Reinaldo Azevedo
O deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP) foi a um evento numa central sindical ontem — a CGT — e defendeu o relatório que fez do Código Florestal, um bom relatório diga-se. O Brasil está se tornando um país tão esquisito em certas áreas que cabe a um comunista — teoricamente ao menos, ele ainda é… stalinista! — defender a produção agrícola. É bem verdade que, em certa medida, isso nem é assim tão despropositado. No que pode haver de virtuoso no idealismo comunista — aquele papo de “igualdade”, que, não obstante, já matou tanta gente —, o produtor rural brasileiro até que é bem camarada, né? A senadora Kátia Abreu (DEM-TO), presidente da CNA, relatou uma conversa que teve dia desses com um potentado da indústria brasileira. Conversa das mais curiosas. Num dado momento, disse ele à interlocutora:
— Vocês, produtores rurais, precisam pensar mais como negociantes. Vocês não são governo! Se o consenso dos políticos é pela redução da área plantada, se é isso o que majoritariamente quer a imprensa, que vive malhando vocês, se ninguém tem coragem de defender a produção agropecuária, conformem-se, plantem ou produzam carne na área que eles consideram a ideal. Vocês podem lucrar o mesmo produzindo em menos terras. É verdade que a produção vai cair. Mas o preço vai subir. Pra que ficar dando murro em ponta de faca? Vocês também têm o direito de parecer chiques e preocupados com o futuro da humanidade.
Pois é… Não é que faz sentido? Trata-se de uma das leis mais antigas da humanidade a definir o preço de alguma coisa: a lei da oferta e da procura. Aldo Rebelo, para o bem dos pobres brasileiros (vejam: na falta de políticos “liberais” que tenham coragem de defender o relatório do Código Florestal, cá estou eu a elogiar um comunista), decidiu eliminar do seu texto algumas medidas que DIMINUIRIAM A ÁREA DESTINADA À AGRICULTURA E À PECUÁRIA NO BRASIL. Se, em vez de “x” toneladas de comida (para ser genérico), o país produzir x-y, o que sobe é o preço. E quem se dana é o pobre, que terá uma comida mais cara e sofrerá os efeitos da inflação, que sempre pune menos os mais ricos porque conseguem encontrar alternativas.
Essa é, sem dúvida, uma das loucuras brasileiras. O setor que garante a comida mais barata do mundo e que tem respondido pela estabilidade da economia — é ele que impede que a balança comercial brasileira naufrague — é tratado como a Geni do país. Kátia Abreu, é bem verdade, é boa de briga. Mas, às vezes, eu a vejo quase solitária a dizer o óbvio. E os que exercitam aquela glossolalia ambientalista, descolados da realidade, são tratados como deuses, como entidades que tivessem descoberto “a coisa”.
Talvez o Brasil tenha cometido mesmo um grande pecado quando fez a agricultura avançar no cerrado. Aquela região toda deveria ter permanecido intacta. Os brasileiros, hoje em da, em vez de gastar 18% de sua renda — na média — com alimentação, continuariam a torrar os mesmos 48% do fim dos anos 60 e início dos 70. Comida barata, vejam que fabuloso!, significa mais renda para o pobre. Mas, se não querem, por que os produtores devem continuar a ser os alvos das ONGs, dos politicamente corretos e da Marina Silva? Chega de mártires e heróis, não é? Vamos ser todos ambientalistas. É isso aí. Querem diminuir a área plantada em São Paulo? Diminua-se. Querem diminuir a área plantada em Goiás e Mato Grosso? Diminua-se. No aperto, a gente se reúne em torno daquela sábia árvore do filme Avatar e começa dizer coisas estranhas…
A gente também pode mudar de ramo e direcionar o país para uma nova janela de negócios, que seria, assim, o turismo de entretenimento. Os brasileiros todos se especializariam em malabares, saltos ginásticos, atividades circenses — a gente pode até botar uns rabos postiços para ficar brincando de se pendurar em arvores; em breve teríamos a nossa cauda natural, fiquem certos —, e os turistas pagariam para nos ver num cercadinho, em nossos alegres folguedos. Os mais divertidos fariam micagens; os mais enfezados jogariam frutas e cocô nos visitantes. Tudo isso em meio a uma natureza exuberante. De volta a seu país, no aeroporto, ganhariam de presente um creme anti-rugas, que produziríamos com nossa baba nativista.
É isso aí. O interlocutor de Kátia Abreu está certo. Eu também virei ecologista agora, desse tipo que, diante do Código Florestal, sai gritando feito Bambi: “Fogo! Fogo na floresta!” Talvez a senadora deva fazer o mesmo. Como a redução da área destinada à agropecuária não eliminaria a lei da oferta e da procura, os ditos “ruralistas” lucrariam a mesma coisa. É verdade que os pobres iriam se danar com comida mais cara e inflação. Pobre, vocês sabem, nunca está contente: você oferece uma natureza exuberante pra eles, e eles logo vão querendo comida barata.
Publicado em: 15/07/2010
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