sexta-feira, 16 de março de 2012

DÊ O EXEMPLO – PARASHIÓT VAYAKEL E PEKUDEI 5772

"Paulo, torcedor fanático de futebol, levava seus dois filhos para o jogo do seu time do coração. Na bilheteria, perguntou o preço do ingresso.
- Acima de 12 anos o ingresso é R$ 20,00. Entre 7 e 12 anos o ingresso custa R$ 10,00. Até 6 anos a entrada é gratuita - informou o rapaz da bilheteria.
O rapaz viu os dois garotos, pareciam pequenos. Perguntou a idade deles, com a certeza de que o pai responderia que os dois tinham menos de 6 anos. Mas, para sua surpresa, Paulo respondeu:
- Um deles tem quatro e o outro tem sete anos.
- O senhor poderia ter dito que o mais velho tem só 6 anos - disse o rapaz da bilheteria - Ele é pequeno, eu não desconfiaria. Assim você teria economizado 10 reais.
Paulo abriu um sorriso e respondeu:
- Você talvez nunca ficaria sabendo a idade verdadeira, mas meus filhos com certeza sabem. E o mau exemplo ficaria gravado na cabeça deles para sempre. Eu ganharia 10 reais, mas perderia muito mais. Perderia a incrível oportunidade de ensinar a importância da honestidade para os meus filhos"
Reclamamos da desonestidade dos políticos e dirigentes. Abominamos as notícias de desvios de dinheiro e corrupção. Mas será que somos honestos nos nossos atos cotidianos? Que exemplo passamos aos nossos filhos quando fazemos nossos pequenos atos de "malandragem"?
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Nesta semana lemos duas Parashiót juntas, Vayakel e Pekudei, terminando o segundo livro da Torá, Shemót. Enquanto as Parashiót Terumá e Tetzavê descreveram com detalhes todas as ordens de D'us de como deveria ser a construção do Mishkan (Templo Móvel), isto é, as instruções teóricas, nas Parashiót lidas nesta semana são descritos todos os detalhes da execução do Mishkan na prática.
O Mishkan foi construído com materiais nobres, como ouro, prata e pedras preciosas. De onde vieram todos estes materiais? Foram doados pelo povo judeu. Apesar de serem materiais muito caros, os judeus não mediram esforços e, com enorme boa vontade, doaram todos os materiais necessários.
Na verdade, a generosidade do povo judeu foi tão grande que Moshé, avisado pelos artesãos responsáveis pela construção do Mishkan, pediu para que o povo parasse de doar, já que a quantidade necessária de materiais havia sido atingida. Após o anúncio de Moshé, a Torá traz um versículo interessante: "E o trabalho (de doação do povo) era suficiente para todo o trabalho, para fazê-lo. E sobrou" (Shemot 36:7). Este versículo desperta duas grandes perguntas. Em primeiro lugar, há uma enorme contradição, pois se o versículo diz que havia suficiente, por que logo depois diz que sobrou? Além disso, o que foi feito com estas sobras?
Os materiais doados foram utilizados em todas as partes do Mishkan. Na estrutura, nos utensílios, nos tecidos e nas roupas dos Cohanim (sacerdotes). Mas o maior desejo das pessoas era que sua doação fosse utilizada na construção do Aron Hakodesh (Arca Sagrada), utensílio que continha as tábuas dos 10 mandamentos e o Sefer Torá escrito pessoalmente por Moshé Rabeinu. Este utensílio era tão importante que ficava no "Kodesh Hakodashim", o lugar mais sagrado dentro do Mishkan, onde apenas o Cohen Gadol (Sumo sacerdote) podia entrar, e somente em Yom Kipur, o dia mais sagrado do ano. Moshé começou a se preocupar com os doadores dos materiais que, ao passarem pelo Mishkan, pensariam: "com o meu ouro foi feito o Aron Hakodesh", o que causaria neles um sentimento de Gaavá (orgulho).
Mas será que Moshé realmente precisava se preocupar? E se o povo sentisse Gaavá, qual o problema? Ensina o livro Orchot Tzadikim (Psicologia dos Justos) que a Gaavá é considerada por D'us uma abominação. A pessoa orgulhosa se sente melhor que os outros e acaba achando que não precisa nem mesmo de D'us. E assim D'us diz sobre os orgulhosos: "Eu e ele não podemos viver no mesmo mundo". Portanto, se as pessoas que doaram os materiais para o Mishkan sentissem Gaavá, isto seria uma grande contradição com o propósito de sua construção. O Mishkan era uma morada para D'us, isto é, uma maneira de trazer a presença Divina para o mundo material, e definitivamente as pessoas orgulhosas e a presença de D'us são duas coisas que não combinam.
Moshé não ficou de braços cruzados vendo o povo judeu transgredir. O que ele fez para ajudar o povo a não sentir Gaavá? Ele propositalmente pediu que as pessoas doassem um pouco a mais de material do que era necessário para a construção. O que sobrou foi empilhado e deixado em um local bem visível, onde todos que passavam pelo Mishkan podiam enxergar. Por que? Para que, quando vissem, pensassem que era sua doação que não havia sido aceita por D'us. Isto "derrubava" o coração da pessoa, pois ela imaginava que D'us estava descontente por alguma transgressão que ela havia cometido. A consequência é que a pessoa se arrependia de todas as suas transgressões e colocava humildade em seu coração, fugindo da terrível característica de Gaavá.
Quando pensamos nas características de um líder, infelizmente as primeiras idéias que vêem à nossa cabeça são corrupção, desejo pelo poder e interesses próprios. Parece que o normal é um líder não se importar de verdade com o seu povo. Mas a Torá nos deu um presente: um modelo de um líder verdadeiro, que nos ensinou, não apenas com suas palavras, mas principalmente com seus atos, quais características um verdadeiro líder deve possuir.
Em primeiro lugar, o que nos chama a atenção é a honestidade de Moshé. Assim diz o versículo sobre a doação dos materiais nobres: "E pegaram da frente de Moshé toda a doação que trouxeram os Filhos de Israel" (Shemot 36:3). O que significa "da frente de Moshé"? As pessoas traziam suas doações para a tenda de Moshé e de lá eram levadas para o local da construção do Mishkan. Se Moshé quisesse ser desonesto, poderia pegar o que quisesse para si mesmo, pois estava tudo na porta de sua casa. E ele poderia pegar sem peso na consciência, bastava convencer a si mesmo que merecia enriquecer por todo seu esforço em prol do povo judeu.
Mas Moshé venceu qualquer tipo de tentação. Além de não pegar absolutamente nada para si mesmo, Ele ainda avisou quando as doações já estavam suficientes, para que as pessoas parassem de doar. E a Torá ainda ressalta que Moshé, apesar de estar acima de qualquer suspeita, fez questão de prestar contas de todos os gastos, mostrando que tudo o que foi doado foi devidamente utilizado na construção do Mishkan, como está escrito "Estas são as contas do Mishkan..." (Shemot 38:21).
Em segundo lugar, nos impressiona a preocupação verdadeira de Moshé com o povo. Se as pessoas iriam sentir Gaavá, o que ele perderia com isso? Nada. Porém, ele se preocupou com o povo e fez de tudo para afastá-los das transgressões. Isto demonstra o grande amor de Moshé pelo povo judeu e a responsabilidade que ele sentia de ser, antes de tudo, um grande professor e educador do povo. Sua preocupação com o bem estar das pessoas era verdadeira e sincera, como deve ser a de um líder de verdade.
Na realidade estes ensinamentos não são apenas para os líderes. A honestidade e a preocupação com o próximo devem ser as bases de todo ser humano. Julgamos os políticos desonestos e interesseiros, mas se estivéssemos lá, será que faríamos diferente? Como nos comportamos nos pequenos testes do cotidiano? Quando recebemos troco a mais no banco, quando estamos presos no congestionamento e vemos o acostamento completamente livre, quando temos a oportunidade de falar pequenas mentiras para ganhar um pouco mais de dinheiro, como reagimos? São estes os momentos nos quais podemos verificar se somos realmente tão honestos como pensamos ou se há ainda um grande trabalho pela frente.
SHABAT SHALOM
R' Efraim Birbojm
http://ravefraim.blogspot.com/

Vaiak’hêl   Ex. 35:1-38:20, Hb. 9:1-11
Pekudêi    Ex. 38:21-40:38, Hb. 8:1-12 (Shabat Pará)4
 

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