Mostrando postagens com marcador Comércio Exterior. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Comércio Exterior. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 27 de março de 2012

País caro e complicado

O GLOBO
Rubens Barbosa

De um experiente político britânico, hoje homem de negócios, ouvi, na semana passada, em
Londres, que, nos meios empresariais europeus e americanos, começa a ganhar corpo a percepção
de que o Brasil está chegando ao limite de sua capacidade de expansão do crescimento e que
o governo terá pouco tempo para reverter essa impressão, caso queira manter a grande visibilidade
do país e sua atração de investimentos. "O Brasil está muito caro e muito complicado para
investir", me disseram várias empresas.
O sucesso da política econômica, demonstrado pela estabilidade da economia, junto com
o controle da inflação e a volta do crescimento, e pela expansão do comércio exterior,
quadruplicado desde 2003, escondeu os reais problemas do setor industrial por mais de
uma década. O alto nível do crescimento em 2010 (7,5%) expôs nossa debilidade no tocante
a mão de obra qualificada, a educação e a infraestrutura, enquanto que a baixa taxa em 2011
(2,7%) expôs o impacto sobre a indústria da perda da competitividade da economia brasileira.
A crescente desindustrialização, com a perspectiva de fechamento de um grande número de
empresas, e o inevitável desemprego, sobretudo na indústria de transformação, uniram
as centrais sindicais e o setor empresarial, liderado pela Fiesp.
O grito de alerta contra a desindustrialização e em prol do emprego, com a perspectiva
de grande mobilização popular e a criação de uma frente parlamentar para defender os postos de
trabalho e a indústria no Congresso, acendeu a luz vermelha em Brasília.
A presidente Dilma Rousseff convocou, na semana passada, 28 importantes representantes
do setor industrial para discutir a situação e determinar aos ministérios da Fazenda e da
Indústria e Comércio medidas concretas de apoio ao setor industrial. Aparentemente,
a presidente saiu sensibilizada do encontro e entendeu que o setor industrial de transformação
precisa de uma atenção maior neste momento em que, por questões conjunturais,
está perdendo competitividade.
Embora, nos dez últimos anos, as medidas de apoio à indústria e ao comércio exterior tenham
sido tímidas e muitas vezes nem chegaram a ser implementadas, a reação presidencial parece
representar uma mudança positiva de postura em relação à indústria de transformação,
o setor mais afetado pela perda da competitividade. Nesse sentido, a indústria não pode senão
dar um voto de confiança, na expectativa de que medidas efetivas sejam anunciadas pelo governo
no curto prazo.
A desoneração da folha de pagamento sem novo tributo sobre o faturamento, a devolução de
impostos bem acima de 3% via Reintegra, a simplificação do PIS-Cofins, a melhoria da
eficiência da Alfândega, medidas para impedir a apreciação cambial, a ampliação e o
barateamento do crédito, a busca de formas para reduzir o custo da energia e a melhoria da
infraestrutura são todas medidas compensatórias bem-vindas. A retomada da indústria
depende, entretanto, de medidas mais amplas, que envolvam soluções para o alto custo da
tributação, da energia e dos juros bancários, não de mais protecionismo.
Apesar da guerrilha que o governo hoje enfrenta no Congresso, a Frente Parlamentar
poderia liderar movimento para discutir uma verdadeira reforma tributária que permita
uma ampla negociação entre os estados para benefício de todo o país. Há um pacote pronto
para ser discutido entre o governo e os estados. A reforma do Imposto de Circulação sobre
Mercadorias e Serviços (ICMS), a aprovação da Resolução 72/2010, que prevê a
uniformização da alíquota do ICMS interestadual para importações, a repactuação dos royalties
do pré-sal, a desoneração da folha de salários, a dívida dos estados e sua renegociação sem violar
a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), todas essas importantes matérias poderiam ser
colocadas conjuntamente na mesa para uma ampla negociação.
Aproveitando o momento, uma modificação no processo decisório do comércio exterior
com o reforço da Camex e a separação da Alfândega da Receita Federal ajudaria em muito o
setor privado e o funcionamento da economia.

RUBENS BARBOSA é presidente do Conselho de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo

segunda-feira, 12 de março de 2012

Seis produtos são responsáveis por metade das exportações brasileiras

Luiz Guilherme Gerbelli
O Estado de S. Paulo
 
Minério de ferro, petróleo bruto, complexo de soja, carne, açúcar e café somaram 47% do valor exportado
O Brasil vem aumentando cada vez mais nos últimos anos sua dependência da exportação de matérias-primas. No ano passado, apenas seis grupos de produtos - minério de ferro, petróleo bruto, complexo de soja e carne, açúcar e café - representaram 47,1% do valor exportado. Em 2006, essa participação era de 28,4%.
Esse aumento da dependência ganha contornos ainda mais preocupantes porque o maior comprador atual das matérias-primas brasileiras passa por um momento de transição. Na semana passada, a China anunciou que vai perseguir uma meta de crescimento de 7,5% ao ano. A meta anterior era de 8% ao ano.
"Esse novo crescimento chinês ainda é expressivo para qualquer país, mas, nesse momento, cria um fato negativo para a cotação das commodities", diz o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. "Ao dizer que vai reduzir o ritmo de crescimento, a China diz, indiretamente, que vai comprar menos insumos."
Em dezembro, a entidade previu que o Brasil terá este ano um superávit de US$ 3 bilhões, resultado bem inferior ao saldo comercial de US$ 29,7 bilhões do ano passado. "Mas houve uma melhora do cenário dos preços desde então", diz Castro.
De qualquer forma, o Índice de Preços de Commodities do Banco Central (IC-BR) já aponta um recuo na cotação das commodities. Em fevereiro, o indicador caiu 2,96% na comparação com janeiro e, no acumulado de 12 meses, teve queda de 12,68%.
"Essa tendência de queda só não é mais forte porque está havendo uma injeção global de recursos no mundo todo. Há uma expansão de crédito para economia mundial que não começou agora", diz Fábio Silveira, economista da RC Consultores. Apesar disso, ele estima um recuo de 10% no preço da soja, carne, açúcar e do café este ano. "O crescimento menor da China reafirma a perspectiva de baixa dos preços", afirma.
Meta de vendas
Entre 2006 e 2011, puxada pelas commodities, a receita de exportação do Brasil aumentou de US$ 135,9 bilhões para US$ 256 bilhões. Este ano, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) definiu US$ 264 bilhões como a meta de exportação, valor 3,1% maior que o do ano passado.
Para Rodrigo Branco, economista da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), as exportações de commodities vão continuar dominando a pauta brasileira este ano. Ele ressalta, porém, que o saldo comercial do País deverá ser menor, porque, além do preço mais baixo das commodities, as importações devem permanecer em um patamar elevado.
"Estamos com uma demanda relativamente aquecida em relação ao resto do mundo, principalmente de bens de consumo duráveis", diz.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Aumenta protecionismo brasileiro no comércio exterior

DCI
Fernanda Bompan


As expectativas para a balança comercial brasileira e seu impacto na produção industrial estão a pressionar o governo por adotar medidas de caráter protecionista
Com o déficit de US$ 1,3 bilhão em janeiro, o maior para o mês da série histórica, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) confirmou que uma série de estímulos à exportação brasileira será adotada. Ao mesmo tempo, mais atitudes para conter as importações serão tomadas.
Para especialistas entrevistados pelo DCI, essas medidas para beneficiar os exportadores devem ser mais ligadas à redução de impostos. "Não vejo espaço para mexer no câmbio ou que o governo adote ações mais criativas, como a antecipação dos recebíveis de exportação. Acredito que algum benefício fiscal deve ser tomado", especula Gabriel Charilaos Vlavianos, diretor da EAGroup Brasil, administradora de fundos de investimentos.
Ontem, em mensagem ao Congresso, a presidente da República Dilma Rousseff afirmou que o Brasil vai avançar ainda mais neste ano nas políticas de defesa comercial para coibir a concorrência desleal contra a indústria do País. Desde o final do ano passado, o governo adotou medidas que visa favorecer o crescimento econômico, tal como o aumento do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos importados.
E, agora, há uma expectativa de que após a volta da presidente Dilma e dos ministros do Mdic, Fernando Pimentel, e das Relações Internacionais, Antônio Patriota, um acordo entre Brasil e México possa ser rompido, a fazer com que carros importados passem a valer 35% a mais em imposto ao entrar no País.
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), disse, por meio de nota, que considera importante a manutenção do Acordo de Comércio Automotivo Brasil-México por sua relevância como fator de integração comercial e de fomento do comércio bilateral.
"A Anfavea entende que acordos internacionais de comércio são dinâmicos e podem ser atualizados, ampliados e ou ajustados em sua abrangência e condições. E defende ainda a celebração de novos acordos de comércio e preferências tarifárias, como instrumento indutor e promotor do comércio exterior brasileiro e como fator de estabilidade e de competitividade das relações de trocas ", avaliou no comunicado.
Segundo a associação, o comércio automotivo de veículos e peças Brasil-México, no valor de US$ 4,3 bilhões em 2011, representa 47% do fluxo comercial entre os dois países. Entre 2000 e 2011 as exportações de veículos e peças para o México totalizaram US$ 21,2 bilhões e as importações, US$ 8,7 bilhões.
Pelos dados do Mdic, as importações de automóveis mexicanos cresceram 40% em 2011, ao somar R$ 2 bilhões, e resultaram em um déficit de US$ 1,7 bilhão na balança comercial.
Para Vlavianos, ações como o aumento de impostos são formas de atrair a instalação de fabricantes estrangeiras no País, e com isso, trazer mais tecnologia. Intenção essa que já surte resultados, já que, segundo ele, a JAC Motors mostrou interesse em abrir fábricas no Brasil. "O governo, de fato está preocupado com a situação da balança comercial. Por isso, é possível que continue a fazer medidas mais paliativas", diz o diretor da EAGroup.
Contudo, recentemente um grupo de sete governos - Austrália, União Europeia, Estados Unidos, Hong Kong, Coreia, Japão e Colômbia - atacou na Organização Mundial do Comércio (OMC) as barreiras adotadas pelo Brasil no setor automobilístico, acusando de serem "inconsistentes" com as regras internacionais.
Em resposta, o governo brasileiro insistiu que estava sendo transparente em relação às medidas. Mas sabe-se que alguns países consultaram suas empresas para saber se há interesse da abertura de uma disputa.

Protecionismo
Ao divulgar o resultado da balança comercial de janeiro, a secretária de comércio exterior do Mdic, Tatiana Prazeres, previu que o ano será complicado para o País. Segundo ela, as importações estão avançando muito além das exportações. Dados do varejo confirmam que a tendência é de que a compra de produtos estrangeiros deve continuar forte, a se acompanhada pela depreciação da moeda norte-americana, que fechou ontem a R$ 1,7220 por dólar, com recuo de 0,63%.
O diretor-presidente da Associação Brasileira dos Terminais Portuários (ABPT), Wilen Manteli, entende que o Brasil tem direito a se defender das disputas internacionais. "O que não pode é ter um protecionismo que beneficie a ineficiência", diz. A opinião é endossada por Vlavianos.
De acordo com Manteli, não adianta proteger o comércio exterior brasileiro, sem resolver os gargalos internos. "A carga tributária ainda é muito alta no País, o que prejudica o setor privado como um todo, inclusive os exportadores. Além de que a logística do País ainda é deficitária. Há avanços no setor portuário, por exemplo, mas o acesso a ele [transporte] é complicado", analisa o especialista.


COMENTO:
Este governo é de uma incompetência absurda.
Protecionismo? Para começar, vai proteger o quê? A indústria brasileira está por um fio.
Não há estrutura seja rodoviária, de portos ou de aeroportos. A carga tributária é um horror. Tenho certeza absoluta que se houvesse menos burocracia e mais incentivos conseguiríamos ao menos sobreviver. Mas como concorrer com a China, este gigante que tem mão-de-obra barata, baixos impostos e o câmbio a seu favor?
O mais interessante é que a única coisa que ainda resiste e segura a balança comercial brasileira é o agronegócio. Seria muito bom que as pessoas tivessem conhecimento disto. Pois até com isto os ambientalistas querem acabar: com a produção de alimentos.
O Novo Código Florestal já está em pauta novamente. Aguardemos e veremos.

sábado, 17 de setembro de 2011

Mais um puxadinho

O Estado de S. Paulo
Celso Ming

O governo Dilma improvisou na quinta-feira decisões de política de comércio exterior, destinadas a proteger a indústria nacional de veículos da concorrência do produto proveniente do exterior.
As vendas de veículos importados por empresas sem fábricas no País foram 104,1% superiores às de agosto do ano anterior. O governo "ficou assustado", como admitiu o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e decidiu fazer qualquer coisa. A medida-chave foi a elevação do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) em 30 pontos porcentuais que, no entanto, não prevalecerá nos casos em que forem respeitados índices de conteúdo nacional (peças e partes fabricadas no Brasil ou no Mercosul) e de investimentos em tecnologia. Na prática, os preços dos carros importados, especialmente chineses e coreanos, subirão cerca de 28%.
Além de casuística, a decisão tomada em nome dos interesses do setor produtivo nacional e da criação interna de empregos é protecionista e, em princípio, contraria as regras de comércio exterior consagradas nos tratados internacionais. Talvez porque espere reação da Organização Mundial do Comércio (OMC), o governo brasileiro se definiu pelo caráter transitório das novas disposições. Vigorarão somente até dezembro de 2012 - período curto, que parece desestimular a interposição de recursos contra a decisão do governo em Genebra, onde está a sede da OMC.
Essa transitoriedade é, ao mesmo tempo, limitadora da eficácia dessa decisão. Se o objetivo é garantir mais conteúdo nacional e mais investimentos do veículo produzido em território brasileiro, pressupõe-se que as montadoras desenquadradas (e, aparentemente, são quase uma dezena delas no Brasil) precisem de um prazo mais esticado para planejar, contratar e incorporar peças nacionais.
Se a questão de fundo fosse de concorrência desleal do produto vindo do exterior, a ação adequada seria a abertura de processos antidumping ou, simplesmente, de embargo administrativo pelas autoridades aduaneiras. E, se fosse a necessidade de criar mais empregos, então outros setores, especialmente o de serviços, deveriam merecer mais atenção.
A questão de fundo é o reconhecimento de que a indústria instalada aqui no Brasil, seja lá qual for a origem do seu capital, trabalha em condições adversas tanto de custos como de produtividade. São a excessiva carga tributária, os elevados encargos sociais e trabalhistas, os juros mais altos do mundo, a infraestrutura precária ou inexistente, o excesso de burocracia, a corrupção, a Justiça lenta... e por aí vai. E isso não vale apenas para a indústria de veículos; vale para toda a cadeia produtiva do Brasil.
Em vez de trabalhar decididamente para diminuir o custo Brasil, colocar em marcha reformas de base e ampliar o mercado externo para o setor produtivo, o governo federal optou por remendos de duvidosa eficácia que, de quebra, criam insegurança jurídica, por serem claramente contestáveis na Justiça.
Enfim, essa é a "cultura do puxadinho" estendida para a política industrial do Brasil.

CONFIRA
Curto prazo por longo prazo
Na quarta-feira, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) voltará a definir que os juros básicos (Fed funds) permanecerão em torno de zero por cento ao ano. Até aí, nada de novo. É o nível dos juros já garantido até "meados de 2013", anúncio feito na última reunião do Fed, em 9 de agosto. O que o mercado espera de novo é alguma indicação de que o Fed colocará em marcha a chamada Operação Twist. Trata-se da troca de títulos de curto prazo da carteira do Fed por títulos de mais longo prazo. Como das outras vezes, a situação mudará pouco. Mas o mercado terá dois ou três dias de euforia.
Desova
O presidente da Apollo Global Management (firma de private equity), Leon Black, acredita que não sobrará opção aos bancos europeus senão se desfazerem de cerca de US$ 2,1 trilhões de dólares em ativos (títulos, aplicações e participações acionárias) para adequar suas necessidades de capital. É o que apontou ontem a agência de notícias Bloomberg.

domingo, 1 de maio de 2011

O Acordo do Pacífico

O Estado de S. Paulo

Editorial
Com mais um acordo de livre comércio, desta vez entre México, Chile, Colômbia e Peru, avança a integração econômica das Américas numa direção rejeitada pelo Brasil a partir de 2003, quando a diplomacia nacional desenterrou o terceiro-mundismo. Três desses quatro países já têm acordos com os Estados Unidos. O quarto, a Colômbia, concluiu as negociações, mas falta a sanção do Congresso americano, emperrada por motivos políticos. Apesar disso, o intercâmbio colombiano com os Estados Unidos é bem maior do que o seu comércio com o Brasil.
O novo pacto, batizado como Acordo do Pacífico, formará um mercado maior que o brasileiro, disse o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos. O presidente mexicano, Felipe Calderón, foi um pouco mais audacioso: começou a ser formada, segundo ele, a maior zona comercial da América Latina. Por enquanto, essas avaliações são meramente retóricas, até porque o comércio entre os quatro sócios do novo clube é menor do que seu intercâmbio com o Brasil. Segundo informação do governo peruano, as trocas entre os quatro movimentaram no ano passado US$ 6 bilhões. O valor chegará a US$ 9 bilhões, estimou Calderón.
No ano passado, a corrente de comércio do Brasil com esses países totalizou US$ 22,15 bilhões, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). O Brasil exportou US$ 12,19 bilhões e teve um pequeno superávit comercial, US$ 2,19 bilhões. A nova zona de livre comércio ainda terá de crescer muito, portanto, para gerar entre seus sócios um comércio tão grande quanto o mantido com o Brasil.
Mas seria um erro avaliar esse acordo apenas com base nesses números. Por ser membro do Mercosul, formalmente uma união aduaneira, o Brasil não pode negociar com o México um acordo de livre comércio. Os governos brasileiro e mexicano têm assinado acordos mais limitados. Na retórica, os dois lados têm definido objetivos mais ambiciosos, com a inclusão de maior número de produtos na pauta de intercâmbio. Mas as conversações têm avançado lentamente. Enquanto não se avança, outros países vão ocupando espaços no mercado mexicano, um dos maiores das Américas. No sentido oposto, a multiplicação de acordos entre sul-americanos e as potências da América do Norte tende a anular as vantagens concedidas até agora ao Brasil pelos países da vizinhança.
O Acordo do Pacífico, no entanto, tende a produzir consequências mais amplas em termos de integração hemisférica. Os Estados Unidos são um parceiro comercial muito mais importante do que o Brasil para todos esses países. No ano passado, os produtores americanos exportaram US$ 12 bilhões para a Colômbia, US$ 10,87 bilhões para o Chile, US$ 6,75 bilhões para o Peru e US$ 163 bilhões para o México. Os Estados Unidos importaram de cada um desses países US$ 15,65 bilhões, US$ 7 bilhões, US$ 5,09 bilhões e US$ 229,65 bilhões, respectivamente. Em todos os casos, acordos comerciais foram importantíssimos para a formação desse enorme volume de trocas.
Os Estados Unidos têm acordos de livre comércio com 17 países. Nove são latino-americanos e o presidente Barack Obama continua trabalhando pela aprovação dos tratados com a Colômbia e com o Panamá. O acerto com a Coreia continua na dependência do Congresso. Enquanto isso, a Casa Branca discute a liberalização do intercâmbio com vários países do Pacífico.
Nas Américas, portanto, acordos entre países já vinculados aos Estados Unidos por meio de pactos de livre comércio fazem avançar a integração. A diplomacia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva trabalhou para liquidar o projeto da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), mas seu terceiro-mundismo - ou antiamericanismo - não contaminou os governos mais pragmáticos da região. Além disso, o governo americano discute acertos comerciais também fora das Américas. Alguns dos acordos negociados ou em discussão envolvem economias altamente competitivas, como a Coreia. Cada acordo oferece a países concorrentes do Brasil facilidades de acesso ao mercado mais importante do mundo. E ainda há quem considere uma grande façanha a liquidação da Alca.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

CNA defende entendimento no Mercosul para fortalecer comércio agropecuário

Só Notícias

Da Redação
O entendimento entre os países do Mercosul nas questões comerciais poderá ampliar o comércio entre seus países membros, além de fortalecer o bloco econômico na conquistas de mais mercados para os produtos agropecuários. A afirmação é do vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Carlos Rivaci Sperotto, que participou na sexta-feira (15-4) do ciclo de discussões “Agricultura em debate”, promovido pela Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Senado para discutir o impacto das assimetrias do bloco na atividade rural. “Há dificuldades políticas e diferentes graus de desenvolvimento. Mas temos condições de construir uma posição conjunta”, afirmou.
Ao defender o entendimento no bloco, Sperotto justificou também que o Mercosul será “o grande fornecedor de alimentos ao mundo”, diante da dificuldade de outros países em aumentar suas áreas de produção. “Temos mais 150 milhões de hectares de terra para usar”, destacou o dirigente, que também preside a Comissão Nacional de Relações Internacionais da CNA. Em busca de alternativas que atendam aos interesses do setor agropecuário nos países do Mercosul, Sperotto citou o avanço das discussões sobre temas como a erradicação da febre aftosa e a mosca da bicheira, doenças que afetam o rebanho bovino, que já resultaram em ações práticas de controle sanitário nos quatro países que integram o bloco: Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
Ele lembrou que houve várias reuniões para propor soluções para reduzir a assimetrias no Mercosul, tanto no âmbito governamental quanto nos encontros da Federação das Associações Rurais do Mercosul (FARM), entidade que reúne as principais entidades representativas dos produtores rurais dos quatro países membros do bloco. Ressaltou, ainda, que apesar das divergências, o Mercosul já tem 20 anos de existência, fator que “pode ser considerado uma vitória”. O vice-presidente disse, ainda, que a criação de um Parlamento para o Mercosul também reforçaria as discussões em busca de um entendimento comercial.
O deputado federal Luiz Carlos Heinze (PP-RS), que também participou do debate, disse que, com as assimetrias no Mercosul, o produtor rural brasileiro perde competitividade para os países vizinhos por ter um custo de produção mais alto. Citando a região Sul como exemplo, ele afirmou culturas o trigo, o arroz, a uva e o alho estão entre as culturas mais prejudicadas com as distorções entre os países. “Enquanto um produtor do Paraguai para R$ 390 mil por uma colheitadeira, aqui ele paga R$ 590 mil. O frete para transportar a produção do Uruguai até o Nordeste é US$ 60 por tonelada. Do Rio Grande do Sul até o Nordeste, o mesmo frete é US$ 110”, disse.
Já a secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Tatiana Lacerda Prazeres, apresentou dados sobre a balança comercial do agronegócio do Brasil com os países do Mercosul. De janeiro a março deste ano, as exportações brasileiras para o bloco cresceram 28,1% em relação aos primeiros três meses do ano passado. No mesmo período, as importações aumentaram 17,2%. Outro participante do debate foi o diretor do Departamento do Mercosul do Ministério das Relações Exteriores, Bruno Bath, que também defendeu um entendimento no bloco para ampliar o comércio.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Agronegócio é o sustentáculo das exportações

Jornal do Comércio

Da Redação
Quando campo vai bem, as cidades florescem. Ninguém conseguirá levar progresso, emprego e renda para as zonas urbanas à custa do empobrecimento rural. Isso volta a ser provado quando o ministro da agricultura, Wagner Rossi, divulgou que os preços das principais commodities estão oferecendo remuneração boa ao produtor, mesmo com a situação de dólar desvalorizado. Dessa forma, a balança comercial do setor deve bater recorde em 2010. A agropecuária e a agricultura terão um saldo positivo de pelo menos US$ 60 bilhões, superando o recorde de 2008, quando atingiu US$ 59,987 bilhões. O Brasil está batendo recordes com a produção dos campos. As exportações do agronegócio já somaram US$ 70,3 bilhões entre janeiro a novembro, valor 17,7% superior a igual período do ano passado. Para 2010, calculam os técnicos que as vendas para o exterior superem a US$ 75 bilhões. As importações do setor, este ano, devem ficar entre US$ 12 bilhões e US$ 14 bilhões. O melhor é que ocorreu a ampliação das vendas de produtos do agronegócio brasileiro para mercados como Irã, Egito, Rússia, Venezuela e China. Destinos como Europa Oriental, Oriente Médio e Mercosul têm crescido mais fortemente do que os Estados Unidos e Europa, tradicionais compradores dos produtos agropecuários nacionais.
Rossi mantém uma forte aposta sobre o mercado russo, especialmente em relação à carne bovina. O Rio Grande do Sul tem obtido ótimas safras nos últimos anos, ajudando na consolidação das contas públicas, simultaneamente ao ajuste fiscal promovido e que, desde 2007, consolidou o equilíbrio entre as receitas e as despesas no Estado. O momento é oportuno para que, a par da atração de mais indústrias para o Rio Grande do Sul, também os pequenos produtores sejam incentivados a investir, recebendo financiamentos compatíveis em termos de juros e prazos, aplicando a modernização em suas lavouras e criação.
A vocação gaúcha e brasileira ainda é a produção primária, sem desmerecer os setores secundário, a indústria, da mesma forma que os serviços, o setor terciário, e o comércio em geral. Vamos consolidar o País e o Estado como grandes e confiáveis produtores de alimentos que disso ninguém, jamais, poderá abrir mão. Apoiar o agronegócio e a agricultura familiar não são atitudes excludentes. Pelo contrário, são complementares. O que não se pode é abordar o assunto através do viés ideológico. Aí sim, a discussão descamba para atitudes ferrenhas do contra ou a favor e não se chega a nenhum lugar. Pelo menos é assim que tem sido no Rio Grande do Sul, quando a oposição julga que em tudo há processos escusos ou que teria solução melhor. Quando a oposição, seja de que partido ou grupo de apoio chega ao poder se convence, bem mais rapidamente do que se espera, que existem soluções lógicas e de bom senso que independem da posição política de esquerda ou de direita, algo, aliás, considerado anacrônico quando o que se deseja é o bem-estar geral da população. Para um final de governo em Brasília e no Piratini, o caminho da lavoura continua sendo a salvação. Apostar na agropecuária é um bom negócio.
EMAIL: noticiasdodia@cna.org.br

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Não é só um saldo menor

O Estado de S. Paulo
Celso Ming
Não é apenas a queda do superávit (diferença entre exportações e importações), de 35,4% no comércio exterior do Brasil, que precisa ser examinada a partir dos números ontem divulgados. Há um punhado de outras coisas que precisam de mais análise.
As importações nos 11 primeiros meses deste ano dispararam 43,9%, uma enormidade num cenário geral de crise e de estagnação do comércio exterior global. O Brasil se tornou um bom porto para produtos encalhados no resto do mundo em consequência da queda do consumo e da recessão. Mas não dá para dizer que esse crescimento das importações seja apenas efeito da sobrevalorização do real (baixa cotação do dólar em relação à moeda nacional). É principalmente resultado do forte aumento do consumo (mais 10%) que, por sua vez, está relacionado com o salto da renda (mais 12%, sem desconto da inflação) e do crédito (mais 20%). E, é claro, esses fatores estão por trás, também, do recuo do saldo positivo.
O excelente desempenho das exportações não ficou muito atrás do apresentado pelas importações. Cresceram nada menos que 30,7% no acumulado do ano (até novembro), apesar da retração mundial das encomendas em decorrência da crise e também da baixa do dólar, que encareceu o produto exportado. É um resultado excepcional.
Em cada setor da indústria, há aqueles que se queixam de que essa exuberância das exportações se deve apenas ao bom momento das matérias-primas metálicas e das commodities agrícolas, em prejuízo dos produtos da indústria. É verdade que os altos preços dos produtos básicos vêm garantindo uma receita 40,4% maior com exportações nessa categoria. Mas não se pode desdenhar do que acontece com os outros segmentos. As exportações de produtos manufaturados, os mais sensíveis ao câmbio adverso, estão 19,2% mais altas. E a dos semimanufaturados (açúcar, celulose, ferro, ligas, óleo de soja, etc) avança a 38,0%.
O bom volume de exportações de manufaturados também tem a ver com as importações, na medida em que a indústria está importando cada vez mais matérias-primas, peças e componentes e, dessa forma, barateando o produto final. O mesmo se pode dizer do setor de máquinas. Na última sexta-feira, o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, lembrava que, em apenas quatro anos, a indústria importou nada menos que US$ 125 bilhões em máquinas e equipamentos, mais do que o dobro contabilizado no período de 2003 a 2006 (inclusive). É também fator relevante de modernização da indústria.
A indústria reduziu sua participação no PIB, de 21% nos anos 70 a alguma coisa ao redor dos 15% em 2010. Mas isso só marginalmente tem a ver com o processo de desindustrialização da qual se queixam tantos empresários. Por trás desse fenômeno está o fortalecimento relativo da agroindústria e do setor de serviços.
Argumentar que esse arranjo está produzindo desemprego não tem o menor cabimento. Hoje, apenas 6,1% da população economicamente ativa está sem trabalho. É o melhor indicador de toda a história brasileira.
Mais tempo de vida pra você
Cada ano, a expectativa de vida do brasileiro ao nascer aumenta de três a quatro meses. É a primeira observação que se pode fazer das informações ontem divulgadas pelo IBGE.
Mudanças à vista
São números que apontam para impactos enormes na economia e na política nos próximos anos. Uma população mais velha exigirá grandes mudanças no sistema de Previdência Social para garantir mais aposentadoria. É um futuro com mais geriatria do que pediatria, mais lar de velhinhos e menos creches e escolas.
http://si.knowtec.com/scripts-si/MostraNoticia?&idnoticia=26982&idcontato=8897966&origem=fiqueatento&nomeCliente=CNA&data=2010-12-02

Comento:
Talvez o autor não saiba, mas o saldo na balança comercial só não ficou pior por causa da alta nos commodities, responsáveis como ele mesmo citou, por um aumento de 38%. O câmbio desvalorizado só atrapalha quem quer exportar. Tira a competitividade da indústria que ainda tenta se equipar e o produtor rural que poderia aproveitar o momento aguarda a colheita de sua safra em andamento.
O consumo aumenta porque o brasileiro além de não saber poupar, gasta muito acima de suas posses, basta ver o aumento do crédito e do endividamento.
Vejo que vivemos numa bolha econômica e se o governo que assumir não tomar a devidas providências, estourará e o resultado não será nada agradável.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

A indústria e o comércio exterior

O Estado de S. Paulo

Rubens Barbosa

Apesar do bom desempenho das importações e exportações em 2010, a vulnerabilidade externa, nos últimos anos, tem sido uma das principais preocupações do setor industrial. A perda de competitividade no mercado internacional foi responsável, em grande parte, pela redução da participação de produtos manufaturados a apenas 40% do total exportado pelo Brasil, o mesmo nível de 1978.
A Fiesp preparou documento com propostas concretas para corrigir as distorções geradas pela alta taxa de juros, pela apreciação do câmbio e pelo excessivo custo Brasil. A combinação desses três fatores tem contribuído para um amplo processo de reestruturação produtiva, alterando a forma de inserção do País no comércio externo.
Cabe mencionar algumas de suas consequências:
Tendência à redução do superávit comercial e ao aumento do déficit em transações correntes, pondo em risco a estabilização e a sustentabilidade do crescimento;
Maior concentração das exportações em produtos de baixo conteúdo tecnológico e intensivos em recursos naturais, incluindo commodities cujos mercados apresentam elevada volatilidade;
Presença crescente de importados no mercado interno (22% do consumo doméstico), agravando a tendência de desindustrialização da economia e de perda de postos de trabalho.
Ações para tornar o câmbio competitivo e mitigar seus impactos negativos sobre o comércio exterior são necessárias para preservar setores industriais relevantes da economia brasileira. A desoneração tributária das exportações, o combate à guerra fiscal e a melhoria na logística também podem atuar para perspectivas mais favoráveis do setor externo.
A despeito da importância no conjunto da economia e para a geração de emprego, o comércio exterior desempenha papel secundário na política econômica e na estrutura do governo federal. Encontro empresarial na semana passada, com a participação da CNI, Fiesp, AEB e Funcex, examinou essa questão em profundidade e apresentou propostas concretas, encaminhadas à equipe da presidente eleita, para melhorar a eficácia dos principais órgãos intervenientes do comércio exterior.
A Câmara de Comércio Exterior (Camex) necessita ser fortalecida. Melhor coordenação entre os órgãos e Ministérios, assim como um diálogo mais estreito entre o governo e o setor privado tornam urgente o estabelecimento de um comando único para as decisões de política de comércio exterior. O presidente da Camex teria a função de coordenar a política de comércio exterior em cooperação com os titulares do Itamaraty e dos Ministérios do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e da Fazenda, bem como com os representantes de outros órgãos competentes (cerca de 40). Com vista a elevar o nível do processo decisório, está sendo sugerida a criação do cargo de presidente da Camex, com status de ministro coordenador das políticas de comércio exterior, vinculado diretamente ao presidente da República. Dentre suas principais funções, caberia a essa nova Camex, por exemplo, a prévia revisão e concordância na criação ou alteração das leis, regulamentos e normas que afetem o comércio exterior e a discussão e aprovação da estratégia de negociação comercial externa, sem que seja alterada a competência dos referidos órgãos.
A Coordenação-Geral de Administração Aduaneira (Coana) da Receita Federal e a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do MDIC deveriam ser reforçadas. As deficiências na estrutura dos órgãos responsáveis pelo combate às práticas ilícitas na fiscalização aduaneira, na Coana, e de defesa comercial, na Secex, têm efeito direto sobre o desempenho comercial do País. A precariedade dos recursos existentes é responsável, por exemplo, pela ausência de vistoria documental ou física de cerca de 85% das mercadorias que entram no País e pela dificuldade de levar adiante em tempo hábil as reclamações de dumping feitas por empresas nacionais, sobretudo contra a China. A Coana e a Secex deveriam contar com melhores sistemas, equipamentos e pessoal, para assegurar o cumprimento de suas funções. Nesse contexto, deveria ser considerada a gradual separação da Coana da Receita Federal.
A simplificação e a desburocratização do comércio exterior impõem-se pelo cipoal de leis, decretos e atos executivos (cerca de 3 mil leis) dos órgãos da administração pública que regulam as operações de comércio exterior. A complexidade na interpretação e na aplicação dessas regras inibe a competitividade do setor exportador e estimula irregularidades nos procedimentos de importação. Segundo o relatório Doing Business, do Banco Mundial, o Brasil é o 100.º país em termos de facilidade para o comércio exterior. A consolidação dessas normas deveria ter como foco a redução dos procedimentos e a facilitação das operações.
A estratégia de negociação comercial deveria ser modificada. O Brasil continua tendo participação muito pequena em acordos internacionais de comércio. Enquanto países como Chile e México negociaram acordos de livre-comércio com 45 e 42 países, respectivamente, o Brasil assinou apenas dois, de reduzida importância comercial (Israel e Egito), nos oito últimos anos. O crescente número de acordos comerciais concluídos por nossos principais parceiros começa a deslocar as exportações brasileiras em terceiros mercados. O Brasil deveria assumir uma posição agressiva para assegurar condições favoráveis de acesso a mercados para suas exportações, incluindo a conclusão de novos acordos com relevantes parceiros comerciais e a exigência da correta aplicação das regras de comércio existentes.
Essa agenda da indústria para a reforma do comércio exterior deveria merecer cuidadoso exame e, por decisão política, ser implementada pelo novo governo de Dilma Rousseff.
PRESIDENTE DO CONSELHO DE COMÉRCIO EXTERIOR DA FIESP

http://si.knowtec.com/scripts-si/MostraNoticia?&idnoticia=26663&idcontato=8897966&origem=fiqueatento&nomeCliente=CNA&data=2010-11-23

Café é destaque no agronegócio

Tribuna de Minas

 Da Redação

Antes mesmo de fechar o ano, o agronegócio mineiro já bateu recorde nas exportações. No acumulado de janeiro a outubro, as vendas do estado para o mercado internacional somaram US$ 6,1 bilhões. O valor é superior ao total verificado nos últimos dois anos (2009 e 2008), até então, os recordes estaduais, com US$ 5,6 bilhões e US$ 5,9 bilhões, respectivamente. Os dados foram divulgados ontem pelo Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
De acordo com o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o café é responsável pela maior parte do faturamento do agronegócio estadual. As vendas no acumulado somaram US$ 3,1 bilhões, alta de 34,8% na comparação com o mesmo período de 2009. As exportações de açúcar dobraram em termos de faturamento, atingindo US$ 853 milhões. Com este valor, o açúcar passou a ser segundo produto na pauta de exportações.
"Os recordes deste ano são resultado da valorização de preços dos produtos agrícolas no mercado internacional e do aumento da participação dos produtos de Minas Gerais em outros países. Além do crescimento no faturamento, também aumentamos a quantidade vendida para o exterior. O nosso desempenho superou a média nacional", disse o secretário de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, Gilman Viana.
O valor das exportações nos dez primeiros meses do ano cresceu 33% ante o mesmo período do ano passado, quando os embarques movimentaram US$ 4,6 bilhões. Na quantidade exportada, o crescimento foi de 14%, ao atingir 5,9 milhões de toneladas de produtos agropecuários enviados ao exterior. Já a média do agronegócio nacional apresentou crescimento de 16,5% no valor exportado (US$ 64 bilhões) e de 6,5% da quantidade vendida (99,3 milhões de toneladas).

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Quem paga a conta

O Globo
Raul Velloso
Vai contra a visão comum, mas o modelo de crescimento do consumo há vários anos em vigor no Brasil, e que foi vitorioso nas urnas, não ajuda a indústria de transformação. É certo que a demanda cresce para todos os setores da economia, mas na indústria, menos competitiva e com preços dados internacionalmente (ou em tendência declinante no mundo), o crescimento acentuado da demanda é sinônimo de maiores importações e menores taxas de retorno relativamente ao resto da economia. Já nos setores que pouco comercializam com o exterior (como na maioria dos serviços), demanda mais forte implica preços crescentes, atraindo parte dos capitais empregados na indústria.
Dito de outra forma, a taxa de câmbio real, que mede a razão entre os preços dos setores mais abertos e os dos segmentos menos voltados para o exterior, tende a cair, sistematicamente, onde o crescimento do consumo é a mola propulsora da economia e é amplo o acesso a capitais externos, como no Brasil dos últimos tempos. Maior acesso a importações obviamente beneficia os consumidores e facilita o combate à inflação. Mas como é comum em economia, uns se beneficiam (consumidores) e outros se prejudicam (produtores industriais).
Não é à toa que o peso da indústria caiu de 27% para 15% do total e o saldo comercial com o exterior, que foi superavitário em US$ 22,4 bilhões no período janeiro-setembro de 2005, passou a deficitário (-US$ 25,8 bilhões) nos primeiros nove meses deste ano, conforme artigo de Jorge Okubaro, no Estadão de 31/10/2010.
A situação se complica (ou a taxa de câmbio se aprecia ainda mais) por pelo menos dois fatores que acentuaram a referida tendência ao fortalecimento da moeda. O primeiro é a existência de um setor intensivo em recursos naturais e tecnologia, altamente competitivo, e que exporta vultosos excedentes, como o nosso setor de commodities minerais e agrícolas (com destaque para os minérios da Vale, a soja e o Programa dos Cerrados, e para o petróleo e a Petrobras), cujos preços externos se encontram em ascensão desde 2002, com breve interrupção apenas durante a crise de 2008-2009. Esse segmento é o responsável pelo forte aumento de nossa receita anual com exportações, que subiu de US$ 50 a 180 bilhões entre 2002 e 2010.
O outro é a atual conjuntura mundial, que pode se manter inalterada por uns dois ou três anos, sob a qual um inédito volume de capitais vem sendo despejado no País, atraído pelas oportunidades de negócios nos setores ganhadores (commodities e serviços) e pelas taxas de juros recordes.
Nos últimos doze meses encerrados há pouco, ingressaram quase 100 bilhões de dólares de capitais (líquidos de investimentos diretos no exterior), para financiar um déficit em conta corrente externo de cerca de US$ 50 bilhões. Deduzidas outras despesas em dólares, o resto é comprado pelo Banco Central, que financia essas compras com colocações de títulos públicos no mercado financeiro interno, pressionando as taxas de juros para cima e atraindo ainda maior volume de capitais, além de aumentar o já elevado custo de carregamento dessas reservas no País. (A propósito, com o atual diferencial entre o custo da dívida interna e as taxas de juros internacionais o governo está arcando com um custo anual próximo de 1,4% do PIB ou R$ 50 bilhões para “carregar” o atual estoque de reservas.) Outra forma de ver o mesmo problema é perceber que os países que poupam pouco (já que consomem muito), como o Brasil, são países com moedas mais apreciadas, e com indústria em encolhimento. O oposto se verifica na China e em outros países da Ásia: poupa-se bem mais, e, mesmo investindo muito, ainda sobra um volume expressivo de poupança para comprar dólares e investi-los no exterior, pressionando para cima a taxa de câmbio e, por consequência, estimulando a indústria de transformação relativamente aos demais setores. No Brasil, para absorver poupança de fora, a fim de complementar o minguado esforço local, algum setor tem de gerar déficit externo, e esse será, obviamente, aquele mais frágil frente à competição internacional, a indústria de transformação.
(Note que o déficit externo é o próprio ingresso de poupança externa no País.) Nessas condições, lutar com medidas administrativas contra a tendência à apreciação e continuar na sistemática atual de o Banco Central comprar o que sobra de dólares nos mercados ao fim do dia é chover no molhado.
Para conter essa tendência, a saída é aumentar a poupança interna para comprar esses dólares, começando necessariamente pelo setor público, e não precisar emitir títulos (vejam o altíssimo custo acima referido).
Vale dizer: cortando gastos públicos correntes, em especial os gastos ineficientes apontados em estudo que coordenei recentemente para o Movimento Brasil Eficiente. No outro extremo, o caminho é não comprar reservas e deixar a taxa de câmbio “derreter” no mercado, algo de consequências imprevisíveis para a indústria.
RAUL VELLOSO é economista
http://si.knowtec.com/scripts-si/MostraNoticia?&idnoticia=26136&idcontato=8897966&origem=fiqueatento&nomeCliente=CNA&data=2010-11-08

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Livre comércio: Uma ideia difícil de ser aceita e no entanto tão simples

Todo economista sensato é – ou deveria ser – a favor do livre comércio. Digo “deveria ser”, posto que não existem argumentos econômicos contrários ao princípio, e que os economistas (insensatos?) que se posicionam contrariamente, o fazem por outras razões que não as de ordem propriamente econômica: defesa do emprego nacional, ausência de reciprocidade por parte dos parceiros comerciais, desequilíbrios setoriais devidos a externalidades negativas em outros setores, etc.; ou seja, argumentos de natureza puramente política, quando não oportunista ou meramente conjuntural.

Todos os políticos sensatos afirmam ser – por vezes, enganosamente – a favor do livre comércio; mas, de fato, praticam o mais deslavado protecionismo. Eles o fazem sob o argumento de que “a teoria é perfeita, mas na prática não funciona”; na verdade, geralmente, eles estão apenas atrás de reeleição no seu curral eleitoral, eventualmente ameaçada se a competição estrangeira destruir muitos empregos localmente.
É compreensível que a lógica (inatacável) do livre comércio não seja muito compreensível ao cidadão comum (com perdão pela redundância): pessoas sem maior instrução econômica – ou sem um simples conhecimento da história – não conseguem compreender que comprar produtos mais baratos do exterior sempre será melhor do que tentar fazer tudo localmente, empregando-se os fatores nacionais na produção de bens para os quais se dispõe de vantagens comparativas relativas, posto que, deste modo, a renda aumentará para todos os parceiros no negócio, tanto exportadores, quanto importadores. O cidadão comum só consegue ver a “perda” dos empregos locais e a “transferência” de renda para o exterior, deixando de perceber os benefícios evidentes da especialização produtiva segundo a dotação (não estática) de fatores.
É menos compreensível que políticos, em geral cidadãos mais educados do que a média – ops, talvez não em todos os países… –, sejam contra o livre comércio, já que eles (ou os seus assessores) estariam em condições de comprovar o quanto o livre comércio contribui para o aumento dos índices de produtividade, para os níveis de competitividade e, portanto, para a geração de riqueza nacional, medidos direta ou indiretamente quanto aos seus resultados de médio e de longo prazos. Mas talvez não se possa pedir a políticos que sejam sempre racionais e coerentes com a realidade.
É menos compreensível ainda, ou talvez não seja racionalmente admissível, que economistas inteligentes se posicionem contra o livre comércio, quando, mesmo decidido unilateralmente, ele só traz benefícios aos países que o praticam. Como dito acima, os argumentos contra o livre comércio por parte de “economistas” não são de natureza econômica, mas de ordem essencialmente política. Mesmo um economista reputado inteligente como Paul Samuelson produziu um “teorema” e caiu na esparrela de opor-se a ele sob a justificativa de que o livre comércio diminuía os salários dos trabalhadores menos qualificados… nos Estados Unidos (sic!).
Talvez os economistas que assim procedem tampouco querem, a exemplo dos políticos oportunistas, ser acusados de contribuir para a perda de empregos nacionais, ou para o aumento do déficit comercial, seja lá o que for mais importante. Mas nada explica a construção de argumentos aparentemente sérios contra o livre comércio, quando essa oposição causa, objetivamente, perda de renda nacional, perda de oportunidades de especialização produtiva – e, portanto, de ganhos de produtividade em setores com demanda externa potencialmente maior – e perda de nichos de integração na economia internacional, a maior provedora possível de tecnologias inovadoras, know-how, capitais e receitas de exportação. Não se pode esquecer que, por definição, a soma do conhecimento externo sempre será maior do que qualquer conhecimento interno, mesmo para a maior e mais poderosa economia nacional (o que é evidente pelos dados de licenciamento tecnológico e de registro de patentes).
O livre comércio, aliás, é um pouco como a tecnologia: destrói alguns empregos localizados, setorialmente e temporariamente, ao mesmo tempo em que cria novos empregos, em setores mais avançados e geralmente de melhores salários. Pode ocorrer, claro, que as perdas sejam mais amplas, de mais longa duração, e que os novos empregos não sejam, localmente, de mais alta remuneração. Mas isto se deve a outros fatores causais, talvez externalidades negativas ainda não revertidas pela economia nacional, e não propriamente aos mecanismos do livre comércio, que sempre tendem a produzir ganhos de renda na economia como um todo.
Sendo isso verdade – e não vejo argumentos contrários a essas idéias que sejam racionalmente defensáveis – é surpreendente que o livre comércio não seja ainda mais disseminado – ou seja, universal e unilateral – do que os poucos exemplos parciais, quase em formato de arquipélago ou de colcha de retalhos, dos acordos que podem ser legitimamente classificados sob essa rubrica e como tal registrados na OMC. Com efeito, a maior parte dos acordos ditos de livre comércio são, na verdade, de liberalização comercial, deixando ainda largas frações das economias nacionais – geralmente agricultura e indústrias labor-intensive – ao abrigo da concorrência estrangeira.
O outro argumento – de natureza política, sublinhe-se mais uma vez – que busca refrear o avanço dos acordos de livre comércio é o de que seus ganhos (ou perdas), do ponto de vista da renda dos cidadãos, seriam muito pequenos e difusos (ou seja, disseminados por toda a sociedade); ao passo que seu impacto negativo é geralmente concentrado numa indústria ou num setor específico, podendo produzir, portanto, efeitos devastadores numa cidade ou numa região inteira. Se isso é verdade, políticos responsáveis deveriam ser a favor do livre comércio, posto que os ganhos (ou perdas) para a economia e a sociedade como um todo são incomensuravelmente maiores do que o argumento do foco concentrado, por definição parcial e limitado a uma parte apenas da economia ou da sociedade.
Um simples cálculo de contabilidade nacional permitiria comprovar que o efeito de uma tarifa elevada ou de uma salvaguarda – mesmo temporária – sobre um produto ou serviço qualquer oferecido em competição a um similar nacional, é muito mais relevante do que os custos setoriais e limitados do livre comércio, por vezes em dígitos de milhões, contra simples dezenas ou centenas de milhares. Da mesma forma, os empregos perdidos (ou não criados) pela ausência de livre comércio são mais relevantes, no plano da qualidade e dos vencimentos, do que os poucos empregos preservados temporariamente pela sanha de algum político protecionista.
Este é, finalmente, o último argumento em favor do livre comércio: os empregos assim “salvos”, estão irremediavelmente condenados, posto que eles não poderão se manter indefinidamente num mundo irremediavelmente globalizado (mas, de certa forma, ele sempre o foi, pelo menos para as economias de mercado). A indústria assim protegida corre um risco ampliado de, mais cedo ou mais tarde, perecer completamente, quando não se lhe oferece a oportunidade (e a chance) de enfrentar a concorrência pela qualificação tecnológica, pela reconversão produtiva, pela inovação incremental.
Não existem, repito, argumentos racionais, economicamente defensáveis, contra o livre comércio; tudo o que se disser contra ele tem causas e fundamentação essencialmente políticas. Ainda aguardo o teorema que irá provar o contrário, eu e David Ricardo…
(Publicado em “OrdemLivre.org“)
Paulo Roberto de Almeida

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Campinas analisa falhas no comércio exterior

A burocracia nos portos e aeroportos foi apontada como o principal entrave pelas empresas associadas ao Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) regional Campinas que atuam em comércio exterior.

No caso das importações o desembaraço das mercadorias é lento e mercadoria parada representa custo, o que prejudica a competitividade.
Com relação às exportações, a burocracia está associada às barreiras técnicas e sanitárias. Ainda referente às exportações, as empresas apontaram também dificuldades com relação aos altos custos do transporte e a taxa de câmbio.
A falta de demanda internacional em decorrência da estagnação dos mercados americano e europeu como reflexo da crise econômica global também representa uma dificuldade de exportação, o que levou estas empresas a buscarem o mercado interno como solução da distribuir seus produtos.
As informações constam da primeira pesquisa de sondagem de comércio exterior feita pelo Ciesp Campinas na primeira quinzena deste mês junto às suas associadas com dados referentes ao mês de julho com análise dos resultados dos pesquisadores do Centro de Pesquisas Econômicas da Faculdades de Campinas (Facamp). O levantamento mostrou também que as exportações das empresas associadas ao Ciesp Campinas atingiram US$ 164 milhões em julho de 2010 e as importações atingiram cerca de US$ 178 milhões registrando um déficit na balança comercial da ordem de US$ 14 milhões.
Em comparação com o mês de junho de 2010 a corrente comercial caiu 33%. Em comparação do mês de julho de 2010 com o mesmo período de 2009 a corrente de comércio exterior caiu 13%. Essa queda é atribuída à pequena desaceleração da economia brasileira nos últimos meses e à manutenção do baixo crescimento da economia internacional. No acumulado de janeiro a julho a corrente de comércio exterior da Região Metropolitana de Campinas supera a marca de US$ 3,1 bilhões, ou seja, 24% superior ao mesmo período do ano passado. Este desempenho maior foi registrado para o crescimento das importações (23,6%) e das exportações (24,4%) comparando janeiro a julho de 2010 com igual período de 2009.
Um dado que chama a atenção na pesquisa é que o índice de 24% de aumento nas exportações da RMC é superior ao desempenho registrado no Estado de São Paulo que foi de 21%.
Quando comparada a 2008, a recuperação das exportações e das importações ainda está bem abaixo do que foi registrado naquele ano. No acumulado de janeiro a julho as exportações de 2010 estão inferiores em 39% na comparação com igual período de 2008. Já as importações estão 38,6% menores na comparação dos períodos.
Sondagem
A sondagem interceptou também que mais da metade das empresas associadas ao Ciesp Campinas (59%) importaram entre 6% e 25% do valor de seu faturamento e 50% delas exportaram este mesmo percentual. O coordenador do centro de pesquisas econômicas da Facamp, professor Rodrigo Sabbatini, analisou que isso mostra a importante atuação dessas empresas no comércio exterior.
"Cerca de 18% das empresas exportadoras vendem ao exterior mais de 50% de seu faturamento, ou seja, elas tem um coeficiente de exportação muito elevado. Isso é um fato muito interessante porque mostra que são empresas que são muito competitivas no mercado internacional."
Em julho de 2010, a Argentina foi o principal mercado das exportações das empresas associadas ao Ciesp Campinas. Na sondagem 23% delas apontaram que a Argentina foi o principal comprador de seus produtos. Ainda referente à exportação 32% das empresas da RMC tem como alvo de seus produtos a Arábia Saudita, Chile, Colômbia, Caribe e Síria, Paraguai e Venezuela.
Os Estados Unidos aparecem para 18% das empresas como destino para seus produtos. No caso das importações a China é o principal parceiro comercial para 41% das empresas seguido pelos Estados Unidos com 27% e União Europeia com 23%.
A sondagem de comércio exterior do Ciesp Campinas mostrou também que pelo porto de Santos passam quase 60% dos produtos importados e exportados pelas empresas da RMC associadas ao Ciesp. Na segunda posição vem o aeroporto internacional de Viracopos com 27% de produtos importados e 23% de produtos exportados.
"O perfil de produção da região pressupõe produtos cujo transporte por avião é mais complexo, custa muito caro e não vale a pena. A importância de Viracopos é maior do que a gente imaginava", analisa Sabbatini.
O setor metalúrgico liderou as exportações e as importações no mês de julho com total exportado de US$ 61,77 milhões com 37,7%.
http://www.dci.com.br/noticia.asp?id_editoria=8&id_noticia=338935