Governo contesta prontamente informações de candidato tucano, mas não faz reparos a dados incorretos divulgados pela petista
Ágil em contestar informações do candidato de oposição, o tucano José Serra, o governo não trabalha com a mesma rapidez para corrigir dados incorretos apresentados pela candidata governista à Presidência, Dilma Rousseff.
Passados oito dias do debate promovido pela TV Bandeirantes entre os presidenciáveis e quatro dias depois da entrevista concedida pela petista ao Jornal Nacional, da TV Globo, os Ministérios do Trabalho, das Cidades e da Educação não haviam divulgado até ontem nenhuma correção a informações erradas dadas pela candidata do PT à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Tratamento bem diferente foi dispensado na quinta-feira pelo governo federal a Serra. Mal terminou o Jornal Nacional, os Ministérios da Saúde e dos Transportes vieram a público contestar dados por ele apresentados. O argumento da Saúde foi que era "dever corrigir informações erradas" e o ministério "tem a responsabilidade de zelar pela correta informação à população".
Na semana passada, durante o debate da Bandeirantes, a ex-ministra da Casa Civil afirmou que o salário mínimo teve um aumento real de 74%, nos oito anos do governo Lula. O número correto era 53,6%. O Ministério do Trabalho informou que, por enquanto, não pretende fazer nenhuma correção às informações da petista.
Números imprecisos também foram apresentados por Dilma na entrevista ao Jornal Nacional, na segunda feira. Ela disse que o governo federal investiu R$ 270 milhões em saneamento na Favela da Rocinha, no Rio. Dois dias depois, recuou e explicou que o valor se referia não só a saneamento, mas também à urbanização da favela.
"Na Rocinha, estamos investindo R$ 276 milhões em saneamento integrado e urbanização. Isso significa dar condições não só em termos de estruturação. É dar condições de vida para a população. Quando investiram no complexo do Alemão? Quando investiram na Rocinha? Nunca", argumentou Dilma, momentos antes de participar de seminário sobre ferrovias, em Brasília.
Explicações. Sob a tutela de Márcio Fortes, o Ministério das Cidades confirmou ontem os dados apresentados por Dilma e acrescentou que as cifras se referiam "à construção de redes de abastecimento de água, de coleta de esgoto sanitário e drenagem". Na nota à imprensa, o ministério informou que "no Complexo da Rocinha, há dois contratos do PAC. O primeiro no valor total de R$ 114 milhões, com contrapartida do Estado no valor de R$ 55,5 milhões. O segundo contrato no valor total de R$ 151,3 milhões, com contrapartida de R$ 54,8 milhões. Esses contratos totalizam R$ 265,3 milhões que beneficiarão aproximadamente 30 mil famílias".
Assim como fez em relação ao saneamento na Rocinha, Dilma também explicou os dados apresentados na Band, sobre o aumento dos recursos aplicados na educação. Na ocasião, disse que se chegara "a algo em torno de 5% a 6% do PIB". Pela última estimativa oficial, União, Estados e municípios investiram 4,7% do PIB, em 2008. Procurado, o Ministério da Educação informou que nada dirá sobre o assunto.
Sem polêmica. Em Salvador, o tucano José Serra disse ontem que ministérios não deveriam engajar-se em campanhas - mas evitou entrar em polêmicas sobre a força-tarefa dos ministérios em defesa de Dilma Rousseff. "Não vou debater com o ministério do (presidente) Lula", afirmou. "Minha disputa eleitoral não é com o ministério do Lula, eu debato com os candidatos. Mesmo que eles estejam engajados na campanha - e não deveria ser assim - meu foco são os candidatos."
Serra aproveitou para acusar outros candidatos de cópia de programas de governo de sua campanha. "Não acho errado copiar, até porque governar é mais tirar do papel do que ter a ideia. Mas é bom que se dê o crédito."
O Estado de S. Paulo
Eugênia Lopes
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