sexta-feira, 8 de março de 2013

EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS - PARASHIÓT VAYAKEL E PEKUDEI 5773

"Como você espera que as crianças escutem seus pais? Veja como se comportam seus heróis! O Tarzan vive seminu; a Cinderela volta para casa depois da meia-noite; o Pinóquio conta mentiras o tempo todo; o Aladdin é o rei dos ladrões; o Batman dirige a 320 km/h; a Bela Adormecida é preguiçosa; a Branca de Neve vive em uma casa com 7 homens.

Nós não devemos ficar surpresos quando nossos filhos se comportam mal. Eles aprenderam com seus livros de história"

Procuramos a fonte dos atuais problemas de educação dos jovens em tantos lugares, mas não sabemos que a resposta está bem mais perto do que imaginamos...

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Um dos grandes desafios de psicólogos e pesquisadores atualmente é entender por que há tanta violência e drogas entre os jovens. Tornaram-se comuns casos de rebeldia e falta de limites. Qual é a raiz deste problema, que traz tanta dor de cabeça para os pais? A resposta está nas Parashiót lidas nesta semana, Vayakel e Pekudei.

Enquanto as Parashiót Terumá e Tetzavê descreveram a construção do Mishkan na teoria, as Parashiót Vayakel e Pekudei descrevem os trabalhos práticos de construção. E assim diz um dos versículos da Parashá Vayakel: "E todas as mulheres que elevavam os seus corações com sabedoria fiavam o pelo das cabras" (Shemot 35:26). Mas é assim tão difícil fiar pelo de cabras, a ponto de ser necessário a Torá louvar a sabedoria das mulheres que fizeram este trabalho?

Uma parte do Mishkan era coberta com cortinas feitas de pelo de cabra. Para tecer o pelo das cabras, o normal é primeiro cortá-lo e somente depois começar todos os processos para trabalhar os fios. Explica Rashi, comentarista da Torá, que no povo judeu havia mulheres que tinham a incrível sabedoria de trabalhar o pelo das cabras sem cortá-lo, isto é, enquanto ainda estava conectado com as cabras vivas.

Mas esta explicação do Rashi desperta uma grande curiosidade: é verdade que transformar em cortina o pelo da cabra enquanto ele ainda está conectado ao animal é uma grande sabedoria. Mas para que isto era necessário? Por que não trabalhar o pelo das cabras da maneira tradicional, depois que ele já havia sido cortado, o que facilitaria muito o trabalho das mulheres?

Explica o Rav Meir Tzvi Bergman que o Mishkan era um lugar de grande pureza espiritual e, portanto, todas as suas partes e utensílios deveriam ser completamente puros. Nossos sábios explicam que, entre as leis sobre pureza e impureza espiritual, há uma regra de que nenhum animal vivo, e nenhuma parte do seu corpo, recebe impureza espiritual. Por isso as mulheres utilizaram a incrível técnica de fazer as cortinas do Mishkan com o pelo ainda conectado às cabras, evitando assim qualquer risco de contaminação espiritual. Provavelmente estas cortinas eram mantidas conectadas às cabras até o momento de sua utilização, quando eram cortadas e imediatamente incorporadas ao Mishkan, sem nenhum risco de se impurificar.

Mas de acordo com um comentário do Rambam (Maimônides), ainda assim fica difícil entender qual o motivo da utilização desta sabedoria especial das mulheres. Explica o Rambam, em um comentário sobre as Mishnaiót (parte da Torá Oral), que há maneiras de purificar objetos que receberam impurezas espirituais. Isto quer dizer que, mesmo se as cortinas entrassem em contato com qualquer tipo de impureza, elas poderiam ser purificadas para serem utilizadas no Mishkan. Portanto, por que as mulheres queriam garantir a pureza das cortinas de uma maneira tão difícil e complicada, se havia uma maneira muito mais fácil?

Há uma interessante passagem do Talmud (Baba Metsia 85b), que nos ajuda a encontrar a resposta. O Talmud conta que Rav Chia, um dos grandes sábios do povo judeu, queria garantir que a Torá nunca seria esquecida. O que ele fazia? Pessoalmente plantava sementes de linho. Com o linho ele costurava redes, com as quais caçava cervos. A carne dos cervos era utilizada para alimentar órfãos, enquanto a pele era usada como pergaminho, para escrever os 5 livros da Torá. Então ele ia com a Torá que havia escrito na pele de cervo de cidade em cidade, para ensinar Torá e Mishnaiot para as crianças. Assim ele garantia que a Torá nunca seria esquecida.

Mas se o intuito era apenas garantir que a Torá não seria esquecida, por que simplesmente o Rav Chia não pegava uma Torá pronta e ensinava às crianças? Por que precisava até mesmo plantar o linho e fazer a rede para caçar? A resposta é que a melhor garantia do sucesso espiritual é fazer cada pequena etapa do processo, do início até o final, com intenções puras e sem interesses pessoais. E assim afirmava o Gaon Mi Vilna, que se uma sinagoga fosse inteiramente construída com intenções puras, isto é, desde cada tijolo assentado e cada prego fixado na parede, e até mesmo as ferramentas dos trabalhadores fossem fabricadas com as mais puras intenções, e tudo fosse feito com o único intuito de cumprir a vontade de D'us, então era garantido que naquele lugar sagrado ninguém nunca teria um pensamento impuro durante as rezas, pois o Yetzer Hará (má inclinação) não receberia permissão de influenciar ninguém em um local tão puro. Foi por isso que o Rav Chia, para garantir que a Torá não seria esquecida, cuidou de tudo desde o princípio, isto é, desde o plantio das sementes, para garantir a pureza total de cada pequena parte do processo. Somente assim a transmissão da Torá, em sua máxima pureza e elevação, estaria garantida.

É por isso também que as mulheres que teceram as cortinas do Mishkan escolheram a maneira mais difícil de prepará-las, pois era a forma de garantir que tudo seria feito com muita pureza. Como elas estavam participando da construção da estrutura mais sagrada que o mundo já havia visto, elas fizeram de tudo para que nenhum tipo de impureza pudesse estar presente. Cada pequena parte do trabalho com o pelo das cabras, isto é, desde pentear, lavar e fiar, era feito com ele ainda conectados aos animais, em um estágio em que o pelo ainda não se contaminava com nenhuma impureza. Isto garantia que o resultado final seria uma cortina no máximo grau de pureza e devoção.

Mas quantas pessoas no mundo sabem pentear, lavar e fiar a lã enquanto ela ainda está conectada à cabra viva? Certamente muito poucas. É uma técnica muito difícil, são necessárias aptidões naturais, dedicação e longos treinamentos. Mas se as mulheres que fizeram as cortinas foram escravas no Egito durante toda a vida, como adquiriram esta destreza? A resposta está no começo do versículo: "E todas as mulheres que elevavam os seus corações com sabedoria". As mulheres realmente não conheciam esta técnica, não tinham feito cursos e não tinham ninguém para orientá-las durante a execução. Mas elas tinham o coração puro e determinado a cumprir a vontade de D'us. Quando elas se voluntariaram e voltaram seus corações para D'us em busca de ajuda, Ele as iluminou com toda a sabedoria necessária.

Este ensinamento está diretamente conectado com um dos principais fundamentos da educação dos filhos. Se quisermos que uma criança seja pura e possa levar esta pureza para toda a vida, precisamos cuidar da sua educação desde o nascimento. Cada etapa do seu desenvolvimento deve ser acompanhada de perto pelos pais, para afastar qualquer tipo de má influência. E, acima de tudo, os pais devem se esforçar para que todos seus atos também sejam feitos com pureza, pois muito mais do que palavras, o que mais educa um filho é o exemplo pessoal dos pais.

Não podemos esquecer que infelizmente o contrário também é válido. Quando uma criança é educada desde pequena sem a devida atenção dos pais e é exposta desde cedo a jogos com violência e uma programação de televisão recheada com cenas de promiscuidade, consumismo desenfreado e violência, como podemos esperar que esta criança cresça com boas características e valores? Atualmente os pais não têm mais tempo de acompanhar a educação dos seus filhos, acreditam que é suficiente contratar uma babá e matricular os filhos em uma boa escola. Mas a prática vem demonstrando que crianças educadas desta maneira, sem a participação ativa dos pais, se transformam em jovens problemáticos, que não respeitam os mais velhos, não conhecem seus limites e não estão dispostos a seguir regras. Isto tem um impacto negativo em toda a sociedade, com aumento no número de acidentes com motoristas jovens completamente embriagados, overdoses de drogas e vandalismo. Resumindo, vemos um fracasso total na atual "educação à distância" dos nossos filhos.

Da mesma forma que trabalhar o pelo das cabras com ele ainda conectado ao animal é algo quase impossível, um trabalho que necessita de uma destreza fora do normal, o mesmo se aplica à difícil tarefa de educar os filhos da maneira correta. Então como fazer para termos sucesso na educação dos nossos filhos? A resposta não está em buscar apoio pedagógico e se aprofundar em técnicas trazidas por livros que ensinam a educar os filhos. No caso das cortinas do Mishkan, para que as pessoas vencessem as limitações e fizessem o impossível, foi necessário que seus corações os levassem a fazer o que era correto. Aqueles que se esforçaram acima do normal para fazer o Mishkan com o máximo de pureza receberam de D'us o dom e a sabedoria de como fazer isso. Assim também certamente acontecerá com os pais que, com dedicação especial, voltando seus corações para D'us, se esforçarem para que seus filhos sejam educados no máximo nível de pureza, se tornando pessoas saudáveis e que possam contribuir para que o mundo seja um lugar melhor.

SHABAT SHALOM

R' Efraim Birbojm
http://ravefraim.blogspot.com.br/
Ex. 35:1-38:20, 1 Re 7:13-26, 40-50, 2 Co. 9: 6-11
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