem está com D'us, venha comigo" (Shemot 32:26), você sabe o que aconteceu? Somente a tribo de Levi se apresentou. Meu tataravô foi um dos que se levantou e respondeu à convocação, enquanto seu tataravô ficou ali sentado e não fez nada. Por isso, os Cohanim, que são descendentes da tribo de Levi, vão entrar para realizar os serviços do Beit Hamikdash. Mas vocês, os Israelim, vão ficar do lado de fora, pois ficaram sentados e não responderam ao chamado de Moshé.
O Chafetz Chaim então olhou para o Rav Schwab e disse:
- O que você pensa, que eu quero fazê-lo se sentir mal? Que eu quero esfregar isto na sua cara? D'us me livre. Tudo o que eu quero é te ensinar uma importante lição. Muitas vezes na vida você escutará uma pequena voz em sua cabeça dizendo "Quem está com D'us venha comigo". Vai ocorrer um evento, vai surgir algum problema, algo que todos serão convocados a se levantar para serem contados entre os que estão de verdade com D'us. Em que acampamento você estará nestes momentos? Eu quero deixar claro para você que questões como estas e desafios como estes têm implicações não apenas para você, mas para gerações e gerações que virão depois de você. Pelo fato do seu tataravô não ter respondido "Sim" quando perguntado "Quem está com D'us, venha comigo", você está excluído dos serviços do Beit Hamikdash. Foi um ato que ainda tem consequências, mesmo 3 mil anos depois. E pelo fato do meu bisavô ter dito "Sim", agora eu sou um Cohen e eu farei o serviço do Beit Hamikdash.
- Nunca se esqueça - finalizou o Chafetz Chaim - que todos têm o seu momento de "Quem está com D'us, venha comigo". Quando você escutar esta voz, levante-se e faça parte daqueles que serão contados."
********************************************
Nesta semana nós lemos duas Parashiót juntas, Tazria e Metzorá. O ponto em comum entre as duas Parashiót é que elas tratam sobre as impurezas espirituais do ser humano e as formas de purificação para cada uma delas.
A Parashá da semana passada, Shemini, terminou descrevendo a impureza e a pureza dos animais, enquanto as Parashiót desta semana descrevem a impureza e a pureza dos seres humanos. Se refletirmos um pouco sobre a ordem das Parashiót da Torá, percebemos algo estranho. Por que a Torá escreveu primeiro as leis referentes aos animais e somente depois escreveu as leis referentes aos seres humanos? A mesma pergunta surge ao observarmos a ordem da criação do Universo. Em primeiro lugar D'us criou os répteis, os pássaros e os mamíferos, e somente depois criou o ser humano. Se somos o centro da criação, o motivo de D'us ter criado todo o universo, por que fomos criados por último?
Observando também as leis de impureza e pureza dos animais e dos seres humanos, nos chama a atenção as enormes diferenças que há entre elas. Em primeiro lugar, todos os animais têm regras fixas e imutáveis de pureza e impureza. Por exemplo, se um animal é impuro, ele será impuro para sempre, enquanto se ele for puro, será puro para sempre. Já o ser humano pode mudar seu estado de pureza para impureza e vice-versa. Por que esta diferença? Além disso, de acordo com as leis da Torá, a impureza do ser humano é muito mais forte e rigorosa do que a dos animais. Por exemplo, se um réptil morre, ele pode contaminar uma pessoa que tocar nele, enquanto um ser humano morto pode impurificar até mesmo uma pessoa que está sob o mesmo teto do corpo, mesmo que não o tenha tocado. Por que é tão mais forte e rigorosa a impureza dos seres humanos?
Explica o Zohar Hakadosh, o livro de conhecimentos místicos escrito pelo Rav Shimon Bar Yochai, que D'us criou o ser humano por último para que nele estivesse contido todos os atos da criação. De cada uma das criaturas feitas nos 6 primeiros dias, D'us utilizou um pouco de suas características e qualidades particulares para construir o ser humano. Cada ser humano, portanto, concentra dentro de si a qualidade de todas as criaturas existentes no mundo. É isto o que nossos sábios se referem quando ensinam que "o ser humano é um micro-cosmos".
De acordo com o Rav Chaim Vologiner, em seu livro Nefesh HaChaim, em um primeiro momento foi colocado no ser humano apenas as forças de pureza do universo. Depois do pecado do primeiro homem, Adam Harishon, se misturou dentro dele também as forças de impureza e maldade. Portanto, depois de Adam Harishon, todo ser humano deve travar uma luta dentro de si para separar as boas e as más influências, os bons e os maus atos. A mistura é tanta que, mesmo em nossos bons atos sempre há um lado negativo e ruim, e em nossos maus atos sempre há uma ponta de boas intenções.
Explica o Rav Yossef Salant que isto explica por que a pureza e impureza dos animais é constante, enquanto a pureza e a impureza dos seres humanos se altera tanto. Como cada criatura permanece na sua individualidade, elas estão sempre na mesma situação e essência e, portanto, não mudam seu status. Já o ser humano, que é composto por várias forças diferentes, boas e más, puras e impuras, está em constante luta e mudança.
Cada uma das criaturas é composta de apenas uma única força de criação. Por isso, se ela é impura, sua impureza não é tão forte, pois vai de acordo com a parte que lhe foi atribuída e naturalizada em sua formação. Por outro lado, o ser humano, que reúne as forças e características de todas as criaturas, tem em suas mãos a escolha. Ele pode chegar, com a má inclinação dos seus atos, aos piores e mais graves níveis de impureza espiritual, pois pode reunir dentro de si a impureza de todas as criaturas. Mas ao contrário, se o ser humano canalizar suas inclinações para o bem, pode chegar ao mesmo nível de santidade e pureza dos anjos mais elevados, pois pode concentrar dentro de si a pureza de toda a criação, como era Adam Harishon antes de sua transgressão.
Portanto, da ordem das Parashiót e dos conceitos da pureza e impureza, aprendemos uma lição muito importante para nossas vidas. Quando o ser humano merita fazer o que deve, canalizando suas forças para a pureza e completando seu objetivo no mundo, dizem para ele: "Você foi criado antes dos anjos". Mas se a pessoa não merita, perdendo seu foco e afundando-se na impureza, dizem para ela: "Até mesmo a mosca e o mosquito foram criados antes de você". Esta é a nossa escolha, está em nossas mãos.

SHABAT SHALOM
R' Efraim Birbojm
http://ravefraim.blogspot.com.br/

Tazría  Lv l2:1-13:59, Lc. 7:18-35
Metsorá Lv14:1-15:33, 2 Rs. 7:3-20, Mt. 23:16 - 24:2, 30-31

Nenhum comentário:

Postar um comentário