Jack Deere
Quando estudamos a vida de Jesus, que ouviu a voz do Pai melhor do
que ninguém mais, uma das primeiras coisas que nos deixa impressionados é que
ele se colocava totalmente à disposição de Deus. No primeiro capítulo de Marcos,
depois que Jesus permaneceu muito até tarde curando os doentes e os possessos de
demônios (versículos 32-34), Marcos nos diz que “De manhã bem cedo, quando ainda
estava escuro, Jesus se levantou, saiu da cidade, foi para um lugar deserto e
ficou ali orando” (versículo 35). Se alguém já teve uma desculpa para ir para
casa para dormir, Jesus com certeza tinha uma naquela manhã. Mas em vez disso
ele seguiu seu hábito diário de buscar um tempo a só com Deus (veja Lucas 4:42;
5:16).
No começo da minha vida cristã, eu costumava usar essa passagem para
dizer que Jesus sempre achava tempo para Deus. Não vejo dessa forma hoje. Quando
olho para a vida de Jesus, nunca o vejo “achando tempo para Deus”. Em vez disso,
vejo um Filho cujo tempo pertence completamente ao Pai. Jesus nunca ficava com
pressa. Ele nunca precisava de mais tempo. O motivo disso é que ele considerava
seu tempo como o tempo de seu Pai. Além disso, ele estava completamente à
disposição do que seu Pai queria. Ele só fazia o que ele via seu Pai fazendo
(João 5:19). E Ele estava sempre no lugar certo na hora certa a fim de cumprir o
que seu Pai celestial queria.
Fico continuamente maravilhado com a espontaneidade e informalidade
do ministério do Senhor Jesus. Quer ele estivesse falando para uma multidão
inesperada de mais de cinco mil pessoas, como no Sermão do Monte, ou para apenas
uma mulher perdida no poço de Samaria, ele estava sempre preparado e fazia
exatamente a coisa certa. Ele jamais agia de modo frenético, como o moderno
pastor que continuamente se queixa de que está muito ocupado e então tem de
ficar acordado até tarde no sábado de noite para preparar uma “mensagem” para o
culto de domingo. É cômico imaginar Jesus acordado até tarde de noite preparando
o Sermão do Monte para o dia seguinte, tentando pensar no que dizer às
multidões. Sim, é cômico imaginar Jesus alguma vez se esforçando para elaborar
uma pregação. A vida dele era a pregação, e ele ministrava a partir do que
transbordava diariamente de sua comunhão com seu Pai celestial. Ele estava em
condições de fazer isso porque ele estava completamente à disposição de
Deus.
É isso o que Deus realmente quer conosco: amizade (João 15:15).
Muitos de nós tentam satisfazer a Deus cumprindo deveres e obrigações
religiosas, mas em nossas amizades mais íntimas, vamos além do senso de dever.
Temos disponibilidade para nossos amigos mais íntimos porque os amamos e
queremos estar com eles. Na verdadeira amizade, a disponibilidade não é um peso
ou obrigação. Pelo contrário, é uma alegria e privilégio.
Numa amizade de verdade, a disponibilidade é reciproca. As pessoas
que têm acesso irrestrito a mim também me dão acesso irrestrito a elas. Funciona
do mesmo jeito com nosso Pai celestial. Ele tem mais disponibilidade para
aqueles que têm mais disponibilidade para ele. Para muitos cristãos, essa ideia
não parece justa. Eles imaginam Deus como sendo igualmente disponível para todos
os cristãos em todos os tempos. É quase como se eles tivessem na cabeça que Deus
é um entregador cósmico de pedidos que existe para suprir suas necessidades e
pode ser colocado de lado quando eles não sentem uma necessidade cônscia dele.
Mas tal ideia é compreender de modo errado a graça e a natureza dos
relacionamentos pessoais. Deus não joga suas pérolas aos porcos. Aqueles que o
encontram são aqueles que o buscam com todo o coração (Deuteronômio
4:29).
Se quisermos uma amizade profunda com Deus, é importante cultivar um
estado de mente em que vemos todo nosso tempo como tempo de Deus, um estado de
mente em que estamos totalmente à disposição dele. É necessário fazer isso
porque Deus nos fala nos momentos mais inconvenientes. Às vezes, ele até permite
que seus servos favoritos gastem tempo, energia e dinheiro organizando uma
viagem missionária. Então ele espera até que eles estejam no meio dessa viagem e
os proíbe de se envolver na atividade ministerial que eles tinham planejado.
Paulo e seus amigos haviam feito planos para ministrar na Ásia, mas Deus os
queria na Europa (Atos 16:6-10). Ele permitiu que eles “desperdiçassem” tempo,
dinheiro e energia antes de redirecioná-los ali.
Quando Jesus inicialmente chamou seus apóstolos, ele deixou claro
para eles que a primeira tarefa deles não era ministério para ele, mas estarem
disponíveis para ele.
“E subiu ao monte, e chamou para si os que ele quis; e vieram a ele.
E nomeou doze para que estivessem com ele e os mandasse a pregar, E para que
tivessem o poder de curar as enfermidades e expulsar os
demônios.” (Marcos 3:13-15 ACF)
Deus escolheu os apóstolos para três propósitos. Primeiro, “para que
estivessem com ele”. Segundo, “os mandasse a pregar”. E terceiro, “tivessem o
poder de curar as enfermidades e expulsar os demônios” (Marcos 3:13-15 BLH).
Eles só teriam o privilégio ou o poder de pregar e ministrar no nome de Jesus
depois que estivessem com ele. Estar disponível para Deus, ter intimidade com
Jesus, é o alicerce prático para exercer tudo no ministério. A pregação e o
testemunho só têm poder quando transbordam de nossa intimidade com Deus. Estar
disponível para Deus é a primeira prioridade no ministério e o primeiro
requisito para ouvir a voz dele.
Estar disponível para Deus carrega consigo uma expectativa de que ele
falará conosco. Habacuque 2:1 diz: “Vou subir a minha torre de vigia e vou
esperar com atenção o que Deus vai dizer e como vai responder à minha queixa.” A
atitude da pessoa que tem disponibilidade para o Senhor Jesus é: “Fala, pois o
teu servo está escutando” (1 Samuel 3:10 BLH) Se nos fizermos disponíveis para
Deus, ele se fará disponível para nós (Tiago 4:8).
Tradução e adaptação: www.juliosevero.com
Fonte: Renovação
Luterana
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