quarta-feira, 7 de março de 2012

O PIB da ineficiência

O Estado de S. Paulo

Da Redação

Baixo crescimento, alta inflação e piora das contas externas marcaram a economia

brasileira em 2011

O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu apenas 2,7%, segundo o cálculo divulgado ontem pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A inflação chegou a 6,5% e bateu no teto da
meta. Foi impulsionada não só pela alta dos preços internacionais de petróleo, metais e produtos
agrícolas, mas também por uma forte demanda de consumo. Além disso, pioraram as transações
com o exterior. A receita de exportações de bens e serviços elevou-se 4,5%, enquanto a
despesa com importações subiu 9,7%. Mais uma vez o setor externo deu uma contribuição
negativa para o PIB, subtraindo 0,7% do crescimento. Essa tendência, observada há alguns
anos, deve acentuar-se neste ano, a julgar pela evolução do comércio exterior brasileiro no primeiro
bimestre e pelas projeções tanto oficiais quanto do setor privado.
Se dependesse apenas da demanda interna, a economia brasileira teria crescido 3,4%, de acordo com
os dados do IBGE. Mas a indústria foi incapaz de atender ao apetite dos consumidores, por causa dos
custos elevados e da valorização do real. Com o real valorizado, os produtos nacionais ficam mais
caros, quando seu preço é convertido em dólares ou euros. Além disso, o dólar barato estimulou as
viagens ao exterior, bem como as remessas de lucros e dividendos, e também esses fatores
pesaram nas contas.
Houve um claro descompasso na economia brasileira. O consumo das famílias cresceu 4,1%,
impulsionado pela expansão do emprego, pelo aumento de 4,8% da massa de salários reais e por
empréstimos pessoais 18,3% maiores que os do ano anterior. Enquanto isso, a produção industrial
avançou apenas 1,6% - deslocada pela competição estrangeira - e a de serviços, 2,7%. A
inflação teria certamente superado a marca de 6,5%, se a importação não tivesse coberto
uma parcela considerável da demanda dos consumidores.
O governo aponta como dado positivo a expansão de 4,7% no investimento em máquinas,
equipamentos, construções e obras públicas. O crescimento do PIB, segundo o discurso otimista,
foi puxado pela aplicação de recursos no fortalecimento da capacidade produtiva e, portanto, o Brasil
está no caminho certo. No entanto, o investimento, equivalente a 19,3% do PIB segundo as contas
do IBGE, continua longe do necessário para um crescimento econômico igual ou superior a 5% ao
ano sem pressões inflacionárias e sem grave desequilíbrio externo.
Esse nível mínimo de investimento, segundo cálculos correntes entre profissionais
independentes e economistas do governo, deve corresponder a uns 24% do PIB. Mas a diferença entre
o valor investido nos últimos anos e o mínimo desejável não é o único problema, quando se trata do
objetivo de ampliar e modernizar a capacidade produtiva. A poupança interna ficou em 17,2% do PIB,
no ano passado. A diferença entre o valor poupado e o investido foi coberta com recursos externos.
Em princípio, não há problema na captação de poupança estrangeira para investir. Mas a distância
entre a poupança atual e a necessária para um crescimento sem risco de grandes desajustes também
é muito ampla. Isso se deve principalmente à propensão do governo para a gastança. Essa propensão
limita a capacidade de poupança do setor público e, ao mesmo tempo, dificulta qualquer revisão
séria do sistema tributário. Impostos excessivos e mal concebidos encarecem a compra de
máquinas e equipamentos e acabam limitando também o investimento privado.
A baixa taxa de poupança, especialmente do setor público, dificulta a redução do juro real no Brasil e
também isso impõe restrições importantes às políticas de reforço produtivo das empresas. Essa
constatação foi confirmada há poucos dias por um estudo de economistas do Fundo Monetário
Internacional. Em suma: os dados da economia brasileira em 2011 apontam para algo
mais grave que problemas conjunturais. Refletem deficiências associadas a um padrão
de governo ineficiente e perdulário. O País pode voltar a crescer mais que em 2011, mas dentro
de limites estreitos, enquanto aquele padrão persistir.

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