Com o tempo, uma grande amizade se criou entre o Rav Shalom Shwadron e a família do Rav Paysach Krohn. Passados cinco meses, o Rav Shalom Shwadron decidiu que era hora de voltar para Israel. No dia da partida, toda a família acompanhou o ilustre hóspede até o navio que o levaria de volta para casa. Na privacidade da cabine do Rav Shalom Shwadron, o pai do Rav Paysach Krohn estendeu para ele um envelope cheio de dinheiro. Diante da expressão de dúvida do Rav Shalom Shwadron, ele explicou:
- Este é o dinheiro dos últimos cinco meses de aluguel que você me pagou. Eu nunca tive intenção de receber um único centavo deste dinheiro, ao contrário, nós é que deveríamos ter pago por tudo o que recebemos de você durante este período. Todo o dinheiro que eu recebi foi diretamente colocado neste envelope.
O Rav Shalom Shwadron foi pego tão de surpresa que sua única reação foi rir e perguntar:
- Se você nunca teve intenção de receber o dinheiro, então por que cobrou um valor tão alto?
O pai do Rav Paysach Krohn respondeu com um largo sorriso no rosto:
- Eu quis te deixar à vontade para que utilizasse tudo o que havia em casa. Se eu tivesse pedido um valor baixo, você acharia que pagou pouco e ficaria receoso em utilizar o telefone, a eletricidade e a comida. Mas ao pedir um valor alto, eu tive a certeza de que você usaria tudo o que precisava sem nenhum tipo de constrangimento.
Então, com lágrimas nos olhos, os dois se abraçaram e se despediram"
Este é um exemplo do que a Torá exige em relação à forma como devemos fazer bondades, procurando entender realmente o que o outro necessita. Quando convidamos alguém em nossa casa, naturalmente a pessoa se sente inibida. Devemos fazer de tudo para que nossos convidados se sintam à vontade.
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O próximo Shabat coincide com a festa de Pessach, a época do ano em que revivemos a libertação da escravidão egípcia, depois de mais de dois séculos de sofrimentos, humilhações e trabalhos pesados. Na primeira noite (e fora de Israel também na segunda noite) reunimos nossas famílias e amigos e, com muita alegria, fazemos o Seder de Pessach, seguindo os 15 passos da Hagadá. Um dos passos centrais é o "Maguid", no qual lemos em voz alta os textos que recontam todos os detalhes da escravidão e a posterior salvação do povo judeu.
Começamos o "Maguid" com o texto "Ha Lachmá Aniá" (Este é o pão da pobreza). Neste texto nós convidamos todo aquele que tem fome, que venha e coma conosco, e todo aquele que necessita de um lugar para comer o Korban Pessach (sacrifício de Pessach), que venha e participe conosco. Em outras palavras, começamos o Seder de Pessach com um gesto muito bonito, convidando todos os pobres e necessitados a participarem das comemorações conosco.
Mas este convite traz consigo uma série de questionamentos. Em primeiro lugar, este convite é feito no local errado, pois quando o fazemos, já estamos na privacidade de nossas casas, onde nenhum pobre pode escutar. Por que não fazemos o convite em voz alta na sinagoga, anunciando a todos que nossa casa está aberta a qualquer um que queira participar? Além disso, o convite é feito no momento errado, apenas depois do Kidush, e aquele que não escutou o Kidush não pode participar da refeição. Se o intuito é receber convidados no momento do "Há Lachmá Aniá", por que o convite não é feito antes do Kidush? E finalmente, o Korban Pessach não precisava ser oferecido individualmente, ele podia ser oferecido por um grupo de pessoas. Durante o Seder, o Korban que havia sido oferecido era dividido entre todos os participantes do grupo, de forma que todos recebiam uma parte para comer. Mas a Halachá (lei judaica) ensina que se uma pessoa quisesse comer do Korban Pessach oferecido por certo grupo, ela já deveria fazer parte do grupo no momento em que o animal era sacrificado. Então por que convidar para comer do nosso Korban Pessach uma pessoa estranha, que não fazia parte do grupo no momento do sacrifício, já que ela não poderia, de acordo com a Halachá, comer deste Korban?
A explicação mais simples é que, na verdade, o convite é apenas simbólico. Existe uma Mitzvá chamada "Kimcha d'Pischa", que consiste em levantar fundos para que todo judeu possa ter um Seder de Pessach honrado, mesmo os mais carentes. Muitas pessoas e instituições participam desta importante Mitzvá, ajudando a recolher fundos e distribuí-los entres os necessitados. Todo judeu tem a obrigação de se preocupar com os outros judeus e participar desta importante Mitzvá. Quando finalmente chegamos ao Seder de Pessach, simbolicamente convidamos todos os necessitados, pois por termos ajudado os pobres a terem um Seder honrado, é considerado como se estivéssemos convidando-os para nossa própria mesa.
Mas segundo o Rav Yohanan Sweig, há uma explicação mais profunda. Ensina o Talmud (Baba Batra 98b) que não é correto um convidado trazer outro convidado. Este ensinamento é uma grande lição de "bons modos". Quando uma pessoa recebe um convite para comer em algum lugar, não pode trazer consigo um amigo sem a permissão do dono da casa. A única exceção a esta regra é se o convidado for alguém importante e honrado, e neste caso ele pode trazer outro convidado mesmo sem pedir permissão ao dono da casa.
Mas como este conceito se conecta com o "Ha Lachmá Aniá" da Hagadá? Explica o Rav Yohanan Zweig que o Seder de Pessach é a celebração da salvação do povo judeu e, por isso, esta noite deve ser muito especial para todos os judeus. Mas em geral, quem está passando o Seder como convidado em outra casa se sente um pouco inibido, não consegue se sentir totalmente à vontade. Para evitar este sentimento e incentivar que todos participem bastante nesta noite, começamos o Seder permitindo que os nossos convidados convidem outras pessoas. Assim, fazemos com que todos se sintam pessoas honradas, para que possam participar de maneira mais espontânea. Nesta noite cada judeu deve se sentir como se tivesse saído pessoalmente do Egito, e por isso é imprescindível que os convidados se sintam confortáveis, para que falem livremente e possam cumprir a Mitzvá de recontar a saída do Egito, como diz o versículo "E contarás ao seu filho neste dia" (Shemot 13:8). Portanto, o convite do "Ha Lachmá Aniá" é feito para os convidados já presentes, para que se sintam completamente à vontade, e não para os convidados que estão ausentes.
Daqui vemos a importância de deixar nossos convidados à vontade e fazer de tudo para evitar qualquer tipo de constrangimento. Nossos sábios levaram este ensinamento muito a sério e constantemente o aplicaram na prática. Por exemplo, o Rav Yom Tov Heller, mais conhecido como Tossafot Yom Tov, costumava derramar vinho na toalha limpa durante o Seder de Pessach, para que seus convidados, caso acidentalmente derramassem vinho, não se sentissem envergonhados.
A verdade é que não devemos utilizar este ensinamento apenas para o Seder de Pessach, devemos praticá-lo em todas as áreas de nossas vidas. Devemos desenvolver nossa sensibilidade em relação aos outros, sentir a necessidade do próximo, buscar fazer as bondades de forma completa, não apenas com os nossos convidados, mas com todos à nossa volta. Somente quando cada judeu realmente se preocupar com o próximo teremos o mérito de ver o cumprimento das últimas palavras da Hagadá: "No próximo ano em Jerusalém reconstruída". Que elas se cumpram, com a ajuda de D'us e a nossa contribuição, ainda este ano.
SHABAT SHALOM e PESSACH KASHER VE SAMEACH
R' Efraim Birbojm
http://ravefraim.blogspot.com.br/
Ex. 12:21-51 (Maftír – Nm. 28:16-25), Js 3:5-7, 5:2-15, 6:1, 27, Jo.
1:29-31, 10:14-18
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