"O Rav Avraham Grodzinski, que chegou a ser o Mashguiach (líder espiritual) da Yeshivá de Slobodka, era um grande erudito de Torá desde muito jovem. Aos 17 anos ele começou a estudar na Yeshivá de Slobodka, tornando-se muito próximo do Rosh Yeshivá (Diretor), Rav Natan Tzvi Finkel. Além de se destacar nos estudos, ele era um rapaz com excelentes Midót (traços de caráter), em especial a vontade de ajudar aos outros. Desde pequeno, enquanto seus amigos iam brincar, ele acompanhava seu pai em trabalhos comunitários voluntários ou se esforçava para cumprir com perfeição a Mitzvá de Achnassat Orchim (receber convidados), pois sua casa estava constantemente cheia de convidados e visitas, em geral rabinos importantes e grandes estudiosos de Torá.
Foi justamente por todas estas boas qualidades que o Rav Ber Hirsch Heller, que na época era o Mashguiach da Yeshivá de Slobodka, quis casá-lo com sua filha, Chasia. Eles saíram algumas vezes para se conhecerem melhor e, como era esperado, ela ficou encantada com o rapaz. Apenas algo a incomodava demais: o Rav Grodzinski era notavelmente manco de uma das pernas. Infelizmente, por este motivo, ela desistiu de se comprometer com ele, deixando seu pai muito triste.
Algum tempo depois Chasia estava subindo no sótão da casa quando escorregou da escada e caiu, quebrando imediatamente a perna. Sabendo que nada ocorre por acaso, ela refletiu sobre os motivos pelos quais D'us teria mandado aquele sofrimento. O único motivo que veio em sua cabeça foi a tristeza que havia causado ao pai por ter desistido de se casar com o Rav Avraham Grodzinki, um rapaz com tanto potencial e tão boas Midót. Ficou arrepiada ao notar que havia quebrado justamente a mesma perna que ele mancava.
Arrependida de sua decisão equivocada, ele comunicou ao pai que gostaria se comprometer com o Rav Avraham Grodzinski, trazendo muita alegria para ambas as famílias. Após algum tempo eles finalmente se casaram e construíram uma casa com muita Torá e muito Chessed (bondade), cujas portas estavam sempre abertas para qualquer necessitado"
D'us está constantemente nos mandando "recados". Será que estamos "sintonizados" para escutar e entender o que Ele nos diz?
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Na Parashá desta semana, Ekev, Moshé continuou seu discurso de despedida, enfatizando ao povo judeu a necessidade de reforçar a Emuná (fé) no momento em eles estavam prestes a entrar na Terra de Israel. Por que ele sentiu a necessidade de reforçar a Emuná do povo justamente neste momento? Pois o decreto de permanecer 40 anos vagando no deserto foi consequência justamente da falta de Emuná. Como o povo havia passado por muitos sofrimentos e dificuldades, principalmente após alguns erros graves cometidos e os conseqüentes castigos recebidos, Moshé tentou encorajá-los e motivá-los, como está escrito: "E você deve saber em seu coração que, da mesma forma que um pai castiga seu filho, assim D'us castiga vocês" (Devarim 8:5). Que ensinamento Moshé quis transmitir ao comparar os castigos de D'us com a forma como um pai castiga seu filho?
O primeiro ponto é que um pai só castiga seu filho por amor e pelo seu crescimento. O pai sofre quando precisa castigar seu filho, mas sabe que o castigo é importante para que ele não continue nos caminhos errados. D'us também nos manda sofrimentos somente por amor e para o nosso próprio benefício. D'us tem controle sobre todo o universo, não há nada que Ele não possa fazer. Portanto, quando chega sobre nós alguma dificuldade, certamente esta é a vontade de D'us. Por isso, sempre que estivermos em um momento doloroso ou passando por uma dificuldade, mesmo quando não conseguimos entender racionalmente porque estamos passando por isso, precisamos ter a certeza de que D'us está fazendo por bondade infinita. D'us não foi obrigado a criar o mundo, Ele criou apenas por bondade e nos mantém vivos por bondade. Portanto, entendemos de maneira lógica que também os sofrimentos são baseados na Sua característica de bondade.
Mas há outro ponto importante que podemos aprender da comparação dos castigos de D'us com os castigos de um pai. Toda vez que o filho comete um erro, o pai tenta conversar. Se a conversa não resolve, o pai dá uma bronca. Se mesmo assim a bronca não funciona, então o pai castiga o filho. De que forma o pai castiga seu filho? De maneira que o filho entenda seu erro e o corrija. Se o filho não aprender nada com o castigo e voltar a errar, é sinal de que o castigo não atingiu seu objetivo. Este é também um dos principais propósitos pelo qual D'us nos castiga: para que possamos melhorar algum aspecto do nosso comportamento e não voltar a errar.
Explica o Rav Avraham Grodzinski, Mashguiach da Yeshivá de Slobodka, que durante muitos séculos o povo judeu teve grandes profetas, como Moshé Rabeinu e Eliahu Hanavi. A profecia era o canal de comunicação que D'us utilizava para advertir o povo sobre os erros que estavam cometendo. Mesmo quando não eram erros grosseiros e evidentes, os profetas conseguiam investigar o coração das pessoas e apontar com precisão o que precisava ser consertado. Mas atualmente não temos mais profetas. Então como D'us se comunica conosco? Como podemos saber o que é necessário corrigir e consertar em nossos atos e características?
A resposta é uma das chaves mais importantes para o nosso verdadeiro crescimento espiritual: quando terminou a profecia no mundo, D'us passou a demonstrar Sua preocupação e a se comunicar conosco através dos sofrimentos. Isto quer dizer que, quando uma pessoa está passando por uma dificuldade ou sofrimento, é D'us que está comunicando, por amor, que algo em sua vida precisa ser melhorado. Portanto, o sofrimento é um grande presente de D'us, uma oportunidade de consertar nossos erros e chegar à perfeição. O Talmud explica que mesmo pequenas dificuldades, como tentar pegar duas moedas no bolso e saírem três, também são considerados sofrimentos e carregam consigo uma mensagem.
Mas deste ensinamento do Rav Avraham Grodzinski fica uma pergunta óbvia: quando D'us se comunicava conosco através de profecia, a mensagem era direta e facilmente entendida. Agora que Ele se comunica através dos sofrimentos, como saber exatamente qual é a mensagem e o que devemos melhorar?
A resposta está em um dos fundamentos do judaísmo: D'us sempre pune uma pessoa "Midá Kenegued Midá" (medida por medida), isto é, da mesma maneira que cometemos um erro assim somos castigados. A Torá está repleta de exemplos deste comportamento de D'us. Os egípcios afogavam os bebês judeus no Rio Nilo e foram afogados no Mar Vermelho. Shimshon (Sansão) pecou com seus olhos e foi castigado através da cegueira. A pessoa que transgredia falando Lashon Hará (maledicência), tentando com seu ato causar o afastamento entre as pessoas, era castigada passando uma semana isolada do resto do povo. E assim há inúmeros casos na Torá onde podemos encontrar esta marcante característica de D'us.
Portanto, a comunicação de D'us continua sendo direta. Pelo fato de D'us nos castigar "Midá Kenegued Midá", se pararmos para refletir ao passarmos por um sofrimento, encontraremos o que precisamos mudar. Se alguém grita conosco, provavelmente estamos sendo desrespeitosos com alguém. Se alguém nos rouba, provavelmente estamos sendo desonestos em alguma área da vida. Se queimamos a língua, provavelmente estamos falando Lashon Hará (maledicência) ou mentiras. E assim com todos os tipos de sofrimentos.
Quando passamos por sofrimentos, muitas vezes tentamos escapar desta reflexão, principalmente ao utilizar fatores externos para explicar as nossas dificuldades. Por exemplo, muitos acham que suas dificuldades são sempre resultado de Ain Hará (inveja). Outros imediatamente verificam as Mezuzót para certificar que estão em ordem. É verdade que existe Ain Hará, uma força espiritual que pode causar danos, e por isso devemos tomar cuidado para não despertar a inveja nos outros. É verdade que devemos verificar periodicamente nossas Mezuzót para certificar que nenhuma letra está apagada ou danificada. Mas não podemos perder o foco principal dos sofrimentos, que é a reflexão, buscar algum tipo de crescimento nos nossos atos. Não podemos esquecer que os sofrimentos são uma mensagem clara de D'us nos dizendo que devemos crescer.
Temos que tomar apenas o cuidado de utilizar este ensinamento apenas para nós mesmos. É uma grave transgressão ver uma pessoa sofrendo e, ao invés de ajudá-la e confortá-la, ficar tentando buscar motivos para o sofrimento dela, imaginando que transgressão grave ela pode ter cometido. Esta forma de reflexão deve ser aplicada apenas para as nossas próprias dificuldades e sofrimentos.
D'us não gostaria de nos mandar sofrimentos. Ele nos manda bondades o tempo inteiro para que possamos refletir e consertar nossos erros. Mas infelizmente não prestamos atenção a tudo de bom que recebemos. Um surdo pagaria milhares de dólares para voltar a escutar, mas escutamos tudo e não damos valor. Um cego daria todo seu dinheiro para ter de volta sua visão, mas enxergamos e não apreciamos. Um paralítico trocaria até seu último centavo para levantar da cadeira de rodas e andar, mas andamos e nem prestamos atenção na bondade que estamos recebendo. E pelo fato de não refletirmos e corrigirmos nossos erros através das coisas boas, D'us precisa nos mandar sofrimentos, pois isto nos balança, nos desperta e nos faz pensar na vida. Ele faz isso apenas por amor e bondade, não o amor limitado de um pai, mas um amor ilimitado que apenas D'us pode sentir por nós.
Quando um pai dá uma bronca ou um castigo, ele não quer que seu filho fique depressivo. Ao contrário, ele quer que seu filho utilize o ensinamento de uma maneira positiva, consertando o que estava errado. D'us nos ama muito mais do que um pai ama seu filho. Cada sofrimento é resultado de amor e uma sabedoria infinita. D'us não se revela para nós de maneira aberta neste mundo e, por isso, pode ser que sairemos daqui sem entender muitos dos sofrimentos pelos quais passamos na vida. Mas uma coisa podemos ter certeza: através dos sofrimentos D'us está se comunicando conosco, Ele está demonstrando que se importa. Ele quer nos ensinar a escutar Suas mensagens que chegam através das dificuldades para que possamos, a cada dia, nos conectar um pouco mais com Ele para toda a eternidade.
Shabat Shalom
Rav Efraim Birbojm
http://ravefraim.blogspot.com/
Dt. 7:12-11:25, Is. 49:14-51:3, Hb. 11:8-13
Anônimo disse...Olá, Cristina. Tudo bem? Gostaria de agradecer teu "cadastro" no blog que criei como um aparato para as aulas de Português. Ao ver teu nome na lista dos seguidores procurei infomações e cheguei ao teu espaço que chamou a minha atenção. Sempre tive muito interesse pelo judaísmo e agora posso aprender um pouco dessa religião, através do material que encontrei este blog.
ResponderExcluirNão sei como chegou ao meu, porque só posso ver o teu primeiro nome e não sei se nos conhecemos, mas estou feliz por estarmos em contato por aqui.
Boa noite e parabéns pelo material do teu blog.
Líbia Aparecida Carlos
Olá Líbia! Que bom que gostou! Pena eu não ter tido tempo para produzir meus próprios textos, uma coisa que gosto muito de fazer. Segui seu blog porque você me mandou um e-mail. Sou Laysa "Cristina", da Pós-Graudação de Educação Ambiental da UFLA! Quando iniciei este, fiquei um pouco apreensiva em relação à publicidade e falta de privacidde entao usei meu segundo nome, o qual meu pai (e só ele) às vezes me chamava.
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