domingo, 10 de maio de 2015

BLOQUEANDO AS MÁS INFLUÊNCIAS - PARASHÁ EMOR 5775

 "O príncipe de certo reinado estava às vésperas de ser coroado rei, mas de acordo com as leis locais ele deveria ser casado para poder assumir o trono. Então ele convocou todas as moças jovens do reinado para que disputassem o cargo de futura rainha. Entre as moças que se apresentaram no palácio real estava Chana, uma jovem muito bonita mas muito pobre, que mesmo sabendo que tinha poucas chances de ser escolhida, resolveu participar da disputa. Quando Chana chegou ao palácio, lá estavam todas as mais belas moças, com as mais lindas roupas e finas joias. O príncipe então anunciou o desafio:

- Será entregue um vaso com uma semente para cada uma de vocês. Aquela que dentro de seis meses me trouxer a mais bela flor cultivada será escolhida como minha esposa e futura rainha.

Chana cuidava da sua semente com muita paciência e carinho. Mas passaram-se três meses e nada brotou. Ela tentou de tudo, usou todos os métodos que conhecia, mas nada adiantava. Ela saía na rua e via as flores das outras mulheres, crescendo e se tornando cada dia mais bonitas, e desanimava. Pensou em fazer algo desonesto e plantar outra semente, já que a sua não brotava. Porém, seus pais eram pessoas muito corretas e, ao escutarem seu plano, convenceram-na de que não valia a pena mentir, mesmo que o preço fosse perder a chance de se casar com o príncipe. Os seis meses se passaram e Chana não havia conseguido cultivar nada. Consciente do seu esforço e dedicação, mesmo sem nada para mostrar ao príncipe, ela decidiu retornar ao palácio na data e hora combinadas, levando seu pequeno vaso vazio.

Todas as pretendentes estavam lá, cada uma com uma flor mais bela do que a outra, das mais variadas formas e cores. O príncipe observava tudo com muito cuidado e atenção, e as pretendentes abriam um enorme sorriso ao mostrar, orgulhosas, suas belas flores cultivadas. Quando o príncipe viu o vaso vazio de Chana, não pôde deixar de notar a expressão de vergonha e tristeza no rosto dela. Após verificar os vasos de todas as jovens que haviam comparecido, o príncipe anunciou o resultado: Chana seria sua futura esposa. Ninguém compreendeu porque ele havia escolhido justamente aquela moça que nada havia cultivado! Então ele calmamente esclareceu:

- Em um lugar onde a mentira e a enganação estão presentes com tanta força, esta moça foi a única que cultivou a flor que a tornou digna de se tornar uma rainha: a flor da verdade. As sementes que eu entreguei para todas as mulheres eram estéreis, e não poderiam ter brotado nada..."

Estamos constantemente expostos a maus exemplos. A enganação, o roubo, a desonestidade e a traição estão cada vez mais presentes no nosso cotidiano. Temos que transformar nossas casas em verdadeiros santuários, nos quais apenas os bons valores podem entrar, para tentar nos proteger de toda esta má influência. 

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Na Parashá desta semana, Emor, a Torá nos ensina algumas leis mais rigorosas que eram aplicadas apenas aos Cohanim (sacerdotes) e ao Cohen Gadol (Sumo sacerdote), por eles terem um status espiritual mais elevado e serem os responsáveis pelos serviços do Mishkan (Templo Móvel). Existiam algumas restrições em relação a que tipo de mulheres eles poderiam se casar, e também havia restrições em relação a que grau de parentesco permitia aos Cohanim participarem de um enterro, pois quando um Cohen encostava ou ficava sob o mesmo teto que um corpo, ele se impurifica e ficava proibido por alguns dias de realizar os serviços espirituais no Mishkan, até que completasse seu processo de purificação.

A Torá define que os Cohanim tinham permissão de se impurificar apenas pelos seus parentes mais próximos, como seus pais e irmãos. Já o Cohen Gadol tinha rigorosidades ainda maiores, tanto em relação ao tipo de mulheres que poderia se casar, quanto em relação a se impurificar por um parente falecido. Por sua importância espiritual nos trabalhos do Mishkan, ele não podia se impurificar nem mesmo pelos seus pais, como está escrito: "Ele (Cohen Gadol) não deve sair do Mikdash (Santuário)" (Vayikrá 21:12). Ele não podia abandonar seus serviços no Mishkan para acompanhar um enterro, e deveria continuar normalmente seus serviços no Mishkan mesmo no caso de falecimento de parentes muito próximos.

Porém, deste versículo podemos aprender outro conceito espiritual muito importante, que nos ajuda a responder um interessante questionamento. O Talmud (Brachót 59a) nos conta a história de Yochanan, o Cohen Gadol, que serviu no Beit HaMikdash (Templo Sagrado) por 80 anos e depois acabou tornando-se um "Tzduki" (seita que acreditava apenas na Divindade da Torá escrita, mas ignorava a Torá Oral, se configurando uma das primeiras linhas "reformistas" do judaísmo, e foi responsável por afastar milhares de judeus do cumprimento das Mitzvót da Torá). Mas o Talmud (Ioma 38b) afirma que uma pessoa que já viveu a maioria dos seus anos e não transgrediu, então não vai mais transgredir. Então como pode ser que depois de 80 anos servindo como Cohen Gadol, entrando todo Yom Kipur no Kodesh HaKodashim, o lugar mais sagrado do mundo, Rabi Yohanan pôde ter caído tanto espiritualmente? Além disso, nossos sábios ensinam: "As transgressões não alcançam aqueles que trazem méritos para a comunidade" (Pirkei Avót 5:18). Se durante toda sua vida o Rabi Yohanan ocupou um cargo que trazia muitos méritos para todo o povo judeu, então como no final da vida ele se tornou um "Tzduki"?

Responde o Rav Ytzchak Zilberstein shlita que podemos aprender muitas lições espirituais prestando atenção no que ocorre no mundo material. Por exemplo, existem muitos remédios no mundo que curam alguns tipos específicos de doença. Porém, quando uma doença se espalha de maneira muito forte e descontrolada, transformando-se em uma epidemia, o ar ficar completamente contaminado com o vírus da doença. Nesta situação crítica, mesmo as pessoas mais saudáveis podem acabar se contaminando. Assim também ocorre espiritualmente, pois mesmo as pessoas mais elevadas espiritualmente podem se "contaminar" com "doenças espirituais contagiosas" que existem no ar. Foi exatamente o que ocorreu com Yohanan Cohen Gadol. Em sua geração a força dos Tzdukim era tão grande que até mesmo alguém elevado espiritualmente como ele acabou caindo na armadilha do Yetzer Hará (má inclinação). Os méritos citados pelo Talmud e pelo Pirkei Avót realmente funcionam para proteger a pessoa, mas quando as influências espirituais negativas são muito fortes e constantes, então estes méritos não são suficientes para bloquear completamente os efeitos negativos.

Atualmente não temos mais os Tzdukim nos ameaçando espiritualmente, mas infelizmente vivemos em uma sociedade onde valores como honestidade e integridade são cada vez mais raros. Nos noticiários somos bombardeados com notícias de fraudes, desvios, traições e divórcios. Isto nos faz perder a nossa sensibilidade, e cada vez ficamos menos chocados ao ver injustiças e roubos. Desvios de conduta que há até pouco tempo eram considerados abomináveis acabam se tornando aceitáveis. Então como fazer para nos proteger e não nos acostumarmos com o que é errado?

Explica o Rav Ytzchak Zilberstein shlita que a resposta está nas palavras do versículo "Ele não deve sair do Santuário". Não é um ensinamento apenas para o Cohen Gadol, mas para cada judeu. Apesar de o mundo estar repleto de más influências, existe um lugar onde podemos ficar imunes e protegidos: no Beit-Midrash, o local de estudo de Torá. Lá podemos receber boas influências, podemos crescer espiritualmente e bloquear tudo o que nos derruba espiritualmente, como ensinam os nossos sábios: "Se este pilantra (Yetzer Hará) aparecer, arraste-o para o Beit-Midrash. Se for pedra ele derreterá, e se for metal ele explodirá".

Mais do que isso, precisamos também transformar nossas casas em Santuários. Precisamos tomar muito cuidado com o que permitimos que entre em nossas casas, pois tudo pode afetar nossa espiritualidade. Atualmente os programas de televisão abusam da violência e da pornografia. Os jornais repetem o dia inteiro os casos de roubos e corrupção. Sem um bloqueio consciente das informações que entram em nossas casas, estamos sujeitos a destruir nossa sensibilidade espiritual.

Quando chegarmos ao nosso Julgamento Celestial, uma das primeiras perguntas que teremos que responder será: "Você fixou tempos diários para o seu estudo de Torá?". D'us não vai nos questionar por que não passamos o dia inteiro imersos na Torá, mas Ele questionará se tivemos a claridade de que há um propósito espiritual na vida. Sofremos influências negativas o tempo inteiro, e a nossa ida diária ao Beit-Midrash se torna fundamental em nossa purificação. Não apenas pelo estudo da Torá por si só, mas também pela influência positiva que o Beit-Midrash traz sobre cada judeu que decide se abrigar ali contra as más influências.

SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm
Lv 21:1-24:23, Ez 44:15-31

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