Mesmo com o controle de preço dos combustíveis pelo
governo - uma tentativa de estabilizar a inflação ao consumidor no país - o
motorista brasileiro paga um dos litros de gasolina mais caros do mundo. Uma
pesquisa da consultoria americana Airinc, obtida pelo GLOBO, mostra que a
gasolina comum vendida nos postos do país (R$ 2,90 por litro) custa 40% a mais
do que em Buenos Aires (R$ 2,08) e 70% acima do comercializado em Nova York (R$
1,71). Os dados foram coletados em 35 países, no mês de janeiro, e revela que a
gasolina brasileira ocupa a 13 posição entre as mais caras do mundo, próximo de
países desenvolvidos. Como na Noruega, onde o combustível chega a custar R$
4,49. Também estão à frente do Brasil, Inglaterra e Itália.
Segundo especialistas, os impostos cobrados sobre o
produto nas bombas são os responsáveis pela distorção. O preço do combustível ao
consumidor é atualmente composto por 39% de carga tributária (ICMS, Cide,
PIS/Pasep e Cofins). Outros 18% são a margem da distribuidora e revendedora; 9%
são o custo do álcool anidro (que é adicionado à gasolina) e mais 34% referem-se
ao custo da refinaria.
Segundo Alisio Vaz, presidente do Sindicato
Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom),
o principal problema está no imposto na esfera estadual. No Rio, por exemplo, o
governo do estado cobra 31% de ICMS sobre a venda da gasolina. Isso representa
R$ 0,90 do preço do produto.
- Não é nosso papel ficar reclamando de tributação.
Quem tem que fazer isso é o consumidor. O imposto é estabelecido pelos poderes
Executivo e Legislativo. Mas a carga tributária é sim muito alta - afirmou Vaz,
para quem o peso tributário torna desprezível, por exemplo, os problemas
logísticos do país na distribuição de combustíveis, o que aumentaria em "alguns
centavos de real o custo final do produto".
Especialistas divergem sobre redução de
impostos
Para Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de
Infraestrutura, no entanto, política tributária do combustível no país está
correta. Ele explica que uma gasolina barata aumentaria o consumo do produto,
causador de poluição, e beneficiaria apenas a parcela da população que tem
dinheiro para ter automóvel:
- Uma gasolina barata não beneficiaria a
coletividade. Reduzir impostos da gasolina significaria abrir mão de arrecadação
para outros objetivos, como saúde e educação. Esse recurso pode ir para melhorar
metrô, transporte coletivo. Gasolina barata é coisa de país pouco
desenvolvido.
O tema é controverso. A classe C tem sido a
principal responsável pelo aumento do consumo de combustíveis e pela compra de
automóveis no Brasil. Segundo o antropólogo Everardo Rocha, da PUC-Rio, a
carência de transportes públicos de qualidade muitas vezes exige a compra de um
carro.
- Uma gasolina mais barata também incentivaria a
indústria e a economia inteira. Foi assim nos EUA. Uma gasolina barata não é uma
questão apenas de classe social. E quem garante que os recursos arrecadados são
revertidos em investimento ou se perde em coisas menos importantes? - disse
Rocha.
Petrobras alega que recebe R$ 1 por litro
vendidoO combustível brasileiro aparece na pesquisa com o
mais caro da América Latina, superando países como Chile (R$ 2,71), México (R$
1,29) e Venezuela (R$ 0,03). Esta última tem o combustível mais barato do
mundo.
O preço do combustível brasileiro não é mais caro
porque a Petrobras vende o produto a preços subsidiado na refinaria, o que
chegou a prejudicar o resultado da companhia no quarto trimestre do ano passado,
cujo lucro caiu 52% frente ao mesmo período do ano anterior. E isso pode
aumentar a pressão na estatal por um reajuste de preços.
Em entrevista exclusiva ao GLOBO publicada ontem, a
presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, afirmou que "num tempo
determinado, os preços terão que ser ajustados" ao ser perguntada sobre os
impactos da perdas com combustíveis da companhia no ano passado. "Comparando
2011 com 2010, tivemos uma diferença de R$ 2,8 bilhões, o que é muito",
acrescentou Graça Foster.
Segundo a Petrobras, a companhia recebe sem
impostos R$ 1,02 para cada litro de gasolina comum vendida nos postos,
considerando um valor de R$ 3 por litro. A empresa acrescenta que não tem
ingerência sobre o valor restante (R$1,98). "Portanto o preço final da gasolina
no varejo não depende exclusivamente da companhia, mas envolve outros agentes",
acrescentou em nota.
Adriano Pires, do Cbie, defende a livre flutuação
de preço do combustível e afirma que o governo brasileiro erra ao usar a
gasolina como mecanismo de controle de inflação.
- O governo brasileiro tem que procurar outros meio
de controlar a inflação sem ser pelo controle de preço do combustível. Em outros
países, quando o preço do petróleo sobe, o custo da gasolina cresce -
explica.
O produto comercializado pela Petrobras está 16%
mais barato na gasolina e 21% mais barato no óleo diesel em relação ao preço lá
fora. Por isso, a estatal deixou de arrecadar R$ 7,8 bilhões em 2011.
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