quarta-feira, 7 de abril de 2010

O diabo pode citar as Escrituras quando isso lhe convém.(Shakespeare)

A passagem de Dilma Rousseff por Ouro Preto avisa que a obsessão da vez ─ depois da quinta potência e da moradia como local de relações afetivas ─ é a velha metáfora do lobo em pele de cordeiro, que algum assessor lhe soprou e que ela vem repetindo desde que iniciou seu voo-solo. Claro que sem nenhum sentido ou alcance ─ como é próprio de Dilma:
“Quem da oposição quiser se passar como sucessor do governo Lula não sendo é um lobo em pele de cordeiro”.
Em Roma, como os romanos. Em Ouro Preto, como os barrocos ─ já que Dilma sustenta que não quer barracos. Não há nada mais barroco que uma construção de Dilma.
A oposição quer se passar como sucessor de Lula? Não, a oposição não quer “se passar”, a oposição quer suceder Lula. E quer se passar não sendo? Lógico: se quer se passar, não é. Qualquer explicação para uma frase de Dilma acaba sendo tão estranha quanto a própria frase.
Mas um repórter quis detalhes: estamos falando de quem, candidata?
“O que eu chamei de lobo em pele de cordeiro é quem criticava até ontem e hoje não critica mais. Lobo em pele de cordeiro é uma expressão bíblica, que das pessoas caracterizam o que elas não são. Um cordeiro pode se vestir com uma pele bem branca e estar com as patas afiadas.”
A Bíblia tem uma linguagem rebuscada e oblíqua, mas gostaria de saber em que passagem do Livro Sagrado a imagem de pele de cordeiro está descrita como “que das pessoas caracterizam o que elas não são”.
E por que um cordeiro, se for cordeiro, se vestiria como uma pele bem branca se já é branco? E as “patas afiadas”? Nem no Ritual do Sacrifício do Levítico se encontram criaturas assim. No pior dos pesadelos, há apenas animais com garras afiadas.
Dilma é uma catástrofe de proporções bíblicas, apocalípticas. A cada entrevista, a cada manifestação, o Êxodo parece cada vez mais próximo.
CELSO ARNALDO

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