"O rabino Moshé Feinstein, um dos maiores rabinos da geração passada, ficou
muito conhecido não apenas por sua grande erudição no estudo da Torá, mas
principalmente pela sua preocupação com o próximo. Em diversas situações ele
demonstrou um incrível grau de consideração com o sofrimento alheio.
Certa vez um aluno veio buscar o Rav Moshe Feinstein para uma aula que ele
daria em uma sinagoga. Quando o aluno entrou na casa do rabino, viu que ele
estava sentado na mesa com uma mulher que chorava sem parar. O aluno percebeu
que o Rav Moshe Feinstein também estava chorando e lágrimas rolavam sem parar do
seu rosto. Preocupado, o aluno fez um sinal para saber se estava tudo bem e o
Rav Moshe Feinstein respondeu que sim. Novamente o aluno fez um sinal para o
rabino, indicando que estavam atrasados para a aula, mas o Rav Moshe Feinstein
pediu para que esperasse mais um pouco.
Alguns instantes depois, a mulher enxugou as lágrimas com um lenço,
agradeceu profundamente ao Rav Moshe Feinstein e saiu. O aluno perguntou o que
havia acontecido e o Rav Moshe Feinstein respondeu:
- Esta mulher bateu na porta e pediu para conversar comigo. Porém ela
entrou, sentou-se na mesa e começou a chorar. E durante todo o tempo que ele
ficou aqui ela apenas chorou.
O aluno quis saber qual era o problema dela, mas o Rav Moshe Feinstein
disse que também não sabia, pois ela não havia dito nada, havia apenas chorado.
Então o aluno perguntou, curioso:
- Mas rabino, então por que você também estava chorando?
- Isto é simples – respondeu o Rav Moshe Feinstein, enxugando suas lágrimas
– Como eu poderia ver uma mulher tão sofrida como esta, chorando sem parar, e
não chorar junto com ela?"
Apesar de vivermos em um mundo com milhares de pessoas à nossa volta, o que
reina é o egoísmo. A maioria das pessoas vive focada em si mesma, negligenciando
as necessidades dos outros. Mas muitos conseguiram vencer sua natureza egoísta
e, através de um trabalho árduo, conseguiram chegar ao nível de amar ao próximo
como a si mesmos. Isto nos ensina que, quando queremos algo de verdade e lutamos
para alcançar, conseguimos.
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Nesta semana lemos duas Parashiot juntas, Nitzavim e Vayelech. E assim
começa a Parashá Nitzavim: "Vocês estão hoje parados, todos vocês, diante de
Hashem, teu D'us... para que entrem no pacto com Hashem, teu D'us... para que se
estabeleçam hoje como um povo para Ele e Ele será um D'us para vocês... como Ele
falou para vocês e como Ele jurou para os seus antepassados Avraham, Yitzchak e
Yaacov. Não apenas com vocês eu selo este pacto e este juramento, mas com todos
os que estão aqui, parados conosco hoje, diante de Hashem, teu D'us, e com os
que não estão aqui conosco hoje" (Devarim 29:9-14). O final destes versículos
nos deixa uma pergunta: o que significa que o pacto está sendo selado também com
os que não estão aqui hoje? Alguém perdeu a oportunidade participar deste novo
pacto? Explica Rashi, comentarista da Torá, que as palavras "os que não estão aqui hoje" se referem às futuras gerações do povo judeu. Nos ensina o Midrash (parte da Torá Oral) que a alma de todos os judeus estavam presentes no pacto com D'us, mesmo antes da criação dos seus corpos físicos. Mas o que este versículo está nos ensinando? Afinal, de que adianta apenas nossa alma fazer um pacto com D'us sem o nosso corpo, já que o livre arbítrio apenas ocorre quando os dois estão juntos?
A resposta está em um interessante conceito da biologia. Se pudéssemos
rastrear e identificar todas as células de um ser humano, perceberíamos algo
interessante. De todas as células identificadas em um bebê, nenhuma delas
poderia ser encontrada quando este bebê chegasse à fase adulta. Por acaso este
bebê se transformou em outra pessoa? Obviamente que não, ele sempre se manteve a
mesma pessoa, apenas as suas células foram envelhecendo e sendo gradativamente
substituídas por células mais novas.
Poderíamos pensar que o povo judeu é composto por indivíduos isolados,
unidos apenas por idéias em comum. Mas a Parashá vem nos ensinar justamente o
contrário. Gerações de judeus nascem, vivem e são substituídas por novas
gerações, como células de um organismo. Mas o povo judeu continua intacto, pois
somos uma única entidade contínua que existiu durante toda a nossa história.
Como a geração do deserto fez um pacto com o Criador do mundo, esta força foi
sendo transmitida por todas as gerações e, por sermos parte da mesma entidade, é
como se nós também estivéssemos presentes naquele momento. Não somos indivíduos
isolados, cada um de nós faz parte de uma única entidade que não pode ser
dividida: o povo judeu.
Mas que diferença faz se somos pessoas isoladas ou conectadas entre si?
Explica o Rambam (Maimônides) que por sermos parte de uma única entidade, temos
a obrigação de cuidar e de se preocupar com cada um dos que também fazem parte
dela. Ele nos ensina que aquele que se não sente a dor de seus irmãos e não
derrama lágrimas junto com eles quando ocorrem tragédias e dificuldades, perde
sua parte no Mundo Vindouro mesmo que não tenha cometido nenhuma transgressão
durante toda sua vida.
Para um judeu, não existe viver de maneira isolada e individual, pois somos
parte de um grupo. Não existe o conceito de uma pessoa cumprir suas Mitzvót
sossegadamente, sem se preocupar com as dificuldades que os outros estão
passando. Qualquer tragédia pessoal é parte da tragédia coletiva do povo judeu.
É por isso que, quando vamos consolar um enlutado, dizemos: "Que D'us possa te
trazer consolo dentre os outros enlutados (pela destruição) de Tzion e
Jerusalém". O mesmo vale para as alegrias particulares, nas quais devemos
participar como se a alegria fosse algo coletivo, de todo o povo.
Por este conceito também fazemos as nossas rezas no plural. Mesmo quando
não estamos doentes, pedimos durante a Amidá (reza silenciosa) "Nos cure". Mesmo
quando não estamos precisando de dinheiro pedimos "Nos abençoe". Um judeu não
pode descansar e relaxar despreocupado enquanto há judeus espalhadas pelo mundo
que não podem descansar. Quando uma parte do nosso corpo fica doente, o corpo
inteiro adoece. Enquanto um dos nossos irmãos estiver com problemas, todos nós
temos o mesmo problema.
Na próxima 4ª feira de noite (04 de setembro) é Rosh Hashaná, o ano novo judaico, a comemoração da criação do primeiro ser humano, Adam Harishon. Da mesma forma que ele foi criado e julgado no mesmo dia, assim também todos os seres humanos são julgados neste dia. Todos os nossos atos passam na frente do Criador do mundo, mesmo os menores detalhes de tudo o que fizemos durante o ano. D'us também vê nossos corações e, no momento em que pedimos mais um ano de vida, Ele vê quais são os nossos planos de crescimento espiritual para o próximo ano.
Há muitas áreas onde precisamos crescer. Há muitas Mitzvót que precisamos
começar a cumprir ou melhorar ainda mais. Mas talvez a área onde mais devemos
investir é no "Bein Adam Lehaveiró" (entre o homem e o seu companheiro). Há mais
de 2.000 anos sofremos sem o nosso Templo Sagrado, que foi destruído por causa
do ódio gratuito dentro do povo judeu. Ódio gratuito não significa apenas
ofender ou agredir outro judeu. O descaso e a falta de sensibilidade com os
problemas dos outros também é considerado ódio gratuito. Estar confortável no
sofá assistindo televisão enquanto há judeus sem ter o que comer também é ódio
gratuito. Como podemos assistir as notícias do soldado israelense Gilad Shalit,
seqüestrado há mais de 4 anos por terroristas palestinos, sem dividir com sua
mãe tamanha dor e sofrimento?
Para aumentar nossa sensibilidade com os outros é necessário muito
trabalho. O primeiro passo é querer. O segundo passo é tentar vencer o nosso
egoísmo, refletindo sobre as dificuldades dos outros, tentando nos imaginar na
mesma situação. Precisamos entender que não estamos em uma corrida para chegar
em primeiro lugar sozinhos, pois enquanto há irmãos que não passaram pela linha
de chegada, não somos considerados vencedores. Devemos receber sobre nós a
responsabilidade de ajudar, dentro das nossas possibilidades, a todos aqueles
que necessitam. Seja com dinheiro, seja com um ombro amigo, seja com um sorriso.
O importante é começar a sentir, desde já, que na verdade somos todos um
só.
Que neste ano de 5774 tenhamos apenas alegrias para todos os povos..
SHABAT SHALOM e SHANÁ TOVÁ UMETUKÁ (Um ano bom e doce para todos)
"SHETICATEV VETECHATEM BESSEFER CHAIM TOVIM" (QUE SEJAMOS INSCRITOS E
SELADOS NO LIVRO DA VIDA).
Rav Efraim Birbojm
Nitsavim Dt. 29:10-30:20, Is. 61:10-63:9, Ro. 10: 1-13
Vayelech Dt. 31:1-30,Os.14:2-10, Jl 2:11-27, Mq.7:18-20, Is.55:6-56:8, Rm. 7: 7-12
Rosh HaShaná (Ano Novo Judaico) Gn. 21:1-34 (Maftír Nm. 29:1-6), 1 Sm. 1:1-2:10, 1 Ts. 4:13-18
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