O rabino Yaacov Yossef Herman foi um dos maiores sábios dos Estados Unidos no começo do século passado. Quando era jovem, ficou por certo tempo longe de seus pais e teve que passar um Shabat na rua, dormindo no banco de uma praça, sem comida. Neste dia ele prometeu para si mesmo que, quando se casasse, sua casa estaria aberta a todos os que não tivessem um lugar para o Shabat. E ele realmente cumpriu sua promessa. Toda semana sua casa estava completamente lotada nas refeições do Shabat, e qualquer pessoa que necessitasse de um lugar para comer era bem-vinda.
Certa vez algo difícil ocorreu com a família Herman. Uma das filhas do Rav Yaacov, Esther, foi hospitalizada com difteria, na época uma grave doença que tinha poucas chances de cura. O Rav Yaacov e sua esposa passaram a semana no hospital, ao lado da filha já inconsciente, entre a vida e a morte. Então o Shabat se aproximou e o Rav Yaacov não sabia o que fazer. O que era melhor, ficar com a filha no hospital durante o Shabat ou voltar para casa e receber os convidados? Após pensar muito, decidiu que iria para casa com a esposa, pois o mérito de receber os convidados poderia ajudar na cura de sua filha.
O Shabat chegou e trouxe ao Rav Yaacov um espírito de tranqüilidade. Em nenhum momento ele demonstrou tristeza, sofrimento ou ansiedade. Durante as refeições ele cantou músicas de Shabat e explicou trechos da Parashá da semana. Mas muitos da família não conseguiram esta tranqüilidade, entre eles Molly, a irmã do Rav Yaacov. Na manhã de Shabat chegou um telegrama e Molly, sem que o Rav Yaacov soubesse, leu. Infelizmente eram notícias trágicas: Esther havia falecido. Ela correu aos vizinhos para contar as más notícias e chorou durante todo o dia, mas decidiu não contar nada ao Rav Yaacov até o fim do Shabat.
Assim que o Shabat terminou, antes mesmo de Molly conseguir dar as más notícias ao seu irmão, um mensageiro chegou apressado, trazendo outro telegrama. Era um pedido de desculpas do hospital pelo terrível equívoco cometido. Esther estava bem, inclusive havia melhorado tanto durante o Shabat que estava fora de perigo. Quem havia falecido era outra paciente com difteria, que estava na cama ao lado de Esther.
Quando soube de toda a história, o Rav Yaacov Yossef Herman aproveitou para ensinar que, quando temos Emuná (fé) em D’us, além de cumprirmos o que Ele nos comandou, sofremos menos na vida. (História Real, retirada do livro “All for the Boss”)
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Nesta semana lemos duas Parashiót juntas, Nitzavim e Vayelech, que contém as palavras ditas no último dia de vida de Moshé Rabeinu, nas quais ele reafirmou o pacto de D’us com o povo judeu e ensinou o importante conceito de que cada judeu é responsável pelo outro. Além disso, ele relembrou os perigos de se desviar do caminho correto, principalmente após o contato com os povos idólatras que viviam na terra de Israel, e as duras consequências negativas. E assim diz um dos versículos da Parashá Vayelech sobre a pessoa que se desvia dos caminhos corretos: “...E muitas coisas ruins e sofrimentos recairão sobre ele. E dirá neste dia ‘Não é porque D’us não está próximo de mim que estas coisas ruins recaíram sobre mim?’” (Devarim 31:17).
Ao observar com atenção este versículo surgem duas perguntas: por que o versículo começa falando sobre coisas ruins e sofrimentos, mas termina falando apenas sobre coisas ruins? E qual a diferença entre coisas ruins e sofrimentos?
Explica o Rav Elazar Man Shach, que foi o Rosh Yeshivá (Diretor) da Yeshivá de Ponovitch e um dos maiores líderes da nossa geração, que as linguagens “coisas ruins” e “sofrimentos”, apesar de parecerem sinônimos, foram utilizadas na Torá com significados completamente distintos. A linguagem “coisas ruins” se refere a acontecimentos desagradáveis do cotidiano que ocorrem além da nossa possibilidade de controle. Por exemplo, uma pessoa que levou uma batida no carro ou escorregou na rua e se machucou. Já a linguagem “sofrimentos” se refere à reação negativa de uma pessoa diante de um acontecimento desagradável. Por exemplo, a pessoa que levou a batida no carro fica extremamente chateada, pensando que deveria ter ido por outro caminho ou saído mais tarde do trabalho.
Do que depende a reação de uma pessoa diante de um acontecimento negativo? Da sua Emuná (fé) de que existe uma Supervisão particular de D’us sobre tudo o que ocorre no mundo. Quanto mais a pessoa entende que D’us controla tudo, cada pequeno detalhe que ocorre em nossas vidas, e que tudo é para o nosso bem, menos ela sofre e menos se preocupa com coisas negativas que ocorrem. Portanto, aquele que não tem Emuná, além da própria dificuldade pela qual passa, ainda perde com o sofrimento e a angústia que sente.
É justamente isto o que nos ensina o versículo da Parashá. As “coisas ruins” não estão sob nosso controle, é D’us Quem decreta tudo o que acontece em nossas vidas. Mas as pessoas que vivem sem Emuná também passam por sofrimentos que poderiam ser evitados. A falta de Emuná é consequência de estarmos afastados de D’us. Quando a pessoa percebe o quanto é errado sofrer por causa das dificuldades da vida, e que isso é resultado de não enxergar que tudo tem a mão de D’us, que cuida de nossas vidas com Supervisão particular, então os sofrimentos vão embora, restando apenas as “coisas ruins”, que não estão em nossas mãos, está nas mãos de D’us.
Portanto, a Emuná nos ajuda a ser pessoas mais tranqüilas. A pessoa que vive com Emuná sempre encontra, apesar das dificuldades que a atingem, tranqüilidade e consolo. É o que diz David Hamelech (Rei David) no livro de Tehilim (Salmos): “Mesmo que eu ande no vale das sombras da morte não temerei o mal, pois Você está comigo” (Capítulo 23).
Por que pessoas doentes e com dificuldades costumam ler os Salmos? O que há de tão especial? David Hamelech teve uma vida muito difícil. Por muitos anos foi desprezado por sua própria família. Era um simples pastor de ovelhas que vivia no deserto, completamente sozinho, em locais perigosos. Foi perseguido pelo Rei Shaul por ter sido visto como um usurpador do trono. Seu próprio filho, Avshalom, se rebelou contra ele e tentou matá-lo. Teve muitos inimigos e duras batalhas contras os povos vizinhos. Portanto, David Hamelech deveria ter escrito um livro de lamentações e reclamações contra D’us. Mas ao contrário, ele escreveu os Salmos, que são cânticos de louvor e agradecimento a D’us. Este é um dos motivos pelos quais os Salmos ajudam na recuperação de tantas pessoas que já estavam desenganadas pelos médicos, pois os Salmos representam o limite que o ser humano pode chegar com sua Emuná.
Como alguém com tantas dificuldades pode fazer cânticos de louvor e agradecimento? David Hamelech tinha uma Emuná completa. Ele sabia que todas as dificuldades são parte do plano de D’us. Ele escolheu não sofrer. Ele escolheu ver as coisas de maneira positiva. Por isso ele chegou a níveis espirituais tão elevados.
Muitas das coisas que ocorrem em nossas vidas não dependem de nós. Mas o que sim está em nossas mãos é como reagir a tudo o que acontece. Precisamos ter serenidade, aceitar a vontade de D’us, saber que Ele quer sempre o nosso bem, mesmo quando o que ocorre não é o que queríamos ou estávamos esperando. Este é o segredo para, além de ganhar méritos espirituais, sofrer menos neste mundo.
“Sheticatev Vetechatem Bessefer Chaim Tovim” (Que sejamos inscritos e selados no Livro da Vida).
SHABAT SHALOM
R’ Efraim Birbojm
http://ravefraim.blogspot.com/
Nitsavím Dt. 29:10-30:20, Is. 61:10-63:9, Rm. 10:1-12
Vaiêlech Dt. 31:1-30,Os.14:2-10, Jl 2:11-27, Mq.7:18-20, Is.55:6-56:8, Rm.10:14-18
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