Porém, ao contrário das ordens do rei, não apenas Shmuel Hanaguid não cortou a língua daquele que o ofendeu, mas também passou a tratá-lo com a máxima bondade. Quando o rei escutou que suas ordens não haviam sido cumpridas, e ainda descobriu que Shmuel Hanaguid tratava bem seu desafeto, então ele voltou sua fúria contra seu primeiro ministro, acusando-o de desacato à autoridade e exigindo uma explicação. Shmuel Hanaguid, sem perder a calma, deu uma bela resposta ao rei:
- Não entendo sua raiva, Majestade. Você me acusa de não ter cumprido sua ordem, mas eu sim cumpri. Você me pediu para que eu cortasse a língua ruim do meu inimigo, e foi isso o que eu fiz. A única diferença foi que eu tirei a língua ruim dele e coloquei no lugar uma língua gentil”.
Às vezes passamos por situações de stress com outras pessoas, nas quais nosso sangue ferve, como quando somos ofendidos. Frequentemente caímos no erro de tentar combater fogo com fogo, e tudo o que conseguimos é aumentar ainda mais o problema. A maneira mais simples de apagar fogo é utilizando água fria. Portanto, ao invés de gritos e retaliações violentas, a forma verdadeira de esfriar uma briga é utilizar palavras tranquilas e suaves, falando em um tom baixo, com a cabeça fria e levando a honra do próximo em consideração.
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Na Parashá desta semana, Tetsavê, a Torá continua descrevendo os detalhes do Mishkan (Templo Móvel). O foco nesta Parashá são as oito roupas utilizadas pelo Cohen Gadol (Sumo Sacerdote) durante os serviços do Mishkan. No final da Parashá a Torá também começa a nos ensinar algumas das leis sobre os Korbanót (sacrifícios) que eram oferecidos no Mishkan.
Além do aspecto físico das roupas do Cohen Gadol, que tinham um grande esplendor e eram feitas de materiais nobres e caros, o Talmud (Arachim 16a) ressalta que as roupas tinham outra característica interessante. O Talmud questiona o porquê da proximidade entre a descrição das roupas do Cohen Gadol e a descrição dos Korbanót, e responde que da mesma maneira que os Korbanót traziam expiação aos pecados cometidos pelo povo, assim também as roupas do Cohen Gadol traziam expiação. Cada uma das roupas tinha o poder de trazer expiação por algum erro específico que o povo judeu havia cometido. A “Ktonet” (Túnica) trazia expiação pelos assassinatos, a “Michnassaim” (Calça) trazia expiação pelas relações incestuosas, o “Mitsnefet” (Turbante) trazia expiação pela arrogância, o “Avnet” (Cinto) trazia expiação pelos pensamentos pecaminosos do coração, o “Choshen” (Peitoral) trazia expiação pelos erros judiciais, o “Efod” (tipo de um avental) trazia expiação pela idolatria, o “Tzitz” (Placa de ouro) trazia expiação pelos atos descarados, e finalmente o “Meil” (Manto) trazia expiação pelo Lashon Hará (maledicência).
O Meil era um longo manto em cuja borda eram costurados pequenos sinos. Quando o Cohen Gadol se movimentava, os sinos faziam barulho. O Talmud explica que justamente esta roupa, que fazia barulho, servia para expiar a transgressão que também faz barulho, o Lashon Hará. Mas o Talmud traz uma aparente contradição ao afirmar que era o “Ketoret”, o incenso que era oferecido no Mishkan, que trazia expiação para a transgressão de Lashon Hará. Se o Talmud associa o barulho do Meil com o barulho do Lashon Hará, como pode ser que o Ketoret, algo silencioso, também pode estar associado ao Lashon Hará? E afinal, era o Meil ou era o Ketoret que fazia a expiação do Lashon Hará?
Responde o Talmud que existem dois tipos de Lashon Hará: o que é feito com barulho e o que é feito de forma silenciosa. O Meil, que faz barulho, traz expiação para o Lashon Hará que é feito com barulho, isto é, quando aquele que está difamando seu companheiro o faz sem esconder seus sentimentos, dizendo as coisas de forma tão aberta que até mesmo aquele que está sendo difamado escuta. Já o Ketoret, que é silencioso, traz expiação para o Lashon Hará que é feito de maneira silenciosa, isto é, quando o difamador esconde da “vítima” seus sentimentos verdadeiros, e ela não tem nem mesmo a consciência de que sua imagem está sendo impiedosamente manchada.
Porém, por que era necessário que duas partes diferentes do Mishkan viessem expiar a mesma transgressão? À primeira vista, o Lashon Hará com barulho, que causa uma vergonha direta para aquele que é abertamente difamado, é muito mais grave. Se o Meil era suficiente para expiar o Lashon Hará com barulho, por que não era suficiente também para expiar o Lashon Hará silencioso, aparentemente menos grave e menos danoso?
Explica o Rav Yehonatan Guefen que para responder esta pergunta antes precisamos entender de uma maneira mais profunda os verdadeiros efeitos dos dois tipos de Lashon Hará. O Lashon Hará com barulho causa um grande dano, pois quando a pessoa difamada escuta as coisas ruins que estão sendo abertamente ditas sobre ela, sente uma grande dor. Neste sentido, o Lashon Hará barulhento é muito mais grave e danoso do que o silencioso. Porém, por outro lado, como o Lashon Hará é feito de forma escancarada, a vítima tem mais chances de, ao escutar o que está sendo dito sobre ela, se defender e tomar uma atitude para interromper o Lashon Hará. Já o Lashon Hará silencioso tem um lado muito mais maligno do que o Lashon Hará barulhento. O Lashon Hará silencioso é caracterizado pelo difamador se comportar com “duas caras”, isto é, na frente da vítima ele é amigável e está sempre dando sorrisos e abraços, mas por trás dela o difamador fala, de forma impiedosa, coisas terríveis. Pelo fato da vítima não estar consciente de estar sendo difamada, ela não faz nenhum esforço para se proteger, e os ataques podem seguir continuamente.
Com este esclarecimento é possível entender a necessidade de duas partes independentes do Mishkan para expiar a transgressão de Lashon Hará, pois cada uma das duas formas de Lashon Hará, a barulhenta e a silenciosa, tem algo que a torna mais prejudicial, e neste ponto cada uma delas é mais grave do que a outra. Por isso, apesar do Meil conseguir expiar o Lashon Hará barulhento, ele não consegue expiar o Lashon Hará silencioso. O Ketoret, ao contrário, tem força para expiar o Lahon Hará silencioso, mas não tem força para expiar o Lashon Hará barulhento.
O que é particularmente surpreendente nesta explicação é que o Lashon Hará feito de forma silenciosa, que parece inofensivo, pode ser muitas vezes até mais grave e destrutivo do que o Lashon Hará feito de maneira escancarada. Por isso, temos que tomar cuidado com nossas palavras, para que não estejamos, mesmo sem intenção, causando graves danos às outras pessoas, muitas vezes irreparáveis.
Acontecem várias ocasiões em nossas vidas nas quais desenvolvemos um desafeto por alguém. Mas é óbvio que esta aversão que sentimos pelo outro não justifica de forma nenhuma o Lashon Hará, principalmente quando feito com “duas caras”. A Torá nos ensina que os irmãos de Yossef sentiram tanta inveja dele a ponto de odiá-lo, como está escrito “Eles não conseguiam falar com ele (Yossef) de forma pacífica” (Bereshit 37:4). A Torá não está criticando os irmãos de Yossef, ao contrário, está louvando a atitude deles, que não se comportavam de uma maneira falsa. Eles não davam sorrisos e abraços quando estavam com Yossef e o denegriam quando ele não estava presente. Por mais que havia um grave erro de guardar ódio no coração, os irmãos de Yossef se cuidavam para não se comportarem de maneira hipócrita.
O Lashon Hará e a hipocrisia servem somente para aumentar as discussões e a inimizade entre as pessoas. O caminho ideal para resolver problemas deve ser sempre através de uma conversa franca e transparente, sem rispidez nem exaltação. O tom de voz deve ser mantido sempre baixo, e a conversa calma e ponderada. Somente através de um comportamento honesto e sincero poderemos realmente melhorar nosso relacionamento com todos os que estão à nossa volta, sem correr o risco de nos tornarmos hipócritas ou de causar danos aos outros.
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm
http://ravefraim.blogspot.com.br/
Parasha Ex. 27:20-30:10
Haftorah Ez.43:10-27
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