sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

ORGULHO DE SER JUDEU - PARASHÁ VAIESHEV E CHÁNUKA 5772

"Nos Estados Unidos, há cerca de 60 anos, um grupo de rapazes judeus com idade de Bar-Mitzvá deixou de frequentar o colégio judaico da cidade. Um dos diretores da escola, preocupado com o futuro judaico daqueles rapazes, levou-os para conversar com um dos grandes rabinos da cidade. O rabino perguntou aos garotos por que eles haviam decidido abandonar os estudos em um colégio judaico, onde poderiam aprender muitos ensinamentos de Torá e aprimorar o cumprimento das Mitzvót. O primeiro garoto respondeu:
- Sabe, rabino, todos os garotos do meu bairro deixaram de frequentar a escola judaica. Por isso resolvi deixar de frequentar também.
O segundo rapaz, quando questionado, deu exatamente a mesma resposta. Como todos os seus amigos e conhecidos haviam deixado de frequentar a escola judaica, ele também decidiu parar.
O rabino, vendo que este era o argumento utilizado por todos os rapazes, fez outra pergunta:
- Gostaria de saber quem são os heróis judeus favoritos de vocês.
Um deles respondeu que era Avraham Avinu. Outro respondeu que era Noach (Noé). Então, olhando de forma carinhosa para os garotos, o rabino explicou:
- Vocês sabem que se Noach também tivesse seguido os meninos do seu bairro, provavelmente o mundo não existiria. E se Avraham tivesse seguido os meninos do seu bairro, o povo judeu não existiria. Portanto, não tomem uma decisão por causa dos meninos do bairro. Pode fazer muita diferença no futuro"
Às vezes, para seguir a maioria e nos sentir parte de um grupo, nos afastamos do judaísmo. Isto se chama assimilação, uma ameaça muito maior do que os nossos inimigos. Pois um inimigo pode nos tirar a vida neste mundo, mas a assimilação pode nos tirar a vida no Mundo Vindouro.
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Na próxima terça feira de noite, no dia 25 do mês de Kislev, acenderemos a primeira vela de Chánuka, revivendo o período de grandes milagres que salvaram os judeus, um povo pequeno e destreinado, das mãos dos gregos, o maior império da época. Não apenas relembramos a vitória na batalha, mas principalmente o grande amor de D'us pelo povo judeu, demonstrado através do milagre do óleo, que deveria durar apenas um dia mas durou oito. É interessante observar que a festa de Chánuka sempre coincide com a Parashá desta semana, Vaieshev. Qual a conexão entre as duas?
A Parashá Vaieshev nos conta a história de Yossef, filho de Yaacov, com seus vários altos e baixos. Ele foi vendido pelos próprios irmãos como escravo e foi comprado por Potifar, um dos ministros do faraó, mas virou a mesa e acabou tornando-se o chefe da casa de Potifar. Quando achou que tudo estava bem, foi falsamente acusado de ter atacado a esposa de Potifar e passou 12 anos na prisão. E quando tudo parecia perdido, foi repentinamente libertado e tornou-se, do dia para a noite, o vice-rei do Egito, o segundo homem mais poderoso do império egípcio.
Mas há algo difícil de ser entendido na história de Yossef. Diferentemente de Avraham e Ytzchak, que tiveram Ishmael e Essav, filhos Reshaim (malvados), Yaacov teve todos os filhos Tzadikim (Justos). Então como podemos entender a venda de Yossef? Como pessoas em um elevado nível espiritual puderam fazer algo tão grave contra seu próprio irmão?
Explicam os nossos sábios que todos os filhos de Yaacov eram realmente Tzadikim. Eles fizeram um julgamento para decidir qual castigo aplicar a Yossef. Mas por que um julgamento, qual havia sido o crime de Yossef? Ele começou a contar aos irmãos seus sonhos, nos quais ele estava no centro e todos se curvavam para ele. Os irmãos entenderam que Yossef estava planejando usurpar a posição de primogenitura de Reuven e se tornar, à força, o líder dos irmãos. O julgamento foi, portanto, por motivos válidos. Porém, o que eles não perceberam foi que a inveja que sentiam de Yossef fez com que fossem tendenciosos no julgamento. Este erro levou os irmãos a decidirem que Yossef merecia a pena de morte.
Reuven, o irmão mais velho, sugeriu jogá-lo em um poço, com o argumento de que não valia a pena derramar o sangue do próprio irmão. Na verdade sua intenção era salvá-lo mais tarde, quando todos tivessem ido embora. Os irmãos concordaram e Yossef foi atirado em um poço. Mas a idéia de Reuven não funcionou, pois ele teve que se ausentar por algum tempo e, enquanto estava fora, uma caravana de Ishmaelim passou por ali. Yehuda teve a idéia de tirar Yossef do poço e vendê-lo como escravo aos Ishmaelim, e assim foi feito. Quando Reuven voltou, Yossef já havia sido vendido.
O versículo que descreve o momento em que Yossef foi atirado no poço é muito interessante, pois assim está escrito: "E o poço estava vazio, não tinha água nele" (Bereshit 37:24). A Torá foi escrita de maneira muito concisa, até mesmo uma letra a mais contém muitos ensinamentos. Portanto, se já estava escrito que o poço estava vazio, era necessário dizer que não tinha água nele? Não era óbvio?
Explica Rashi, comentarista da Torá, que realmente água não havia no poço, mas ele não estava completamente vazio, pois estava repleto de cobras e escorpiões. O que este versículo está nos ensinando? Que, diferentemente do que os irmãos imaginavam, Yossef não era um Rashá (malvado) que queria roubar a primogenitura. A prova disso é que, apesar de ter sido atirado em um poço cheio de cobras e escorpiões, nada de mal aconteceu com ele, pois D'us o protegeu. Se os irmãos tivessem visto o milagre aberto que D'us havia feito, certamente entenderiam que haviam se equivocado em seu julgamento.
Mas existe um ensinamento mais profundo neste versículo. Em muitas fontes judaicas a Torá se assemelha à água. Por exemplo, da mesma forma que a água se acumula apenas nos lugares mais baixos, assim também a Torá se acumula apenas nas pessoas que são realmente humildes. Da mesma maneira que sem água não há vida no mundo material, sem a Torá não há vida no mundo espiritual. Portanto, quando o versículo diz que o poço estava vazio e não tinha água, está profetizando algo que se repetiu durante toda nossa história, em todas as épocas e lugares: no momento em que o povo judeu abandonou os ensinamentos e os caminhos da Torá, escolhendo o caminho da assimilação, não ficamos apenas vazios. Nestes momentos surgiram cobras e escorpiões, isto é, tragédias ocorreram ao povo judeu. Em todas as épocas em que abandonamos nossa identidade e quisemos seguir os costumes dos outros povos, o anti-semitismo despertou com força assustadora. Não por coincidência, as piores perseguições ocorreram nas épocas em que o povo judeu perdeu sua identidade e abandonou sua individualidade.
Foi exatamente isto que ocorreu durante o exílio grego. Apesar dos judeus estarem cumprindo as Mitzvót da Torá naquele momento, eles faziam apenas de maneira mecânica, sem alegria e sem intenção. A prova disso é que muitos judeus aceitaram facilmente as idéias "inovadoras" dos gregos, como o culto ao materialismo, onde se dava mais importância ao corpo do que à alma, conceito eternizado através da expressão "Carpe Diem" (aproveite o dia), isto é, aproveite ao máximo o mundo material, sem nenhum questionamento ou culpa. Pelo fato dos judeus terem enfraquecido sua espiritualidade, então D'us permitiu a invasão dos gregos, seguida de decretos proibindo as Mitzvót e as primeiras ameaças de extermínio.
O povo judeu entendeu a mensagem espiritual e se arrependeu. Com a energia renovada, eles se levantaram contra o exército grego. Apesar de saber que seria uma luta humanamente impossível de ser vencida, por causa da esmagadora superioridade grega, eles acreditaram na proteção Divina e venceram, expulsando os gregos e retomando o serviço espiritual do Beit-Hamikdash (Templo Sagrado). A luz havia vencido a escuridão.
A assimilação não terminou com o fim dos gregos, ao contrário, a vitória foi apenas uma batalha vencida, mas a guerra continua. Muitas vezes esquecemos o tesouro que temos nas mãos e nos assimilamos, procurando respostas fora do judaísmo. Abandonamos ensinamentos milenares, que trouxeram luz para o mundo, apenas para não nos sentirmos diferentes. Por isto Chánuka é uma festa tão importante, pois a luta contra a assimilação continua em cada geração. A cada vela de Chánuka que acendemos, contribuímos para transformar a escuridão em luz. Os ensinamentos da Torá são eternos, temos que sentir orgulho da oportunidade de trazer um pouco mais de luz ao mundo. O problema, portanto, não são nossos inimigos anti-semitas, é a nossa apatia.
Que as luzes de Chánuka possam iluminar nossos corações e nos ajudar a voltar aos caminhos corretos, que nos levam ao nosso crescimento espiritual verdadeiro.
SHABAT SHALOM e CHÁNUKA SAMEACH
R' Efraim Birbojm
http://ravefraim.blogspot.com/
Gn. 37:1-40:23, Am. 2:6-3:8, Mt. 1:1-6, 16-25

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