"Nos primeiros dias do ano de 1905, o
Rav Aryeh Levin viajou para Israel e foi para a cidade de Yafo. A primeira coisa
que fez foi visitar um grande sábio que vivia lá. Conversaram por um longo tempo
sobre vários assuntos de Torá e, depois de Minchá (reza da tarde), saíram para
dar uma volta. Era costume daquele sábio passear diariamente pelos campos para
refletir e organizar seus pensamentos. No caminho, o Rav Arieh Levin viu uma
flor bonita e arrancou-a. O sábio foi pego de surpresa e disse, gentilmente:
- Acredite em mim, todos os dias da minha vida eu me cuidei para nunca arrancar sequer uma folha de grama ou flor desnecessariamente enquanto ela tinha capacidade de crescer ou florescer. Nossos sábios ensinam que não há uma única folha de grama aqui na Terra que não tem uma força celestial dizendo "cresça, cresça". Cada folha de grama diz algo, transmite algum significado. Cada pedra sussurra, em silêncio, alguma mensagem oculta. Toda criação profere sua canção.
Aquelas palavras, saídas de um coração tão puro, gravaram-se profundamente no coração do Rav Aryeh Levin. A partir daquele momento, ele passou a nutrir um sentimento de compaixão por todas as criaturas"
Muitos conceitos que parecem ser modernos já foram ensinados ao povo judeu há mais de 3.300 anos. Um deles é o cuidado com os recursos naturais, que foram criados por D'us para o nosso benefício, mas que não podem ser utilizados de forma destrutiva e impensada.
- Acredite em mim, todos os dias da minha vida eu me cuidei para nunca arrancar sequer uma folha de grama ou flor desnecessariamente enquanto ela tinha capacidade de crescer ou florescer. Nossos sábios ensinam que não há uma única folha de grama aqui na Terra que não tem uma força celestial dizendo "cresça, cresça". Cada folha de grama diz algo, transmite algum significado. Cada pedra sussurra, em silêncio, alguma mensagem oculta. Toda criação profere sua canção.
Aquelas palavras, saídas de um coração tão puro, gravaram-se profundamente no coração do Rav Aryeh Levin. A partir daquele momento, ele passou a nutrir um sentimento de compaixão por todas as criaturas"
Muitos conceitos que parecem ser modernos já foram ensinados ao povo judeu há mais de 3.300 anos. Um deles é o cuidado com os recursos naturais, que foram criados por D'us para o nosso benefício, mas que não podem ser utilizados de forma destrutiva e impensada.
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Nesta semana recomeçamos a leitura da Torá com o primeiro livro, Bereshit. E a Parashá da semana, Bereshit, começa descrevendo a criação do mundo, desde os objetos inanimados, os vegetais, os animais e o primeiro ser humano, Adam Harishon. Após D'us terminar a criação, Ele ensinou a Adam o que ele poderia fazer e o que não poderia. Por exemplo, D'us ensinou a Adam o que ele poderia comer, como está escrito: "E eis que Eu dei para vocês toda planta que produz semente na face da terra, e toda árvore que tem fruta com sementes" (Bereshit 1:29).
Porém, desta ordem de D'us para Adam Harishon surge uma grande pergunta. No terceiro dia da Criação, D'us já havia garantido que todas as espécies vegetais produziriam sementes, com a capacidade de se autoperpetuarem, como está escrito: "E disse Deus: produza a terra vegetação, plantas que produzem sementes... e árvores frutíferas que, segundo as suas espécies, deem frutos que tenham em si a sua semente, sobre a terra" (Bereshit 1:11,12). Então por que D'us precisou repetir para Adam esta característica das plantas e árvores de se autoperpetuarem? Além disso, no versículo seguinte, quando D'us comandou aos animais o que seria permitido comer, esta característica não é mais mencionada, como está escrito "Para todo animal da terra, todo pássaro do céu e a todo ser vivente que rasteja sobre a terra, toda vegetação de planta será alimento" (Bereshit 1:30). Portanto, qual é o ensinamento que está contido nas palavras de D'us para Adam Harishon?
Esta pergunta se conecta com outra pergunta interessante: quando a Torá Oral precisou ser escrita, para que seus conhecimentos não se perdessem durante o exílio do povo judeu, seu conteúdo foi dividida em 6 ordens: Zeraim (Sementes), Moed (Festividades), Nashim (Mulheres), Nezikim (Danos), Kodashim (Coisas Sagradas) e Taharót (Purezas), sendo que em cada uma destas ordens estão contidos diversos Tratados. Esta divisão foi feita por um dos maiores sábios da história do povo judeu, Rabi Yehuda Hanassi, o líder de sua geração. O nome que o Rabi Yehuda Hanassi deu para cada ordem representa o conteúdo dos Tratados contidos nela. Por exemplo, Nezikim (Danos) contém os Tratados que discutem as leis de danos e compensações, enquanto Moed (Festividades) contém os Tratados que explicam as leis do Shabat e das diversas Festas judaicas. Mas há umas das ordens cujo nome aparentemente não condiz com o conteúdo dos seus Tratados: Zeraim (Sementes). O primeiro Tratado da ordem de Zeraim é Brachót (Bençãos), que ensina, entre outras coisas, sobre as Brachót feitas para cada tipo de alimento. Os outros Tratados desta ordem, apesar de ensinarem leis agrícolas, focam principalmente na produção e nas comidas em sua forma já terminada. Com exceção do tratado de Kilaim, que ensina sobre a proibição de misturar alguns tipos de sementes, nenhum dos outros Tratados fala sobre os alimentos enquanto ainda estão em estágio de semente. Então por que Rabi Yehuda Hanassi deu para esta ordem o nome "Sementes", se não é sobre isso que os Tratados discutem?
Estamos em uma geração movida pela ganância, onde a única coisa que importa são os lucros. Não se pensa mais no futuro, o importante é apenas o presente, ganhar e lucrar o máximo agora. Um dos grandes efeitos colaterais é o impacto negativo sobre a natureza e a utilização irracional dos recursos naturais. Um exemplo disso é o Rio Tietê, que há 50 anos era um rio limpo, utilizado para natação e lazer, mas atualmente é um rio morto e podre. Nos incomoda ver nos documentários o extermínio dos elefantes africanos para a extração do marfim. O descaso com a natureza e com os animais é tão grande que em muitos países é permitido a caça apenas por esporte, e a tourada, um espetáculo de covardia e crueldade com os animais, ainda atrai milhares de espectadores.
Contra estes atos de descaso surgiram, nos últimos anos, vários grupos de proteção à natureza, como o Greenpeace, cujo objetivo principal é conscientizar a população dos danos causados pelo mau uso dos recursos naturais. Muitos pensam que este cuidado com a natureza é algo moderno, mas a Torá nos ensina que este conceito foi transmitido para Adam Harishon logo depois dele ter sido criado.
Por que Adam foi criado por último, depois dos minerais, plantas e animais? Para que ele soubesse que todos os recursos naturais estavam à sua disposição para que ele conseguisse cumprir seu objetivo no mundo. Mas explica o Rav Yochanan Zweig que quando D'us deu permissão ao ser humano para usufruir dos recursos naturais criados por Ele, avisou que esta permissão vinha junto com uma responsabilidade: cuidar dos recursos naturais para que eles não se esgotassem. Quando D'us repetiu o conceito de que as plantas e frutas tinham sementes, isto é, podiam se autoperpetuar, Adam estava sendo avisado que, apesar de ter acesso aos benefícios do mundo material, ele não tinha direitos indiscriminados. O direito de uso não dava a Adam o direito de destruir o mundo que D'us havia construído. Ele poderia utilizar os recursos, mas deveria se esforçar para garantir que eles continuariam existindo para as próximas gerações.
E assim dizem nossos sábios: "No momento em que D'us criou Adam Harishon, Ele pegou-o, o fez passar por todas as árvores do Gan Éden (Paraíso) e disse para ele: Veja as Minhas criações, como são belas e louváveis. E tudo o que Eu criei, para você Eu criei. Tome cuidado para não estragar e destruir o Meu mundo" (Kohelet Rabá 7:13). Portanto, o Greenpeace não inovou o conceito da ecologia e da proteção à natureza. Há mais de 3.300 anos a Torá já havia nos ensinado a importância de cuidar do nosso planeta. Esta mensagem foi transmitida somente ao ser humano, que através do seu intelecto pode cuidar para que o uso dos recursos naturais seja feito de uma forma consciente. Já aos animais, que não têm intelecto e discernimento entre o certo e o errado, D'us não comandou nada em relação ao uso dos recursos naturais. Por isso no versículo que se refere à alimentação do ser humano está escrito "plantas e frutas com semente", mas no versículo que se refere à alimentação dos animais está escrito apenas "plantas e frutas", ocultando a característica de autoperpetuação delas através das sementes.
E foi exatamente esta a mensagem que o Rabi Yehuda Hanassi quis nos transmitir ao dar o nome da primeira ordem da Torá Oral de "Sementes". Os Tratados desta ordem contêm as regras das Brachót que fazemos sobre a comida pronta e outras regras agrícolas que são pré-requisitos para o consumo das comidas. Mas mesmo quando todos os pré-requisitos foram preenchidos, não podemos esquecer a lição das "sementes", isto é, que também um importante pré-requisito para utilizar os recursos naturais é garantir a continuidade destes recursos, evitando um mau uso que leve ao seu esgotamento.
Ensina o Sefer HaChinuch que existe uma Mitzvá, chamada "Baal Tashchit", que nos proíbe de desperdiçar qualquer coisa. A raiz desta Mitzvá é educar nossas almas a evitar destruir coisas de maneira desnecessária, nos conectando com o bem e nos afastando do mal e de qualquer tipo de destruição. Isto nos leva a praticar atos bons, desejar a paz e buscar o bem dos outros. A destruição dos recursos naturais, ao contrário, é um ato completamente egoísta, de não pensar nas futuras gerações, de não se importar com os impactos negativos que virão ao mundo daqui a 50 ou 100 anos pela nossa má utilização dos recursos naturais. Quando D'us comandou o povo judeu a construir o Mishkan (Templo Móvel), ordenou que fosse utilizada madeira de Acácia. Por que justamente esta árvore foi escolhida? O Midrash (Shemot Rabá 35:2) diz que a escolha foi pelo fato da Acácia não ser uma árvore frutífera. Assim D'us está nos ensinando que Ele se importa em não causar uma destruição desnecessária e, portanto, devemos nos comportar como Ele.
Por outro lado, é preciso tomar cuidado para não perder o equilíbrio e o bom senso. A palavra "Midót", que significa "características de comportamento", também significa "medidas". Por que? Pois as nossas Midót são como o sal, somente é bom quando está na medida certa, mas se colocamos sal demais ou pouco sal, estragamos a comida. É isto o que vemos acontecendo com alguns integrantes de grupos de proteção à natureza, que chegam ao ponto de agredir e machucar pessoas por considera-las "inimigos da natureza". Por mais que devemos nos preocupar com a natureza e com os recursos naturais, não podemos esquecer que nada é mais sagrado e importante do que uma vida humana. Tudo deve ser feito dentro de limites, sem os exageros que muitas vezes acompanham as ações dos grupos de defesa da natureza.
Cuidar da natureza não é uma ideia recente, é algo tão antigo quanto a própria humanidade. Portanto, devemos fazer a nossa parte e dar a nossa contribuição para que as próximas gerações também possam usufruir deste mundo maravilhoso e todos os recursos naturais que D'us nos deu.
SHABAT SHALOM
R' Efraim Birbojm
http://ravefraim.blogspot.com.br/
Gn.1:1-6:8, Is.42:5-43:10, Ap.22:6-21
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