Pelo contrário, a importação dos principais macronutrientes (nitrogênio, fósforo
e potássio) -
matérias-primas indispensáveis à fabricação de fertilizantes -
cresce conforme a demanda
nacional, sendo responsável pelos maiores déficits
encontrados na balança comercial da indústria
química do País. No ano
passado, o saldo negativo foi de US$ 8,7 bilhões, quase o dobro do que os US$
4,8
bilhões de 2010, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria Química
(Abiquim). Entre
todos os produtos listados pela entidade - que vão de
farmacêuticos a tintas -, os três itens de maior
importação estão ligados
justamente ao segmento de adubos: (1º) o cloreto de potássio, pelo qual
se pagou
US$ 3,4 bilhões; (2º) o fosfato de amônio, US$ 1,4 bilhão; e (3º) a ureia, US$
1,3 bilhão.
As importações desses componentes cresceram, em 2011,
respectivamente, 57%, 140% e 85%. "Exceto pelo potássio, o Brasil tem
esses recursos disponíveis, e condições de investimento. Mas
não tem condições
de preço e garantia de fornecimento, por isso há importações dessa grandeza",
disse a diretora de Economia e Estatística da Abiquim, Fátima Ferreira. Ela
citou o caso da ureia
como exemplo da disparidade de preços existente entre o
mercado nacional e o externo. A ureia, bem como a amônia, advém da
fração de metano do gás natural. No País, o combustível
custa quatro vezes mais
do que nos Estados Unidos: US$ 12 contra US$ 3 por milhão de BTUs
(unidade
térmica britânica, na sigla em inglês), segundo Fátima. Portanto, o Brasil
importa 25% da
amônia e 67% da ureia que consome. Os elementos fazem parte do
grupo de nitrogenados, essenciais
na produção de
adubos.
Inalcançável
O novo presidente da Abisolo,
associação que reúne 70 empresas voltadas à produção de
fertilizantes alternativos, Clorialdo Roberto Levrero, não acredita que a indústria brasileira
vá alcançar, um dia, a autossuficiência no segmento de adubos. O máximo que pode
acontecer,
segundo o representante, é o País "não ser tão dependente quanto
hoje". A Abisolo propõe o aproveitamento de subprodutos da agropecuária,
ou seja, restos de animais e
de colheitas, por meio da transformação das sobras
em compostos especiais, para a nutrição da
terra. "Com isso, potencializa-se a
eficiência do nitrogênio, do fósforo e do potássio. Pode-se reduzir
em até 30% a
dependência na compra desses insumos", afirmou Levrero. De acordo com
ele, ao importar cerca de 25 milhões de toneladas por ano de produtos
relacionados
à fertilização, o Brasil mantém um nível de dependência de 70% em
relação ao mercado externo.
"Os preços acabam sendo caros e a concorrência,
desigual." Por outro lado, um dos diretores da Yara Brasil Fertilizantes
- braço de uma multinacional norueguesa
- enxerga os adubos como uma espécie de
commodity. "E como todas as commodities, a produção
nacional não significa
redução de custos", disse Paulo Ricardo Schuch. Para ele, "o agricultor não
está
disposto a pagar mais por uma produção local". A Yara Brasil importa
macronutrientes de regiões distintas do mundo, como Marrocos, Bielorússia
e
Canadá. "A maioria dos fertilizantes já vem próxima da forma de uso. Fazemos
alguns ajustes
para o agricultor brasileiro", disse o executivo. Schuch é
da opinião de que o Brasil pode diminuir sua dependência externa, mas que
continuará a
importar porque a demanda é crescente. "A China, que consome cinco
vezes mais adubos do que nós,
é um grande produtor, mas também um grande
importador. O Brasil, no futuro, será o mesmo", afirmou.
"A
autossuficiência, se um dia for alcançada, será no longuíssimo prazo", previu
Schuch.
Gargalos
Outro empresário do ramo, o
vice-presidente da Mbac Fertilizer, Roberto Belger, frisou que "o
produto
importado não paga ICMS [Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços],
o
nacional sim. Isso aumenta a falta de competitividade no setor". A questão
tributária é um dos
principais entraves, segundo as fontes consultadas pela
reportagem. Outro ponto refere-se a problemas com logística: em
muitos casos, as reservas de macronutrientes
já mapeadas se encontram em locais
de difícil acesso. As minas de fósforo, por exemplo, concentram-se
em torno de
Uberaba (MG), e o custo do transporte faz com que as importações sejam mais
vantajosas. E também há limitações naturais, como acontece com o
potássio, cuja produção nacional é a menor
dentre as três matérias-primas usadas
na fabricação de adubos: vindos principalmente do Sergipe,
apenas 10% do
potássio consumido no País são extraídos do mesmo. No ano passado, a
presidente Dilma Rousseff havia declarado que "é um absurdo importar 60% [do
consumo interno de fertilizantes]". Dois anos antes, em 2009, o então ministro
da Agricultura,
Reinhold Stephanes, tinha esboçado uma meta (2020) para o País
atingir a autossuficiência.
Houve até a criação de um Plano Nacional de
Fertilizantes.
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário