Duas semanas depois de o ministro da Indústria da França, Christian Estrosi, defender o protecionismo econômico, agora o ministro da Agricultura, Bruno Le Maire, vai mais longe: ele garantiu aos produtores rurais que a França vai lutar contra o acordo de livre comércio entre União Europeia e Mercosul, cujas negociações estão em andamento nesta semana. A justificativa: "A Europa não é o lixão de produtos agrícolas da América do Sul".
As declarações foram feitas em Rennes, onde se realizava um salão de agricultura. Le Maire foi recebido por militantes de sindicatos agrícolas, que protestavam contra a queda da renda dos produtores rurais. Enquanto os sindicalistas entravam em confronto com a polícia, o ministro discursou para líderes rurais.
Na saída do encontro, Le Maire falou à imprensa. Defendeu uma "Europa firme" nas negociações entre a União Europeia e o Mercosul visando a um acordo de livre comércio, garantindo que pelo menos 15 países do bloco evitarão assiná-lo. "O agricultor não é moeda de troca. Não iremos adiante nas negociações com a Organização Mundial do Comércio (OMC), nem nas negociações com o Mercosul."
A seguir, Le Maire deixou claro que a resistência da França tinha endereço: "A Europa não é o vertedouro dos produtos agrícolas da América do Sul". Em referência indireta, o ministro do governo de Nicolas Sarkozy ainda ironizou o Brasil, país para o qual o Palácio do Eliseu tenta vender 35 aviões de caça fabricados na França, em decisão que segue na mesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Não podemos trocar carne bovina por Rafales."
Além de descartar o acordo com o Mercosul, o ministro ainda anunciou novos subsídios aos produtores franceses. Pecuaristas receberão nos próximos três anos 300 milhões em subsídios. O objetivo é reduzir as perdas agrícolas do país, onde a renda média teria caído 50% em 2009, segundo afirmam sindicatos e o Ministério da Agricultura.
Ao Estado, um assessor de Le Maire afirmou que as posições do ministro são apoiadas por 15 países da UE . "A Europa já enfrenta um déficit na balança comercial agrícola de 25 bilhões em favor dos países do Mercosul", disse assessor. Contatada, a assessoria do Palácio do Eliseu não retornou aos pedidos de esclarecimentos sobre a posição do ministro.
O Estado de S. Paulo
Andrei Netto
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