Formalizado pelo Tratado de Assunção, em 1991, o Mercosul surgiu com o projeto de criar uma área de livre comércio entre as nações sul-americanas. Contudo, ao longo dos anos, o protecionismo e os interesses antagônicos dos quatro integrantes - Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai - impediram o bloco de prosperar. É ilustrativa das dificuldades vividas pelo grupo a decisão tomada pela Argentina, em maio, de proibir a importação de alimentos que também são produzidos em seu território. A medida, que nem foi comunicada oficialmente aos demais parceiros, afetou diretamente o Brasil. É com esse cenário que o próximo presidente brasileiro terá de lidar a partir de 2011.
“O Mercosul está totalmente paralisado. Ele está se tornando apenas um fórum de ideias políticas”, diz José Augusto Guilhon de Albuquerque, professor titular de relações internacionais do departamento de Economia da Universidade de São Paulo (USP). Alguns analistas consideram inclusive que o comércio brasileiro teria melhores perspectivas de crescimento se não estivesse atrelado ao bloco. "O Brasil perdeu o interesse de pertencer ao Mercosul porque é um jogador global e quer ter liberdade para negociar tratados de livre comércio de maneira individual", afirmou (qualificação) Eduardo Boneo Villegas, em entrevista à rede BBC.
Os comerciais - Protecionismo não é uma arma usada apenas pelos vizinhos. O Brasil também usou dela. O economista Roberto Teixeira da Costa, fundador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), sustenta que o país vem adotando uma atitude avessa à abertura e a novos acordos internacionais. "As tarifas de importação são muito altas, se comparadas às de outros países, como o Chile”, diz o especialista, que também foi presidente internacional do Conselho de Empresários da América Latina (Ceal).
Guilhon acrescenta que faltou pragmatismo ao governo Lula, que colocou os interesses políticos e ideológicos acima das perspectivas comerciais na hora de selar novos acordos. Exemplo disso seria o fato de o presidente se orgulhar de ter se oposto às negociações que poderiam ter desaguado na Área de Livre Comércio da Américas (Alca), englobando também os Estados Unidos. "A razão é simples: a idéia de que se fizermos comércio com certos países, seremos subjugados pelas multinacionais ou pelo império".
Não importa quem será o próximo presidente: José Serra ou Dilma Rousseff. Os especialistas defendem que o novo governo adote uma política externa que leve em conta as demandas e o potencial comercial brasileiro. "Somados, os mercados de Venezuela, Bolívia e Equador, por exemplo, não são comparáveis ao americano", diz Guilhon. O novo presidente não poderá mais ignorar isso.
Próximo presidente terá de reconhecer a paralisia do Mercosul
Mariana Pereira de Almeidahttp://veja.abril.com.br/noticia/internacional/proximo-presidente-tera-de-reconhecer-a-paralisia-do-mercosul
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