sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

OURO PURO POR DENTRO E POR FORA - PARASHÁ TERUMÁ 5772

"O Rav Menachem Mendel Morgensztern, mais conhecido como Kotzke Rebe, viveu há cerca de 200 anos e foi um grande líder Chassídico. Além de tudo o que ele ensinou durante sua vida, um dos ensinamentos mais importantes foi justamente perto de sua morte.
Quando o Kotzke Rebe estava já no final de sua vida, no leito de morte, ele estava cercado por muitas pessoas queridas, entre familiares, amigos e alunos. Certo dia ele se sentiu tão fraco que, em determinado momento, pensou que iria morrer. Cobrindo os olhos com a mão, ele pronunciou o "Shemá Israel" com grande fervor, achando que aquelas seriam suas últimas palavras no mundo.
Ao ver aquela cena, todos os presentes entenderam que o pior estava para acontecer. Mas nada aconteceu, o Kotzke Rebe não faleceu naquele momento e até mesmo voltou a recuperar um pouco de suas forças. Os alunos, curiosos, perguntaram quais foram os pensamentos que passaram pela sua cabeça no momento em que recitava o que seria o último "Shemá Israel" de sua vida. O Kotzke Rebe respondeu:
- Quando senti que o fim estava chegando, o primeiro pensamento que passou em minha cabeça foi: "O que todos pensarão e dirão sobre mim quando virem que minhas últimas palavras foram o Shemá Israel?".
Obviamente que o Kotzke Rebe teve intenções muito elevadas e puras no momento em que pronunciou o Shemá Israel. Provavelmente ele se referiu a algum sentimento sutil de contentamento que sentiu ao imaginar o que as pessoas diriam sobre ele. Este foi um grande ensinamento que o Kotzke Rebe nos deixou: mesmo sendo uma pessoa tão elevada, e nos prováveis últimos instantes de vida, ele não estava livre da necessidade de buscar louvores. Muito mais nós, que não estamos em níveis tão elevados, devemos nos cuidar desta necessidade de buscar reconhecimento público por nossos bons atos.
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Na Parashá desta semana, Terumá, a Torá começa a descrever todos os detalhes da construção do Mishkan, o Templo Móvel que acompanhou os judeus durante todos os anos em que permaneceram no deserto. O Templo Móvel ainda foi utilizado durante muitos anos na Terra de Israel, mas depois foi substituído, durante o reinado de Shlomo Hamelech (Rei Salomão), pelo Beit Hamikdash de Jerusalém. No total, a Torá dedica quase cinco Parashiót inteiras para descrever os detalhes do Mishkan. Por que estes detalhes são tão importantes, se o Mishkan permaneceu por apenas algum tempo e depois foi definitivamente substituído?
Ensinam nossos sábios que cada detalhe do Mishkan traz consigo preciosos ensinamentos para nossas vidas. Por exemplo, ao prestar atenção na estrutura do Aron Hakodesh (Arca Sagrada), aprendemos algo interessante. O Aron Hakodesh foi construído com madeira de acácia, mas D'us instruiu que ele fosse revestido de ouro, tanto por dentro quanto por fora, como está dito: "E você o revestirá de ouro puro por dentro, e por fora o revestirá" (Shemot 25:11). É interessante perceber que, quando a Torá descreve o revestimento interno, fala explicitamente que deve ser de ouro puro, mas não menciona o ouro puro quando descreve o revestimento externo. Será que havia alguma diferença entre os revestimentos interno e externo do Aron Hakodesh?
Explica o Kli Yakar, famoso comentarista da Torá, que certamente o revestimento externo também foi feito com o ouro mais puro, pois em todos os detalhes do Mishkan foram utilizados apenas os melhores materiais. Então por que a Torá diferenciou a parte interna da parte externa, se as duas foram feitas exatamente da mesma maneira?
Quando um artesão faz uma peça, a tendência é que ele capriche muito mais no acabamento externo, a parte que todos vêem, do que no acabamento interno. Por isso a Torá não precisou ressaltar que o revestimento externo também deveria ser de ouro puro, pois se o artesão sabia que deveria fazer o revestimento interno de ouro puro, certamente que faria o revestimento externo também.
Mas há uma explicação ainda mais profunda, relacionada com a grande dificuldade que o ser humano tem de vencer seu orgulho e sua necessidade de buscar honra. Estamos sempre procurando elogios e reconhecimento. Grande parte das coisas boas que fazemos na vida recebe um "empurrãozinho" quando sabemos que há alguém olhando. Queremos parecer boas pessoas aos olhos dos outros e, por isso, muitas vezes fazemos bons atos em público que nunca faríamos se estivéssemos sozinhos. Pode parecer algo normal e até aceitável, mas nossos sábios ensinam que o orgulho é uma das piores características do ser humano, da qual devemos fugir com todas as nossas forças.
Sentir orgulho pelos nossos atos é tão grave que, durante o Vidui (confissão) que pronunciamos 10 vezes durante Yom Kipur, mencionamos muitas transgressões relacionadas com o nosso orgulho. Por exemplo, uma das confissões é "pelos pecados que pecamos diante de Você com mesquinharia". Explicam nossos sábios que mesquinharia inclui também todas as vezes em que deixamos de fazer favores aos outros por saber que não se tornariam públicos e, portanto, não receberíamos louvores por eles.
O oposto do orgulho é a humildade em nossos atos cotidianos. A humildade é uma característica tão importante que a Torá abre exceções para que possamos atingi-la. Por exemplo, a Torá nos adverte duramente sobre a gravidade de falarmos mentira. Porém, o Talmud (Baba Metzia 23b) ensina que há 3 coisas pelas quais temos permissão de mentir, sendo uma delas a humildade. Existe a permissão de esconder nosso verdadeiro nível espiritual, mesmo que para isso seja necessário ocultar a verdade. Por exemplo, se alguém pergunta para um grande estudioso de Torá se ele já estudou todos os tratados do Talmud, mesmo se já tiver estudado ele pode dizer que não.
O grande valor da humildade nos atos também pode ser enxergado na Mitzvá de Tzedaká (caridade). Por mais que seja muito louvável qualquer ato de doação, quando ele é feito de maneira oculta, sem que a pessoa que recebeu ou outras pessoas em volta saibam quem está doando, ele adquire muito mais santidade e pureza.
Por isso nossos sábios ensinam que a pessoa é julgada pela bondade que faz em casa, com sua família, e não pelas bondades que faz na rua. Mesmo que alguém seja presidente de uma associação beneficente que ajuda milhares de carentes, se ele não ajuda também sua esposa e seus filhos, sua bondade não tem valor. Pois na rua as pessoas fazem bondades para mostrar aos outros o quanto são caridosas, mas o verdadeiro teste do ser humano é o quanto ele faz bondades dentro de casa, mesmo quando ninguém está olhando.
É isso que a Torá está nos ensinando através dos detalhes da construção do Aron Hakodesh. Quando alguém faz um ato "interno", isto é, sem que os outros estejam olhando, então este ato é como o ouro puro, pois é certamente movido por boas intenções verdadeiras. Já os atos "externos" nem sempre são puros, pois podem ter outras motivações menos nobres envolvidas, como a vontade de que outras pessoas testemunhem estes bons atos e o elogiem. Na realidade, é muito difícil manter motivos completamente puros quando fazemos uma Mitzvá em público.
Nos ensina a Torá: "Em todo lugar que encontramos a grandeza de D'us, lá encontramos também a Sua humildade". Não há grandeza verdadeira sem humildade. Temos que nos assemelhar ao Criador, buscar a humildade em nossos atos, fugir das honras e elogios. A pessoa espiritualmente elevada, que conhece seu valor verdadeiro, não precisa fazer propaganda de seus bons atos, pois para ela é suficiente que o Criador esteja vendo suas bondades. Por isso temos que nos esforçar para fazer nossos bons atos de maneira oculta, onde não há chances da pureza de nossas intenções ser manchada pelo desejo de reconhecimento.

Como vencer o nosso orgulho? Ensina o livro "Orchót Tzadikim" (Psicologia dos Justos) que todas as vezes em que fizermos um bom ato, temos que nos questionar: "Se ninguém estivesse olhando o que vou fazer agora, eu faria do mesmo jeito ou não?". Somente assim poderemos ter a certeza de que nosso revestimento é de ouro puro, tanto por dentro quanto por fora.
SHABAT SHALOM

R' Efraim Birbojm
http://ravefraim.blogspot.com/
Ex. 25:1-27:19, 1 Re. 5:12 -6:13, 2 Co. 9:1-15

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