"O Sr. Fridberg estava viajando para uma importante reunião de negócios e teve que passar o Shabat no meio do caminho, em uma pequena comunidade da Europa. Como chegou em cima da hora, não teve muito tempo de se preparar para o Shabat e acabou escolhendo um terno e uma gravata muito simples. Quando chegou à sinagoga, foi completamente ignorado. Ninguém lhe ofereceu um lugar para sentar, não foi chamado para a leitura da Torá e nem mesmo para comer o Tchulent que era servido na sinagoga depois da reza da manhã. Ficou sentando em um canto da sinagoga, completamente esquecido, durante todo o Shabat.
Na volta de sua viagem o Sr. Fridberg teve que novamente passar o Shabat na mesma comunidade. Mas desta vez teve tempo de se preparar. Escolheu seu melhor terno, colocou uma fina camisa de linho e uma bela gravata de seda. Para sua surpresa, quando chegou à sinagoga vestido tão elegantemente, foi imediatamente convidado a sentar-se em um lugar de honra. Na manhã seguinte foi chamado para a leitura da Torá e recebeu um convite para o Tchulent no final da reza.
No meio da refeição, as pessoas viram uma cena incrível, que deixou todos boquiabertos: o Sr. Fridberg começou a pegar enormes garfadas de Chulent e colocar em seus bolsos. As pessoas acharam que ele havia enlouquecido. Calmamente ele explicou:
- Quando eu vim aqui da primeira vez, ninguém me convidou para nada, eu fui completamente ignorado por vocês. Somente desta vez vocês me convidaram e me honraram. E qual foi a diferença? As minhas roupas. Isto quer dizer que a comida e a honra não são para mim, são para o meu terno. Por isso estou dando o Tchulent para ele!"
Infelizmente vivemos em uma sociedade onde o valor das pessoas depende da etiqueta de sua roupa. As roupas não servem para nos vestir, e sim para mostrar nosso status social e nosso poder.
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Nesta semana lemos a Parashá Vaietse, que começa com a viagem de Yaacov para a casa de seu tio Lavan, em Charan. Yaacov, fugindo da fúria de seu irmão Essav, aproveitou para procurar uma esposa dentro da família de sua mãe, pois sabia o quanto seus pais se incomodariam se ele, como fez Essav, se casasse com uma mulher de Knaan, que eram idólatras e de valores morais duvidosos.
Yaacov, como os outros patriarcas, se esforçou muito para atingir um nível de Kedushá (santidade). A prova de que ele realmente atingiu um nível espiritual elevado foi a experiência transcendental pela qual passou no meio da sua viagem. Quando Yaacov deitou-se para dormir, exatamente no local onde futuramente seria construído o Beit Hamikdash (Templo Sagrado), ele teve um sonho no qual anjos subiam e desciam de uma escada que chegava até o céu. D'us então revelou-se para ele e prometeu protegê-lo.
Quando acordou, Yaacov preparou-se para continuar a viagem. Antes de sair, fez um juramento para D'us, como está escrito "Se D'us estiver comigo, e me guardar neste caminho que eu estou indo, e me der pão para comer e roupas para vestir... tudo o que Você me der, eu repetidamente darei o dízimo para Você" (Bereshit 28:20,22). Mas é difícil entender o pedido de Yaacov que estava incluído neste juramento. Se ele estava em um nível de Kedushá tão elevado e havia acabado de passar por uma grande experiência transcendental, por que ele estava tão preocupado com o mundo material, com coisas mundanas como roupa e comida? Além disso, por que ele pediu "pão para comer" e "roupa para vestir"? Não é óbvio que esta é a utilização normal para o pão e para a roupa?
Ensina o livro "Orchot Tzadikim" (Psicologia dos Justos) que quando D'us manda uma abundância de bens materiais para uma pessoa, pode ser por três motivos diferentes. Pode ser um presente, pode ser um teste ou pode ser um grande castigo. Toda vez que recebemos bens materiais estamos sendo testados: utilizaremos estes bens de uma maneira positiva ou negativa? Se a pessoa utiliza seus bens de maneira correta, isto é, não apenas pensando em si mesma, mas também ajudando outras pessoas necessitadas, então estes bens são um presente, pois com eles a pessoa acumula méritos. Porém, se aquele que recebe muitos bens se transforma em uma pessoa egoísta e se inclina a apenas buscar mais e mais prazeres, ela se desconecta da espiritualidade e, portanto, os bens se transformam em um castigo. A pessoa aproveita um mundo limitado, mas perde a vida eterna.
Porém, o teste não é apenas para grandes quantidades de dinheiro ou bens. Qualquer coisa que recebemos pode ser utilizada da maneira correta ou incorreta. Se utilizamos os bens materiais para nos conectar com mais espiritualidade, então transformamos o mundo material em uma Brachá (benção), mas se utilizamos os bens materiais para nos afundar no materialismo, então o mundo material converte-se em uma maldição.
Explica o Rav Yaacov Weinberg zt"l que, ao mencionar que queria pão para comer e roupa para se vestir, Yaacov estava demonstrando sua claridade na maneira de utilizar o mundo material. Ele estava dizendo que tudo o que ele precisava na vida era pão para comer, e não uma prateleira com 45 sabores diferentes de batata frita nem um jantar em um dos restaurantes do Guia Michelin dos melhores do mundo. Yaacov pediu para comer pão e, se fosse necessário, apenas pão. Também Yaacov não focou sua vida em comprar roupas elegantes, desenhadas por 4 ou 5 estilistas italianos que decidem o que o mundo vai vestir. Yaacov pediu apenas roupas para vestir, isto é, roupas para conseguir cumprir seu trabalho espiritual no mundo, sem luxo nem sofisticação.
Com este pedido, Yaacov estava mostrando para D'us que sabia suas prioridades na vida. Ele apreciava a comida por sua única função: nos alimentar e nos dar energia. Ele não vivia para comer. Ele não fez da comida uma prioridade em sua vida. Para alcançar a santidade, Yaacov não se absteve do mundo material. Ele casou, teve filhos, com seu trabalho honesto juntou muito dinheiro e bens. Mas ele sabia como utilizar o mundo material de acordo com o propósito da vida. Ele conseguia utilizar o mundo material sem se desconectar do mundo espiritual. Isto é Kedushá verdadeira.
Infelizmente fazemos exatamente o oposto de Yaacov. Rotulamos as pessoas pelas roupas que usam e somente damos valor para aqueles que utilizam as melhores roupas. Comemos comidas apenas pelo prazer, sem nos importar se fazem mal para nossa saúde. Chegamos a esquecer o fato de que a principal função da roupa é cobrir nosso corpo por recato e a principal função da comida é manter o corpo saudável para que possamos cumprir nosso trabalho espiritual. Ao invés de utilizar o mundo material como meio para atingir níveis espirituais mais altos, nos tornamos escravos das nossas vontades e desejos.
D'us criou o ser humano com sabedoria infinita. Mas se grande parte do sistema digestivo encontra-se no estômago, por que D'us criou a boca na cabeça e não na barriga? Para nos ensinar a comer com a cabeça e não com a barriga, com o racional e não com os nossos desejos. Não devemos nos acostumar a comer apenas porque temos vontade. Esta é a mensagem eterna de nosso patriarca Yaacov. Podemos e devemos utilizar o mundo material, mas com controle. Assim, aproveitamos mais a vida neste mundo e ainda acumulamos méritos para o Mundo Vindouro.
SHABAT SHALOM
R' Efraim Birbojm
http://ravefraim.blogspot.com/
Gn. 28:10-32:2, Os.11:7-14:9, Jo. 1:19-51
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