"Ronaldo era um advogado de sucesso. Estava subindo muito na carreira, pois vinha conseguindo conquistas incríveis nos tribunais. Mas ele nunca atribuía à D'us o seu sucesso, e sim aos seus méritos próprios. Certo dia Ronaldo estava atrasado para uma audiência, justamente em um julgamento muito importante, que poderia lançar seu nome no cenário nacional. Dirigindo feito um louco pelas ruas, ele conseguiu chegar ao tribunal 10 minutos antes da audiência. Mas para seu desespero, ao chegar no estacionamento, descobriu que estava lotado. Deu uma volta em busca de uma vaga, mais uma volta, uma terceira volta, mas nenhum carro saía do lugar.
Ronaldo começou a suar frio. Um atraso no julgamento seria visto pelo juiz como um desrespeito, o que certamente o prejudicaria no desenvolvimento de seu trabalho naquele caso tão importante. Os minutos preciosos passavam rapidamente e nada de aparecer um lugar. Na quarta volta, desesperado, ele viu que realmente não tinha jeito e resolveu "apelar". Olhando para o céu, ele falou:
- D'us, eu sei que não tenho sido uma boa pessoa. Não tenho rezado, não tenho feito bons atos, ao contrário, tenho caprichado bastante nas transgressões. Na maioria das vezes chego a ignorar que é Você quem me ajuda sempre. Mas D'us, se você me ajudar a encontrar uma vaga, apenas uma vaguinha para que eu possa estacionar meu carro e chegar a tempo ao julgamento, eu juro que começarei uma nova vida.
Naquele mesmo instante, um verdadeiro milagre aberto aconteceu. Uma pessoa saiu do tribunal, entrou no carro que estava exatamente na frente de onde Ronaldo estava esperando, ligou o carro e saiu. Ronaldo, não acreditando no que havia acontecido, lembrou-se de seu juramento e, olhando para cima, gritou:
- D'us, não precisa mais. Já consegui minha vaga sozinho..."
Assim se comporta a pessoa orgulhosa, que pensa que todo o sucesso é fruto do seu próprio esforço, esquecendo que é de D'us que vem tudo o que temos na vida.
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No final da Parashá desta semana, Behalotechá, a Torá nos descreve o episódio em que Miriam fez Lashon Hará (maledicência) de seu irmão Moshé e foi duramente castigada por isso. Mas por que Miriam falou mal de seu irmão? Ela havia arriscado sua vida para acompanhar Moshé enquanto ele, ainda bebê, descia pelo rio Nilo. Então, se ela o amava tanto, por que o criticou?
Na época de Moshé havia outras pessoas com o dom da profecia, como seus irmãos Miriam e Aharon. Mas ao contrário de outros profetas, D'us aparecia para Moshé a qualquer momento, então ele deveria estar em um estado de pureza o tempo inteiro. Isto incluía também que Moshé se abstivesse de relacionamentos íntimos com sua esposa Tzipora. Miriam, ao descobrir isso, achou-se no direito de criticar Moshé, pois entendia que ele era um profeta como os outros e, portanto, não precisava abandonar sua vida normal pelo fato de poder falar diretamente com D'us. Ela entendeu que a atitude de Moshé era equivocada e, por amor, criticou-o para que ele consertasse o erro. Mas D'us pessoalmente revelou que Moshé não era igual a nenhum outro ser humano, como está escrito "Se existem profetas entre vocês, em uma visão Eu me faço conhecer a ele, em um sonho eu falo com ele. Não é assim com Meu servo Moshé, em toda Minha casa ele é confiável. De boca para boca Eu falo com ele, em uma visão clara..." (Bamidbar 12:6-8).
No meio deste episódio há um versículo que parece fora de contexto: "E o homem Moshé era muito humilde, mais do que qualquer pessoa na face da Terra" (Bamidbar 12:3). Nestes versículos em que D'us quer afirmar a grandeza única de Moshé, o que tem a ver a sua humildade? Há muitas outras características de Moshé que parecem estar mais conectadas com a sua grandeza, como a bondade e o altruísmo. Porém, enquanto todas as boas características de Moshé aprendemos apenas através de seus atos, a humildade é a única que está escrita, algumas vezes e de maneira explicita, na Torá. O que a humildade tem a ver com o grande potencial que Moshé atingiu?
Para entendermos a importância da humildade, é interessante ver o que a Torá nos ensina sobre o seu oposto, a arrogância. Segundo o livro "Orchot Tzadikim", a arrogância é a pior de todas as características do ser humano, e dela derivam muitos dos problemas que temos na vida. O orgulhoso é chamado de "abominação" pela Torá, e D'us o abandona e o deixa nas mãos do Yetzer Hará (má inclinação). O Talmud (Torá Oral) nos ensina que D'us chega ao ponto de dizer que não há lugar no mundo para que Ele e o arrogante vivam juntos. Mas o que há de tão terrível na arrogância? O que faz com que D'us despreze tanto a pessoa arrogante?
Na verdade o comportamento de D'us é "Midá Kenegued Midá" (medida por medida). O arrogante acredita que ele não precisa de D'us para ter sucesso na vida. Ele sente que o sucesso é conseqüência da sua inteligência e do seu talento, como diz o versículo "E você dirá no seu coração: A minha força e o poder das minhas mãos me trouxeram toda esta fortuna" (Devarim 8:17). Portanto, já que a pessoa acha que não precisa da ajuda de D'us, Ele realmente não a ajuda. Ela pode ser realmente inteligente, pode ter muito talentos, mas é apenas um ser humano mortal, limitado. Seu sucesso será, portanto, sempre limitado, nunca passará de um certo ponto, pois está limitado pelas forças da natureza.
O humilde se comporta de uma maneira exatamente oposta. Ele entende que sua inteligência e seus talentos são presentes de D'us. Portanto, ele sabe que todo o seu sucesso somente será possível se D'us estiver ajudando. O potencial da pessoal humilde é ilimitado, pois a fonte de seu sucesso também é ilimitada. Esta pessoa pode transcender, pode vencer seus próprios limites e até mesmo os limites da natureza. Era impossível para qualquer ser humano chegar ao nível que Moshé chegou, de falar com D'us "face a face", mas a sua humildade levou-o a quebrar todos os limites. Moshé não estava mais preso às leis da natureza, pois ele sabia que todo o seu sucesso era dependente de D'us, que está acima de todas as limitações naturais.
Por outro lado, nos ensina o livro Orchot Tzadikim que toda característica boa também tem seu lado negativo. E qual o lado negativo da humildade? Quando a pessoa começa a se subestimar e a argumentar que não tem os talentos necessários para ser uma grande pessoa, e por isso se acomoda na vida. Na verdade isto não é humildade, é uma falsa humildade. A verdadeira humildade é motivadora, a falsa humildade é desanimadora. Esta falsa humildade é, na verdade, uma consequência da preguiça e do desejo pelo conforto. Não é fácil chegar à grandeza, ser uma pessoa que muda o mundo. Isso exige muito esforço e disposição para enfrentar dificuldades e falhas. Por isso, às vezes se torna muito tentador se excluir e se eximir da responsabilidade de ao menos tentar ser grande. É mais fácil pensar que Moshé chegou à grandeza pois já estava predestinado e tinha todas as boas características para chegar lá. É mais cômodo pensar que Avraham Avinu mudou o mundo pois já tinha forças para isso. Mas a Torá nos ensina justamente o contrário. Segundo o Rambam (Maimônides), Avraham foi idólatra por muitos anos e somente com a idade de 48 anos encontrou D'us em Sua totalidade. Moshé também trabalhou muito para mudar suas características e se tornar o grande líder do povo judeu. O caminho de nenhum dos grandes da Torá foi construído com espreguiçadeiras na beira da piscina e água de coco.
Ensinam os nossos sábios que todos os dias devemos nos questionar: "Quando meus atos chegarão ao nível dos atos dos patriarcas?". Mas que tipo de pergunta é esta? Alguém pode sonhar em chegar aos atos de Avraham, Yitzchak e Yaacov, nossos sagrados patriarcas que mudaram o rumo da humanidade? Segundo as leis da natureza, certamente que não. Mas a pessoa humilde não se limita às forças da natureza. Ela sabe que todo o sucesso depende apenas de D'us. Portanto, o segredo do sucesso é a combinação de humildade com esforço. Esforço para fazer a nossa parte, chegar ao limite. E humildade para saber que, na verdade, quem define os limites é apenas D'us.
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm
http://ravefraim.blogspot.com/
Nm. 8:1-12:16, Zc 2:10 -4:7, Ap. 11:l-19
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