O Produto Interno Bruto (PIB)
cresceu apenas 2,7%, segundo o cálculo divulgado ontem pelo
Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE). A inflação chegou a 6,5% e bateu no teto da
meta. Foi impulsionada não só pela alta dos preços internacionais de petróleo,
metais e produtos
agrícolas, mas também por uma forte demanda de consumo. Além
disso, pioraram as transações
com o exterior. A receita de exportações de bens e
serviços elevou-se 4,5%, enquanto a
despesa com importações subiu 9,7%. Mais uma
vez o setor externo deu uma contribuição
negativa para o PIB, subtraindo 0,7% do
crescimento. Essa tendência, observada há alguns
anos, deve acentuar-se neste
ano, a julgar pela evolução do comércio exterior brasileiro no primeiro
bimestre
e pelas projeções tanto oficiais quanto do setor privado.
Se dependesse apenas da demanda interna, a economia
brasileira teria crescido 3,4%, de acordo com
os dados do IBGE. Mas a indústria
foi incapaz de atender ao apetite dos consumidores, por causa dos
custos
elevados e da valorização do real. Com o real valorizado, os produtos nacionais
ficam mais
caros, quando seu preço é convertido em dólares ou euros. Além disso,
o dólar barato estimulou as
viagens ao exterior, bem como as remessas de lucros
e dividendos, e também esses fatores
pesaram nas contas.
Houve um claro descompasso na economia brasileira.
O consumo das famílias cresceu 4,1%,
impulsionado pela expansão do emprego, pelo
aumento de 4,8% da massa de salários reais e por
empréstimos pessoais 18,3%
maiores que os do ano anterior. Enquanto isso, a produção industrial
avançou
apenas 1,6% - deslocada pela competição estrangeira - e a de serviços, 2,7%. A
inflação teria certamente superado a marca de 6,5%, se a importação não tivesse
coberto
uma parcela considerável da demanda dos consumidores.
O governo aponta como dado positivo a expansão de
4,7% no investimento em máquinas,
equipamentos, construções e obras públicas. O
crescimento do PIB, segundo o discurso otimista,
foi puxado pela aplicação de
recursos no fortalecimento da capacidade produtiva e, portanto, o Brasil
está no
caminho certo. No entanto, o investimento, equivalente a 19,3% do PIB segundo as
contas
do IBGE, continua longe do necessário para um crescimento econômico igual
ou superior a 5% ao
ano sem pressões inflacionárias e sem grave desequilíbrio
externo.
Esse nível mínimo de investimento, segundo cálculos
correntes entre profissionais
independentes e economistas do governo, deve
corresponder a uns 24% do PIB. Mas a diferença entre
o valor investido nos
últimos anos e o mínimo desejável não é o único problema, quando se trata do
objetivo de ampliar e modernizar a capacidade produtiva. A poupança interna
ficou em 17,2% do PIB,
no ano passado. A diferença entre o valor poupado e o
investido foi coberta com recursos externos.
Em princípio, não há problema na captação de
poupança estrangeira para investir. Mas a distância
entre a poupança atual e a
necessária para um crescimento sem risco de grandes desajustes também
é muito
ampla. Isso se deve principalmente à propensão do governo para a gastança. Essa
propensão
limita a capacidade de poupança do setor público e, ao mesmo tempo,
dificulta qualquer revisão
séria do sistema tributário. Impostos excessivos e
mal concebidos encarecem a compra de
máquinas e equipamentos e acabam limitando
também o investimento privado.
A baixa taxa de poupança, especialmente do setor
público, dificulta a redução do juro real no Brasil e
também isso impõe
restrições importantes às políticas de reforço produtivo das empresas. Essa
constatação foi confirmada há poucos dias por um estudo de economistas do Fundo
Monetário
Internacional. Em suma: os dados da economia brasileira em 2011
apontam para algo
mais grave que problemas conjunturais. Refletem deficiências
associadas a um padrão
de governo ineficiente e perdulário. O País pode voltar a
crescer mais que em 2011, mas dentro
de limites estreitos, enquanto aquele
padrão persistir.
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