sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

SENTINDO A DOR DO PRÓXIMO - PARASHÁ VAERÁ 5772

"O Rav Elazar Man Shach zt"l, que faleceu há poucos anos, foi o Rosh Yeshivá (líder espiritual) da Yeshivá de Ponovich. Além de se destacar como um grande estudioso de Torá, ele se sobressaiu muito na característica de se preocupar e sentir o sofrimento do próximo. Certa vez vieram lhe contar sobre um viúvo que estava tão deprimido que havia perdido completamente a vontade de viver. O Rav Shach, apesar de ser uma pessoa extremamente ocupada, resolveu fazer-lhe uma visita. Tentaram convencê-lo a não ir, argumentando que seria perda de tempo, pois muitos já haviam tentado reanimar aquele senhor, mas sem sucesso. Mesmo assim o Rav Shach decidiu ir.
O Rav Shach bateu na porta, mas ninguém respondeu. Ele então percebeu que a porta estava aberta e entrou. Encontrou o homem sentado no sofá da sala, completamente imóvel. Sentou-se ao lado dele e deu-lhe um caloroso abraço.
- Eu sei a dor pela qual você está passando - disse o Rav Shach, com uma voz doce - Eu também sou viúvo. Meu mundo também é escuro e eu não sinto mais alegria.
O homem levantou seus olhos pela primeira vez em meses. Finalmente alguém o entendia!
- Sexta-feira eu vou preparar "Cholent" e vou mandar para você - continuou gentilmente o Rav Shach - No Shabat eu virei aqui novamente e comeremos juntos.
- Não - protestou o senhor viúvo - eu não posso causar ao Rav tanto trabalho!
 Bom, depois pensamos nisso. De qualquer maneira, amanhã eu voltarei aqui. Precisamos passar mais tempo juntos" (História real, retirada do livro "Major Impact!", de autoria de Dovid Kaplan)
 O Rav Shach conseguiu dar ao homem o que mais ninguém conseguiu: esperança. Pois o Rav Shach conseguiu mostrar que havia mais alguém que entendia a dor pela qual aquele viúvo estava passando. Esta é uma das maiores bondades que podemos fazer com alguém que está sofrendo.
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Na Parashá desta semana, Vaerá, após a recusa do Faraó em libertar o povo judeu, D'us começou a castigar os egípcios com as 10 pragas, que destruíram completamente o maior império da época. A infra-estrutura do país foi devastada e D'us demonstrou Seu controle sobre toda a natureza. Mas uma das coisas mais impressionantes foi o comportamento de descaso do Faraó diante da destruição de sua nação.
Um exemplo deste comportamento pode ser visto após Moshé e Aaron terem iniciado a primeira praga, convertendo todas as águas do Egito em sangue e deixando os egípcios completamente desesperados por um simples copo de água. Apesar do milagre aberto, o Faraó não se impressionou, pois seus magos e feiticeiros também conseguiram, através de magia negra, repetir o milagre, como está dito: "E os magos do Egito fizeram o mesmo com seus encantamentos, e o coração do Faraó endureceu, e ele não os escutou... E o Faraó virou-se e voltou para sua casa, e não prestou atenção a isso também" (Shemot 7:22,23).
Mas prestando atenção nestes versículos, percebemos que há uma aparente repetição. Se o primeiro versículo já deixou claro que o Faraó não se importou com a praga realizada por Moshé e Aaron, para que foi necessário dizer que ele voltou para casa e não prestou atenção?
Explica o Rav Naftali Tzvi Berlin zt"l, mais conhecido com Netziv, que o primeiro versículo realmente descreve que o Faraó não viu a força de D'us na praga do sangue. Mas não é esta a idéia que a Torá está ensinando no segundo versículo. A linguagem "e não prestou atenção a isso" nos ensina que o Faraó também não se importou com o sofrimento do seu povo, ele simplesmente voltou para sua casa, sem tentar procurar alguma maneira de aliviar a dor deles. Porém, este comportamento do Faraó não se repetiu nas outras pragas. Por que somente na praga do sangue a Torá ressalta a indiferença do Faraó em relação aos sofrimentos do seu povo?
Há um interessante Midrash (parte da Torá Oral) que nos ajuda a encontrar a resposta. O Midrash diz que, apesar das pragas terem prejudicado todos os egípcios, o malvado Faraó não foi atingido pela primeira praga. D'us poupou o Faraó do sofrimento da praga do sangue, como uma forma de reconhecimento por ele ter alimentado Moshé Rabeinu em sua casa por tantos anos. Mas nas outras pragas o Faraó também foi duramente atingido e sofreu as consequências de sua obstinação.
Portanto este Midrash nos ensina uma lição muito importante: justamente na praga do sangue, na qual o Faraó não sofreu na própria pele, ele demonstrou sua indiferença com os sofrimentos do seu povo. Justamente por ter ficado imune ao sofrimento, ele não se importou que sua nação inteira estava sofrendo. Simplesmente voltou para sua casa, para sua comodidade, sem se importar com o problema dos outros. Já nas outras pragas a indiferença não foi ressaltada apenas porque o Faraó também estava sofrendo junto com seu povo.
Qual é o oposto do comportamento egocêntrico do Faraó? Moshé Rabeinu. Ele cresceu na casa do Faraó, separado do resto do povo, e não foi afetado pelos terríveis sofrimentos da escravidão. Apesar disso, ele saiu para ver o sofrimento dos seus irmãos. Ele carregou, junto com o resto dos judeus, a carga pesada dos sofrimentos deles. Por exemplo, com astúcia ele conseguiu convencer o Faraó a dar um dia de descanso por semana para o povo judeu, argumentando que isto aumentaria a produção e seria bom para o Egito.
Na Parashá passada, Shemot, há um versículo interessante que demonstra a grandeza espiritual de Moshé. Após ele ter sido salvo por Batia, filha do Faraó, está escrito: "E o garoto cresceu e foi trazido para a filha do Faraó..." (Shemot 2:10). O próximo versículo diz novamente "E foi, naqueles dias, e cresceu Moshé, e saiu para seus irmãos, e viu seu sofrimento..." (Shemot 2:11). Por que a Torá escreve duas vezes que Moshé cresceu? Explicam os nossos sábios que o primeiro versículo descreve o crescimento físico, enquanto o segundo versículo se refere ao crescimento espiritual de Moshé, associado justamente ao momento em ele saiu para ver o sofrimento dos seus irmãos.
Por que a Torá associa a característica de se importar com os outros com crescimento e grandeza? Explica o Rav Shimon Shkop zt"l que "grande" é aquele que expande sua definição de "eu" para incluir outros. Ele deixa de ser um simples indivíduo e se torna parte de um todo. Portanto, ele se torna uma pessoa "maior". O Faraó, ao contrário, é descrito pelo Talmud (Moed Katan 18a) como uma pessoa pequena. Os comentaristas explicam que esta descrição não se refere a aspectos físicos e sim a aspectos espirituais, isto é, o Faraó era uma pessoa espiritualmente muito baixa. Talvez uma das características que o tornaram tão baixo é justamente o descaso e a apatia diante do sofrimento dos outros. Por pensar apenas em si mesmo, ele não expandiu o seu "eu", permanecendo uma pessoa "pequena".
Olhando de fora, é fácil criticar o Faraó e dizer que queremos ser como Moshé. Mas na verdade é extremamente difícil ser solidário com a dor do próximo quando não estamos imersos na mesma dor ou sofrimento. Muitas vezes alguém necessitado nos pede algum tipo de ajuda que não está ao nosso alcance. O que dizemos para a pessoa? "Sinto muito". Mas será que sentimos mesmo? Dói um pouco em nós o sofrimento dos outros? Quando escutamos que um soldado israelense morreu em combate, sentimos um pouco da dor da família, independente do resultado da guerra? Quando escutamos que houve um atentado terrorista em Israel, sentimos o sofrimento dos familiares das vítimas ou apenas mudamos o canal e continuamos nossas vidas como se nada tivesse acontecido?
Qual é a solução para nos importarmos de verdade com o sofrimento dos outros? Explica Rashi, famoso comentarista da Torá, que quando Moshé saiu para ver o sofrimento dos seus irmãos, ele "focou seus olhos e coração para sentir a dor por eles". Primeiro Moshé olhou para o rosto deles, para ver a dor pela qual eles estavam passando. Depois ele internalizou este sentimento, focou seu coração para sentir a mesma dor que eles estavam sentindo.
E de Moshé aprendemos que não é suficiente apenas sentir a dor dos que estão sofrendo. Sem se importar com os riscos que corria, ignorando sua elevada posição no palácio do Faraó, Moshé fez de tudo para aliviar o peso da escravidão dos judeus. O ápice foi quando ele viu um judeu apanhando e, sem temer as consequências, matou um egípcio para salvá-lo. Da mesma maneira, temos que tentar ajudar, da maneira que pudermos, aqueles que estão passando por dificuldades e sofrimentos. Por exemplo, se escutamos de alguém que perdeu o emprego, mesmo se não temos condições de dar-lhe diretamente um emprego, devemos pensar em possíveis contatos que possam ajudá-lo a encontrar um novo trabalho.
Os grandes líderes do povo judeu que se destacaram em cada geração somente se tornaram grandes por terem aprendido a se importar com os outros. Abriram mão de suas vidas particulares para se dedicarem ao povo judeu como um todo. Esta é a forma de nos assemelharmos a Moshé, deixando de lado o nosso egoísmo e focando nossos olhos e corações para sentir a dor dos outros e ajudá-los como pudermos. Assim deixaremos de ser pequenos como o Faraó e nos tornaremos pessoas grandes de verdade.
SHABAT SHALOM
R' Efraim Birbojm
http://ravefraim.blogspot.com/
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