Diario de Cuiaba
Da Redação
Modelo exigido ainda não está em harmonia com as condições atuais
Para o Brasil alcançar os altos índices da produção agropecuária que possui atualmente e atender à crescente demanda mundial por alimentos, aumentou os investimentos na aquisição de insumos, principalmente os defensivos agrícolas – sem os quais não seria possível produzir em grande escala. O uso deste insumo e suas implicações, assim como a importância do agronegócio mato-grossense para o Brasil e o mundo, foram os temas centrais discutidos ontem (4) durante o workshop sobre agricultura sustentável “Mato Grosso - Fatos e Mitos”, promovido pelo Sistema Famato com o apoio da Andef, Cearpa, Aprosoja e Crea-MT.
“Se existe um modelo de agropecuária sustentável, esse modelo é baseado na agricultura de Mato Grosso. Os defensivos agrícolas são como os remédios que devem ser usados na dose certa e com o acompanhamento de um médico, que na agropecuária é o engenheiro agrônomo”, comparou o diretor executivo do Sistema Famato, Seneri Paludo, lembrando que o Estado possui 38% de área produtiva e 62% de área preservada.
O superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), Otávio Celidonio, destacou que apesar de representar um volume importante nos custos de produção, a participação dos defensivos tem caído, principalmente em comparação ao valor das sementes. Segundo levantamento do Imea, a participação dos defensivos no custo total da produção agrícola do Estado reduziu de 20%, da safra 1998/1999, para 15% na safra 2010/2011, enquanto a participação das sementes no mesmo intervalo aumentou de 6% para 7%. Atualmente, Mato Grosso ocupa a 7ª colocação no ranking nacional do consumo de defensivos por quilômetro quadrado.
No Brasil, o uso de defensivos nas lavouras é crescente. Em 2010, o país adquiriu US$ 6,9 bilhões do insumo e a projeção esperada para este ano, segundo a empresa de consultoria alemã Kleffmann Group, é de que sejam consumidos US$ 7,2 bilhões. Conforme o gerente de mercado da empresa, Renato de Oliveira, parte deste crescimento projetado se deve à elevação de preço desses produtos e não necessariamente ao aumento do volume utilizado.
O diretor executivo da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), Eduardo Daher, que proferiu a palestra “Brasil, um país bipolar? Competitividade Versus Entraves ao Agronegócio”, mostrou o contraste que existe entre a competitividade e os empecilhos da agropecuária brasileira.
Nas exportações do agronegócio, por exemplo, Daher informou que o Brasil negocia com 215 países e que há um bom tempo deixou de ser dependente dos Estados Unidos e do bloco europeu. Com a busca de novos mercados, as exportações cresceram de US$ 20,5 bilhões, em 1999, para US$ 64,8 bilhões, em 2009.
Apesar deste resultado, Daher salientou a deficiência do setor na estocagem de grãos dentro das propriedades nacionais, que possuem apenas 14% do total de armazéns próprios. Enquanto isso, os EUA contam 50%, a Argentina 40% e o Canadá com 85% do total de armazéns próprios instalados nas propriedades. Para o executivo, é preciso haver uniformidade para o país cumprir as metas estabelecidas pelo governo de auxiliar no combate à fome mundial. Até 2022, o objetivo é dobrar a produção, a produtividade e as exportações agropecuárias, além de triplicar os investimentos em pesquisas no campo.
“Tudo isso com a pressão na utilização dos defensivos agrícolas. Por isso, digo que o Brasil é um país bipolar. Vemos que há um contraponto no conceito de crescimento da economia nacional. Enquanto a agência que cuida da área sanitária do país critica nosso modelo de produção agrícola, ao mesmo tempo a presidente Dilma Rousseff está em Bruxelas firmando um acordo entre o Mercosul e a Comunidade Europeia para abastecer alimentos ao planeta. Ou todos nós colaboramos para o Brasil ser realmente o seleiro do mundo, ou optamos por uma agricultura domiciliar sem adoção de tecnologias”.
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