"O pequeno Yacov, de apenas 6 anos de idade, voltou para casa mais agitado do que o normal. Seu pai então perguntou o que ele havia aprendido na escola. Ele respondeu que, como a festa de Pessach estava se aproximando, o professor havia ensinado todos os detalhes da saída do povo judeu do Egito. O pai ficou interessado em escutar o que ele havia aprendido e o pequeno Yacov começou a contar:
- Moshé queria tirar o povo judeu do Egito, mas o exército egípcio era uma grande ameaça. Foi então que a força aérea israelense apareceu, com centenas de caças F-16, e bombardeou o Egito. Os egípcios ainda tentaram impedir a saída dos judeus, mas eles foram facilmente derrotados pela artilharia. Durante o trajeto no deserto, helicópteros Apache israelenses voavam na frente, eliminando todos os perigos e iluminando o caminho de noite. Quando eles se aproximaram do Mar Vermelho, não era possível atravessar. Então navios de guerra israelenses deram cobertura para que robôs comandados por controle remoto construíssem uma ponte metálica, possibilitando que todo o povo judeu atravessasse. Quando os egípcios foram atravessar, submarinos nucleares israelenses explodiram a ponte, afogando todo o exército egípcio.
O pai escutou calado todo o relato do filho, sem piscar os olhos, em estado de choque. Respirando fundo, ele perguntou, incrédulo:
- É isso que estão te ensinando na escola?
O garoto abriu um sorriso e confessou ao pai.
- Olha, pai, na verdade eu inventei tudo isso, pois se eu tivesse contado a verdade, com todos os milagres que aconteceram na saída do Egito, certamente você não teria acreditado!"
Infelizmente para muitas pessoas é mais fácil acreditar em acasos da natureza e outros tipos de explicação científica do que enxergar, em cada evento que acontece, a mão de D'us.
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Nesta semana lemos a Parashá Noach, que traz dois eventos que mudaram os rumos da humanidade. A Parashá começa descrevendo o dilúvio que destruiu o mundo inteiro. Dentre todos os humanos, apenas Noach (Noé) e sua família foram salvos em uma arca que eles mesmos construíram sob o comando de D'us. Em seguida a Parashá descreve a construção da Torre de Babel, como está escrito "Venham, vamos construir para nós uma cidade e uma torre com seu topo nos céus, e façamos um nome para nós, para que não sejamos dispersados por toda a Terra" (Bereshit 11:4). D'us, vendo que a construção era feita com más intenções, destruiu o plano misturando todas as línguas, de maneira que as pessoas não podiam mais se comunicar.
Refletindo um pouco sobre a construção da Torre de Babel, surgem algumas perguntas: em primeiro lugar, aparentemente não há nada de errado em construir uma torre alta. Então qual foi exatamente o erro que aquela geração cometeu? Além disso, por que a Torá juntou os eventos da Arca de Noach e a Torre de Babel, se eles ocorreram com uma diferença de 340 anos? E finalmente, sabemos que a Torá não é apenas um livro de histórias. Que mensagem eterna a Torá nos ensina com o episódio da Torre de Babel?
Há um Midrash muito interessante que nos ensina qual foi o fim da Torre de Babel: um terço foi completamente queimado, um terço afundou na terra e um terço continua intacto, e é tão alto que as palmeiras vistas lá de cima parecem gafanhotos. O que este Midrash significa? Será que deve ser entendido de forma literal? Onde está este terço que não foi destruído?
Ensinam os nossos sábios que há uma grave proibição de não acreditar em um Midrash por ele parecer "fantasioso" demais, pois D'us tem poder ilimitado e pode fazer o que desejar. Porém, temos a transmissão oral dos nossos sábios de que alguns Midrashim não devem ser entendidos literalmente. Eles são como mensagens codificadas, transmitindo algo mais profundo.
Há outro Midrash que nos ajuda a "decodificar" a mensagem sobre a destruição da Torre de Babel. O Midrash traz três diferentes opiniões sobre o motivo que levou as pessoas a quererem construir a Torre de Babel. De acordo com a primeira opinião, a construção da Torre era para estabelecer uma nova ordem mundial, um governo universal para toda a humanidade. De acordo com a segunda opinião, as pessoas construíram a Torre para chegar aos céus e lutar contra D'us. Há ainda uma terceira opinião na qual a construção seria para evitar um novo dilúvio. As pessoas pensavam que dilúvios eram fenômenos naturais cíclicos, causados por aberturas no céu, e por isso quiseram construir uma estrutura que chegasse até o céu e o sustentasse, impedindo a queda das águas.
Explica o Rav Yssocher Frand que estas três opiniões representam, na verdade, três diferentes filosofias. E é esta a explicação do Midrash sobre o fim da Torre de Babel: cada uma das três partes da Torre representa o que aconteceu, no decorrer da história, com cada uma destas três filosofias.
A filosofia de lutar contra D'us foi completamente queimada e destruída, isto é, foi erradicada do mundo. Mesmo grandes monstros como Saddam Hussein e Muamar Kaddafi assassinavam e roubavam, mas sempre em nome de D'us. Eles desafiaram o mundo afirmando que D'us estava do lado deles. Apesar de ser uma forma de enganar a si mesmos, eles demonstraram que atualmente, mesmo nos governos mais corruptos e perversos, não há uma luta contra D'us.
A filosofia de criar uma nova ordem mundial apenas afundou na terra, isto é, não desapareceu completamente. De tempos em tempos esta filosofia coloca sua cabeça para fora da terra e ressurge. Por exemplo, após a Primeira Guerra Mundial foi criada a "Liga das Nações", uma tentativa de criar um governo único e universal, mas que durou poucos anos e terminou no final da Segunda Guerra Mundial. Depois disso foi criada a "Organização das Nações Unidas", que cada vez mais demonstra ser uma instituição falida e corrupta. D'us nos garantiu que a união de todos os povos sob um único governo somente acontecerá após a vinda do Mashiach. Qualquer tentativa, antes do momento certo, pode funcionar por um tempo limitado, porém não trará frutos duradouros.
Mas a terceira filosofia, de atribuir tudo o que ocorre ao acaso e às forças da natureza, permanece firme até os dias de hoje. Durante 120 anos Noach avisou as pessoas sobre o dilúvio, mas as pessoas o ridicularizaram. Finalmente o dilúvio veio, exatamente conforme Noach havia profetizado. As pessoas deveriam ter aprendido a lição. As pessoas deveriam ter aproveitado a oportunidade de enxergar a mão de D'us, de ver um milagre aberto. Mas o que a geração da Torre de Babel fez, poucos séculos depois? Tentou construir um apoio para os céus. Enxergou tudo como sendo um fenômeno da natureza. Ao invés de aprender alguma lição espiritual para corrigir seus erros, procuraram explicações científicas.
E o que nos ensina o final do Midrash, ao dizer que a parte remanescente de torre é tão alta que lá de cima mesmo as grandes palmeiras se parecem com minúsculos gafanhotos? O Midrash ressalta o nível de cegueira das pessoas que querem se enganar. Mesmo quando D'us faz milagres incríveis, grandes como as altas palmeiras, eles são minimizados como se fossem míseros gafanhotos por aqueles que não querem enxergar.
Um exemplo aconteceu há 20 anos. Em 1991, Israel foi atacado por Saddam Hussein, durante a Guerra do Golfo, com 39 mísseis "Scud". Apesar de serem mísseis com elevado poder de destruição, eles causaram apenas 3 mortes. Dos 39 mísseis que caíram, 3 destruíram filiais da "Super Farm", uma grande rede de drogarias cujo slogan era "Funcionamos inclusive no Shabat". A "coincidência" foi tanta que os jornais locais divulgaram a seguinte manchete: "O que Saddam Hussein tem contra a Super Farm?". O número 39 é exatamente a quantidade de trabalhos criativos proibidos no Shabat. Difícil ser coincidência, não? Mas quando muitos israelenses foram questionados sobre o milagre de não ter ocorrido uma gigantesca tragédia, a maioria respondeu: "demos muita sorte, né? Os mísseis caíram no lugar certo".
Podemos ver nos nossos dias o quanto esta filosofia ainda é forte, levando muitos a perder a mensagem principal. Quando recentemente o Japão foi atingido por uma série de terremotos, Tsunamis e explosões nas usinas nucleares, tudo o que os jornais noticiaram foram as movimentações das placas tectônicas que causaram tremores de terra, como se tudo tivesse sido um grande acaso. Que lições aprendemos sobre o Japão? O que mudamos depois desta tragédia? Nada, pois se são apenas fenômenos da natureza, o que há para aprender e mudar?
Por que as pessoas procuram tanto explicações científicas ou naturais para as catástrofes? Pois é mais cômodo do que se perguntar "o que eu tenha a ver com isso?". É mais fácil acreditar no acaso do que assumir um erro. Mas fechar os olhos não faz o problema sumir. Procurar soluções na ciência e construir torres não evita dilúvios e não muda decretos espirituais. Mas Teshuvá (arrependimento), Tefilá (reza) e Tzedaká (caridade) podem mudar o curso do mundo. Somente quando aprendermos com as tragédias, assumindo nossos erros e os corrigindo, poderemos nos alegrar com o fim das tragédias "naturais".
SHABAT SHALOM
R' Efraim Birbojm
http://ravefraim.blogspot.com/
Gn.6:9-11:32, Is 66:1-24, 23; 1Pe 2:4-10 (Shabat/Rosh Chodesh)
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