sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

DESPERTANDO UM GIGANTE – PARASHÁ SHEMOT 5772

O Rav Naftali Tzvi Berlin, mais conhecido como Netziv, viveu há cerca de 150 anos e foi o Rosh Yeshivá (líder espiritual) da Yeshivá de Vologin, na Lituânia. Não apenas foi o maior estudioso de Torá de sua geração, mas também um prolífico escritor, compilando dezenas de livros durante sua vida, entre eles comentários da Torá e do Talmud (Torá Oral). Como o Netziv chegou a ser o maior de sua geração? Ele era muito constante no estudo, aproveitava cada segundo para conhecer um pouco mais da Torá ou entender algum assunto de maneira mais profunda e completa.
Mas nem sempre foi assim. Quando ele era criança, não gostava de estudar. Apesar dos esforços do pai, ele não levava os estudos de Torá a sério. Um dia ele estava brincando em casa quando escutou seu pai chorando. Seu pai estava conversando com sua mãe na cozinha e não percebeu que o Netziv podia escutar tudo. Ao escutar que a conversa era sobre ele, ficou curioso e chegou mais perto para prestar atenção. Escutou o pai, chorando muito, dizendo:
- Eu já tentei de tudo para fazer com que nosso filho se interessasse pelos estudos de Torá. Até já ofereci para ele prêmios, mas foi tudo em vão. Não sei mais o que fazer. Acho que devemos desistir dele ser um grande estudioso.
O Netziv percebeu que, enquanto o pai falava, lágrimas corriam em seu rosto. Ele ficou profundamente tocado com a dor e as lágrimas do seu pai. Quando o pai terminou de falar, o Netziv correu até ele e prometeu que, daquele dia em diante, se esforçaria para se tornar um bom estudante. E realmente cumpriu suas palavras. Em pouco tempo se tornou o melhor aluno de sua sala e nunca mais parou de crescer, até tornar-se o maior de sua geração.
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Nesta semana começamos o segundo livro da Torá, Shemot, também conhecido como "Sefer Galut VeHagueulá" (O livro do exílio e da redenção), pois começa descrevendo todo o sofrimento da escravidão do povo judeu no Egito e sua posterior salvação.
E a Parashá desta semana, Shemot, descreve o nascimento e o crescimento, tanto físico quanto espiritual, do homem escolhido por D'us para ser o salvador do povo judeu, Moshé Rabeinu. E assim a Torá descreve seu nascimento: "Um homem da Casa de Levi foi e casou-se com uma filha de Levi. A mulher engravidou e deu a luz" (Shemot 2:1,2). Mas se a Torá estava falando de Amram e Yocheved, por que não mencionou explicitamente o nome dos pais de Moshé?
A mesma pergunta surge ao observarmos o início da Meguilat Ruth, livro que conta a história de Ruth, uma mulher Tzadeket (Justa) do povo de Moav que decidiu se converter ao judaísmo. Assim começa o livro: "E foi nos dias em que julgavam os Juízes, e houve uma fome na terra. E um homem saiu de Beit Lechem, em Yehudá, para morar nos campos de Moav..." (Ruth 1:1). Poderíamos pensar que o nome do homem não era importante e por isso não foi mencionado, mas assim começa o próximo versículo: "O nome do homem era Elimelech..." (Ruth 1:2). Por que o primeiro versículo já não disse que foi Elimelech quem saiu de Beit Lechem? E qual a conexão da história de Ruth com a Parashá desta semana?
Explica o Rav Pessach Krohn que é uma grande desgraça quando uma pessoa conhece seu potencial e não o aproveita. Mas é uma desgraça ainda maior quando a pessoa nem mesmo conhece seu potencial. Quantas pessoas poderiam ter mudado o mundo mas se acomodaram, achando que nada podiam fazer? Quantos gigantes passaram a vida adormecidos, sem imaginar seu verdadeiro potencial? Por que tantos não percebem seu verdadeiro valor?
Quando conhecemos alguém espiritualmente elevado, qual o primeiro pensamento que vem em nossas cabeças? "Nunca poderei ser como ele, pois ele veio de uma família elevada, eu não". Nos limitamos, achando que apenas alguns poucos "pré-escolhidos" podem chegar a níveis muito elevados. Assim nem tentamos nos esforçar para atingir um nível maior na vida.
A fórmula para não cairmos neste equívoco está ensinada na Parashá da semana e na Meguilat Ruth. De Amram e Yocheved saiu Moshé, o salvador do povo judeu, o maior de todos os tempos. Elimelech foi o sogro de Ruth, a chave que abriu as portas para sua conversão. O bisneto de Ruth foi o David Hamelech (Rei David) e, portanto, dela virá também o Mashiach, que reinará sobre todo o mundo com sua grandeza. Poderíamos pensar que Moshé somente chegou a ser Moshé Rabeinu pois era filho de Amram e Yocheved, respectivamente o líder de sua geração e uma grande Tzadeket (Justa) cujo temor a D'us estava acima de tudo. Poderíamos pensar que a descendência de David Hamelech e do Mashiach somente poderia começar com alguém do nível de Elimelech, o líder de sua geração. Por isso os versículos escrevem apenas que "um homem saiu", sem mencionar os nomes, para nos ensinar que, apesar de realmente serem descendentes de pessoa muito elevadas, os níveis espirituais de Moshé Rabeinu, David Hamelech e do Mashiach somente podem ser alcançados através de um grande e constante esforço.
Durante a Parashá é possível ver a dificuldade do trabalho espiritual de Moshé para chegar a ser o líder do povo judeu. Mesmo morando no palácio real, cercado de riquezas e mordomias, ele não esqueceu o sofrimento dos seus irmãos e abandonou tudo para ajudá-los. Além disso, Moshé aceitou o papel de salvador do povo, mesmo que isto significava desafiar o faraó, o homem mais poderoso do planeta, colocando sua própria vida em risco. Nenhum crescimento veio sem esforço, sem auto-sacrifício.
Portanto, achar que existem pessoas grandes apenas porque nasceram em "berço especial" é um grande erro. As pessoas que chegaram a níveis elevados trabalharam e se esforçaram muito para isso. Apesar de D'us ser o único responsável por todo sucesso, eles fizeram sua parte. Foi necessária muita dedicação, constância e perseverança para chegar aonde chegaram. Gigantes espirituais, como o Netziv e muitos outros, apesar de terem vindo de boas famílias, se não tivessem se esforçado, não teriam se tornado os líderes de suas gerações.
O Netziv, ao contar a história de sua vida, sempre acrescentava uma importante idéia. O que teria acontecido se ele não tivesse escutado seu pai chorando e não tivesse se sensibilizado? Por causa da excelente educação que teve em casa, certamente teria sido um judeu honesto, temente a D'us. Teria seu negócio, estudaria um pouco de Torá no final do dia, cumpriria as Mitzvót de maneira adequada. Mas quando chegasse ao seu Julgamento Celestial e lhe perguntassem onde estavam todos os livros que ele deveria ter escrito, o que ele responderia? Se dissesse que não tinha potencial para isto, eles lhe mostrariam todos os livros que ele efetivamente escreveu e diriam que potencial ele tinha, apenas tinha deixado de aproveitá-lo.
Quando achamos que os grandes líderes do povo judeu somente chegaram a um elevado nível por causa de suas famílias, acabamos utilizando isto como desculpa para não nos esforçarmos. Quando pensamos que apenas os outros podem ser elevados, desistimos mesmo sem tentar. Infelizmente não é um argumento que utilizamos para enganar aos outros, e sim a nós mesmos.
Nem todos chegarão a ser o líder de sua geração, mesmo com esforço, pois nem todos têm este papel no mundo. Mas não sabemos os planos de D'us, não sabemos até onde vai a nossa verdadeira contribuição, por isso temos que fazer a nossa parte e nos esforçar. Todos têm um potencial gigantesco, um trabalho individual que apenas cada um de nós pode cumprir no mundo. Ao invés de procurar desculpas, precisamos despertar o gigante adormecido que está dentro de nós. Somente assim poderemos mudar o mundo de verdade.
SHABAT SHALOM
R' Efraim Birbojm
http://ravefraim.blogspot.com
Ex. l:1-6:1, Is. 27:6-28:13, 29:22-23, Jr. 1:1-2:3, I Co.14:13-25

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