O Estado de S. Paulo
Editorial
Numa lista de cerca de 120 países pobres e em desenvolvimento, o Brasil foi o que registrou o maior aumento da produtividade do trabalho Agrícola entre 1988 e 2008, o que confirma o grande avanço da agricultura brasileira no período. De acordo com um estudo sobre o papel da agricultura na redução da pobreza no mundo, elaborado pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida) - uma organização ligada à ONU que se dedica à busca de recursos para apoiar a agricultura nos países em desenvolvimento -, a produção anual média do trabalhador rural brasileiro aumentou 123,7% no período considerado, passando de US$ 1.439 para US$ 3.218 (tomando-se como base o valor do dólar em 2000).
De todos os demais países analisados pelo Fida, apenas Belize também registrou aumento de mais de 100% - o número exato é 116,7%. Mas é preciso ressalvar que em Belize há apenas 30 mil trabalhadores no campo, ou menos de 0,3% dos 11,93 milhões de trabalhadores rurais brasileiros, e sua produção Agrícola, de cerca de US$ 450 milhões por ano, corresponde a pouco mais de 1% da brasileira, de quase US$ 40 bilhões anuais, segundo os dados utilizados pelo Fida.
O desempenho da agricultura brasileira, de acordo com o critério do Fida, é muito superior ao dos principais concorrentes do País nos mercados regional e mundial. O aumento da produtividade do trabalho rural na Argentina no período considerado foi de 60,9%, menos da metade da evolução da produtividade brasileira; no México, de 32,2%, apenas um quarto do resultado brasileiro; na China, de 81,6%; e, na Índia, de 27,3%.
Ressalve-se que o exame da produtividade do trabalho é apenas uma das formas de se avaliar a evolução, ou involução, da atividade Agrícola numa região ou num país. Também de acordo com outras avaliações o desempenho brasileiro é muito superior ao da maioria dos países com os quais disputa espaços no mercado mundial de produtos agropecuários e agroindustriais.
Entre 1996 e 2006, enquanto a área plantada com grãos no Brasil registrou aumento de 24,4%, de 38,5 milhões para 47,9 milhões de hectares, a produção cresceu 95,8% - de 73,6 milhões para 144,1 milhões de toneladas -, segundo pesquisa do Centro de Economia Agrícola da FGV.
Em algumas culturas, como a do milho, o aumento da produtividade foi excepcional. Entre as safras de 1995/1996 e a de 2009/2010, a área plantada diminuiu 5,9%, mas a produção de milho aumentou 65,1% - de 32,4 milhões para 53,5 milhões de toneladas. Na safra 2009/2010, em que se constatou uma pequena redução (de 0,7%) da área cultivada, a produção foi cerca de 8% maior do que a da safra anterior, o que resultou no aumento de 8,5% na produtividade. A agricultura brasileira tem-se caracterizado por aumentos constantes de produtividade. Entre 2000 e 2009, enquanto a área cultivada aumentou à média anual de 1,7%, a produção cresceu 4,7%.
No ano passado, o Brasil ultrapassou o Canadá e se tornou o terceiro maior exportador de produtos agrícolas do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da União Europeia, de acordo com a OMC. Na década passada, o País já tinha superado a Austrália e a China. Entre 2000 e 2008, as exportações agrícolas brasileiras cresceram, em média, 18,6% ao ano, mais do que os crescimentos registrados no Canadá (6,3%), na Austrália (6,0%), nos Estados Unidos (8,4%) e na União Europeia (11,4%).
A abundância de recursos naturais, como solo, água e luz, o aumento da demanda internacional, sobretudo dos países asiáticos, e o aumento da produtividade estão entre os fatores que têm impulsionado de maneira decisiva a atividade rural no Brasil nos últimos anos.
É evidente que isso só foi possível graças às pesquisas desenvolvidas pela Embrapa, sobretudo no desenvolvimento de sementes geneticamente modificadas e de variedades para as diferentes regiões do País, além de seu trabalho de campo junto aos agricultores, estimulando a adoção de técnicas mais adequadas de cultivo e de gestão.
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