O Globo |
Cláudio Motta |
ONU divulga primeiro rascunho da pauta para os debates de junho |
A criação de dez metas de desenvolvimento
sustentável — que incluirão normas de consumo, produção, proteção dos oceanos,
segurança alimentar, energia limpa e redução de desastres naturais — deverá
marcar os debates da Rio+20. A proposta aparece no primeiro rascunho de pauta
publicado ontem de noite pela ONU para a Conferência sobre Desenvolvimento
Sustentável, em junho, no Rio. As 19 páginas do documento resumem 672 propostas
vindas de países de todo o mundo: um calhamaço cuja pilha tem mais de dois
palmos de altura.
Os negociadores tentarão, ainda, costurar um acordo
para fortalecer uma agência ambiental, e nomear um alto comissário global
responsável por receber críticas, sugestões e reclamações. Também ganha força a
criação de medidas de redução de combustíveis fósseis e subsídios a fontes
alternativas de energia. Haverá muita diplomacia até a pauta da Rio+20 ser
concluída, quatro dias antes da conferência, que começará no dia 20 de
junho.
Não são esperadas, porém, propostas para acordos
legalmente vinculantes, como ocorreu na Rio 92, a Cúpula da Terra realizada há
20 anos na cidade. Desta vez, os negociadores serão convidados a definir suas
próprias metas e trabalhar voluntariamente para o estabelecimento de uma
economia verde global, reduzir a pobreza e diminuir os níveis de consumo.
De acordo com Claudio Maretti, líder da Iniciativa
Amazônia Viva da Rede WWF, as metas de desenvolvimento sustentável foram
propostas da Colômbia, e logo apoiadas pela Guatemala e Brasil.
— A discussão de metas de desenvolvimento
sustentável anima. É algo concreto. A Rio+20 é uma conferência que não prevê
decisão mais rígida, formal. O que poderia deixá-la vazia — analisa Maretti. —
As metas têm que começar a valer já. E o Brasil precisa se comprometer com o
desmatamento zero até 2020. Economia verde é a mesa posta para o Brasil ser
campeão mundial. Mas não adianta esconder seus problemas ambientais.
Porém, os objetivos globais de desenvolvimento
sustentável não deverão vigorar antes de 2015. Tampouco vão substituir os dez
objetivos de Desenvolvimento do Milênio da ONU, lançados em setembro de 2000.
Além disso, as novas metas não ficaram imunes de críticas.
— É bom ter um norte, mas, sem os meios para
atingir os objetivos, eles podem ficar apenas na retórica — alerta a
subsecretária estadual de Economia Verde do Rio Suzana Kahn, que está em Nova
York para desenvolver acordos ambientais com os Estados Unidos. — Precisamos
construir soluções regionais, envolvendo estados e municípios.
O fortalecimento do Programa das Nações Unidas para
o Meio Ambiente (Pnuma) será discutido na Rio+20, o que também é defendido pelo
Brasil. Com sede em Nairobi, a agência poderá ganhar o mesmo nível de
importância da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da agência para Alimentação
e Agricultura (FAO).
— Não há muita surpresa no rascunho, há um certo
consenso — disse o diretor do Centro de Informação da ONU no Brasil Giancarlo
Summa. — Já a questão do Pnuma enfrenta divergências. Uns defendem seu
fortalecimento, outros a criação de uma nova agência ambiental.
O Subsecretário-Geral de Meio Ambiente, Energia,
Ciência e Tecnologia do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Luiz
Alberto Figueiredo Machado, destacou o fato de que as propostas brasileiras,
como as metas sustentáveis, já têm visibilidade no primeiro rascunho. Mas
lembrou que o processo de negociação ainda é longo:
— A primeira rodada de debate deste texto será em
Nova York, nos dias 25, 26 e 27 de janeiro.
São esperados dezenas de chefes de Estado, líderes
políticos e celebridades. Porém, o primeiro-ministro britânico David Cameron já
declarou que não planeja vir ao Rio de Janeiro, de acordo com o jornal britânico
“The Guardian”, apesar de ter prometido liderar o governo mais verde da história
de seu país. Além disso, a Rio+20 foi adiada para evitar a coincidência de datas
com as comemorações do jubileu de diamante da rainha da Inglaterra Elizabeth II.
Inicialmente marcada para o início do mês, a cúpula está prevista agora para os
dias 20 a 22 de junho.
O encontro paralelo que o Brasil está organizando,
chamado de “Diálogos sobre sustentabilidade”, vem ganhando repercussão mundial.
A sociedade civil será convidada a debater e a criar um documento para
pressionar os negociadores oficiais.
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quarta-feira, 11 de janeiro de 2012
Dez metas para Rio+20
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