sexta-feira, 7 de outubro de 2011

DEVEMOS PARAR DE PROCURAR DESCULPAS – YOM KIPUR 5772

"Há alguns anos eu (R' Efraim) morei em Israel e lá conheci muitas pessoas interessantes, entre elas um brasileiro não observante. O encontro foi durante um jantar de Sucót, pois ele havia sido convidado para jantar na mesma família que eu. Este brasileiro tinha um filho de nove anos de idade, e percebi que o garoto estava muito quieto e tímido. Resolvi puxar conversa e perguntei ao garoto se ele sabia o motivo de estarmos jantando dentro de uma Sucá. O garoto ficou mudo e assustado, como se a pergunta tivesse sido muito difícil.
O pai do garoto, um pouco envergonhado, explicou que infelizmente em alguns lugares não religiosos de Israel a educação judaica era um pouco fraca. Para exemplificar ele contou que antes de Rosh Hashaná o filho chegou da escola com alguns desenhos sobre as festas do mês de Tishrei. Havia um Shofar, os Arba Minim (4 espécies de Sucót), a Sucá e uma bicicleta. O pai ficou surpreso. Entendia o significado do Shofar, da Sucá e dos Arba Minim, mas a bicicleta representava que festa? O filho respondeu:
- Ué, pai. É o símbolo de Yom Kipur, o "Dia da bicicleta".
Como o garoto chegou a esta conclusão? Por respeito ao dia de Yom Kipur, as pessoas em Israel não utilizam seus carros. Como as estradas ficam completamente vazias, as famílias se vestem de branco, montam em suas bicicletas e saem para pedalar nas estradas e avenidas de Israel. Infelizmente Yom Kipur é o "Dia da bicicleta" para muitos judeus que moram em Israel (História Real)"
Yom Kipur é muito sagrado, mas nós não sentimos mais isso. Lentamente perdemos nossa sensibilidade e percepção espiritual. Nossos E-mails ficam abarrotados de convites para baladas "Open Bar" de Yom Kipur, mas não recebemos nenhum E-mail mobilizando os jovens da comunidade a participar das rezas e da santidade do dia de Yom Kipur. As "Baladas de Yom Kipur" estão cada vez mais cheias e sofisticadas, nos endereços mais chiques da cidade, enquanto as sinagogas estão cada vez mais vazias, mesmo nas Grandes Festas. Da mesma forma que em Israel Yom Kipur se transformou no "Dia da bicicleta", no Brasil o Yom Kipur está se transformando no "Dia da balada". Está em nossas mãos o futuro do judaísmo.
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O próximo Shabat coincide com a festa de Yom Kipur, um dos momentos mais sagrados do ano. É o "Dia do Perdão", no qual podemos, através do arrependimento sincero, da decisão de não voltar a cometer os mesmos erros e da confissão das nossas transgressões, meritar que D'us nos perdoe pelos nossos pecados e nos dê a chance de começar o ano novo limpos como uma folha em branco. Apesar de ser possível se arrepender durante todo o ano, no dia de Yom Kipur os portões da Tefilá (reza) estão todos abertos e D'us fica esperando, como um Pai, o arrependimento dos Seus filhos.
Em Yom Kipur, além das Tefilót, há duas leituras da Torá: a primeira na reza de Shacharit (manhã) e a segunda na reza de Minchá (tarde). Após as leituras da Torá são lidas as Haftarót, trechos do "Nach" (Profetas e Escrituras). Em Minchá de Yom Kipur a Haftará é o "Sefer Yoná", livro que conta a história do profeta Yoná. Qual a conexão entre o Sefer Yoná e Yom Kipur?
Para responder esta pergunta precisamos entender exatamente o que o Sefer Yoná nos ensina. O livro descreve a história de Yoná, um homem sagrado que chegou ao nível de profecia e recebeu de D'us a missão de ir advertir os cidadãos de Níneve, uma gigantesca cidade de idólatras que havia passado dos limites da imoralidade e corrupção. Yoná deveria anunciar à população de Níneve que, por causa de suas graves transgressões, a cidade seria completamente destruída por D'us. Mas Yoná não quis cumprir a ordem de D'us e tentou fugir em um barco, viajando na direção oposta a Níneve. D'us então mandou uma forte tempestade e, após ser revelado aos marinheiros do barco de Yoná que ele era espiritualmente o culpado pelo iminente naufrágio, ele foi atirado ao mar e engolido por um grande peixe. Yoná rezou, implorando pela misericórdia de D'us e foi escutado. O peixe cuspiu-o em terra firme e ele recebeu uma nova chance de cumprir sua missão. E desta vez ele não decepcionou, foi até a cidade de Nínive e advertiu de forma dura seus cidadãos. O povo, em um arrependimento sincero, jejuou e vestiu-se com sacos, em sinal de luto e tristeza pelo mau decreto. D'us teve misericórdia e perdoou o povo de Nínive, cancelando o decreto de destruição.
À primeira vista parece óbvia a conexão do Sefer Yoná comYom Kipur. O livro nos ensina até onde chega a misericórdia de D'us, que aceita um arrependimento sincero e cancela até mesmo os maus decretos de uma nação inteira de idólatras imorais. Mas será que não há nenhum nível mais profundo de conexão entre o Sefer Yoná e Yom Kipur? Na verdade precisamos nos aprofundar na própria história do profeta Yoná, pois ela desperta muitos questionamentos. Se Yoná era um homem tão sagrado e elevado, por que ele não quis cumprir uma simples ordem de D'us, de advertir os moradores de Nínive que haviam se pervertido? Além disso, o profeta achou que poderia fugir de D'us entrando em um barco? Ele não sabia que D'us tem controle sobre todo o universo e não há como escapar do Seu julgamento?
Explicam os nossos sábios que Yoná se sentiu profundamente incomodado com a missão que recebeu de D'us. Em sua época os judeus também haviam se desviado dos caminhos corretos e não escutavam as insistentes advertências dos profetas. Yoná amava tanto o povo judeu que teve medo de cumprir sua missão. Ele sabia que se o povo de Nínive escutasse suas palavras e se arrependesse dos seus maus atos, isto poderia causar um castigo ainda maior ao povo judeu, que era repreendido mas não se arrependia. Por isso ele tentou fugir.
Porém ainda fica uma dúvida. Yoná achou que fugindo de barco iria frustrar os planos do Criador do universo? Certamente que não. Yoná sabia que muitos são os mensageiros de D'us para cumprir Sua vontade, isto é, Ele tem o mundo inteiro sob Seu controle. Yoná sabia que a vontade de D'us se cumpriria de qualquer maneira, mas achou que, ao fugir de barco, faria com que D'us escolhesse outra pessoa para ir a Nínive. Ele sabia que sofreria por sua desobediência, mas preferia o castigo que receberia a ser o causador de sofrimentos ao povo judeu.
Mas ao contrário do que imaginava Yoná, D'us não escolheu outro mensageiro. Manipulando as forças da natureza, Ele forçou Yoná a cumprir sua missão. Por que D'us não quis utilizar outro mensageiro para cumprir Sua vontade? Por que Ele insistiu que Yoná pessoalmente cumprisse a missão? Pois D'us queria ensinar para Yoná e para nós uma valiosa lição: nós não temos o direito de fazer cálculos se vamos cumprir ou não o que D'us nos comandou. Não há nenhum motivo, por mais lógico que pareça, que nos isente de nossas obrigações. Se D'us sabia do amor de Yoná pelo povo judeu, e também sabia das implicações negativas ao povo judeu de um possível arrependimento das pessoas de Nínive, e mesmo assim ordenou que Yoná fosse cumprir sua missão, é porque existia uma sabedoria superior, que estava acima do entendimento de Yoná. D'us quis ensinar que Yoná deveria ter cumprido sua missão sem questionamentos, sem cálculos, sem procurar desculpas.
E esta é a mensagem que conecta o Sefer Yoná com o dia sagrado de Yom Kipur. Por que cometemos tantos erros durante o ano? Pois às vezes quebramos as regras para que elas se adequem às nossas conveniências. Procuramos um meio termo entre nossos desejos e as regras do Criador. Racionalizamos nossos atos para, como Yoná, fugir da nossa própria consciência. Mas devemos aprender de Yoná as consequências negativas de nos acharmos no direito de "escolher" o que queremos e o que não queremos cumprir dentre os decretos de D'us. Por isso, o principal arrependimento de Yom Kipur é assumir os nossos erros que, durante o ano inteiro, encobrimos com desculpas e justificativas infundadas.
Seguir regras nem sempre é o que gostamos de fazer. A curto prazo realmente pode parecer difícil, pois muitas vezes vai contra o que desejamos. Mas a longo prazo é o único caminho que nos leva à tranqüilidade e ao preenchimento espiritual, o verdadeiro prazer da vida.
SHABAT SHALOM, GMAR CHATIMÁ TOVÁ e TZOM KAL (que seja um jejum leve)
R' Efraim Birbojm
http://ravefraim.blogspot.com/
Lv 16:1-34, (Maftír -Nm. 29:7-11), Is. 57:14-58:14, 2 Co. 5:10-21

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